quinta-feira, maio 15, 2025

Quinta, 15.

Ontem passei na Brasileira e abanquei com dois dos tertulianos na esplanada. Falatou-se um bom bocado e de seguida, tendo ali ido com intenção de comprar os novos óculos, entrei numa grande loja da especialidade que faz gaveto com a Rua Ivens. Depois das análises, estudada a nova receita médica, vamos ao preço. Grosso modo, 900 euros! Espanto meu, resposta da funcionária: “Tem algum seguro? - O do ACP e chega-me. Então tem um desconto de 50 por cento!” Reviro os olhos, aguço os ouvidos e peço-lhe que repita: “Esse cartão tem 50 por cento de desconto!” Isto é Portugal no seu melhor e no seu imprevisto. 

         - A campanha, felizmente, está no fim. Basta de tanto barulho, de tanta aridez, de tantas falsas promessas, de tanta poluição. Ao Ventura deu-lhe o badagaio e por duas vezes. A primeira numa arruada quando discursava para os fiéis no Algarve, a segunda à saída do hospital onde havia passado a noite em exames. Marcelo disse-lhe que tomasse juízo e recuperasse antes de embarcar naquele trabalho duro que pode não matar, mas deixa as criaturas num lodo de fadiga. O Chega estremeceu. Se alguma coisa mais grave acontece ao seu presidente, sendo a única pessoa e formando em si todo o staff, lá se vai a vaidade e a oportunidade de chegarem perto do tacho. 

         - Eu imagino a corrupção que vai no Governo de Trump. Aquilo é só negociatas, enriquecimento fácil e rápido, ao ponto de lhe terem oferecido um jacto que dizem ser no interior a cópia da Riviera Francesa que Trump quer construir em Gaza. Como se esperava, Putin roeu a corda e mandou os lacaios falar com Zelensky. Nessas condições, Trump também não apareceu na Turquia onde o encontro estava agendado. Neste entretanto, vários bombardeamentos sobre a Ucrânia. E em Gaza que Trump não quer visitar e onde mais um hospital foi destruído e não sei quantos mais palestinianos mortos. 

         - Gostava de falar dos carros topo de gama da colecção do socialista que lidera o PS e das inúmeras casas que comprou e vendeu, do seu património que só saiu do meio do avô sapateiro, quando entrou para o partido, se fez seu funcionário, ministro e mais não sei o quê. Queria, mas hoje estou sem tempo. 

         - Fui de manhã à piscina, de tarde atirei-me de roçadora em punho à limpeza deste lugar porque amanhã vou com o Johnson e o Nilton a Badajoz. 

         - Ontem, pelas oito e meia, tomei o fertagus. Nos lugares reservados aos coxinhos, coitadinhos, encontrei um velhote com duas muletas, cabelo de neve, a dormir de cabeça  encostada ao vidro da janela. Sentei-me a seu lado. De quando em quando, tossia. Eu, por precaução, coloquei a máscara. Duas vezes o vi levar à boca um rebuçado de mentol. Bom. No fim da tarde, entrei no comboio em Roma (início) e lá estava o mesmo velhote, na mesma carruagem, a cabeça decaída para o vidro que fazia canto. Conclusão: o pobre homem, fez do vagão o seu quatro e do banco a sua cama. É este o Portugal que o conforto de vida dos políticos ignoram, entretidos nas suas fantasias tão distantes da realidade que no fundo não lhes interessa para nada.