terça-feira, março 18, 2025

Terça, 18.

Israel voltou à carga com a mesma desumanidade que se lhe conhece. Agora mais violento apoiado pelo egocêntrico que governa o mundo. Só ontem morreram para cima de 400 pessoas entre civis e crianças. Foi uma rajada de Norte a Sul da Faixa de Gaza, acompanhada da ameaça: “Ou soltam os reféns, ou conhecerão o inferno.” Netanyahu parece não conhecer a crença que sustem os soldados do HAMAS, segundo a qual a morte é a redenção.   

         - Cinquenta anos depois do 25 de Abril, estão de regresso não só as barracas, como a pobreza extrema, o analfabetismo, a miséria humana e social, o abandono dos pobres e crianças, doentes e frágeis, a tirania do mercado, os bairros da lata... Oito anos do socialista António Costa produziram grande parte deste espectáculo, porque nada fez pela habitação, deixou entrar milhares de imigrantes famintos, destruiu o ecossistema colectivo que os primeiros parlamentares souberam edificar e manter. Hoje, por todo o lado, do Minho ao Algarve, os telhados de contraplacado e chapa são a imagem sinistra que nos lembra os anos do fascismo. Os bidonvilles que descrevi numa série de reportagens que fiz nos anos Setenta, em Paris, para o jornal A Capital, estão plasmadas em muitos arrabaldes das grandes cidades. Não há oferta pública de habitação e o que há tem preços de país rico onde vive uma população de gente abaixo do limiar da pobreza. Aqui, não muito longe da minha porta, no espaço de dois anos, levantaram-se grandes caixas de ferro, com pequenos rasgos-guritas, decorados com persianas brancas, a que os exploradores chamam casas. Ali mora já uma grande colónia de brasileiros. Vejo-os sair cedo e chegar tarde, trabalham, portanto, mas o que ganham não dá para dormir debaixo de um tecto. Costa, só no penúltimo ano de (des)governação, quando os jovens saíram à rua em protesto, se lembrou de erguer a bandeira demagógica da habitação. Ele que no espaço do seu reinado, saiu de uma cave para um primeiro andar, e depois para o condomínio, em Benfica, onde eu pagava para lá não morar. 

         - Não resisto a trazer para aqui este naco de saborosa prosa do escritor Machado de Assis. O diálogo é entre Rubião (a personagem principal e o político de Minas, Camacho). Este tenta convencer aquele a aceitar sentar-se na cadeira dourada do poder. “A minha província está entregue a um grupo de bandidos; não há outro nome para a gente de Pinheiros; e além disso (digo isto com dor e em particular) tenho amigos que me intrigam, uns ganhadores, que querem ver se o partido me repele e se me tomam o lugar... Uns biltres! Ah! Meu caro Rubião, isto de política pode ser comparado à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende. Coroa de espinhos, bofetadas, madeiro e afinal morre-se na cruz das ideias, pregado pelos cravos da inveja, da calúnia e da ingratidão... “ Não pense o leitor que estamos no século XXI, a história passa-se no século XIX!!! Qualquer comparação, é pura coincidência... 

         - Passei a noite no México. Que grande rebaldaria, num olé olé de sete horas ininterruptas. Cruzes! Pitié! Talvez por isso, esta manhã na piscina, a visão de corpos em decadência me foi menos difícil de aceitar.