Segunda, 1 de Julho.
Dizia-me o João que teve necessidade de contactar o 24 24 e o INEM por causa de um problema grave de saúde da mulher que, como estava a decorrer um jogo de futebol, as estruturas de um e outro lhe disseram que até terminar a partida não havia ambulâncias nem bombeiros de serviço. Outro remédio não houve que enfiar a Marília no pequeno carro da filha e levá-la às urgências do Santa Maria que a operaram durante a noite. Esta irresponsabilidade, esta bagunça nos serviços públicos é ainda o resquício da governação António Costa que temia enfrentar a manta rota da Administração Pública. Luís Montenegro vai necessitar de vários anos para repor a ordem e a responsabilidade que os últimos oito anos socialistas destruíram. Resumindo: por favor caros leitores, peçam aos deuses que não vos carreguem com doença grave na hora em que o país pára para ver os ídolos nacionais a correr em cuecas atrás de uma bola.
- Ser velho é nos nossos dias um estorvo, um esfregão sem préstimo. No passado, noutras civilizações, a velhice era usada como passagem de testemunhos e admiração. Hoje, como se viu no debate entre Biden e Trump para a presidência no fim do ano e, embora a diferença de idades não seja tanta (julgo quatro anos), o facto é que o truculento ex-presidente, acusado de vários crimes, humilhou o seu adversário como quis e da forma mais abjecta que se viu nos trechos televisivos. A ganância do poder, cega esta classe política que vem dos escombros sombrios da terra, sem preparação nem ética, obcecada em atingir o lugar que todos subordina e suborna, enriquece e os enlouquece de avidez.
- Como aconteceu com Emmanuel Macron. Estava à vista de todos que a sua arrogante decisão de convocar eleições seria o tiro de partida para a maior instabilidade de que há memória depois da Segunda Grande Guerra. Em França como em Portugal, Espanha ou Inglaterra, as campanhas eleitorais não perspectivam, não lançam programas de desenvolvimento, não ensinam a deontologia da aceitação democrática, limitam-se a prometer aquilo que os políticos chegados ao poder são obrigados a desistir semeando o descrédito na democracia e a desolação nos eleitores. Estes, como se constata, votam em quem os engana com mais ousadia, oferecendo-lhes aumentos salariais, subsídios, baixa de impostos, menos horas de trabalho, vida airada. Ninguém se preocupa em saber onde vai o charlatão buscar as avultadas verbas para cumprir as promessas da sua ambição. Se Marine Le Pen chegou à maioria à primeira volta, foi porque os franceses sempre detestaram Macron, votando nele para fugirem da direita. Agora só lhes resta votar nos extremos, a menos que aquela coisa chamada “triangulaires” faça o milagre.
- Faleceu aos 97 anos o meu queridíssimo amigo Manuel Cargaleiro. O ano passado falámos ao telefone, mas o nosso encontro não se deu porque não queria infectar ninguém com aquela maldita tosse que a Laure me pegou. Ainda que fosse espaçadamente, o facto é que me faz falta conversar com ele, estar com ele aqui ou no seu apartamento, em Paris. Que Deus o tenha porque ele era a luz das manhãs que nunca morrem. Que saudades, Senhor!