terça-feira, julho 01, 2025

Terça, 1 de Julho.

Penoso, muito penoso sermos esmagados pela canícula. Nestes últimos dias, às seis da manhã, já estou a regar. Todavia, todo este esforço e canseira, não tem sido suficiente para conservar a beleza das hortênsias que estão já todas queimadas do sol. Assim como os acantos, e só as laranjeiras ainda se mantêm de pé, verdes e belas, cheias do fruto que irá desenvolver-se para gáudio meu até Dezembro. Felizmente, sem nenhuma dor de costas, nem qualquer outra. Puxar mangueiras com cinquenta metros, não e pera doce.   

         - Ontem fui a Lisboa e passei na Brasileira para cumprimentar os velhotes. Nem lá, na esplanada, se estava bem. Fugi ao encontro da Alzira que me esperava para o almoço no C.I.. Aí, sim, residia o paraíso. Quando nos separámos, fui tratar de avançar com a compra de um Mac mais recente. O meu, com mais de dez anos, está ultrapassado e nem as operações bancárias exigidas on line, consegue fazer. 

         - Ir a Lisboa por dias assim de suplício, é uma tortura. Outro dia, com o saco pesado da lona aos ombros, sem a minha querida mochila que me acompanha com o portátil dentro, pude carregá-lo até ao Bangladesch. Curioso, senti-me outro sem aquele apetrecho útil aos meus tempos e perpetuamente disponível para me concentrar e mergulhar em coscuvilhices com Ana Boavida. Com ele acho-me gente, sem ele vejo-me um tipo qualquer sem identidade. Mal comparado, sou como aquelas damas que se pintam com tons provocantes, abrem o rego do peito para que espreitemos (discretamente, claro) as mamas frescas que exibem com falsa circunspecção, mas que são a marca daquilo que querem ser para os olhares dos homens lambidos de libido assanhada. 

         - “Um dia reconhecerá que éramos felizes e não sabíamos”. frase de Marcelo para António Costa na balbúrdia e desnorte de tempos sinistros, aplica-se também a Trump e Elon Musk. Transcrevo o que o oligarca americano tuitou na sua rede pessoal: “Elon deve ser o ser humano que, de longe, mais subsídios recebeu em toda a história, e, sem subsídios, Elon deveria ter de fechar a loja e regressar à África do Sul. Não há mais lançamentos de foguetões, satélites, ou produção de carros eléctricos e o nosso país iria poupar uma fortuna.” Resposta do homem mais rico do mundo: “Cortem-nos todos.”  

         - Fui à natação enquanto aguardo pelo homem das piscinas me venha limpar paredes e chão da minha. Muita gente, o calor como sinal. Ontem no Rossio estavam 41 graus, hoje aqui 40. 


sábado, junho 28, 2025

Sábado, 28.

Trump voltou para o seu castelo inchado de orgulho, passado a pente dourado de vaidade. Assim que ele debandou, os nossos entendidos e orgulhosos euro-governantes, caíram na real: afinal o homem não se havia esquecido das percentagens que fazem o lustro da sua governação. A criatura acenou-lhes da Casa Branca que não olvidassem as taxas a aplicar aos produtos chegados aos EUA - são para cumprir. Foi um balde de água fria que despejou sem piedade sobre as suas cabeças doidas e levianas. Que humilhação, que miséria! Ainda por cima redisse que a Europa tem andado a enriquecer à conta da América.  

         - Tenho tido dias duros não só por causa da canícula, mas pelo serviço que venho prestando ao Nilton no arranjo da piscina. Ontem fui ao Bangladesch, à sua secção na estação do metro Restauradores, entregar a lona para que os costureiros a transformassem na cortina que há-de descer sobre o lounge (modo de falar à Carlos Neto). No Rossio abafava-se, O calor era tanto, que mal se podia andar. E todavia, baratas tontas estrangeiras não faltavam. Fui mastigar qualquer coisa ao paraíso C.I. e despachei-me para casa onde a frescura convida ao ripanço e ao dolce far niente. O galdério do gato, só daqui saiu pelas dez da noite ao encontro da namorada que o chamava do lado de fora. O único sitio mais difícil para se estar com estes quase 40 graus centígrados, é a cozinha. Mas é lá que estou bem, o ar condicionado ligado. Hoje fui ao encontro do Nilton à loja onde se vende material para piscinas. Diz-me ele que esta tarde, quando voltar de ao pé da namorada brasileira, poderá pôr a água a circular e terminar o trabalho. A ver vamos. Estou ansioso por correr com a rã que lá se instalou e não pára de cantar. A mim faz-me impressão vê-lo trabalhar sob esta temperatura de morte. Pela uma e meia da tarde, quase lhe ordenei que fosse fazer a sesta e voltasse pelas cinco. Recusou. Eu insisti. Contrariado aceitou. Bref. 

         - Terminei o livro de Hugo Mãe. Que dizer. São curtas histórias do seu quotidiano, que se lêem num ápice, na sintaxe do costume, e logo se esquecem. Prefiro-o nos romances onde a criatividade e o sentido da história nos prende e somos, literalmente, arrastados. 

         - O artigo de João Miguel Tavares de hoje, sobre a figura sinistra de Augusto Santos Silva, termina assim: “Bem sei que o ressabiado Santos Silva, após dizer e repetir que Seguro não cumpre os “serviços mínimos”, veio agora informar a pátria de que irá anunciar na quarta-feira se ele próprio é, ou não, candidato à presidência. Espero que venha a ser, porque eu tenho este sonho: ver Augusto Santos Silva ser humilhado nas urnas ao mesmo tempo que Jose Sócrates é julgado nos tribunais. Seria um final feliz para os piores anos da democracia portuguesa.” Assino de cruz.     

         - Agora, no inferno em que se tornou há muito a Faixa de Gaza, são os solados israelitas que denunciam ordens para matar multidões que procuram alimentos para não morrerem à fome. Naturalmente o assassino Netanyahu, desmente.  


quinta-feira, junho 26, 2025

Quinta, 26.

Uma vergonha, uma nojenta vergonha a Cimeira da NATO com Trump a presidir, senhor todo poderoso a quem toda a cambada de políticos medíocres renderam vassalagem. Salvo Pedro Sánchez, o grande, o independente, que prefere acudir ao seu país e aos factores sociais de Espanha, que embarcar nos 5 por cento que o poderoso impôs para manter a Organização. Pergunta-se por quê 5 e não 10 ou 20%, uma vez que nunca li nenhum estudo sobre a necessidade de um tal acréscimo em armamento. Aquela bajulação, nem ao menos teve em conta os desafios de Donald Trump ao pretender anexar a Gronelândia, pertença da Dinamarca, território da União Europeia. Vivemos um momento de loucura, somos governados por insignificantes seres, pequeninos como moscas, equidistantes dos grandes que reconstruíram a Europa, estou a pensar em De Gaulle que tendo pertencido à NATO, abandonou-a em 1966, correndo com as bases militares americanas do país. Ele sabia bem porquê. Seguiu-se a corrupção dos Sarkozys deste mundo, o futuro encurtou até não ter margem de visão - a França deixou de ser independente e com ela toda a Europa. Estamos sob a pata de governantes tirados a papel químico do modelo americano. 

         - Faz muito calor. Fui à piscina com a sorte de haver uma faixa só para mim durante uma hora. Nos balneários não assisti a nenhuma daquelas cenas de terror. Ao contrário, na água, naquilo a que chamam hidroginástica, uma chusma de mulheres que faziam cada uma três vezes o meu corpo. E mais uma vez me assaltou este terror: como será aquilo todas nuas nos chuveiros? Pesadelo, pesadelo! 


quarta-feira, junho 25, 2025

Quarta, 25.

Regressar ao conforto de mim, apoiar-me no ombro do meu Criador, fechar a cortina de luz e vento, descer as pestanas de luz, e deixar-me invadir pela paz, o silêncio que murmura orações e cânticos e desce das alturas carregado de bênçãos. Ficar hirto como uma estaca no deserto, tocada pelos temporais que não assustam antes revigoram porque nos sacodem e nos devolvem a identidade perdida na aprendizagem manipulada, nas vozes doces truncadas de falsa sabedoria, no segredo incrustado em nós desde tempos imemoriais. Ler o breviário das horas e descobrir em cada página o percurso das sombras, o sopro das divindades, o eco das preces num mundo breve, ruidoso, sem sentido nem esperança, traçado na ira e ódio que rasteja e ciranda e sobe e desce e contorna cada um de nós da nostalgia do passado, quando os humanos se reconheciam como humanos...  


terça-feira, junho 24, 2025

Terça, 24.

Ninguém me consegue explicar – à parte a dança habitual dos políticos que pensam todos em pescadinha e já agora também dos sabichões comentadores – qual a diferença entre arma atómica construída pelo Irão e aquelas outras que alguns países possuem sem que ninguém os obrigue a desfazerem-se delas. Ouço falar americanos e europeus que o regime iraniano é cruel, dominador, envaido de moralidade e dominado por ditadores de crenças religiosas, querendo com isso contrapor os regimes democráticos onde ninguém se sobressai dos demais em decisões de tamanha importância como o disparo de armas nucleares. Com esta particularidade. Foi um país democrático, os EUA,  o primeiro a fazer uso de tais armas de morte e destruição e não uma, mas duas vezes: Hiroshima e Nagasaki. E se um louco democrático como Donald Trump quiser hoje utilizá-la, não pode? Ou o seu camarada Vladimir Putin? Ou aqueloutro varrido dos miolos Kim Jong-un? 

         - O Executivo aprovou a Lei da Nacionalidade. Grosso modo, concordo não fora as excepções que dão a palavra à madre superiora do Bloco de Esquerda e dos seus acólitos. Esta lei faz dos imigrantes pessoas de primeira e de segunda. Os ricos, os dos “Vistos Gold” que ninguém fiscaliza, os profissionais altamente classificados com cartão azul da UE podem fazer o que muito bem quiserem; os restantes ficam sujeitos a todos os entraves, peripécias, demoras e esforços para conseguirem residência entre nós. Não tarda, teremos a vir morrer neste espaço ao sol como lagartixas em fim de vida, toda a casta de oligarcas, de Trump a Putin, de Elon Musk a Mark Zuckerberg. 

         - Fui à piscina. Água gelada a fazer encolher tudo à dignidade secreta da cobiça dos olhares. Ontem, no C.I. adquiri o último livro de Valter Hugo Mãe, Educação da Tristeza. Também abanquei por duas horas na esplanada de A Brasileira em cavaqueira ligeira sobre o peso do mundo actual. Mas quando chegou o João, mal se tinha sentado, já falava contra a América. Debandei de pronto. À chegada a este paraíso, tinha o Nilton de volta da piscina e a sua namorada por ele mandada vir do Brasil há um mês, a ajudá-lo.  


domingo, junho 22, 2025

Domingo, 22.

Desde que um boçal alcança o poder, tudo é de esperar. Contudo, o que a mim mais me  surpreende, é como a democracia fica vassala de um qualquer arrogante, oligarca ou egocêntrico, que de súbito está de posse do poder absoluto, indo contra os adversários políticos, as leis internacionais, o Senado ou Assembleia Nacional, fazendo o que melhor serve os seus objetivos pessoais e interesses privados. É o caso original e extremamente assustador de Trump. De braço dado com o criminoso e seu bajulador Netanyahu, bombardeou ontem o Irão com armas que só os EUA possuem. Fê-lo sem prevenir ninguém. Como senhor absoluto do mundo e da força que o regime americano põe ao seu dispor. O mundo acordou para esta triste realidade. Muitos foram já os países que a condenaram, a nossa estimada UE só amanhã vai reunir para analisar os factos. Que chateza virem-nos aborrecer no fim-de-semana. Já não basta a pobreza que berra, vêm agora os islâmicos incomodar-nos com bombas que nem sequer foram lançadas por nós. Esperemos de cabeça erguida pela resposta de Teerão. 


sábado, junho 21, 2025

Sábado, 21.

Eu sou muito metódico. Organizo-me em função de objectivos, com margem apesar de tudo para imprevistos e estes me incomodarem. Perguntei outro dia ao João Biancard, hoje com proveta idade, o que mais o incomoda na vida. Ele respondeu a alteração abrupta dos meus ritmos, a desistência de projectos subitamente adiados ou suspensos, o atraso de alguém para quem as horas não contam. Eu estou com ele. Esta manhã fiquei muito incomodado com o senhor que tem vindo cá limpar com a roçadora a erva seca. Ontem, tendo chegado com a mulher, uma rapariga simpática, uns trinta anos mais nova, ouvi-o dizer para ela: “Aqui é que nós passávamos um bom dia com o nosso filho a nadar.” Pois bem, esta manhã, saí para o mercado dos pequenos agricultores quinze minutos depois das oito – hora combinada para início do trabalho e ele sem vir. Na volta, encontro a mulher a aparar os arbustos da entrada juntamente com ele. Digo-lhe que aquele não era o projecto combinado, mas sim limpar em volta da quinta de modo a que o Sr. Correia pudessem trabalhar com o tractor sem danificar as macieiras (ontem o veiculo teve uma pane). Amuou. Nesse entretanto, a rapariga vem falar-me, dizendo que em vez de estar em casa só e gostando de plantas, ia desimpedir-lhes as ervas ruins. Disse-lhe que não gostava de misturar as coisas e apliquei aquele velho ditado: “trabalho é trabalho, conhaque é conhaque”. Todavia, se há alguém a quem devo atribuir esta triste situação, é a mim. Porque sou demasiado comunicativo, tomo toda a gente por igual, sou incapaz de ser grosseiro. O resultado, com certas educações, rapidamente se instala a familiaridade, o tu-cá-tu-lá, misturando tudo: sentimentos, à-vontade, liberdade, aproveitamento. 

         - O dia acordou claro e um vento ligeiro cirandava em torno da casa. Não fazia calor, havia até uma ligeira neblina suspensa no horizonte. Quando desci para o pequeno-almoço, ao abrir a porta, dou com as hortênsias que durante a noite tinham rejuvenescido, catitas e de sorriso aberto. São elas que me amparam os dias, são elas que me iluminam as manhãs, é nelas que repouso o cérebro e enterro os desaires frágeis da existência. 

         - O tema do dia, são os ataques dos neonazis e a construção de uma rede internacional para derrubar pela extrema direita a democracia. Não duvido de uma tal construção que se sente impulsionada por Donald Trump. São violentos, atacam inocentes, não respeitam as leis, tudo fazem para se impor pela força. Contudo, são uma vantagem para uma certa esquerda dando-lhe espaço, visibilidade, discurso e acção de ordem vária. Porque esta é tão violenta como aquela, usa a força das palavras, o poder da argumentação, o ódio, a messiânica missão de impor ideologias, que mais não são que democracias disfarçadas de ditaduras. Portugal, noutros tempos, também conheceu esta mesma arbitrariedade por parte dos grupos extremistas de esquerda. Portanto, muita atenção a uns e outros. O que soubemos que se passou no interior do Bloco de Esquerda no tocante ao desprezo pelas suas funcionárias grávidas e outras que largaram o partido, indica-nos o rumo que facilmente nos leva para o outro lado – o despotismo.