Segunda, 10.
Ontem não pude dar o meu voto ao IL como era meu propósito. Eu conto. Tendo ido a Lisboa com o propósito de ver um filme que trago debaixo de olho, consenti encontrar-me na Brasileira com o João. Dali fomos juntos votar à Junta de Freguesia do Carmo, um edifício minúsculo, onde estavam três benevolentes sentados a uma mesa estreita, com três computadores na frente. Cá fora, a cobra dos eleitores adensava-se. A espera começava a ser enervante, toda a gente se perguntava da razão daquela demora. Viemos a saber que se devia ao sistema electrónico que o Governo apresentou como inovador, o melhor da Europa e talvez do mundo, porque nós portugueses somos sempre pioneiros em tudo. Cada pessoa que entrava no modesto gabinete, o sistema ia a baixo. Havia que esperar que a caranguejola funcionasse, telefonemas em catadupa para a central da coisa e assim. Comecei a perder a paciência, mais a mais porque só havia duas cadeiras, a rua é uma ladeira, o tempo não estava de feição. Comigo uns jovens debandaram. Vinha eu a chegar ao Chiado, surge o João que também desistiu daquele inferno. Que fazemos? Pergunta ele. A Baixa é um deserto sem personalidade, entregue aos magotes de turistas, tontos que nem viajar sabem, deslocando-se para se abandonarem nas esplanadas a olhar o tempo que os fintou sem sol. Disse que ia almoçar ao C.I. porque era lá que estava o filme que me propus ver. Pensei que ele não viria dado que diz não apreciar o C.I.. Mas veio. Longo repasto inundado da praga da política porque o homem não sabe mais nada. Conclusão todo o meu projecto saiu furado.
- E por aqui me fico, estando constipado devido a uma carga de chuva directamente no lombo. Amanhã falarei do chou-chou que veio de Santarém, e de alguns mais que fizeram figuras tristes à moda da política nacional.