terça-feira, dezembro 23, 2025

Terça, 23.

O verdadeiro, o autêntico retrato do país e dos nossos governantes, ficou afixado na série de entrevistas ao assalto a Belém. Esta linguagem pode parecer rude e inapropriada, mas reflecte, sem qualquer respeito, a impressão com que fiquei do pouco que vi e escutei – verdadeira feira da ladra, ódios, ambições  pessoais, desrespeito pelos portugueses, choldra, descoberta de sumidades que se encobrem atrás de figuras sem grandeza e personalidade. A democracia cairá com gente deste jaez.  


segunda-feira, dezembro 22, 2025

Segunda, 22.

As coisas complicam-se entre a Venezuela e os EUA. Trump julga-se o senhor do mundo com capacidade e poder para o dominar ou subjugar. Até agora impediu as frotas aéreas de cruzar os céus do país, atirou a matar sobre embarcações que diz serem dos piratas da droga, apreendeu cargueiros com combustível, ameaça depor Maduro. Tudo isto, diz ele, para proteger a América do peso das drogas. 

         - Há instantes, andei a distribuir bolos-reis pelas pessoas que durante o ano me ajudam nos trabalhos da quinta: Piedade, José Manuel, Correia (com o tractor), Oleg mecânico do carro. Com este último, sendo ucraniano, tive uma conversa sobre a rendição que se prepara em Washington e Moscovo. Ele é de opinião que Zelensky não cederá nenhum bocado de território para a Federação Russa e disse isto com uma tal veemência que parece ter chegado aos ouvidos do ilustre presidente do seu país. 

         - Isto de ser advogado, palrador televisivo, criador de factos e tradutor de normas políticas, pareceres, elogios a este e àquele, num país pobrezinho, rústico, onde quem tem olho é rei, dá um conforto financeiro de em dois anos ver a conta bancária crescer 700 mil euros!!!

         - Enquanto isto, os sem-abrigo, nos últimos nove anos, cresceram 260 por cento! Rica democracia tão desigual que em 50 anos não conseguiu abolir a pobreza que se mantém sólida nos dois milhões e meio de pobres.  


domingo, dezembro 21, 2025

Domingo, 21.

Lá fomos, sob chuva e trânsito medonho, a Alcabideche para assistir à missa de corpo presente em louvor do Guilherme Parente. Não conhecia aquelas paragens e muito menos a empresa americana que me dizem tomou conta do negócio da morte e tudo o que ela envolve e como produto o corpo humano associado ao acontecimento social no momento da descida à terra. Não sei quanto é que aquilo custou, sei que o serviço foi impecável. Ponho de parte tudo a que assisti, e quedo-me pelo final quando a filha do Guilherme, Maria, agradeceu aos presentes a presença. Nas suas costas estava uma tela do pai invocativa da ressurreição de Lázaro (João, versículo 11) por quem o artista tinha especial devoção. Acontece que a Maria escolheu aquele quadro-presença do pai e só depois veio saber que Guilherme faleceu no dia de S. Lázaro, 17 deste mês. Não há coincidências, há mistérios que não se explicam e são por isso mesmo aqueles que nos cobrem de esperança. 

         - Os nossos inteligentes e honrados políticos que em Bruxelas trabalham que se desunham, renderam-se às leis jurídicas, e não compreenderam, mais uma vez, que Putin não parará na retoma da Ucrânia e quererá acabar com a União Europeia e fazer voltar ao império soviético os países que o tresloucado (como eles dizem) Gorbatchov permitiu separar da grande Rússia. Quem traduz a burrice, é Teresa de Sousa quando considera que “Era uma decisão política (o apoio financeiro à Ucrânia), não era um debate jurídico como alguns quiseram fazer querer. Fredrich Merz e Von der Leyen defenderam este mecanismo. Uma maioria ampla de países-membros estava disposta a apoiá-lo, mas bastou Orbán e um homenzinho da Flandres para obstar. Assim não são os milhões da Rússia congelados nos bancos Belgas que aguentarão os custos da guerra, mas os impostos dos países membros da UE. Putin e Trump, Orbán e De Wever, e mais uns quantos rejubilam. Quanto mais cretinas forem as decisões europeias, melhor para a reviravolta que está a acontecer no mundo.  


sexta-feira, dezembro 19, 2025

Sexta, 19.

A maior praga do capitalismo é a exploração e a dos novos-ricos a exibição. Vem isto a propósito da aglomeração de uns quantos Maserati esta semana na Baixa. Obrigados a parar nos semáforos do Rossio, aceleravam os motores e debitavam um ruído insuportável pelos escapes – maneira de os transeuntes parar para os admirar. A polícia que, portanto, os devia multar, ficou estupefacta. 

         - Outro dia, aproximei-me de um quiosque na Av. da República e logo fugi quando li o que a foto regista. Debandei não fosse o cheiro nauseabundo perseguir-me... A esquerda – Livre, BE, a dos cãezinhos – adoram a universalidade da cidade.

          - Luís Montenegro passou um atestado de menoridade ao Ministério Público. Depois de mais de um ano e queda de um governo, veio o parecer da inventora Spinumviva. Afinal a montanha pariu um rato. Tudo o que a oposição andou a dizer contra a sua idoneidade, caiu com o processo pura e simplesmente arquivado. Admiram-se? Eu nem um pouco. A democracia em Portugal é um campo de batalha que não dá tréguas. Vale tudo para subir ao púlpito do poder. Que tristeza!  

         -  O único estadista europeu que se distingue da maioria amorfa, é o chanceler alemão. Todos estão reunidos mais uma vez para salvar a Ucrânia, e todos não pensam senão em si mesmos. Zelensky com grande dignidade, apela à ajuda convicta que expulse Putin das suas fronteiras, mas os senhores da UE preferem reuniões, discussões, almoços e jantares – são a imagem de um rebanho tresmalhado. Luís Montenegro diz banalidades. António Costa exibe sempre aquele sorrisinho que ainda não chegou ao sorriso pateta de Durão Barroso mas para lá caminha. 

         - Almocei com o João e a companheira do filho. Repasto agradável que só aceitei porque o vi muito em baixo. Amanhã vamos assistir à missa de corpo presente em despedida do Guilherme Patente na igreja de Alcabideche.  Mas já hoje soube da morte do poeta Gil de Carvalho. Sem palavras. 


quinta-feira, dezembro 18, 2025

Quinta, 18.

Faleceu o meu querido amigo Guilherme Parente, afundando-me ainda mais na depressão que tantas mortes me causaram. A nossa amizade remonta à saída da minha adolescência  e foi não só construída pelo seu enorme talento artístico, mas também pela sua personalidade boa, afável, edificante. Admiro a sua pintura, o seu jardim encantado de onde nunca saiu e nele ficou nos espaços das telas até ao fim da vida. Deu-me a triste notícia o João quando tinha acabado de sair da Fnac onde estivera com o Filipe. Logo me dirigi à igreja de S. Domingos para uma prece em sua intenção. Todos se vão, numa espécie de urgente debandada, deixando-nos abandonados num mundo a cair aos bocados, sem Deus, prisioneiro dos bens materiais, sem ética nem espírito construtivo,  que não identificamos como nosso, tais e tantas são as batalhas que nos reduzem ao silêncio e à escravidão. Descansa, enfim, em paz meu saudoso amigo. 

Num dos nossos muitos almoços. 



terça-feira, dezembro 16, 2025

Terça, 16.

Quando tudo tomba à nossa volta, que devemos fazer? Foi a saudosa Annie que partiu a 25 do mês passado, a Clara Pinto Correia, a Piedade que está nas últimas, um vizinho que saiu de casa e foi atropelado à sua porta por um condutor que se pôs em fuga, e não sei mais quem que eu conhecera ou com quem me cruzara alguma vez. Fui-me abaixo com este cerco de vazio que me tomou e tudo tenho feito para retomar o ritmo da vida de então. Assim, ontem, sob chuva torrencial fui a Lisboa solucionar a questão dos óculos que não ficou resolvida da última vez que estive na Fabrica dos Óculos, ao Chiado. Desta vez, entendi que não valia a pena lá retornar, posto que o trabalho é para profissionais competentes e, a conselho do Carlos Neto, enfiei numa loja do ramo, perto do Saldanha, dirigida por dois oftalmologistas e ali mandei fazer outros óculos das lentes à armação. Paguei 600 euros e espero reclamá-los ao primeiro estabelecimento. Talvez por andar sensível, o facto de não poder ler com os dois olhos (fecho o esquerdo), criou-me uma pequena depressão e devido ao esforço picadas no cérebro. Desde Maio que venho sofrendo deste incómodo para quem os dias passam entre leituras e escrita, é desmoralizante. Também retomei hoje a piscina. Lá reencontrei os velhotes, de língua afiada contra os políticos, tratando-os de “cabrões, o que eles querem é tacho”. Este epiteto, atirado por um bando de velhos nus, torna-se cómico e não transporta senão uma risada a quem ouve. Outro problema que não foi resolvido foi a passagem dos documentos criados no anterior Macintosh para o novo. Vou amanhã almoçar com o Filipe (meu anterior criativo) que me garantiu tudo fará para arrumar o assunto.

         - Até porque a enfiada de leituras, entre Julien Green e o último volume de Bíblia traduzido do grego por Frederico Lourenço, somam 1774 páginas. É obra!   

         - O ex-adjunto da Ministra da Justiça, professor universitário, Paulo Abreu, de 38 anos, foi detido por crimes de pornografia e abuso sexual de menores. Fala-se em mais de 500 crimes. Parece que uma boa parte foram executados do seu gabinete ministerial. Surpreendidos? Eu nem um pouco. Basta ouvir falar, naquela lengalenga que nunca mais acaba e é sempre a mesma só divergindo o papagaio, os candidatos a Belém. É tudo tão pobre, parece até que à medida que o tempo passa, a palração torna-se toda igual, amassada, untada, acabada num pez odorífero insuportável.  

         - A propósito. O professor Marcelo voltou a surpreender-nos. Declarou que não quer nada do seu cargo presidencial: carro, combustível, motorista, secretária, gabinete, reforma. Até nisso é original e desinteressado das mordomias oferecidas gratuitamente (que diferença entre Cavaco, Soares, Eanes). Apenas fica com a reforma de professor universitário. Quanto ao mais, o futuro está traçado: aulas na universidade da Califórnia, uma parte do ano lá, a outra cá, a biblioteca pessoal vai para Celorico de Basto de onde é originário, a basta. 


domingo, dezembro 14, 2025

Domingo, 14.

Há duas coisas de que faço a máxima parcimónia: comer e medicamentos. Fujo das duas como o diabo da cruz. Todavia, deu-se o caso de as dores que tinha no pescoço não abrandarem. Então, sexta-feira, tenho encontro com o João na Brasileira, entrei na farmácia ao lado para falar com uma farmacêutica. Depois de ouvir as queixas e os remendos que fui pondo para as sarar, deu-me um anti-inflatório muito publicitado na TV: o Voltarem. São umas pastilhas do tamanho da unha mindinha, transparentes, rolantes, que fizeram o milagre de afugentar as dores. Tomei duas daquelas insignificantes coisas e logo o mal se foi. Continuo como sempre me aconselhava o Tó de fazer e só amanhã suspenderei o milagroso bicho. Dito isto, olhando e tornando a mirar aquele minúsculo insecto, lembro-me das experiências que por vezes faço no meu corpo. Um exemplo. Uma sopa já traçada que não quero deitar fora, experimento como reage o estômago dando-lhe uma colher apenas da panaceia. Então não é que o corpo se recente e embora não tombe desmaiado diz-me que recebeu mal a visita da peçonha. É de admirar a Ciência que com uma espécie de pulga-comprido, produz saúde.  

         - Agora ando em maré de mulherio; os rapazinhos e os homens secretos de olhares românticos, desapareceram. Ontem, uma copeira, que não me recordo de a ter visto, embora ela diga que me conhece, encetou comigo um diálogo maluco que começou pedindo-me que adivinhasse a sua idade. Olhei-a: rosto redondo, sorridente, lábios finos olhar cortante de quem está habituada a enfrentar o imprevisto, pequena de formato, voz insinuante e leitosa. “Uns vinte anos.” Ela sorriu, insistiu para que a mirasse bem, e por fim disparou: “trinta e cinco.” Na realidade parecia mais nova, mas para mim era-me completamente indiferente a idade e tudo o mais, porque não sou atraído por palpites nem me derreto por quem se me atravessa ao caminho carregando o sortilégio do imprevisto. O que se seguiu, é dos tempos presentes: as mulheres adquiriram a arte do engate e são mais eficazes que os homens. Penso, contudo, que eles cedem mais depressa à tentação da cama que elas. Elas rondam o quarto, sentam-se aos pés da cama, olham em redor, admiram o enfeite dos lençóis, e deixam para depois o que parecia a ele ser satisfeito de imediato. 

         - São já 12 a vítimas mortais de ataque terrorista contra a comunidade judaica na Austrália e pelo menos 29 pessoas foram feridas. Um grupo anti-semita atacou quem estava na praia de Bondi, Sydney, passando a tiro quem encontravam. Mais de mil crentes estavam no areal em celebração do Hanukkah do Chabad, um movimento judaico hassídico (que dá coragem religiosa, alegria piedosa).