Terça, 11.
Na pequeníssima antecâmara da Junta de Freguesia do Carmo, deu-se um episódio que não queria deixar de narrar. Eu, como sempre revoltado contra o país pequeno e acolhido ao seu destino franciscano, logo comecei a barafustar contra a propaganda do sistema, único no mundo, concebido por um povo avançado de inteligência e engenho, mas ali se via inútil por funcionar aos soluços. Palavra puxa palavra, e eis-nos uns e outros a falar dos partidos, dos seus líderes, do engodo em que assenta a política portuguesa. Digo que Cotrim é o mais sério e com ideias precisas, logo os jovens me apoiam e um senhor de bom porte também. João afastou-se. Às tantas, tudo o que eu dizia, era secundado pelo grupo de rapazes. Digo eu: “Aqui quem tem vinte anos sou eu porque vocês apoiam o que digo sobre os meus quatrocentos anos.” Risada geral. Quem não devia estar a gostar da graça, era o mestre de cerimónias que veio sobre mim ameaçando-me de prisão, com o argumento que numa assembleia de voto não era permitido falar de partidos ou deputados. Eu insurgi-me e disse que não pertencendo a nenhum partido, tinha, todavia, a liberdade de me exprimir como muito bem me aprouvesse e quanto a ser preso era um sonho de adolescência que nunca havia realizado. Estamos ou não estamos num país livre! Foi quando abandonei o local, seguido por alguns dos jovens e pouco depois pelo Corregedor. Ocorre-me agora aquela da senhorita ex-ministra da Saúde: “O voto devia ser obrigatório.” Se esta afirmação viesse da direita, caía o Carmo e a Trindade. Pela minha parte, se tal vier a acontecer, não contem mais comigo para o exercício obrigatório dos meus direitos.
- Claro, para fugir à lengalenga habitual da contagem de votos, onde todos perderam e todos ganharam, passei o serão admiravelmente vendo o Campeonato de Atletismo da Alemanha. Espectáculo digno de se ver, com particular interesse pelos desportistas africanos, na sua maioria feinhos de cara, mas potentes de corpo. Onde eles entram, é cerro e sabido que arrebatam qualquer troféu.
- Entrando no desconsolo da política caseira. Eu disse logo que soube do arrebate fantasista de Montenegro ao escolher o seu chou-chou escalabitano, que era um tiro no pé – e foi. Não é que a senhorita Temido fosse melhor que o chocho da AD, pelo contrário, os dois equiparam-se e daí todos os outros candidatos ao prémio da lotaria de Bruxelas no valor de um milhão e quatrocentos mil euros. À excepção do Cotrim de Figueiredo, todos estavam mal preparados, sem conhecimentos, falando por palavras feitas e laivos de ódios polidos. A mentalidade possessiva é tal, que nenhum deles lamentou os 63% de abstenção, e ainda 1,2% de votos brancos e O,77% de votos nulos. Na realidade o único partido ganhador, foi o Iniciativa Liberal. Todos os outros perderam e os pequerruchos (BE, PCP, Livre, PAN) ou elegeram um deputado ou nenhum. O Chega deu um trambolhão de marca. Aquilo não é propriamente um partido – antes um conjunto de arruaças.
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Black desejoso de ser ele o primeiro a instalar-se na nova mesa. |