Segunda, 25.
Ontem o John apareceu e fomos tomar café. Ele trazia na ponta da língua (no português que é o dele) a lição bem estudada. Mostrou-me no smarthphone o meu sítio e o projecto onde vai nascer no próximo ano o Tage Studios, idealizado à moda dos nossos dias, naturalmente verde, mesmo aqui ao lado. Ao que ele me explicou, todos os dias, no pequeno pueblo com cerca de uma dúzia de almas onde ele vive, não há dia nenhum que não apareça uma mãozada de especuladores a perguntar quem quer vender casas e nacos de terreno que por aqui ficaram perdidos. Mais: em face do meu espaço, do outro lado do caminho de terra batida, há uma casa que pertence a um polícia e mais terrenos, entre os quais um dele, John, que os bancos se apressaram a penhorar depois de anos de arrasto no pagamento das prestações devidas. No tocante ao meu vizinho, ele tinha alugado o espaço a uma família e agora apressou-se a comprar outro pedaço de terra por 5 mil euros para os lados de Cabanas, onde transferirá o seu inclino e mais a casa pré-fabricada. Aqui parece que a terra e os homens, foram sacudidos por um vulcão subitamente acordado de um profundo sono romântico, com pastagens e gado à solta, murmúrios de ovelhas e tractores a sulcar a terra. Eu, pelo sim, pelo não, mantenho sempre o portão fechado, não vá aparecer um milionário americano a enlamear-me de dólares.
- Quase no fim do livro de Alexei Navalny, o que me vem à ideia e ao coração, é que este homem, tendo vivido uma parte da vida preso por defender as suas ideias e afrontar Putin, “o mentiroso”, transmite um sudário de santidade que nos põe de joelhos ante a nossa vidinha medíocre. Os sofrimentos por que passou, a maldade do ditador russo, é tal e tanta que nos paralisa de revolta e indignação. O silêncio não pode de modo nenhum amortalhar um homem assim.
- Ontem ao fim do dia, levantou-se aqui um vendaval, que escoiceava portas e janelas e levantava do chão os minúsculos seres que nele gravitam. Hoje, sol tímido a pedir licença para se instalar.