sábado, março 29, 2025

Sábado, 29.

O mundo já está tão mal que não necessitava de fenómenos naturais para o piorar. Como o sismo ocorrido na Birmânia, de 7,7 na escala de Richter, com epicentro em Mandalay. Não há ainda números exactos, mas calcula-se que fez mais de mil mortos e milhares de feridos.  

         - O vice-presidente dos gangsters que se instalou na Casa Branca, fez uma visita rápida à Gronelândia. Nenhum membro do Governo, nem o rei da Dinamarca, o recebeu. Então o sujeito, ficou circunscrito à base militar que a América tem na ilha há uma data de anos, e depois abalou de rabo entre as pernas de retorno ao seu pais. A ver vamos como vai ficar esta apropriação de ricos que pensam que o dinheiro tudo compra. 

         - Estive lá fora ao sol a ler o artigo de Christiana Martins na Revista do Expresso dedicado a Isabel da Nóbrega. Que saudades tenho eu desta queridíssima amiga! Acompanhei-a desde os tempos do jornal A Capital até praticamente ao fim da vida, ao respeitar a sua escolha em deixar Lisboa e se instalar em casa da filha, em Cascais, onde veio a falecer, em 2021, aos 98 anos, cheia de graça o humor segundo me contou o neto no velório da Basílica da Estrela. Muito do que ali se diz eu poderia acrescentar mais alguma coisa. Mas isso ficará para outro dia, após a intervenção cirúrgica à vista esquerda. 



sexta-feira, março 28, 2025

Sexta, 28.

Recebi a notícia com consternação. O nosso amigo Senhor Castilho faleceu na sequência de uma pneumonia seguida de uma bactéria que contraiu no hospital. Vai fazer-nos falta, o nosso capitalista ao já pequeno núcleo de tertulianos que desde o antigo regime se reúne na Brasileira. A pouco e pouco, quase em segredo, todos se vão. Castilho, em verdade, nada tinha a ver connosco, sendo um homem rico, toda a sua conversa repousava na economia, no deve e haver, nas recordações dos vultos de antanho que ele conhecera e com quem acamaradara. Mesmo assim, gostava de nos aturar, encolhia os ombros aos nossos desassombros ideológicos opostos aos seus, era um cavalheiro à moda antiga, cordial, educado, sóbrio. Repousa em paz, queridíssimo amigo. 

         - O estado do SNS está patente na forma como vírus e bactérias esperam para nos atacar.  Não estamos a salvo em nenhum lado, mesmo nos hospitais onde era suposto estarmos protegidos. Vou domingo com imenso pavor ao Gama Pinto para ser operado à catarata do olho esquerdo. Felizmente, nunca fui pessoa de hospitais, tendo estado internado uma única vez na minha vida. De resto, não me recordo de ter entrado em qualquer unidade hospitalar, salvo o ano passado para chegar à conclusão que o derrame de sangue teve origem numa anomalia no canal direito do nariz. Que triste país o nosso, onde a riqueza está escandalosamente de um lado, enquanto a mancha enorme do outro vegeta na vida à espera da morte. Na realidade, a morte, é para a maioria um alívio. 

         - Porque não temos gente à altura. Os políticos, salvo raríssimas excepções, são conceptualmente medíocres. Há neles uma sofreguidão pacóvia pelo poder, pela importância que este lhes confere, porque sem ele não passam de uns pobres idiotas. Sem ideias, sem futuro, sem estudos, pouco ou nada cultos, os ideais repisados, roídos de ódios, em pescadinha aplicados, sem margem para compreender o mundo na diversidade e conhecimento de hoje, é na arruaça que se impõem. Em vésperas de eleições, não se ouve uma proposta séria, apenas a revolta por Luís Montenegro não querer debater com aquela súcia de esquerda que não traz absolutamente nada de novo à vida de cada um de nós, apenas repete à exaustão slogans, promessas loucas a que os portugueses distraídos aderem, não percebendo que eles podem tudo prometer dado que nunca chegarão ao poder.  

         - Tenho imensa ternura por estes vultos, novos e velhos, solitários que abancam em meu redor e mergulham na leitura do livro. De tão atentos às suas páginas, não dão pelo que se passa nesta sala do rés-do-chão da Fnac onde me encontro. São ilhas de um deslumbre sem fim. Isolam-se para ir mais longe espreitar a realidade outra que se esconde da maioria daqueles que julgam viver plenamente na gritaria, no espectáculo degradante que contagia mas não perdura. Olho-os do fundo da minha infinda curiosidade, tento através do que passa nos seus rostos, adivinhar quem os compenetra, quem os detém, quem lhes absorve as horas nesta tarde ensolarada corrida por uma leve brisa que limpa as dores e edifica os dias. Quem lê nunca está só, embora a leitura exija o silêncio seu companheiro. É como o crente, com Deus nunca se sente só ou abandonado. O silêncio é o lugar de divinização do Senhor. Estamos ombro a ombro com Ele. Estamos, por assim  dizer, submergidos na Eternidade. 

         - A mínima coisa que faço na quinta, deixa-me satisfeito e realizado. Ontem, andei, enfim a queimar os dejectos dos desbastes. O espaço em torno da casa,, está coberto de erva alta e o conjunto desagrada-me muito. Não há quem venha cortar a erva, aparar o relvado e assim. Entristece-me o que vejo em volta, mas enquanto tiver as dores lombares não me habilito a tal trabalho. Ontem, na piscina, tendo uma faixa só para mim, prossegui na recuperação e fui ao ponto de exagerar ficando na água uma hora inteira em exercício.    

     Acabo de receber uma chamada do João Corregedor, incitando-me a comprar o Expresso que traz na capa da revista a minha saudosa amiga Isabel da Nóbrega, com este título “Toda a história da mulher que Saramago apagou dos seus livros.” Irei ler com toda a atenção, a mesma que durante muitos anos escutei a grande e inovadora escritora que ela foi. 


quarta-feira, março 26, 2025

Quarta, 26.

Luís Neves, o homem forte da Polícia Judiciária, disse que a instituição que dirige e os seus agentes e o povo português, deviam estar orgulhosos do trabalho desenvolvido na captura e apreensão de um submarino construído para transportar droga para a Península Ibéria e daqui para o resto da Europa, e pormenorizou “que foi a primeira vez que se conseguiu concretizar uma operação com estas características”. Se, sua excelência, necessita como se faz com as crianças do meu bravo aqui o tem (pena que não tenha um rebuçado). Contudo, o meu reconhecimento vai para as pessoas que trabalham até à exaustão, com salários de miséria, que nem dão para pagar um quarto, são exploradas até ao sabugo, sem que alguém as louve e proteja. 

         - Dito isto, ontem na Fnac, deparei-me com duas raparigas, uma delas teria doze, treze anos, em troca contínua, absorvendo de uma pequena lata qualquer substância narcótica. Entraram as duas no elevador e a mais nova não parava de ladrar. Minuto a minuto uau uau. Na rua, o espectáculo degradante prosseguiu. Elas tinham um aspecto de favela, e faziam pena porque estavam já dependentes do vício. Parece que meia Lisboa, estratos sociais misturados, vive naquela ou outra calamidade. 

         - Vai por aí uma grande indignação na forma como hoje em dia os ditos jornalistas falcatruam as notícias e as servem sob o seu ângulo partidário. Foi o que se passou, dia 24 de Março na RTP1. A estação paga por nós todos, convidou Paulo Raimundo para falar sobre as eleições legislativas. O dirigente do PCP aceitou convencido que era disso que iria ser entrevistado. Mas não foi. O “jornalista” e já agora “escritor”, senhor José Rodrigues dos Santos, fintou-o com perguntas sobre a guerra Rússia-Ucrânia, num tom de quase ameaça, aquele olhar e aquela voz falseteada (como ele diz) à BBC, carregadas de ódio. O homenzito, permite-se dizer e fazer tudo como se fosse director de informação e um “jornalista” acima de qualquer suspeita. Se ele a mim me fizesse tal desfeita, atirava-lhe com o microfone e saía do estúdio. 

         - Alguém com dois dedos de testa acredita no acordo de cessar-fogo saído dos encontros entre russos e americanos na Arábia Saudita? 

         - Findando o que disse do livro Quincas Borba, aqui deixo os dois últimos capítulos como resumo de um romance que aconselho aos meus leitores. 




(Amplie o texto com o rato) 

terça-feira, março 25, 2025

Terça, 25.

Já se percebeu que a oposição não tem programa nem ideias para oferecer. Daí que o alvo vá ser Luís Montenegro que teve a pouca sorte de ter formado empresas muito antes de ser primeiro-ministro e mesmo de ser presidente do PSD. O torrão do Chega, pagou uns cartazes que hoje vi por Lisboa, comparando o chefe do Executivo com José Sócrates. É uma ordinarice que diz muito da forma de fazer política do sujeito. O líder do PS e ele devem ter-se combinado nesse paralelo. Mas quem sai com dignidade é o primeiro-ministro quando, desde o princípio, disse “não é não” a parcerias com a matulagem da extrema-direita e manteve a palavra até ao fim saindo por isso prejudicado. 

         - Nestes dias que trouxeram de volta o sol ainda que pálido, toda a quinta está submersa num cântico que a varre em todos os sentidos. A multiplicidade de tons, de vozes, graves e agudas, trinados rápidos e amplos, diálogos de uma beleza sublime, entre tenores e barítonos, constituem uma magnífica orquestra que assentou arrais nas árvores em volta deste mundo secreto e mágico. Não consigo reter nenhuma daquelas melodias, mas fico que tempos afundado a deliciar-me com a desgarrada que abraça o tempo e me leva de roldão com ele...

         - Despachei-me a terminar o romance de Machado de Assis, Quincas Borba antes de ser operado.  Outro dia, conversando com a Gi, ela que foi docente numa universidade do Brasil, disse-me que o livro é estudo obrigatório por lá. Não admira. Aquilo é uma loucura de criatividade, de invenção, de perspicácia humana e social, de delírio e fantasia. Quincas Borba morre logo nos primeiros capítulos. Como tinha dado o seu nome ao cão, e ao designar o amigo Rubião como herdeiro da sua imensa fortuna, deixa-lhe também a sua presença através do fiel amigo. Daí em diante, um e outro tornam-se inseparáveis. Até que a dada altura Rubião apaixona-se pela mulher do seu agente financeiro, a bela e encantadora Sofia. O que se segue é desvairamento puro. Não correspondido, Rubião-Quincas Borba, entra em loucura absoluta que o leva a nomear-se Napoleão III, ministro de sua Majestade, deputado do reino, militar e tudo o que as circunstâncias exigiam dele no estado em que se encontrava. É o seu criador na condição latente de desconstrução, entrando por assim dizer num mundo suspenso da extravagância criativa nunca antes alcançada, que impregna o romance da magia iluminada pelos valores humanos, o confronto de interesses políticos, morais, éticos e misericordiosos. 


         - Ontem e hoje, dias relativamente agradáveis. Esta manhã fui à natação. Água fria de tremer o dente. Depois do almoço, dei um salto a Lisboa levando comigo o tricot. Ando a adaptar-me a umas palmilhas ortopédicas que me trouxeram agudas dores lombares. Pensei que este problema se havia resolvido por si, mas voltei à estaca zero. A médica diz que as vá usando por momentos até me adaptar. A ver vamos se assim é. Fui em consulta sábado, volto lá amanhã. Quanto ao tricot, vou desmanchar as 25 linhas escritas da página 236.  


segunda-feira, março 24, 2025

Segunda, 24.

Nunca votaria em Miguel Albuquerque, mas foi ele que os madeirenses escolheram não obstante o seu passado e presente no mínimo duvidoso, para ficar à frente dos destinos da ilha. O PSD canta vitória, mas a mim o que me preocupa é a abstenção: 44,02%. Embora os partidos da banda esquerda digam o contrário porque lhes convém, estou convencido que o retrato está feito para as eleições legislativas de Maio. Satisfação tive em constatar que o Chega ficou reduzido a nada, levado na enxurrada das esquerdas que, pura e simplesmente, foram banidas da Assembleia da Madeira: CDU, BE com 1,1% e a senhorita dos cãezinhos e gatinhos. Quanto ao PS remetido para a terceira força, tem aquilo que andou a semear. O seu líder não tem capacidade nem sensibilidade nem competência para dirigir o partido – quando é que os socialistas deixam de viver em manada e começam a pensar pelas as suas próprias cabeças? 

         - Na Faixa de Gaza o horror continua. Desde a primeira hora que se percebeu que para Netanyahu acabar com os palestinianos era o projecto fundamental. Aliado a Trump inchado de poder, vai-se permitir tudo até a radicalização do último palestino. A semana passada, levados com os infelizes, foram também membros das Nações Unidas. O inferno que havia prometido, aí está a mostrar-nos como são fortes quando investem sobre os fracos.   

         - Outro facto que não sai do nosso quotidiano, é o conflito Ucrânia-Rússia. Já lá vão dois meses desde que o déspota americano prometeu acabar com a guerra em dois dias. O algoz  de Moscovo já lhe passou a rasteira e aquele corpanzudo caiu inanimado no chão. As delegações da Rússia e dos Estados Unidos estão há dois dias reunidas em Riade, na Arábia Saudita. Que se deixem estar, parece dizer o traiçoeiro de Leninegrado. Enquanto eles discutem, eu prossigo os combates até achar que tenho do meu lado o território que faz parte da grande unidade russa. Os últimos ataques, atingiram alvos civis e morreram mais uns quantos ucranianos e os deslocados dos campos da guerra sofrem por destinados os horrores desumanos..  

         - Há naquelas mulheres ucranianas, uma bondade, um amor à terra, aos animais, aos velhos que me deixam sempre à beira da comoção. Nunca visitei a Ucrânia, mas recebi aqui diversos ucranianos com quem lidei empurrado pela sua honestidade, humanidade e sentido de gratidão. Nunca tive o mínimo problema com eles e ainda hoje os recordo e rezo pelo Roman que veio a falecer no hospital de Setúbal e o Fortuna e mais uns quantos de nós, conseguimos transladar o corpo de avião para ser enterrado no cemitério da sua aldeia. A propósito deste querido amigo. Uma vez, pedi-lhe que limpasse a casa das máquinas. A dada altura, ele procura-me com um livro meu como se fosse o maior tesouro que havia encontrado na vida. Perguntou-me se lho oferecia, pois não tinha gostado do modo como eu o tinha abandonado, cheio de pó e humidade. Dei-lhe esse no seu estado perfeito e mais um outro cujos títulos já não recordo. Disfarcei ausentando-me de ao pé dele, para que ele não visse as lágrimas que teimavam em descer dos meus olhos ao observar a imensa gratidão que me expressava.    

Caro Roman, que Deus te guarde na Eternidade. 



domingo, março 23, 2025

Domingo, 23.

Papa Francisco assomou à janela do hospital onde tem estado em tratamentos desde que foi acometido de dupla pneumonia. Há quarenta dias que está internado, quase sempre com prognóstico reservado. As orações dos fiéis, devolveram-no hoje ao Vaticano onde continuará a recuperar. 

         - Alguns números da depressão Martinho: 8.600 pedidos de socorro; 4.495 árvores derrubadas; 2.098 estruturas destruídas; milhares de carros desfeitos pela queda de árvores; 82 mil lares sem electricidade; no Cabo da Roca foi onde se deu a mais violenta rajada de vento: 169km/hora. 

         - O que está a prazo na direcção do PS, diz que "a saúde é uma área prioritária, fundamental, onde o Governo falhou em toda a linha. Área onde foram feitas muitas promessas, mas aquilo que temos assistido foi um conjunto sequencial seguido de trapalhadas". Bem prega frei Tomás! Como se quando os socialistas estiveram (e ainda por cima com maioria) no Governo, tivessem feito o mínimo exigido para assistir aos portugueses. Foi a sua política de saúde, que nos trouxe ao desastre em que nos encontramos. Espero, fracamente, que os portugueses não tenham memória curta nesta como em muitas outras matérias no momento de votar. 

         - Não sei porquê. Mas a mim, ante o desastre de Presidente que os americanos elegeram, parece-me que de uma guerra civil não escaparão. Tudo se conjuga nesse sentido. 


sábado, março 22, 2025

Sábado, 22.

É evidente que é desumana toda a atitude que humilha e reduz o ser humano a um farrapo. Penso nos milhares de imigrantes que vivem em condições indignas, sujeitos a tipos que os exploram, sem justiça que os defenda e proteja, num país desorganizado que não pôde fazer frente à invasão dos fugitivos da miséria, das guerras, da pata de regimes totalitários, de autênticos gangues aproados ao poder como se o país fosse a sua tapada privada. Aqui chegados, foi na calçada ou banco de jardim que estenderam os ossos cansados, na Igreja que receberam a primeira côdea, num ou outro amigo que chegou adiante, a simpatia e decerto a ternura. Os dias e as semanas foram passando, fechados num buraco de incertezas, a vida parada, os sonhos desfeitos, os poucos euros gastos, a certeza a rondar-lhes a consciência que os fez acreditar que o futuro seria melhor e menos exposto à gula dos exploradores longe do seu país. Aqui, porém, foram e são explorados não só por aqueles que os utilizam como mão de obra barata, mas também por aqueles que em nome das ideologias, da sofreguidão do poder, da beatificação dos seus princípios de igualdade, os receberam para a via-sacra de grande sofrimento e humilhação. Melhor fora que pensassem em primeiro organizar a sua chegada com certificado de trabalho, um tecto condigno onde pudessem descansar o corpo esgotado dos dias de labuta forçada e pouca alimentação, com salários compatíveis com o exercício social e cívico. Responder à irmandade com a escravidão, é realizar a pior e a mais baixa das atitudes e princípios político-ideológicos que emperra o desenvolvimento, expõe o cidadão ao perigo criminoso de gangues, e força a sociedade a ter a obrigação de os proteger só porque eles vieram sem terem sido chamados. Eles com os filhos às costas e, porque as ideologias os convenceram, reclamam um teto, assistência social, salário e reforma. Pouco importando como vivem e trabalham os que aqui nasceram. Para o bando das esquerdas o essencial é que possam gritar em nome da caridade miserabilista marxista-leninista que nos países onde foi implementada, semeou a miséria mais absoluta, a desigualdade e o trono dos tiranos que os subjugam e subjugaram. Inteiramente de acordo com as regras que o Governo de Luís Montenegro preparou na travagem às normas de António Costa que foram um desastre não só para os infelizes que aqui desembarcaram, mas para o país que não estava preparado para os receber. Precisamos dos imigrantes para fazer aquilo que os portugueses não querem fazer, é certo. Nesse caso, paguemos-lhes com dignidade e aceitemo-los com irmandade. 


quinta-feira, março 20, 2025

Quinta, 20. 

Como se previa, o ditador Putin, passou a perna ao déspota Donald Trump. A guerra sempre entreteve a América, fanática de jogos que rendem biliões. O mundo caminha a passos largos para o abismo, ao comando uma rede de políticos mentirosos, gananciosos, corruptos, medíocres. 

         - Enquanto isso, nós por cá, vamo-nos entretendo com futebol, concursos, canções pornográficas, questiúnculas entre o líder do PS e do PSD, com o Chega de premeio em bicos de pés e o bando das esquerdas aos gritinhos desesperados “nós estamos aqui”.  Vê-se na realidade de tudo. Como aquela de Vasco Gonçalves comparar Montenegro ao ladrão socialista. Aqui deixo a conclusão de um excelente artigo de Manuel Carvalho: “Quando Montenegro se diz o homem mais transparente da democracia ocidental, quando Pedro Nuno dos Santos (até me arrepio ao escrever este nome...) recusa distinguir Montenegro de José Sócrates, estamos conversados. Uma campanha civilizada sobre o país e os portugueses? Esperem sentados.” 

         - Martinho, assim lhe chamam os meteorologistas, terno diminutivo que se apresentou como um furão que levou tudo na frente. Eu que nunca acordo de noite, fui sacudido ontem por o uivar do vento, que parecia sair da terra em espiral, transformando tudo em trastes sem préstimo, a mais de 120 km/hora: árvores, prédios, na Ponte 25 de Abril deitou dois carros de bom porte, uma avioneta, catenárias das ferrovias, vários veículos desfeitos, inundações por todo o lado, ondas de 5 metros em Setúbal e Lisboa, que mais sei eu que, logo ao me erguer da cama, me pus a contar quantas árvores tinham caído, se podia sair da quinta... Felizmente, por aqui, nada houve a registar. As TV encarregaram-se de oferecer o conjunto de horrores de Norte a Sul do país.

         -  Ontem, quando nos encontrámos para um almoço no Celeiro, a Maria de Lurdes atirou: “Então vem a Lisboa com um tempo destes?!” Respondi que a mim e à minha liberdade querida, nada nem ninguém fará obstáculo. Antes, tinha estado na Fnac às voltas com o tricot durante três horas. Fui e vim sem chuva de maior e nenhum vento, contrariamente ao que nos prometiam. Encontro agradável com a uma amiga de longa data, cujo carácter tanto aprecio a par de uma vida vivida nos ensinamentos que nos enriquecem, sobretudo quando as dores vastas da rede familiar se conseguem reconstruir. 

         - No fertagus, uma mulher saca da carteira três telemóveis - em nenhum deles colheu os frutos que precisava atendendo às moafas que pelo seu rosto perpassavam.  

         - No barbeiro esta manhã. Pergunta o cliente: “O meu amigo como é que veio pá´qui viver? – Porque gostei do castelo. – Do castelo! – surpreende-se o freguês. – Do castelo e do vinho.” Resposta do sujeito que estava a meu lado esperando vez: “E que mais precisa um homem!” 


terça-feira, março 18, 2025

Terça, 18.

Israel voltou à carga com a mesma desumanidade que se lhe conhece. Agora mais violento apoiado pelo egocêntrico que governa o mundo. Só ontem morreram para cima de 400 pessoas entre civis e crianças. Foi uma rajada de Norte a Sul da Faixa de Gaza, acompanhada da ameaça: “Ou soltam os reféns, ou conhecerão o inferno.” Netanyahu parece não conhecer a crença que sustem os soldados do HAMAS, segundo a qual a morte é a redenção.   

         - Cinquenta anos depois do 25 de Abril, estão de regresso não só as barracas, como a pobreza extrema, o analfabetismo, a miséria humana e social, o abandono dos pobres e crianças, doentes e frágeis, a tirania do mercado, os bairros da lata... Oito anos do socialista António Costa produziram grande parte deste espectáculo, porque nada fez pela habitação, deixou entrar milhares de imigrantes famintos, destruiu o ecossistema colectivo que os primeiros parlamentares souberam edificar e manter. Hoje, por todo o lado, do Minho ao Algarve, os telhados de contraplacado e chapa são a imagem sinistra que nos lembra os anos do fascismo. Os bidonvilles que descrevi numa série de reportagens que fiz nos anos Setenta, em Paris, para o jornal A Capital, estão plasmadas em muitos arrabaldes das grandes cidades. Não há oferta pública de habitação e o que há tem preços de país rico onde vive uma população de gente abaixo do limiar da pobreza. Aqui, não muito longe da minha porta, no espaço de dois anos, levantaram-se grandes caixas de ferro, com pequenos rasgos-guritas, decorados com persianas brancas, a que os exploradores chamam casas. Ali mora já uma grande colónia de brasileiros. Vejo-os sair cedo e chegar tarde, trabalham, portanto, mas o que ganham não dá para dormir debaixo de um tecto. Costa, só no penúltimo ano de (des)governação, quando os jovens saíram à rua em protesto, se lembrou de erguer a bandeira demagógica da habitação. Ele que no espaço do seu reinado, saiu de uma cave para um primeiro andar, e depois para o condomínio, em Benfica, onde eu pagava para lá não morar. 

         - Não resisto a trazer para aqui este naco de saborosa prosa do escritor Machado de Assis. O diálogo é entre Rubião (a personagem principal e o político de Minas, Camacho). Este tenta convencer aquele a aceitar sentar-se na cadeira dourada do poder. “A minha província está entregue a um grupo de bandidos; não há outro nome para a gente de Pinheiros; e além disso (digo isto com dor e em particular) tenho amigos que me intrigam, uns ganhadores, que querem ver se o partido me repele e se me tomam o lugar... Uns biltres! Ah! Meu caro Rubião, isto de política pode ser comparado à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende. Coroa de espinhos, bofetadas, madeiro e afinal morre-se na cruz das ideias, pregado pelos cravos da inveja, da calúnia e da ingratidão... “ Não pense o leitor que estamos no século XXI, a história passa-se no século XIX!!! Qualquer comparação, é pura coincidência... 

         - Passei a noite no México. Que grande rebaldaria, num olé olé de sete horas ininterruptas. Cruzes! Pitié! Talvez por isso, esta manhã na piscina, a visão de corpos em decadência me foi menos difícil de aceitar. 


segunda-feira, março 17, 2025

Segunda, 17.

Quando me preparava para sair, desceu das alturas uma corda de chuva forte e grossa, acompanhada de trovões assustadores. Recolhi o nariz e já não voltei a pô-lo de fora durante todo o santo dia. Aqui fiquei ocupado com os meus afazeres habituais, de tempos a tempos embalado pelo ruído dos pingos da água batendo nas vidraças do salão onde me quedei de lareira acesa. Nem o Black ousou sair, embrulhado no sono de horas na sua manta quente. 

         - Lá fora, quero dizer, por lugares ensandecidos pelos vozeirões dos políticos vendendo a banha da cobra habitual, pastoreiam as ideias maceradas que passam de boca em boca como pregões contaminados da mentira e dos ódios requentados. O país, as pessoas, o rumo da democracia não lhes importa, posto que a esperança de alcançarem o poder esteja na dobra de um dito, de uma aldrabice, de uma trapaça, de uma  promessa, de um voto perdido no sonho harmonioso de um país em flor. Há pachorra para tudo isto? Não há. Venha o futebol com jogos em cadeia, os concertos dia e noite, as televisões em altos berros oferendo milhares nos concursos da sorte, sigam por meses a conversa fiada dos apresentadores de cultura no Google nas manhãs chuvosas, inunde-se de Norte a Sul este rectângulo de rezas, esmolas, sermões aos coitadinhos que vivem nas ruas, dormem ao relento, entregaram a vida ao cuidado de um povo hospitaleiro, ao bando das esquerdas seus protectores, que tanto os adora desde que os veja à chuva e ao frio e assim alimente os seus ideais e ideologias de uma disfonia espasmódica...

         - Sobra ainda aquela obsessão do inquérito parlamentar a Luís Montenegro que irá contaminar, como tantas outras aberrações, a campanha legislativa. A viúva mártir do BE, aliada à virgem sofredora pelos cãezinhos e gatinhos, adoram os inquéritos que substituem com vantagem para elas os tribunais. Porque o espectáculo de orgulho partidário, de vingança, dias, meses, anos mantém vivos os talentos pidescos do homem do Chega e de muitos outros “representantes do povo” sôfregos de poder. Eles nem se dão contam, rendidos como estão ao ego que os inflama, do ridículo de toda aquela mise en scène. Fez muito bem o primeiro-ministro recusar expor-se daquele modo arrogante, baixo, reles, onde o apuramento da verdade não interessa, sendo importante apenas e só a exibição do horror tribunício demagógico.  

         - Para que conste. Segundo a OMS, mais de 7,7 milhões de pessoas morreram com covid-19 e 777 milhões foram infectadas. Mundialmente foram vacinadas contra o coronavírus 13,6 milhões de pessoas. Horror! Horror! 

         - Para que fique registado. “A propósito de Daniel Day, com os pés em chaga no Big Ben (o homem que escalou ao famoso relógio londrino, em protesto contra o que os israelitas têm feito aos palestinianos), também pensei nos vendilhões do Templo. E hoje mesmo li que Israel e os EUA tentaram vender os palestinianos de Gaza ao Sudão e à Somália.” Alexandra Lucas Pires., no Público de sábado. 


domingo, março 16, 2025

Domingo, 16.

Veio aí o John desafiar-me para um café. Forma de falar porque estivemos à mesa em cavaqueira para cima de hora e meia. Durante e longa e divertida conversa, eu, volta que não volta, tinha de lhe reconstruir o português porque de contrário ninguém se entendia. Ele vai falando como pode e o esforço é meritório e até engraçado. Contudo, quando se mete pelo esoterismo, o seu prato favorito, as coisas tombam para a desgraça. A cabeça dele está formatada à moda americana, crente em tudo e dando crédito ao que lhe é complicado absorver. O que há nele de mais salutar e extensível a milhões de americanos, é uma certa infantilidade e disponibilidade para ajudar quem necessita. Fá-lo franco e desinteressadamente, sem assomar por um minuto a retribuição financeira. Gosto dele, e o nosso convívio termina sempre numa festa onde só faltam os foguetes. 

       - Ana Gomes tanto pode tudo como o seu contrário. Agora meteu-se com o proprietário do grupo Soverde, dando razão ao seu partido nas insinuações e acusações que moveram contra Montenegro. A ilustre senhora, em tempos mais interessante no seu modo de estar na política, fala de “branqueamento de capitais, no sector dos casinos online” sem que se perceba a relação com o que apregoam contra o primeiro-ministro. 

         - Como se previa, é Zelensky que conhece bem Putin, que tem razão. Aquele cessar-fogo por trinta dias que ele e Trump acordaram e este mandou para anuência ao seu melhor amigo o ditador russo, já foi fintado com o retardamento da resposta ao egocentrismo americano. Enquanto o documento vai e vem, os combates e apropriações de território ucraniano não param. Quem nunca duvidou do déspota da Casa Branca, foi Justin Trudeau, assim que ouviu falar do Canadá vir a integrar os EUA como o 51º Estado, logo se insurgiu em valentia e sem medos. Sai do cargo de primeiro-ministro em hossanas pela sua coragem e o senhor que se segue, retoma a sua tenacidade e já avisou Trump que não conte com isso. A Europa da UE foi mais lenta, tergiversou, fez e continua a fazer muitas reuniões (eles adoram aquelas intimidades bem regadas e vividas em hotéis de 5 estrelas), sempre esperançosos que não lhes caia em cima muito trabalho. A modorra é o seu estilo de vida. 

         - É curioso: com a idade estou a coxear melhor. Nunca imaginei. Este meu andar como se pregasse ao chão o pé esquerdo, atirado pela perna direita com desprezo, faz-me lembrar quando trabalhei na rádio o abelhal de coxinhos coitadinhos que possuíam programas radiofónicos na ex-Emissora Nacional, à Rua do Quelhas. Aquilo era um espectáculo digno de se ver! Havia coxearia de todo o género e gostos. A televisão da altura não tolerava coxinhos que balanceavam o corpo e obrigavam os cameramens a estarem atentos de modo a que não saíssem do enquadramento. Daí aquela multidão de senhoras e senhores, desgraçadinhos, obrigados a esconderem-se com vozes melodiosas que o ouvinte imaginava serem produto de um todo excitante. E talvez seria. Porque eu sempre tivera o melhor nesse particular, não só porque era bonitinho, ainda porque era coxinho, coitadinho. Eu percebi isso muito cedo, mas foi quando regressei de Londres, cabelo aloirado pelos ombros, calças “à boca de sino”, ar descontraído que lembrava um estrangeiro, estar-me nas tintas para os piropos que eram despejados dos carros aos semáforos, uma forma de pensar para altura um pouco bizarra, a independência que os rapazes e sobretudo as raparigas não possuíam, fez de mim um tipo original que a todas e a todos atraía. Não sei se conservo esse fascínio, sei que aos meus olhos há qualquer coisa que se vem desenhando, mas que não sei se para o melhor ou para o pior. Fascina-me a decadência, desde que sustentada por uma certa áurea de mistério e acessibilidade. Porque quem somos, sendo o que somos, entramos no outro abraçando todos os mistérios que nele se escondem na antevisão da morte. É esse patamar que ouso espreitar em certos momentos, é esse deitar o olho pela frincha iluminada do exterior, do lado do mundo ante-visado, que me afoito em lucubrações de horas. Sei que tudo, ou antes o fundamental, está por descobrir, por viver. O essencial começa quando expiramos o derradeiro suspiro. Nada do que aqui nos envolveu – paixões, lutas, riqueza, conhecimento, amores, louvores, ódios – contará para o extraordinário destino que se segue. Mortos, somos todos pertencentes à mesma família, ninguém se distingue, nem ninguém leva o que neste mundo o diferenciou. De Gaulle, quando a sua filha anormal morreu, disse: “Agora, minha filha, és igual a toda a gente.”  


sábado, março 15, 2025

Sábado, 15.

Entrámos em berraria, em promessas falsas, em ódios ditos de adversários, repetições de acusações, sempre as mesmas, repetidas à exaustão de modo a que se convertam em verdades. Estamos, pois, em campanha eleitoral para a Assembleia da República, dita a Selva. E contudo, por muito que me esforce em perceber o confronto entre Luís Montenegro e Vasco Gonçalves, que o Presidente da República diz ser ético, não alcanço a verdadeira dimensão de tal desastre para os portugueses. É facto que há trapalhada na forma como o primeiro-ministro se exprime, a conta-gotas, dos factos que a oposição o acusa. Também acho estranho a compra, a pronto, de dois apartamentos na capital, da estadia de Montenegro em hotel de luxo, em Lisboa, pela módica quanta de 250 euros/noite, assim como não sei se estão bem esclarecidas as obras naquele prédio familiar de um gosto manhoso, em Espinho. Seja como for, toda esta exposição sorvida pela gente socialista, vem, no início, da empresa que construiu muito antes de ser primeiro-ministro e depois passou para a mulher e de seguida para os dois filhos e, sobretudo, de uma avença de 45 mil euros paga pela Solverde que detém vários casinos. Vocifera Vasco Gonçalves, decerto invejoso, ele que se ficou por uma ajuda ao pai, sapateiro, que Luís Montenegro acumule aquela pipa de massa, com o cargo de primeiro-ministro. Resumindo, se bem entendo, nada mais há a condenar ao pobre homem, esfolado vivo na praça pública! Pergunto: há crime? Há crime que muito antes de ocupar a cadeira do poder ele ter sido empresário? Há crime em possuir de seu os haveres que estão à vista ou para se ser primeiro-ministro, é necessário ser-se pobrezinho, analfabeto, funcionário público, inscrito num partido ou ter nascido no seio de uma família de sapateiros? Pergunto o que faz aqui a ética encontrada por Marcelo Rebelo de Sousa. 

Todo este abespinhamento, é a tábua de salvação de que precisa o actual dirigente do PS para alcançar a notoriedade que o partido não há meio de lhe outorgar. Vejam que nem um Presidente da República consegue ter para amostra, o partido continua dividido entre os costistas e os (poucos) santistas. Depois, é bom lembrar, que estes pecadilhos de Montenegro, quando comparados com os de José Sócrates; com aquele que escondeu 75 mil no seu gabinete ministerial; com os muitos advogados (de resto em todos os partidos) que acumulam o vencimento de deputado com o exercido do ramo, a fazer de criminosos santos e arcanjos, sem falar nos sucessivos ministros acusados de tudo e mais alguma coisa, substituídos a um ritmo de valsa acelerada por António Costa, ou dos últimos oito anos de maioria absoluta socialista que transformaram este país num território de terceiro mundo, onde a arrogância, o desprezo pelas populações, a marcha atrás na saúde, na educação, na habitação, apesar dos milhões de esmolas vindas da UE, com tanto Portugal enferma, definha, está coberto de pobreza, as desigualdades são abismais, a corrupção instalou-se, os partidos transformados em loas que vomitam ódio e vingança. Num só ano, Luís Montenegro com o seu governo absolutamente fora de série, conseguiu, sob o pântano socialista de oito anos, endireitar muito do que Costa e seus capangas destruíram. Este Governo foi o melhor que tivemos de há quinze anos ao presente. 

         - Sim. António Barreto diz na sua página: “Acabar com a democracia, para pôr um termo à sua imperfeição, é o mesmo que matar o ser humano porque está doente, não matar a doença.” Talvez. Contudo, do que eu sei e me é dado observar, nunca foi o povo que se opôs à democracia – quem a matou foi sempre a ganância, a sofreguidão pelo poder, a corrupção. O povo, amochado, aceitou. Os responsáveis, conseguem sempre fugir para paraísos idílicos. Está dito. 


quinta-feira, março 13, 2025

Quinta, 13.

Outro dia, cedendo à tentação de fugir ao animal solitário que sou, aceitei fazer parte de uma tertúlia em que só havia jovens de ambos os sexos. Tarde divertida, com efeito. O tema era a política e o estado em que se encontra o país. Respondi a todas as perguntas e questões que me foram postas, julgo com independência e a tal jovialidade que afinal não é só a ilustre empregada da Brasileira a reconhecer, mas também a maioria dos meus auditores. Um deles, brasileiro, foi ao ponto de me dizer - com a cautela que o seu português lhe permitia -, “embora não seja novo, tem um espírito jovem que surpreende, na maneira como fala e na forma como pensa”. Não recebi cachet nem preciso, porque saí de lá recompensado e feliz. Quanto à beleza daqueles rostos, xiu! 

         -  O Parlamento, para mim, vai passar a denominar-se a selva, melhor a Selva. Pois na Selva, nestes derradeiros dias em que a moção de confiança do Governo foi chumbada por todos os partidos à excepção do Iniciativa Liberal foi, de facto, um tremendo urrar contra a democracia, o respeito dos deputados entre si e povo que os elegeu. Foi uma VERGONHA, a provar muito do que aqui tenho deixado escrito ao longo dos anos; a chamar a ditadura que ninguém deseja; a fazer dos portugueses ignorantes e básicos; a ludibriar as questões e acusações mútuas; o blá blá igual que conhecemos e só mudam as línguas fedorentas que o apregoam. Cito este poema de Jorge de Sena, retirado de Metamorfoses, decerto a partir do Canto X de Luís de Camões.


Podereis roubar-me tudo:

As ideias, as palavras, as imagens,

E também as metáforas, os temas, os motivos,

Os símbolos, e a primazia

Nas dores sofridas de uma língua nova,

No entendimento de outros, na coragem

De combater, julgar, de penetrar

Em recessos de amor para que sois castrados.

E podereis depois não me citar,

Suprimir-me, ignorar-me, aclamar até

Outros ladrões mais felizes..

Não importa nada: que o castigo

Será terrível. Não só quando

Vossos netos não souberem já quem sois

Terão de me saber melhor ainda

Do que fingis que não sabeis,

Como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,

Reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,

Tido por meu, contado como meu,

Até mesmo aquele pouco e miserável

Que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.

Nada tereis, mas nada: nem os ossos,

Que um vosso esqueleto há-de ser buscado,

para passar por meu, E para outros ladrões,

iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

         - Fui à natação. Anteontem e hoje, surgiram dos escombros da memória, as mesmas tentações que na realidade nunca me deixaram. Se fosse possível olhar sem ver, ouvir sem escutar, pensar sem ser vigiado pelos sentimentos que perdoam ou condenam, a nossa vida seria infinitamente mais livre e bela, mais humana e devoradora dos instantes etéreos. 


segunda-feira, março 10, 2025

Segunda, 10.

Não conto porque não possa, mas porque com o vendaval que aqui anda e ciranda, não é salutífero. De resto, como costumo dizer, trabalho não falta e se passasse dentro destes muros um ano, tenho a impressão que nunca terminaria o muito que desejo concluir. Até o Black, habitualmente valdevinos, se veio acoitar cá dentro, pondo em dia os sonos de uma vida de galderice. Talvez embalado pelo cantar da chuva e do vento, ele me empurre para uma soneca depois do almoço. 

         - Vou à proa do romance de Machado de Assis. De uma assentada, li cem páginas tocado pela magia da história e pelo modo como é narrada. Não há lugar à respiração, tudo se encadeia num tom de palratório natural, sem rebuscados à Mário Cláudio, como quem conta um conto escrito na véspera. Há, com efeito, na escrita brasileira este sortilégio. O problema é começar e logo somos arrastados pelo feiticeiro que há nos escritores do Brasil. Em cada página existe uma espécie de macumba, aquela arte de escrever que é ligeira mesmo quando aborda temas esotéricos, desfaz-se e arrasta-nos e envolve-nos de tal maneira que passamos a ser parte da história. Tenho ainda mais umas quantas centenas para devorar e quando chegar ao fim direi que destino foi aquele de Quincas Borba.  

         - Ontem estive ao telefone ao todo umas duas horas e meia. Só com o João, retornado de uma demasiada longa ausência, fiquei mais de sessenta minutos. O problema é que os aparelhos modernos não suportam tanto labor, e a dada altura dá-lhes o chilique, e finam-se. As baterias, afinal de contas, são quem limita ou estende a conversação dos tempos modernos. Estamos subjugados às maquinas, aos algoritmos, e muita gente já não sabe viver sem elas. A vida moderna tornou-se escrava dos robôs que nos ensandece por todo o lado. Desistimos de pensar, da amiga solidão, dos espaços amplos onde o eu se reencontra na expressão feliz de São Paulo: “Corpo e espírito interpenetram-se.”


domingo, março 09, 2025

Domingo, 9. 

Donald Trump encarna o destino de Adolfo Hitler. Há nele uma maleficência que o transporta com toda a sua trupe de oligarcas, para uma ideia do poder que se consubstancia nele e nele cresce. A sua obsessão por ficar na história como aquele que desfez todos os compromissos que a América tomou após a II Guerra, pensando que assim reorganizará um mundo mais equilibrado sob a bandeira protectora do dinheiro e da primazia dos EUA sobre o resto das nações, é um projecto que o enterrará sob os escombros da Rússia e dos poucos países que a sustêm. Putin é mil vezes mais esperto que ele e espreita o momento de poder enterrar o seu arqui-inimigo. Quando se assistiu há dias, na ONU, à votação que condenava a invasão da Ucrânia, os EUA votarem ao lado da  Rússia, Bielorrússia e Coreia do Norte, está tudo dito e esclarecido. Que a Macron não falte lucidez, pois foi ele que primeiro descortinou o estrondoso bater de portas à Europa do novo inquilino da Casa Branca. Àqueles países acrescem a Hungria de Viktor Orbán e a Roménia de Calin Georgescu. Ao longe, com a sua eterna paciência e perspicácia, está a China. Todavia, o perigo vai crescendo com o apetite de outras autocracias em marcha. 

Bem observado. 

         - Toda esta desordem passa ao lado dos nossos queridos representantes do povo. É já certo que iremos de novo às urnas, e mesmo que isso nos custe vários milhões, aos nossos políticos é indiferente porque não lhes custa a ganhar. Desejo, sinceramente, que não voltemos a ser governados pelos socialistas; se o anterior foi péssimo sob a égide de António Costa, com o Vasco Gonçalves vai ser a ruína. 

         - Falemos, então, de coisas mais sérias e infinitamente mais profundas. Apresso-me a transcrever estas duas passagens do artigo de Frei Bento Domingues hoje no Público.

“Os cristãos só podem mandar queimar a cruz quando desaparecerem da terra as mil formas de humilhação humana que a percorrem. Descrucificar o cristianismo sem descrucificar a sorte dos ofendidos é roubar ao mundo o último grito do infinito amor solidário.”  

“Quando a Palavra de Deus suscitar a imagem ou a ideia de uma ameaça à nossa liberdade e à nossa criatividade, esse deus é o diabo, aquele que nos desvia de nós mesmos. A partir de Jesus, descobrimos a única coisa que Deus quer é o nosso renascimento todos os dias, com ritmos diferentes para a nossa Páscoa eterna.” 


sábado, março 08, 2025

Sábado, 8.

As crianças, no mundo actual, são as que mais sofrem com a desorientação humana. Em França, um cirurgião hoje com 74 anos, Joel Le Scouarnec, violou durante pelo menos três décadas crianças dos nove aos onze anos. No total 300 vítimas foram drogadas. Um homem, hoje com trinta anos, contou ao tribunal que foi agredido sexualmente durante uma consulta, em 1995, quando ainda era criança. O julgamento que decorre em Vannes, no Oeste da França, vai examinar os abusos cometidos contra 158 rapazes e 141 raparigas. Esta libertação dos ofendidos e ofendidas, vem na sequência heróica da senhora Gisèle Pélicot que levou a tribunal o marido, que durante anos a drogou para ser abusada na sua própria cama por quase uma centena de homens convidados do companheiro pela Internet. Tanto o criminoso médico, como este filmavam e fotografavam os actos sexuais. 

         - Comprei o romance de Machado de Assis, Quincas Borba. A bela iniciativa da sua publicação, pertence a editora Tinta da China. Mal cheguei a casa, comecei logo a lê-lo de forma a compensar os anos que perdi quando jovem o queria ler e sempre guardara este desejo satisfeito, enfim, ontem. 

         - No fertagus, este linguarejar de negro: “Eu logo vou-te checar, ya.” 

         - A  Piedade veio aí. Pergunta-me se não ouvi os trovões, a chuva e o vento e outro dia o tremor de terra, a tudo respondi que não. Durmo e quando durmo, fecha-se-me o mundo real e abre-se um outro onde entram de porta escancarada nomes e rostos quotidianos disfarçados de fantasmas com tiques humanos.

         - Deliciosas duas horas ontem na Fnac às voltas com Ana Boavida. Se existe felicidade total, eu conheço-a. São cintilações brilhantes que descem não sei de onde e ficam a cercar-me enquanto escrevo isolando-me por completo. 

         - Ao consultar a minha agenda de aniversários deste mês, verifiquei que a todos devo um Pai-Nosso em memória da nossa amizade: a minha queridíssima irmã, Ti Luís que aqui trabalhou até ao 93 anos, Manuel Cargaleiro, Augusto Tejo. Que Deus os tenha por perto. 


quinta-feira, março 06, 2025

Quinta, 6.

Como se previa, vamos de novo para eleições legislativas. A pouca vergonha parlamentar não dá tréguas ao país que delas tanto precisa para enfrentar os horrores que aí vêm. Vasco Gonçalves é completamente incompetente e irresponsável e Deus nos livre de voltarmos a ter os socialistas a governar este infeliz rectângulo. O que se tem passado na Assembleia é o retrato deplorável de uma classe que está completamente desacreditada, vive num mundo que não tem paralelo com aquele onde vegeta o comum dos mortais. Ganham a vida a fazer e a desfazer Governos, adiando eternamente os verdadeiros problemas dos cidadãos, alcandorados em esquemas de ódio e corrupção, a nação pouco ou nada lhes diz, a ganância do poder está a cima de tudo e todos. 

         - Ouvi atentamente em directo a mensagem de Emmanuel Macron. É ele a luz ao fundo do túnel da UE. Gostei de saber que desde já estende o guarda-chuva nuclear a todos os países que compõem a União Europeia. A este propósito, os nossos amigos comunistas, desorientados com o volte-face mundial, até já apoiam Trump afirmando que ele é o único que fala de paz. Estão contra os gastos de 800 mil milhões anunciados pela titubeante senhora Von der Leyen e do seu secretário senhor António Costa. Mas quem se realça desta salgueirada com prestígio e dignidade, é Volodymyr Zelensky.  Evidentemente que todas as inquietações mundiais, passam ao lado dos nossos bravos deputados. 

         - Fui à natação. O que me espanta, é o cuidado dos velhos com a saúde. É raro ver uma jovem ou um jovem na piscina. É certo que aquelas barrigas medonhas não voltarão ao espalmado belo corpo de outros tempos, mas há neles um entusiasmo ritmado pela música pimba que a técnica ucraniana põem em altos berros e elas e eles acompanham com um passo de dança saracoteado na água. Decerto daí saem directos para um cozido à portuguesa, e de seguida um sono desprendido dos altos, no sofá da sala. Mas que importa, se naquela meia-hora de saltinhos, deixaram a televisão eles, e elas de bacios de flores e frutos à cabeça, vestem a pele de Carmem Miranda que em sonhos sonharam ser. 

         - A meteorologia promete-nos o inferno na antevisão de chuva forte, trovoada, ventos em rabanada. Todavia, o que admiro deste lugar da escrita através da janela baixa, é um dia encantador de sol radiante, sem uma gota de chuva. A Natureza parece espojada de jubilação, as folhas das árvores bruxuleiam com delicadeza, os verdes estão mais intensos, o relvado de erva brava estende o seu tapete ao longo deste espaço, pelos caminhos o silêncio é verde, a luz amarelada, o horizonte acastelado de nuvens brancas fecha o ângulo de visão. Estou que nem posso de leveza. 


quarta-feira, março 05, 2025

Quarta, 4.

Um livreiro que me conhece e a quem comprei o livro de Jean d´Ormesson, Un jour je m´en irai sans en avoir tout dit que não conhecia, em conversa amena, diz-me que os jovens lêem para se evadirem e deixarem de parte a canga tecnológica, musical, futebolista e familiar. “Enquanto lêem não pensam, mesmo que seja um livro de histórias banais, distrai-os.” 

         - Um outro livreiro no Corte Inglês, tentando convencer-me a ler este e aquele livro que ele ia retirando das estantes certo que me atraía a comprá-lo, ante o meu torcer de nariz, atirou: “Eu sei que você é especial, que é muito selectivo, mas este livro é de um autor muito espiritual...” Rematei: “precisamente por isso é que tenho dúvidas se me interessa”.  

         - Trump discursou no Congresso. Durante mais de uma hora, auto-elogiou-se, o ego ardendo diante dos seus súbditos. Passou em revista o que fez no mês que leva de governação, com especial ênfase na área económica, na expulsão dos imigrantes atirados acorrentados para camiões e comboios, ameaçou o mundo ocidental com tarifas a partir de Abril, e disse ter já acabado com “a tirania da política de diversidade e inclusão de todo o governo federal” afirmando que “o nosso país não será mais `woke´, congratulou-se com a mudança do Golfe do México para Golfe da América e ameaça anexar a Gronelândia, entre outras benesses à Trump. Deteve-se também a falar da carta que Zelensky lhe enviou para retomar o contrato de exploração dos minérios das terras raras e ainda lhe sobraram uns minutos para glorificar Elon Musk como o homem certo no lugar certo para correr com os funcionários públicos, sair da OMS e da ONU. A UE tremeu, os débeis governantes que a dirigem, têm chiliques quando o homem fala. E não passam disso. Um copo de água reaviva-os de novo para a sonolência em que vivem. E a retoma de novos debates em pescadinha. Penso em Nicolau de Cusa: “A dialética inerente a este saber do não saber.”

         - Eu vejo mais este contrato das terras raras como uma desgraça, uma capitulação para a Ucrânia. Desde que saiu da reunião com os ingleses e os outros compagnons de route,  Zelensky, percebeu que com eles não podia contar. Só, ele que foi o agredido, que viu o seu país desfeito em entulho, viu morrer milhares de soldados e civis, teve a vida parada, noites e dias, durante três  anos, à espera dos mísseis russos, ele que tanto se entregou à UE, à NATO, em viagens constates de desespero, outra decisão não lhe resta que estender a mão ao seu algoz. Putin, a toupeira, aguarda que as terras lhe sejam entregues nos braços abertos, um sorriso demoníaco traçado no rosto de mármore. 


terça-feira, março 04, 2025

Terça, 4.

Estão a fritá-lo na praça pública. De todos os governos destes últimos dez anos, ele foi o que melhor tem orientado a “coisa” pública. Refiro-me a Luís Montenegro e ao seu staff. Admito que nem tudo o que está em questão seja claro, mas por muito que esmiúce, não consigo ver uma determinação em prejudicar, roubar, alienar o erário de todos nós. Não chega que os pobres coitadinhos dos socialistas, fascinados pela riqueza, queiram sujar-lhe o nome a todo o custo, eles que deixaram o país numa choldra, untado de corrupção, de casos e casinhos, de ministros que entraram e saíram num corrupio constante de culpas e factos concretos de prejuízo para a nação. Os partidos não têm trabalho real, daquele que os portugueses submissos e pobres, noite e dia, pagam com os costados em impostos para que eles se divirtam a desfazer governos mês sim, mês não. Que gentalha, santo Deus! Que triste e medíocre democracia tanto desejada, equidistante por meio século, e agora usada como quem usa um par de cuecas sujas!


domingo, março 02, 2025

Domingo, 2.

Apreciei a forma como Luís Montenegro se dirigiu aos portugueses a propósito do ataque sem precedentes que lhe fizeram todos os partidos. Acho que ele foi imprudente na maneira como ordenou a sua vida pessoal com o cargo que ocupa. Todavia, ao contrário de muitos outros governantes socialistas, não cometeu nenhum crime, não roubou o erário público, não escondeu dinheiro nos gabinetes ministeriais, não concedeu favores a este e àquele amigo. Pelo contrário, a sua gestão é exemplar: no modo, no feitio, na abordagem dos assuntos, na discrição, na entrega à causa pública, na eficiência. Ele e toda a sua equipa, é gente competente, que tem tentado endireitar aquilo que António Costa destruiu, malbaratou, tarefa nada fácil com a guerra (é só isso que lhes interessa) dos partidos para ganharem o poder. Digo mais. Tenho a certeza se formos para eleições e ele se recandidate, obtém a maioria. Está toda a gente farta destas lutas, daquelas carantonhas da Pasionaria do BE à dos cãezinhos, da fúria do Vasco Gonçalves à réplica trumpista do Ventura. Suceder ao desastre António Costa, é um trabalho hercúleo que poucos conseguem realizar. A esquerda, que nunca trabalhou e cedo se encostou aos partidos, não sabe o que é dirigir uma empresa, o que é ser trabalhador e governar-se com o salário no limite, desconhece a luta do empresário para vencer com os trabalhadores às costas, os impostos a pagar, a concorrência desleal, a sofreguidão dos bancos... Ser deputado, é estar ali às ordens do partido, a maioria nunca chega a abrir a boca durante todo o mandato, é passivo, reverente, submisso. No fim do mês, na conta bancária, caiem-lhe 4 mil euros – é tão bom ser superior ao comum dos mortais... pelo montante salarial saído dos nossos impostos. 

         - O clube de ganguesteres que governa a América, na sua ignorância, ganância e desequilíbrio, contribuiu (assim espero) para a união da Europa. Não só com esta como com outras grandes nações do mundo que conhecem e saboreiam a riqueza da democracia. Zelensky e a sua Fronteira (Ucrânia) saiu ganhador daquele confronto primário que tentou amedrontá-lo, humilhá-lo, prendê-lo aos valores dos minerais que tanta gula despertam ao Don Corleone (como o apelida Teresa de Sousa). Contudo, do que agora se fala é do nuclear. Na Europa só a França e o Reino Unido o possuiu e este dependente dos EUA. A senhora Le Pen já veio dizer que o nuclear deve ficar circunscrito à defesa da França. Don Corleone não diria melhor. Antes de 1991 suponho, a Ucrânia também tinha armas nucleares, mas entregou-as à Rússia e aos Estados Unidos quando assinou o Tratado de Budapeste, em 1994, com os Estados Unidos, Rússia e Reino Unido a troco da sua independência e segurança das suas fronteiras. O que fez a Rússia do tirano, todos conhecemos. 

         - Não costumo trazer para este encontro o mestre de tanta escrita, cujas histórias conheço desde que entrei para o jornalismo, senhor Miguel Esteves Cardoso. Tenho simpatia por ele, mas talvez gostasse mais no tempo em que a sua vida se multiplicava num saboroso apimentado. Eis o que ele diz sobre o momento presente: “Perante aqueles broncos inchados, Zelensky não pestanejou. Foi buscar força a todos os ucranianos que morreram por causa da invasão russa. Foi buscar força ao facto de estar em guerra, comparando essa violência e esse medo à mera truculência verbal daqueles dois pavões obesos à frente dele. O homem pequenino mostrou que não se curva – e que foi por não se curvar que a Ucrânia continua a lutar contra o monstro que (a) invadiu.”   

          - Tempo soturno. Quando precisávamos de sol, o céu oferece-nos um dia sincelo. Saí por momentos para comprar o jornal e tomar café. Aqui em casa, a lareira acesa, entrego-me às leituras, à escrita, à deambulação por mundos idos. Há duas semanas findei o volumoso livro de Gustave Flaubert, l´Éducation sentimentale. Fabuloso testemunho de uma época, a metade do século XIX, entre 1840 e o golpe de Estado de 1851, em França. Foi um trabalho que revolucionou o romance, com o fresco incrível das transformações ocorridas na sociedade francesa e por tabela, nessa época, noutras sociedades que tinham no espírito francês o suporte, a par da evolução da quantidade de personagens na mudança da monarquia para a república, com todos os acontecimentos morais, políticos, partidários, murados numa filosofia da história onde se encontram os estados de alma mais díspares, a efervescência do capitalismo em gestação, os costumes sociais e religiosos, num panorama absolutamente surpreendente de narrativa ensaísta que cruza a realidade histórica com a criação literária. Os grandes temas e opções políticas que haveriam de transpor para o séc. XX, com as teorias de Marx, Proudhon e tantos outros, a inflamarem os primeiros raios de sol do século XX e derrocada do Império em 1848.  


sábado, março 01, 2025

Sábado, 1 de Março. 

Da boca de Marcelo Rebelo de Sousa tanto saem as palavras mais argutas, como as imprevisíveis trolaró. Observando a decisão de Trump ao escolher os jornalistas e até os temas por eles abordados a partir da Casa Branca, o Presidente da República soube alertar para o caminho ditatorial do governante americano. E depois, quando na estada de dois dias em Portugal de Emmanuel Macron, no jantar da sala gelada do Palácio da Ajuda, teceu uma panorâmica histórica da relação de Donald Trump com a UE, a Ucrânia e a célebre aliança saída da Segunda Guerra Mundial. Foi corajoso, justo, perfeito. A tal ponto que surpreendeu o visitante e decerto muitos portugueses. O homem quando lhe dá para pôr de lado a demagogia e o populismo, cresce em grandeza.  

         - A semana finda num desastre total. O mundo assiste em directo ao espectáculo degradante de dois chefes de Estado confrontando-se num tom de escumalha reles, em plena Sala Oval, com um rancho de jornalistas a transmitir toda a violência verbal  entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump, com os apartes do bebé Nestlé J. D. Vance perigoso ambicioso que disse o pior do seu patrão noutros tempos e agora está de joelhos em améns a tudo o que lhe sai da boca para fora. Esta Administração Trump não vai durar muito tempo, são muitos os galos a cantar à desgarrada, são tantas as arrogâncias, as prepotências, as investidas à legalidade, que é impossível que a base democrática do país não se revolte. Primeiro, obrigaram o Presidente da Ucrânia a dizer pela enésima vez que está “grato” à ajuda americana; depois Trump culpa-o de preparar a Terceira Guerra Mundial ao não se rebaixar perante um acordo de paz para o qual não conta para nada, estando todas as atenções viradas para Putin. A dada altura, falam de acordos. No diálogo que se segue o vice-presidente no momento em que Zelensky recorda que a Rússia violou os acordos diplomáticos no passado, pergunta-lhe a que tipo de diplomacia se referia. Vance não gostou da ousadia e atira: “Penso que é uma falta de respeito que venha para a Sala Oval tentar contestar isso em frente aos media americanos.” O encontro termina tenso e o que tinha levado a Washington Zelensky (a assinatura da exploração de minérios) acaba desfeito. Logo de seguida, todos os presidentes europeus, dão força a Zelensky colocando-se a seu lado para prosseguirem juntos a guerra ao invasor. Um diplomata, um grande Presidente, que não se deixou rebaixar ante aquelas arruaças ordinárias, como se ele não tivesse outra alternativa que ceder ao plano que o monstro preparou. Como vai tudo isto terminar, é uma incógnita. Lá longe, Putin, contorce-se de contentamento. 

         - Ontem almocei com o João. Sempre que estamos juntos, evito falar de política. Quando ele veio ao meu encontro ao café da Fnac, logo ali quis falar do que se passa entre a América e a Federação Russa. Suponho que para os comunistas deva ser um momento confuso, porque comunista que se preze, interiorizou esta fórmula simples e fácil de usar: ou se é pela Rússia contra a América ou o contrário. 

         - “Parece que só pode fazer política quem tenha a educação restrita, o salário mínimo, um emprego do Estado, uma função na autarquia ou um cargo no partido. Por outras palavras, quem trabalhe para o Estado ou quem ganhe muito pouco e não tenha bens, nem propriedades. São ideias macabras que diminuem direitos, criam desigualdades e provocam ainda mais corrupção.”  Vem este parágrafo no artigo de António Barreto a propósito do que por aí vai sobre a empresa do primeiro-ministro, nesta democracia transformada numa guerra permanente pelo poder entre partidos. Amanhã ocupar-me-ei do assunto.   

         - Fugir a tudo isto, deixar para trás esta mixórdia de sentimentos, esta cabala de interesses e vaidades, esta inquietação pelo futuro e descer à intimidade de Deus, ao Seu refúgio, à preparação do nosso encontro na Eternidade.