Domingo, 6.
Dia tristonho, nem chuva nem sol. Ocupei-me às voltas na cozinha, na apanha de dióspiros e na confecção de compota à moda de uma vizinha a quem eu havia oferecido um mancheia deste fruto, muita leitura e um pouco de TV5 Monde.
- Anteontem fui na companhia do João conhecer o Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian ao jeito japonês. É um pouco inconcebível, espécie de acrescento contra-natura, mas toda a gente parece gostar daquele “modernismo” e não sou eu que os vou desiludir. Um dia deste digo porquê.
- Hoje queria voltar ao artigo de João Miguel Tavares e à defesa de António Guterres, eu que tanta vez o depreciei. Insurge-se o articulista contra estas palavras ditas na sede da ONU pelo secretário-geral: o HAMAS “não surgiu do vácuo” e o “povo palestiniano tem sido sujeito a uma ocupação sufocante há 56 anos”. O jornalista não gostou “do timing” e do contesto em que as palavras foram expostas. E para reforçar os seus argumentos, cita o facto de os trabalhadores humanitários em Gaza das Nações Unidas, estarem a ser vítimas de Israel; sendo que alguns desses voluntários, segundo o agressor, pertenciam ao HAMAS. Sim, também li isso, mas penso que as coisas estão descontextualizadas tendo em conta a difícil tarefa para Guterres de controlo de situações como esta. Aliás, segundo li, mais de 300 humanitários enviados pela ONU, morreram nas brutais e desumanas investidas de Netanyahu sobre a Palestina. António Guterres tem sido um acérrimo defensor da justiça e da paz. Surpreende-me que Tavares nunca tenha pensado na carga de interesses que se escondem sob a capa de inúmeras tentativas de paz por parte daqueles que fornecem a guerra. Eu vejo na acção do nosso compatriota, uma espécie de recuperação da imagem molengona da sua direcção à frente das Nações Unidas. Ele foi corajoso, a ponto de o primeiro-ministro israelita ter sido arrogante e prepotente, ao afirmar que as Nações Unidas (ele queria dizer Guterres) eram antissemitas. Tudo o que foi dito pelo secretário-geral em voz alta, anda a ser balbuciada por muitos países sem coragem para erguer alto a verdade que todos conhecemos: durante quase um século, os palestinianos foram escravos de Israel, sem território independente, sujeitos à tirania e à constante guerra dos opressores. Quem não se lembra da “intifada” de 1987? Entretanto, pelos menos 41 mil infelizes palestinos, morreram sob os escombros de uma guerra bárbara que ninguém consegue parar. Mais: Netanyahu, faz o que quer e como quer. Invade um país soberano como o Líbano, bombardeia a Síria, Jordânia e a soma de mortos não pára de crescer. Pouco importa, como no caso da Palestina, que a maioria (ou perto) sejam adolescentes e crianças.
- Justamente, desta vez, Emmanuel Macron tombou, enfim, para o lado certo, ao afirmar que irá suspender o envio de armas para Israel e ter apelado no seu discurso nas Nações Unidas para que não haja guerra no Líbano. “Pedimos a Israel que cesse essa escalada no Líbano, e ao Hezbollah que cesse esses lançamentos de mísseis contra Israel. Pedimos a todos aqueles que fornecem [ao Hezbollah] os meios para fazê-lo que parem de fazê-lo.” Sábias palavras a que Netanyahu respondeu: “que vergonha”, acrescentando: “Israel ganhará a guerra com ou sem o seu apoio.”
- Não compreendo, nem posso estar de acordo com a moda de calar o povo com subsídios e descontos nisto e naquilo. É o que tem feito, como António Costa que se excedeu e vive agora como um príncipe, Luís Montenegro. Um país governado com esmolas, é um país sem dignidade, sem independência, sem espírito crítico, humilhado e dependente dos jogos partidários, onde o nível de vida será sempre rasteiro. Em suma: não é um país, é uma coutada dos grandes senhores que nela recolhem o descontentamento e o ódio, a miséria e pelintrice em seu proveito próprio. Jogam com a ignorância, o pateta contentinho com pouco, adestrado para o infortúnio, e dois milhões e meio de pobres a apascentar.