quinta-feira, janeiro 30, 2025

Quinta, 30.

Há uma história que me inquieta desde que o guru dos tempos modernos, senhor Yuval Noah Harari, judeu nascido em Israel, disse a uma jornalista do canal 3 da RTP que o entrevistou, que Deus é uma criação humana e que na Bíblia não há nenhuma exposição física d´Ele e, portanto, subentendido todas as pinturas e imagens que conhecemos são invenções dos artistas. É verdade que tanto no Antigo Testamento pelo qual a vedeta se orienta, como no Novo Testamento em que os judeus não se revêm, eu que me orgulho de ter lido com atenção o Livro Sagrado, também não conheço nada que possa orientar-me no sentido de conhecer a imagem de Deus. Todavia, se não conhecemos Deus, conhecemos o seu filho Jesus Cristo. Ninguém nega a sua passagem por este mundo, a Antiguidade Romana e os seus contemporâneos, viram-no, Pôncio Pilatos que era governador romano, cedendo às teorias dos influentes fariseus, condenou-O à morte na Cruz. Mas que diabo! Jesus Cristo viveu 33 anos e durante a sua vida, andou de terra em terra a pregar a boa nova. Viveu nos meio dos seus seguidores, entrou nas sinagogas, foi, portanto, alguém que se expôs. Os doze Apóstolos privaram com Ele, estiveram reunidos no derradeiro banquete antes da crucificação. Séculos depois da sua subida aos céus como nos narram as Escrituras, foi encontrado o Santo Sudário uma peça com 4,40 m de comprimento e 1,10 m de largura, com os signos que cobriram o corpo de Jesus Cristo na noite de 3 de Abril do ano 33 após a descida da Cruz. O que se distingue no pano de linho exposto em Turim, não dista nada (ou muito pouco) do que os seus contemporâneos e artistas descreveram e perpetuaram. Há anos, o historiador francês que eu aprecio muito, Jean-Christian Petitfils, anota: “Disons-le sans ambages, le saint suaire ou linceul de Turin présente toutes les caractèristiques de l´authenticité. Le doute, aujourd´hui, n´existe plus. C´est la science que le dit, car l´histoire, malheuresement, ne permet pas de remonter de façon certaine aux origines.” Nada acrescento, a não ser o facto de ser do restrito domínio da fé, o desaparecimento do corpo de Jesus Cristo do lugar onde havia sido abandonado pelos soldados romanos. 

         - Não me calo. Que este registo seja não só a exposição do seu autor, como a sua indignação face a uma classe política que perdeu completamente a consideração pelos seus concidadãos que juraram respeitar. A maior parte das procissões que pelos tribunais tem passado ao longo da nossa democracia, e foram tantas, encorpou quase gente do PS e do PSD. E não me venham com a ideia de que nem todos são subornáveis – poucos, afinal, são honestos. O último é um senhor que foi Presidente da Câmara de Bragança (já na altura com problemas) e estava adjunto à elaboração da Lei dos Solos, e que à margem se apressou a abrir duas empresas com a mulher e as filhas de compra e venda de propriedades e prédios rústicos. São escândalos sobre escândalos. Mas que importa, quando a grandeza e a honorabilidade são coisas do passado e a banalidade entrou no conceito corriqueiro do natural. Claro que o senhor Hernâni Dias, secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, como todos os outros nas mesmas condições, diz-se inocente. 

         - Não tenho a certeza se o trabalho que tenho desenvolvido nestes derradeiros dias no romance, não terá de ser riscado com a exaltação de quem põe em dúvida o tempo precioso da sua criação.  

         - Depois da depressão Catarina, chegou o Ivo. Tanto ela como ele, deixaram a sua cólera por todo o lado, sobretudo no Norte, onde inundações e ventos ciclónicos, destruíram tudo o que puderam à sua passagem. Prometem-nos dois dias de sossego. A seguir uma outra qualquer calamidade se apresenta aparentemente humana se atendermos ao seu nome. 


quarta-feira, janeiro 29, 2025

Quarta, 29.

Não é de louvar a gestão que os dois maiores partidos têm feito ao longo dos 50 anos de democracia e muito menos o rol de corrupção, interesses pessoais e políticos, que a todos tem banhado. Os primeiros anos após 25 de Abril, trouxeram para a Assembleia da República um naipe de pessoas notáveis, apostadas em fazer desaparecer para sempre qualquer espécie de ditadura (direita ou esquerda), gente honrada, asseverada em fazer a mudança, num equilíbrio sensato que se traduzia nas suas próprias figuras onde não havia nada de reprovável, mas apenas a ambição do bem nacional como bandeira. Depois, a pouco e pouco, os interesses foram-se instalando, o carácter do povo minguando, a cultura subalternizada, a ciência permanentemente a mendigar o lugar que por direito lhe devia ser outorgado, a aridez colectiva voltada para valores passageiros, os três efes combatidos durante o fascismo cresceram, tomaram forma, incendiaram as classes politicas de chinelo que foram tomando alternativamente o poder, a mediocridade como valor fundamental, a honorabilidade um slogan risível, os valores morais espezinhados e a fúria do dinheiro como elemento maior da existência humana a rasgar consciências e a inundar a sociedade. Os partidos deixaram de ser factores de diálogo e alternância e passaram a ser gaiolas com galos loucos ensandecidos pela ambição e o poder a todo o custo. O povo, no seu quotidiano humilde, o seu casco de escravo, desorientado, corria para o lado daquele galifão que melhor sabia manejar a arma da demagogia, que reivindicava em seu nome, mas chegado ao poder o esquecia e espezinhava. Depois, no provincianismo próprio do patego político, veio a Europa juntar-se num coro de corruptos e desajeitados, inchados da importância de se saberem a opinar ao lado daqueles que possuíam os valores culturais de então e a riqueza que a indústria lhes propiciara e nós deixámos cair e até hoje não recuperámos. Transformámo-nos num país de aluguer de camas, num batalhão de funcionários públicos, destruímos o SNS, vexámos os professores, somos agora uma imensa população de pedintes vivendo de subsídios, das esmolas de Bruxelas, da pobreza que foi crescendo enquanto a democracia diminuía. Estamos entregues, de mão estendida, ao ricaço que passa à nossa porta sem muros, sem direito a reivindicar porque já pouco resta para reclamar. Tornámo-nos subordinados daqueles que entraram no nosso país aos baldões, desorganizámos a sociedade, criámos ódios e invejas, ficámos num lódão fedorento que afasta os melhores e mais sadios. A própria Igreja resvalou, foi na corrente de lama que a sociedade alimentou, resvalou na miséria sexual, aproveitou-se de um povo fraco, sem defesas, alcandorado nos seus valores que tinham Deus como tirano. O terramoto era inevitável. As forças contrárias que espreitam a vez, nunca adormeceram. Uma sociedade montada neste vazio que faz medo, esfarela as consciências, e conduz os melhores dos seus ao aniquilamento, é uma sociedade pronta a ser tomada pelos Donald Trump deste mundo mercantil, onde cada cidadão tem um preço, sim, mas irrisório. 


terça-feira, janeiro 28, 2025

Terça, 28.

Aquela coisa chamada Bloco de Esquerda nunca me enganou. É um rebanho de meninas e meninos mais ou menos perdidos, que se juntaram para fazer leis justas que se aplicam a todos menos a eles. A última das suas fantasias políticas, reside nas contradições em que vivem. Volta que não volta, vem à superfície a velha máxima de frei Tomás: “Olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz.” Depois de termos escutado a actriz primeiro e depois a viúva, anos a fio, a tecerem sermões de justiça para os trabalhadores, as mulheres mal pagas, contra a exploração do patronato, eis que a actual bandeira da coisa, despediu do quadro do partido, mulheres acabadas de ser mães, funcionários e não sei mais quem. Isto por causa dos ingratos dos portugueses que nas últimas eleições reduziram-nos a uns quantos que nem um táxi enchem e são um número residual no contexto político actual. Mais: empregou a camarada que hoje ganha milhares a debitar postas de bacalhau em Bruxelas, quando deixou a liderança e a mira do parlamento estava ainda distante. Para não falar do simpático camarada, dono de um imóvel, que traficou quando ocupava um cargo importante na coisa. Que tristeza! Então não merecíamos melhor?! E só nos saem ladrões de malas, aldrabões, gatunos, ministros que se servem dos gabinetes ministeriais para esconderem milhares de euros, miseráveis criaturas que se servem na incredulidade e iliteracia dos portugueses. Porra!  

         - Para aliviar a tensão que a algazarra dos políticos nos enerva e desmotiva, fui à piscina. Tive direito a uma faixa só para mim e em consequência demorei-me uma hora. Quando deixei à água, entrei nos balneários e o horror tomou conta de mim. Um punhado de velhos, nus, discutindo futebol enquanto tomavam duche, é espectáculo que não desejo ao meu maior inimigo. Nem à viúva do BE, nem ao Vasco Gonçalves, nem mesmo àquele que se pavoneia em Bruxelas, e muito menos ao cucurrucucu Sebastião Bugalho. 


segunda-feira, janeiro 27, 2025

Segunda, 27.

Enfim, um reparo a uma empresa que tenho elogiado desde que aqui me instalei definitivamente, em 2019 – a Fertagus. Acontece que outro dia, vindo de Lisboa, o comboio ao parar no Pinhal Novo onde eu e tantos outros passageiros deviam desembarcar, as portas não abriram, ninguém saiu, ninguém entrou. No meio da nossa estupefacção, eis que ele arranca rumo a Setúbal. Pára na estação seguinte, Venda do Alcaide, e aí, oh céus!, pudemos deixar o comboio. A vista da estação é larga, estende-se por campos desimpedidos e, surpresa das surpresas, perto da estação uma deusa ao jeito de Fernando Botero! Algumas pessoas foram falar com o condutor e eis a admirável resposta que receberam: “Não faz mal. Passem para o outro lado da gare e embarquem no próximo que não tarda.” 

         - Comemoram-se hoje 80 anos da libertação dos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau. Os principais líderes mundiais vão estar na cerimónia, à excepção de Putin e Netanyahu e numa altura em que recrudescem as manifestações anti-semitas por todo o lado e o autêntico holocausto palestiniano persiste. O primeiro-ministro israelita, é o culpado pelo ódio aos judeus que se vem instalando. De facto, os sionistas deviam ter aprendido que aquele horror não devia repetir-se por nenhum outro povo civilizado do mundo. Só quem nunca visitou Auschwitz poderá pensar que aquela monstruosidade alguma vez existiu. Mas aconteceu, está lá, e quando entramos na imensa área de morte, sentimos no corpo o abanão que nos paralisa. Eu tenho fotos que fiz e nunca as publiquei nesta página. Não tenho coragem, pura e simplesmente. 

A entrada no campo.

                   Uma das alas do campo. Amplie as fotos e sentirá o arrepio gélido da morte.

           - Tudo o que faço pela Piedade, enche-me de felicidade.   

         - De pé no estribo para Lisboa, onde me espera Ana Boavida. 


sábado, janeiro 25, 2025

Sábado, 25.

Pedro Nuno Santos (por uma vez o seu nome) está metido numa alhada. Os galifões do seu partido saltaram-lhe em cima porque o homem admitiu, enfim, duas ou três verdades. No seu testemunho ao Expresso desta semana, expressou uns quantos pareceres do senso-comum, sobre o programa e acção do seu antecessor a brilhar anafado em Bruxelas, relativamente à imigração. Logo as facções (de Costa) vieram a terreiro encostá-lo à direita e à extrema-direita de André Ventura. E no entanto, afirmar que “quem procura Portugal para viver, tem de perceber que há uma cultura que dever ser respeitada”, ou não compreender que António Costa não ajudou ninguém antes prejudicou o país e os que nos solicitam asilo, com a lei “Manifestação de Interesse”, é completamente do foro ideológico aberrante. Eu sei, todos sabemos, que o homem não é querido no cargo de Secretário-Geral do PS, que os antagonismos pessoais e partidários estão em constante luta de interesses, mas por uma vez reconhecer que falou claro e bem, é próprio do pensar digno e independente. 

         - A gente, à medida que as pontas do véu se vão levantando, vemos a razão pela qual tantos se curvam sobre o tacho do poder. Veja-se o caso do deslumbrado deputado do Chega, senhor Miguel Arruda (mas também de outros é bom saber), na sequência da sua paixão pela colecção de malas dos viajantes, posto na rua pelo chefe Ventura, recusou sair do partido e ainda por cima ficou na Assembleia Nacional como deputado independente. Pudera! Quem é que podendo larga um tacho daqueles! Mais: o gatuno, vai passar a ter um gabinete só para si e mais cerca de 5.800 euros para gerir a sua nova situação!!! O crime em Portugal compensa largamente. 

         - Já agora, uma reflexão sobre as mordomias destas solenidades. Em França, nesta altura, decorre uma chamada de atenção aos gastos dos antigos chefes de Estado. Que são dois: o vulgar e corrupto Sarkosy e o pobre coitado do François Holland. Cada um dispõe de um gabinete, carro com chauffer, secretária e julgo que segurança. Pois bem, estas prendas custam aos contribuintes, para cima de um milhão de euros sem contar com os respectivos vencimentos que, recorde-se, assim que chegou ao poder o pequenote Sarko achando pouco elevou. 

Por cá passa-se rigorosamente o mesmo. Também temos dois ex-Presidentes vivos: Ramalho Eanes e o sinistro Cavaco Silva e em breve o trolaró Marcelo. Suponho que as regalias são as mesmas, isto numa democracia, num país com 2 milhões e meio de pobres, com a velhice pelas ruas da amargura, um país iletrado, dificuldades por todo o lado e suas excelências abonadas de protecção. Então não é verdade que em democracia os cargos públicos são passageiros? E por que raio têm aqueles que os exerceram de serem para o resto da vida agraciados?  

         - Esteve cá hoje o Nilton. Ontem, ao telefone, disse-lhe que tinha de adquirir uma máquina de lavar roupa porque a velha senhora que ele há dois meses deu vida, expirou. Logo ele: “Não tem, não.” Apresentou-se então e a senhora ressuscitou evitando-me um gasto considerável com uma nova. 

         - A propósito de senhoras. O Black não aparece há dois dias. Sem pedir autorização foi ao engate de galdérias que o chamam do fundo da quinta. As matulonas andam cheias de cio e o rapaz, forte e de pêlo sedoso, bem alimentado e feliz, faz jus da sua masculinidade altaneira. 


sexta-feira, janeiro 24, 2025

Sexta, 24.

Não há nada de horroroso que não nos chegue do lado dos poderes políticos ou judiciais ou do poder tout court. Agora as atenções recaem sobre o juiz conselheiro jubilado Manuel Mota Botelho. Este senhor, durante anos, atraiu jovens institucionalizados, entre 15 e 17 anos, para práticas sexuais. Pagava-lhes com gelados, doces, pizas, e 25 euros quando fosse o caso. Estas cenas duraram anos, porque a população de Lagoa, nos Açores, onde o criminoso actuava e vivia, com medo da represálias, nunca o denunciou. Vai, enfim, a julgamento acusado de prostituição e aliciamento de menores. Céus a classe de juristas descarrilou! Além dos juízes conselheiros que manipularam processos a troco de milhares, chega agora também a indecência moral a manchar uma classe tão sensível para a democracia. 

         - Aquilo a que Israel chamou o interregno da guerra para troca de prisioneiros e reféns, está transformado numa mentira que deixa o HAMAS cheio de razão. Anteontem morreram mais 12 palestinianos na Faixa de Gaza; Israel apropria-se da Cisjordânia, conquista novas terras e expulsa pela força os palestinos aí residentes. A Netanyahu o que desde o começo lhe interessa é ganhar espaço, é expandir de forma a correr com os naturais daquele imenso território. Ele que pensava ter extinguido a maior parte do HAMAS, é vê-los organizados, como um exército, na entrega dos judeus que deteve durante um ano, mostrando que está vivo e bem vivo. 

         - O fogo voltou em força à Califórnia. Ajudado por ventos fortes, toma novos espaços, devora-os e deixa um rasto de terror e morte. Trump criticou Biden pela ajuda tarde e desorganizada. Veremos o que fará ele agora como Presidente; sendo certo já que algumas das suas medidas para o dia seguinte à entronização, ainda não foram cumpridas. 

         - A lata é tanta que surpreende o mais descontraído dos cidadãos. Então não é que o deputado do Chega que andou a roubar malas nos aeroportos de Lisboa e Ponta Delgada, diz que a sua pessoa e o movimento das malas foram uma construção IA para o incriminar! O partido ensinou-o a defender-se e, tal como o patrão senhor Trump, a nunca admitir erros. “Admit nothing, deny everything.”


quinta-feira, janeiro 23, 2025

Quinta, 23.

No país original que é o nosso, onde a ladroagem toma postos importantes de governação, na Assembleia da República, no Governo, nos ministérios, autarquias, nas empresas públicas, não é de espantar que o teor dos furtos tanto passem por milhões (os milhares já não dão para nada), como por simples malas de viagem nos tapetes de chegada dos aeroportos. Foi o que aconteceu com o deputado do Chaga dos Açores ao Parlamento. O homem, mercê do cargo, tem viagens pagas por nós Lisboa/Ponta Delgada/Lisboa e, como as andanças são frequentes, não tem precisão de carregar com bagagem. Aqui entra a mão do larápio. Tanto no aeroporto da Portela como no dos Açores, o homem retirava do tapete a mala que melhor lhe cheirasse e seguia para casa sem que ninguém estranhasse. Assim, em breve, muitos foram os passageiros a queixar-se da falta dos seus haveres. Foi quando o aeroporto, começou a perguntar ao olho que tudo inspecciona e em breve o gatuno é apanhado. Tanto na sua residência de Lisboa como na de Ponta Delgada, muitas foram as malas gamadas que a Polícia encontrou. Esta questão, leva-nos a outra: então o Chega, tão moralista e cheio de pregões nacionalistas de ordem e verticalidade, não conhece os elementos que seleciona para o seu partido e, sobretudo, para lugares importantes como o Hemiciclo? Como pode agora André Ventura rogar à Ministra da Saúde que tenha atenção ao cadastro de quem contrata para o SNS quando ele tem no seu reino (talvez não um), mas vários ladrões! 

         - O Inverno tem sido um pouco duro. Aqui, como a casa está isolada no meio da propriedade, é difícil aquecê-la. Annie  que é rica, costuma dizer que prefere passar fome a passar frio. Ora, vem daí a minha ideia de que o conforto é um direito não meu, mas de todos os cidadãos. Acontece que no mês passado aqueci o quarto todas as noites e na cozinha ligado o ar condicionado enquanto a utilizo. Logo a factura que acabo de receber mais que duplicou de valor. Observando atentamente o documento, verifico que uma grande parte da soma é impostos. Que miséria! Vão-se os socialistas, vêm os social-democratas, e logo depois voltam os primeiros e assim o país vai andando e 50 anos passaram sem vermos um projecto digno, inteligente, pensado, executado e sólido para mudar o fado que cantamos pelas vielas do nosso descontentamento. Fomos pobres, somos pobres, não saímos da desgraçada, mas pagamos impostos de ricos. 

         - Ontem passei na Brasileira e logo apareceu o Castilho e outro companheiro. Ali estivemos os três a malhar no Trump, mais o Luís (não sei se é este o seu nome) que o Castilho, ricaço como é portanto mais próximo do monstro americano. Todavia, civilizados, sem exageros temperamentais nem hinos ao capitalismo. Dali fui ao C.I. onde tinha aprazado um almoço com o Carlos. Que decorreu no restaurante do topo, em amena cavaqueira, onde tudo surgiu na fúria dos ventos desalmados que sacodem tristezas e alegrias. A dada altura, não sei a que propósito (já sei falando nós do Guilherme Parente com quem estive a almoçar há pouco tempo), mostrei ao meu amigo que também é pintor, uma foto do nosso repasto. Depois, dei-lhe a conhecer a minha pessoa em diferentes fases da minha vida e idade. Carlos observava, observando-me, as fotos que a minha irmã guardou e eu só venho a conhecê-las após a sua morte. “Eras muito bonito - e repetia – muito bonito.” Alguns minutos depois: “Ainda és.” Bah, respirei de alívio... 

         - Cansativo trabalho esta manhã a tentar abrir o portão que ficou desde ontem definitivamente moribundo. Com medo de não poder sair com o carro, atirei-me ao seu arranjo com fúria. As batentes não giravam porque há muito tempo não eram untadas e daí o emperro que as paralisaram. De seguida, arrastei para o caminho, carregadas de terra que se concentraram à entrada arrastadas pelas águas das chuvas fortes destes três dias. Aguenta, camponês. É melhor, contudo, que ficar retido a ver o dia cair à janela de um apartamento na cidade ou a arrastar os pés pelos centos comerciais. Horror, horror! 


terça-feira, janeiro 21, 2025

Terça, 21. 

O Dono Disto Tudo, aqui no verdadeiro sentido do termo, mais conhecido por Donald J. Trump botou discurso ontem. Foi um espectáculo que me encheu de orgulho de ser... europeu e de pertencer a um continente que, apesar de tudo, permanece fiel ao seu passado humanista, cultural e colectivo. O ego do homem, a jactância e a personalidade completamente virada ao contrário, gastou uma hora com um programa sem sentido, como se com um decreto pusesse de joelhos todo o resto do mundo. Não põe, não pôs. Pelo contrário, creio que é através dele que a Europa e uma boa parte do mundo se irá organizar e desenterrar as raízes que os políticos manhosos e corruptos têm queimado. Particularmente a União Europeia vai ter de deixar para trás os seus jogos de poder, a sua ambição serôdia e trabalhar para a incolumidade pública. Um Governo formado por homens de negócio só tem um fim: o desastre. Em breve os americanos irão saber quanto lhes custou terem votado em massa num arrogante inchado de poder. Ou antes naquele que “Deus salvou de morrer no atentado para suspender o declínio da América”. Duas personagens atraíram a minha atenção: Joe Biden que não merecia escutar aquela verborreia senil; o filho mais novo que parecia vaguear sobre um mundo de alucinados. 

         - Não terminei nem sei se estou próximo disso o romance consagrado a Ana Boavida. Contudo, já outros dois me enchem o cérebro e me inquietam o sono e os meus dias, sobretudo as horas nas estações à espera do fertagus ou quando passeio pelas ruas de Lisboa. Há uma excitação imensa que labora dentro de mim, um atropelo de gente, imagens, frases, situações que exigem o registo imediato desta feita no iphone. É uma espécie de sinopse que corre por ali abaixo, fases soltas, formulação das personagens, detalhes, etc.. 

         - A verdade é esta infinitamente mais leve porque nos deixa com um sorriso macaco no rosto: Manuel Luís Goucha (o homem dos ecrãs), voltou a pedir em casamento o seu marido de várias décadas. Não é tão belo pela afronta que ele faz a Donald Trump que impõe apenas dois géneros: feminino e masculino. Eu conheci em tempos esta personagem de sorriso profissional sempre aberto. Não era pessoa que quisesse ter para convívio, ainda que reconheça que o homem evoluiu muito. Há, todavia, uma vulgaridade que permanece e não faz o meu género.  

         - Fui à piscina sob chuva torrencial. De resto, segundo me dizem, a noite foi do piorio com ventos doidos, vergastadas de água, inundações, e tudo o que as noites esconde aos dias. 


domingo, janeiro 19, 2025

Domingo, 19.

Como se previa, os arranjos americanos para a consagração de Trump, correram mal e foram aproveitados por Netanyahu para matar mais umas dezenas de palestinos. Eu não acredito no projecto quando nenhuma das partes está interessado nele e ambas são cúmplices no resultado de 46 mil mortes (pelo menos).  

         - O estado desastroso em que se encontra o PS de Nuno Santos, mais conhecido por Vasco Gonçalves, é cada vez mais visível. Agora mais claro ainda, quando o partido não encontra quem em seu nome queira tentar a Presidência da República.  No momento, pelo que vou espreitando, só os socialistas não têm iluminado para o cargo. Não descargo, contudo, a mãozinha de António Costa à distância. Eles são muito mauzinhos uns para os outros. 

         - De resto, caros leitores, tudo isto é um nojo nauseabundo. Qualquer dia os Governos eleitos, qualquer um, não encontram ninguém com solidez moral para ocupar um cargo ministerial ou técnico. Isto é uma corrupção que tresanda. O PRR veio acentuar a tendência, com os milhões que andam por aí à solta e têm de ser gastos de qualquer maneira. Veja-se o caso do Dr. Gandra de Almeida. O homem era director-executivo do Serviço Nacional de Saúde e em paralelo, mercê de manobra que, se bem compreendi, através de uma empresa privada de angariação de trabalhado temporário (talvez uma espécie de Manpower), fazia biscates médicos nos hospitais públicos. O estatuto impedia-o de exercer nos hospitais que comandava, mas através da iniciativa privada conseguiu ganhar mais uns patacos no montante de 200 mil euros nos públicos sob o seu comando. Que graça, não é? Vou dar a palavra a Hugo Soares do PSD que abstrai completamente a fraude e afirma: O que “importa (é) saberem que o Governo está a salvar o SNS”. Que lata! É assim, deste modo! Pelo contrário, o Serviço Nacional de Saúde afunda-se ainda mais. Dou agora a palavra ao Vasco Gonçalves que no seu tom esgrouviado, diz: “A situação é grave. Não temos nem uma equipa ministerial nem um Governo à altura blá blá blá.” Por último, entra a viúva do BE a quem me encosto com prazer: “Como foi possível fazer esta acumulação de funções e de vencimentos, lucrando cerca de 200 mil euros com a prestação de serviços ao SNS, e ser, depois disto, nomeado para director-executivo do mesmo SNS com total confiança?” Menina, curvo-me com satisfação ante a sua nobre viuvez. E já agora também diante da SIC, que com um belo trabalho denunciou o sujeito. 

         - Por aqui o trabalho nunca finda. Como tem estado de chuva, aproveitei para começar a podar as Hortências em frente à casa. Antes era a Piedade que se ocupava, hoje sou eu porque a pobre está reduzida a uma folha de alface devido ao neto que lhe calhou na rifa da sorte. Apresente-se Andre Gide: “Familles... je vous hais!” 


quinta-feira, janeiro 16, 2025

Quinta, 16.

Na piscina, esta manhã, afoguei-me de alegria. Regressei aos meus 20 anos resolutos, desafiadores, belo e sem consciência disso. Nadei sem parar uns trinta minutos, enquanto ia pensando que a velhice é um estado passageiro, digamos, intermitente, que se entrecruza com a juventude eterna. Somos o que nos chega do coração – e é tudo, tudo aí se resume. 

         - Esta casa é uma espécie de caverna de Ali-Babá. Outro dia, abrindo uma gaveta, dou com este cartão assinado nas costas João Rodrigues. Pus-me a pensar se este nome não é daquele meu amigo, com quem muito convivi e de quem muito gostava, pelos seus modos educados, cordiais, a sua cultura e discrição, sempre pronto a ajudar o amigo, onde, inclusive, estive com a Annie na sua casa ali para os lados da Estefânia, com uma sala coberta de livros das edições clássicas da Gallimard e que a Annie (assim me pareceu) lhe queria deitar a corda ao pescoço. Se assim for, só pode ser o editor da Sextante hoje uma subsidiária da Porto Editora. A propósito, um dia, decidi mandar-lhe o original O Rés-do-Chão de Madame Juju. O romance é um grosso volume e não se lê de pé para a mão. Quando havia pensado que a coisa não lhe interessara, eis que me chega um mail elogioso do meu trabalho tendo, inclusivamente, bastas observações sobre a personagem principal. Depois, no último parágrafo ele informa-me que não o pode publicar por causa da sua amarração à editora do Norte. Numa segunda troca de impressões em que eu esgrimo sobre a construção de Madame Juju, ele responde-me: “Não é só a Madame Juju que está bem desenhada, há outras personagens muito relevantes.” Voltando ao cartão. Não tenho memória para que servia, nem como me veio parar às mãos. Cooperativa de Empregados nunca pertenci, portanto, penso tratar-se de um gesto seu de amizade. 


         - Alguém acredita no último tratado de paz para a Faixa de Gaza? Decerto que não. Pois se quem fornece as armas a Netanyahu, é o mesmo que quer a paz. Mas qual paz? Que ridículo! Que cinismo! Negócio americano emperra sempre quando milhões escorregam. 




quarta-feira, janeiro 15, 2025

Quarta, 15.

Uma espessa camada de geada atapetava toda a quinta. Assim que abri a janela do quarto, olhei o vasto manto branco e fiquei por instantes a admirá-lo pensando como a natureza é criativa. Nunca nada se repete, há em cada Inverno e em cada estação, uma correnteza de novidade, de originalidade que nos subjuga. O Sol veio pelas nove da manhã, mas o chão continuou agasalhado com o seu cobertor alvo até perto do meio dia. Foi a pouco e pouco que as ervas se descobriram, que a terra floresceu entregando-se à cintilação dos raios do Sol. O próprio silêncio até então pesado, abriu-se num rumor quedo, quase ciciamento, que em uníssono com a vegetação voltou a planura do tempo sobre camadas pesadas do tempo de outros tempos...  

         - A democracia desceu à imagem de Donald Trump. Como é possível que um homem acusado de não sei quantos crimes, charlatão, mentiroso, violento possa ser eleito presidente da maior nação do mundo? Quantos como ele a partir de agora irão renascer das cinzas onde a decência e o equilíbrio os sepultou? Com tudo isto, é a Democracia que está em perigo, é a alienação e a mentira que vai sepultá-la, é a arrogância que o dinheiro impõe por sobre os valores éticos, sociais e humanos que a vai exterminar. És pobre, morre que não fazes cá falta; és doente, desaparece que não serves para nada; és velho, desaparece porque já estás a mais; tens alguns bens, não mereces tê-los porque os adquiristes com esforço e o esforço só sob a nossa escravidão. Os Putin, os Xi, os Kim Jong-un, os mais pequenos da Ásia, os  pequenotes das áfricas, os endinheirados das Arábias, e os que, em nome da democracia, são déspotas, violentos e absolutos vão entender-se às mil maravilhas com o chefe máximo eleito Presidente dos Estados Unidos da América. Horror! Horror! Onde encontrar refúgio senão em Deus. Ele que através do Seu Filho, concebeu a palavra AMOR. 

         - Li as primeiras cem páginas de L´ Éducation Sentimentale. É curioso como Flaubert, Zola Hugo, Proust este quase cem anos depois da sua publicação reanimou a obra e alguns mais que marcaram o século XX sobretudo a primeira metade. Não só na forma, como no conteúdo, onde o detalhe acentuava a personagem e fazia ressurgir a história. Aliás, quando leio Julien Green romancista, detecto ainda a trama romanesca que vem século XIX. A escrita dos nossos dias é feita para leitores preguiçosos, pouco atentos e interessados na criação das personagens que são o que de mais interessante existe no romance e mais trabalho dão na sua construção. As fastidiosas descrições paisagísticas, a lupa que vai ao ponto de realçar a nódoa, o fato e vestido dos intervenientes, todo esse mundo que abraça a realidade porque é ele mesmo real quando contado, já não existe no romance dos nossos dias. Ao escritor, muitas vezes acossado pelo editor, só interessa o número de páginas que não fatiguem o leitor, a história ordinária que entretém, o drama de amor que começa pela cama e acaba no desastre. Tudo deve ser contado conforme a linguagem falada, de ouvido a ouvido, como se houvesse sido narrado ao virar da esquina, no Chiado. A própria construção do objecto enquanto matéria de intervenção social, política e circunstancial é hoje ligeira, se possível um livro por ano, para aqueles que vivem do conta-gotas das linhas de cada página. Lida a treta, logo a enterram no fundo da estante para nunca mais ser folheada e muito menos consultada. É um sorvete que se dissolveu nas mãos. As ideias, a própria arte da escrita, a lonjura do tempo que atravessa as páginas, os meses e anos de meditação, o trabalho árduo da escrita e do pensamento, são factores que não interessam ao editor, escritor e leitor. A sociedade de consumo transformou os artistas em técnicos acossados pelo editor e desfalecidos dos ímpetos criativos e sofrimentos do homem de letras de antanho. A profundidade é uma chateza, a história bem contada um suplício, o grosso in-fólio uma estopada. 

         - Com todos os cuidados possíveis para não estragar o pouco que o Adalgur fez, depois do almoço, fui continuar o trabalho interrompido por mor das dores lombares. Consegui fazer praticamente metade da frente da casa. Nada mau para quem já só pensava em vender esta propriedade e empreender uma viagem sem paragens nem fim. 


terça-feira, janeiro 14, 2025

Segunda, 14.

Sexta-feira fui ao encontro da minha excelentíssima médica de família e encontrei-a bem de aspecto, pele fresca e coadjuvada por uma rapariga debutante em medicina. Depois de um ano que deve ter sido difícil e culminou no nascimento de uma menina, a Dra. Vera Martins ouviu a ladainha do meu annus horribilis e pareceu-me surpreendida. Conversámos um pouco, porque hoje nos centros de saúde, embora os médicos não cobrem ao minuto como nos privados, o tempo é contado com o olho no número de doentes observados. É este hoje o sistema de saúde a que chegámos. À queixa no lombar direito, ela deu-me um medicamento que tive de negociar porque o objectivo era tomar seis por dia! Cortei a metade e cá vou melhorando. Os laboratórios querem ganhar tudo num só dia, a nós compete–nos sermos sages. 

         - E como vai a rebaldaria da política? Vai mal, muito mal como é de hábito. Sábado houve duas manifestações: do Chega e das esquerdas. Uma reclamava ordem e ataque aos estrangeiros que vivem ao Deus-dará e diz serem um perigo para a nação; outra defendia os migrantes que vivem em condições inumanas e só são gente quando convém aos partidos da extra-esquerda. No meio, como muito bem sublinhou Luís Montenegro, está ao PSD que faz o equilíbrio e quer pôr ordem na entrada daqueles que temos obrigação de criar condições de vida decentes para os receber. Quem acabou por ganhar influência, foi mais uma vez André Ventura. As esquerdas (desta vez vou incluir o PS), ainda não compreenderam que não é trazendo Ventura para a ribalta que o sacodem. O sábado terminou a dar razão ao deputado da extrema-direita, quando na famosa Rua do Benformoso, um grupo de estrangeiros se envolveu numa rija que a PSP pôs termo: dois foram conduzidos ao Hospital de São José com esfaqueamentos, outros à esquadra.  

         - Não pára de subir o número de mortos nos incêndios de Los Angeles. São já 25 aqueles que morreram e muitos os desaparecidos. Dizem os jornais que já ardeu uma área superior a 1,6 da cidade de Lisboa que atinge 100 quilómetros quadrados. O bairro de luxo de Pacific Palisades onde vivem artistas e ricaços, já partiu em chamas uns 10 mil hectares. E os ventos fortes que vieram instalar-se por ciclos, ameaçam ficar por mais uns dias. Como vai ser para os milhares que ficaram sem nada? Ainda por cima em breve governados por um homem que tem mais de monstro que de humano. 

         - Prometem-nos para hoje aqui, um grau centígrado. De facto, quando fui para pegar o carro e levar a pobre da Piedade casa, este só começou a trabalhar ao fim de várias tentativas. Piedade que veio chorar nos meus braços e tinha a tensão a 17, porque o neto, quando foi para abrir o restaurante onde enterrou todo o valor da venda do apartamento de ambos, um grupo de drogados atirou-se a ele e quase o desfaziam. Acabou no hospital com o rosto feito num carvão devido aos pontapés, um lenho de doze centímetros na cabeça, a cara irreconhecível. Lamenta agora o neto que não vai poder abrir nunca mais o restaurante por medo que eles o venham desfazer. 

         - Para que não digam que eu ataco a queque do BE assim sem mais nem menos, aqui está, a cores e sem que até agora tenha sido desmentida, a capa do Tal & Qual de há uns dias. Quando atriz, a deputada da extrema-esquerda, ganharia, talvez, menos de mil euros; depois como deputada subiu para cerca de quatro mil e agora eurodeputada ganha o que aqui se apresenta. Digam lá se não é tão bom entrar na política, ser de esquerda e lutar pelos imigrantes e pobrezinhos dos nosso infeliz país. Esta gente nunca me enganou. 




sábado, janeiro 11, 2025

Sábado, 11. 

Uma amostra do que pode ser o inferno, está na Califórnia. Há três semanas que um incêndio medonho corre uma área imensa de mais de 150 km2, ceifando tudo o que encontra no caminho: pessoas (pelo menos onze morreram), mais de 10 mil habitações reduzidas a cinzas, carros transformados em carcaças são ainda mais superiores, para cima de 300 mil pessoas sem electricidade, pelo menos 200 mil pessoas foram evacuadas. quase toda Los Angeles reduzida a um campo imenso de ruínas que surpreende e faz medo. O fogo não conhece ricos e pobres, e aqueles (sobretudo artistas e milionarios) ficaram sem as suas residências e estes sem nada. O prejuízo ascende a vários milhões de dólares. Os cientistas, atiram as culpas para o aquecimento terrestre, até porque nos Estados vizinhos, a neve cai em quantidade considerável. A conclusão é de Alexandra Lucas Pires: “Os fogos na Califórnia são uma espécie de última chamada sobre o que estamos a fazer aqui na Terra. Como vivemos, o que comemos e vestimos, como nos deslocamos.” (Abro um parêntesis para convidar os meus leitores a ir ver a chegada ao Parlamento a nobreza dos nossos deputados, incluindo os Verdes.) “Todos os combustíveis fosseis que continuam a ser queimados. Todos os milionários que continuam a viver disso. Um paraíso onde vivem muitos desses milionários, ou quem os influencia, têm agora um vislumbre do inferno. Hollywood está a ver o filme das nossas vidas – se não pararmos já.” 

         - O Presidente da Câmara de Lisboa, deu o tema para as marchas deste ano: “A alma de Lisboa”. A Alma de Lisboa! Lisboa tem alma, Sr. Moedas! Viva a santa ignorância. 

         - Hoje, pensando nos tempos do Mário que não possuía fogão a gás ou eléctrico no seu pequeno apartamento, em Lisboa, e tinha o hábito de fazer excelentes doces e outros pratos na sua cloche, fui desenterrar a minha para confeccionar um bolo. Como há anos não utilizava a dita cloche, o que saiu foi um imenso torresmo que eu para salvar a honra da casa, chamo bolo de laranja.  


quinta-feira, janeiro 09, 2025

Quinta, 9.

Não tendo deixado esta propriedade ontem, hoje, qual pássaro aprisionado contranatura, voei para Lisboa. Chegado à estação, esta manhã como noutros dias, não havia muitos passageiros na gare, contrariamente ao que vi ontem na SIC. Segundo as notícias, o acréscimo de passageiros foi de 30 por cento desde que a Fertagus aumentou os horários e mais carruagens. De facto, a cena que passou na televisão, achei-a sinistra a lembrar os comboios da CP na linha de Sintra. Espero qua a coisa melhore, pois não é nada agradável viajar nas circunstâncias que as câmaras registaram. 

         - Que fui fazer eu à capital abstraindo o desejo simples de me deslocar? Ora, ao encontro de Ana Boavida. Pois quem mais me chamaria do lugar pacificado onde vivo, onde o silêncio me retém, onde o tumulto sagrado das horas me abraçam numa união secreta que nem os deuses conhecem o enigma. No piso do fundo da Fnac, demorei-me na sua companhia umas duas horas e meia. Levantei amarras seriam quatro horas e, para escapar àquilo que tinha visto nas notícias, enfiei-me no primeiro fertagus que apareceu de volta à paz (talvez) imerecida.  

         - Daqui não deixo de observar o mundo. Gostaria de ter cortinas de folhagem que atenuassem o som e a imagem, a dor e o sofrimento de modo a que eu não sentisse tão fortes e tão nítidos. Mas anda o diabo à solta no corpo de Donald Trump. O homem ainda não tomou posse e já fala em anexar a Gronelândia, incorporar o Canadá como mais um Estado dos EUA, e bem pode gozar com a ideia o Presidente do México, mas quer-me parecer que Trump irá, como deseja, mudar o nome do seu Golfo do México para Golfo da América - fora tudo o resto que fará e desfasará com o antes seu arqui-inimigo Elon Musk.  

        - Meti ombros a uma odisseia que há muito desejava empreender. Falo da leitura da obra de Gustave Flaubert. Comecei pelo romance que me parece o melhor, mesmo superior a Madame Bovary, L´ Éducation Sentimentale. Trata-se de um romance compacto, longo de quase 700 páginas, que vou ler em francês (já conhecia bastantes capítulos em português), numa letra miúda, que desejo os meus olhos aguentem sem esforço e, naturalmente, seja operado à catarata em breve. 


quarta-feira, janeiro 08, 2025

Quarta, 8.

A manhã serena de trabalho, foi acompanhada do murmúrio da chuva lá fora e do farfalhar da lenha na lareira. Ontem, contudo, o dia decorreu sob uma espécie de bênção, abancado no ritmo de afazeres que se estenderam até tarde e onde houve de tudo: um prato confeccionado para arquivo, grandes leituras, duas horas no romance, arrumações no andar de cima, uma segunda passagem ao portão para estender o manto vegetal que atravancava a abertura, estendal e recolha da roupa para a Piedade passar a ferro. Por sobre as horas de quietação que um sol fraco cobriu, a sensação de flutuar sobre a vida estendida no tapete confortável da morte. E estes versos de Goethe, citados por Pierre Hadot, em N´oublie pas de vivre:

Se na vida quiseres passar um bom bocado, 

Não tens de te preocupar com o passado; 

Aborrece-te o menos que puderes,

Aproveita o presente o melhor que souberes, 

Ignora o ódio, a outros ou aos teus,

E deixa o futuro nas mãos de Deus.


         - Em Portugal é norma sentenciada pelo Parlamento, que os vultos nacionais tenham de andar em bolandas sob o parecer das ideologias vigentes e dos interesses partidários. Calhou, desta feita, hoje, a Eça de Queirós. Os seus ossos, foram desenterrados e vieram de Tormes de charola para Lisboa onde, após cerimónia hipócrita que só aos deputados diz respeito, depositados na sepultaria de Santa Engrácia, dita Panteão Nacional. Eu estou com o historiador António Araújo quando diz que era preferível uma placa evitando deste modo a transladação. E dou-lhe a palavra: “Não me parece forçoso ou necessário exumar o esqueleto de alguém e depois transportá-lo para um templo laico, numa revisitação algo mórbida do seu funeral pretérito.” De igual modo pensa Ramada Curto, director da Biblioteca Nacional de Portugal, que vai mais longe “o que me preocupa são os números da iliteracia. Preocupa-me a mim e devia preocupar os políticos de todos os quadrantes” acrescenta. Bem vistas as coisas, levar alguém para o Panteão é só uma decisão política e nenhuma outra mais. Assim, Eusébio da Silva Ferreira e noutro extremo Umberto Delgado foram lá armazenados pela Assembleia da República. Por outro lado, não deixo de observar o facto de Eça de Queirós, em vida e nos seus escritos, ser bastante crítico do Parlamento. Ironia do destino. Eu tenho a sua obra completa, em 30 volumes, encadernada, que me foi oferecida por Sousa-Pinto então dono dos Livros do Brasil e João da Palma-Ferreira com quem trabalhei anos a fio naquela editora.  

         - Tudo o que agora se discute no Parlamento sobre a lei dos solos, já o meu amigo e vizinho John, perante o meu juízo de improvável construção de um ramo de Hollywood para aqui sendo área agrícola, me respondeu: “o dinheiro compra tudo”. Assim, estou do lado da viúva do BE por querer evitar a alteração da lei actual, julgo do tempo de Passos Coelho. O PS, naturalmente, diz que  quer corrigi-la de modo a que não se transforme em “ilhas”. Os autarcas e os camaradas construtores e especuladores de solos e imobiliário, esfregam as mãos não por causa das frieiras, mas pela antevisão dos bolsos recheados. 

         - Li com muito interesse a entrevista que Adalberto Campos Fernandes, o meu Ministro da Saúde, deu ao Público de hoje. Ele inúmera muito coisa que estava mal e assim continua, mas a dada altura tem a coragem de afirmar: “A ministra (Ana Paula Martins) fez algo que é importante. Fez um acordo com os enfermeiros, com os médicos, com o INEM. Portanto, tem procurado estabilizar as relações de trabalho.” Noutro passo, ele diz algo com que concordo, mas não com o fel que lhe introduz a extra-esquerda: BE, Livre, PAN. “Os portugueses têm de pagar pelo sistema de saúde público 18 mil milhões e, depois, mais 12 mil milhões na área privada.” Acorda de súbito já no final a entrevistadora querendo saber o que pensa do recurso aos privados proposto pelo PSD/CDS: “Faz sentido nesta perspectiva: todos os cidadãos que pagam os seus impostos e cumprem as suas obrigações para o Estado exigem respostas e têm direito a essas respostas. Não têm que ser responsabilizados pelo que funciona bem ou mal.” Adalberto Campos Fernandes dixit. 

         - Um forte abalo sísmico ocorreu no sopé dos Himalaias com repercussões no Nepal, Índia e Butão. Até ao momento, foram contabilizados 120 mortos, milhares de casas foram destruídas. O sismo teve uma magnitude de 6,8 na escala de Richter.


terça-feira, janeiro 07, 2025

Terça, 7.

Devia falar de qualquer coisa, de qualquer facto, mas o pensamento voa em outro sentido onde a aridez submerge por sobre o vazio que tudo inunda. Para não ficar calado, digo que no final do ano, em três dias, comecei e acabei o romance de Bruno vieira Amaral, toda a gente tem um plano com umas escassas duzentas e poucas páginas. O primeiro capítulo quase me obrigou a atirar com o livro para o lado, mas depois, a pouco e pouco, movido pela curiosidade da dita “moderna literatura” prossegui. Não é que a história de Calita (a personagem principal) me atraísse por aí além, nem tão pouco a rajada de outros intervenientes na história, mas pelo, digamos, olé olé da escrita. Tudo na obra parece sobrevoar, numa pressa louca, que não nos detém a esmiuçar a personalidade, os dramas e a vida dos infelizes africanos que na Margem Sul levam uma existência de guetos que são pequenos territórios de Angola, Cabo Verde ou São Tomé e Príncipe. Na literatura francesa, Paul Morand, foi um pouco este arquétipo, embora alimentado por uma cultura universal. O romance viaja continuamente entre o presente e o passado, numa reviravolta que nos deixa surpreendidos porque é o furor do movimento que parece impregnar cada página. É um toque e foge que não nos solicita o conhecimento profundo dos principais intervenientes da história. Sabemos, de passagem, alguns dos seus tormentos, mas estes não parecem tocá-los, como se a vida com os seus alçapões e perigos, fosse uma camada da existência que se sobrepõe em cada dia marcando indelevelmente cada fugaz momento. Sem lhe tirar mérito, a toda a gente tem um plano penso faltar-lhe consistência literária, ou, dito de outro modo, essa terá sido a intenção do autor. Eu gosto da literatura que me pede continuamente um ajuste de contas com a história, aprecio as personagens que me fazem pensar, com quem eu sofro, com quem vivo enquanto conheço a sua história e nunca depois, fechado o livro, me liberto delas. Vou ter que ler mais alguma coisa de Bruno Vieira Amaral. Não tanto porque tenha detestado este romance, mas porque no capítulo XIII vislumbrei a capacidade escondida do romancista. 

Para quem começou o dia sem nada para dizer, o que aqui ficou expresso diz muito do interesse da cultura não só na minha existência, como na daquelas e daqueles para quem o conhecimento não existe sem pessoas predispostas a não aceitar a insignificância dos dias que nos chegam apenas através do futebol, dos concertos blá blá e dos longos e fastidiosos dias à manjedoura da TV e da sarna do telemóvel. 


domingo, janeiro 05, 2025

Domingo, 5.

Por aqui andou o diabo à solta. Quando deitei o nariz de fora, não reconheci o espaço que me é familiar, o vento e a chuva tomaram conta dele e o barulho que o par expelia introduzia um susto que me suspendeu à janela do quarto. O pior foi quando mais tarde tentei ir ao café comprar o jornal. Fui literalmente barrado ao portão por uma espessa camada de húmus caído dos sobreiros que tenho à entrada, atapetando o chão e impedindo o portão de abrir. Apenas com o pequeno-almoço, outro modo não tive que me aplicar com uma pá e varrer aquela almofada fofa que se estendia por uns largos metros quadrados. Saí da operação exausto. Ainda por cima chovia e a desolação da manhã entrou em mim e fez de mim um pobre coitado abandonado à sua sorte. Agora que a dor lombar parecia querer desaparecer, este esforço veio agravá-la. Oh! 

         - O mundo está suspenso do dia em que Donald Trump toma posse. Como se todos os males viessem dele ou com ele tivessem nascido. O pobre coitado que deixa o cargo de Presidente dos EUA, não o melhorou de nenhuma forma. Pelo contrário. A sua governação trouxe imensas tragédias como as que se instalaram no Afeganistão por ele abandonado à sua sorte, na Faixa de Gaza, Líbano e em todo o Médio Oriente. Para não falar dos cozinhados internos com cargos para este e para aquele. 

         - Os camaradas já não sabem como se desfazer do Vasco Gonçalves. Na coluna do Público, aquele que untou as costas a António Costa, ao ponto de chegar a ministro, imagina-se!, da Cultura (entre mais uns continhos de reis por aqui e por ai), advoga que o secretário-geral do PS devia concorrer à Câmara de Lisboa e dá o exemplo de Jorge Sampaio. 

         - Não desando daqui, sem deixar aos meus leitores a incumbência de lerem o artigo de David Scarso sobre Elon Musk. É dele o melhor que o Público hoje traz: “Esta dinâmica (a do “génio” americano) é sustentada por um modelo que eleva o individualismo competitivo ao estatuto de virtude suprema.” Está tudo dito. 


sábado, janeiro 04, 2025

Sábado, 4.

Há uma outra figura dita pública que vou equiparar ao ex-treinador do Sporting, Rúben Amorim: Ricardo Salgado, o Dono Disto Tudo. Há cerca de dez anos que o destino do banqueiro, homem rico e cheio de importância, que se movia na alta finança como peixe na água, criadagem por todo o lado, escravos a dar com um pau, sobretudo aqueles do seu quilate que para obter fundos e mordomias se arrastavam a seus pés, senhor do mundo da finança internacional, com residências de luxo no Brasil onde Marcelo Rebelo de Sousa passava férias e hoje renega a vassalagem, em Cascais, Comporta e não sei mais onde, com agenda recheada de convites para todo o globo, o telefone que tocava sem descanso para festas e aleluias dos amigos influentes. Este homem que foi único durante quase meio século, que teve tudo e tudo ainda era pouco, vê-se agora reduzido de movimentos, só, a cargo da mulher que heroicamente o mantém com dignidade, com o colapso do BES às costas, a família distante, o andar indeciso, o olhar perdido numa nuvem de espessas sombras, as fraudes de que é acusado, os milhões desaparecidos, os conluios dispersos, os anos a arrastar-se para os tribunais como um condenado à morte antecipada, tendo como presenças Deus, a mulher e o capelão Avelino Alves. Dá que pensar. Sobretudo quando tanta ambição ficou reduzida a um espaço minúsculo onde as sombras se acoitam, o passado morreu e o futuro é a morte que espreita na indignação daqueles que perderam tudo por causa da sua ambição. Por mim, que deixei de ter cerca de um milhar de acções com a falência do Banco Espírito Santo, há muito que lhe perdoei. 

         - Ainda referindo-me ao que acima anotei, volto à carga com a situação da TAP. O que agora veio a lume, diz bem da pouca importância que os assuntos públicos e os impostos que os cidadãos pagam com língua de fora, têm para o socialista que quer ser primeiro-ministro, Vasco Gonçalves. Se se vier a confirmar que o Estado vai ter que pagar milhões a todos os que o arrogante ministro despachou para o desemprego, então se confirmará que o povo teve razão ao não lhe dar votos suficientes para poder governar o país. A jornalista que assina o artigo do Público, Ana Rodrigues, não inúmera uma única vez o nome do responsável pelas Infra-Estruturas. Fui reler o que escrevi a propósito, aqui deixo: 

Março de 2021, Sexta, 26.

Eu não suporto ouvir e ver aquela figura arrogante e convencida que dá pelo nome de Pedro Nuno Santos o socialista dito de esquerda. O homem pensa que é o Dono Disto Tudo, afastado Ricardo Salgado. E todavia, é verdade que já esteve mais longe, com uma diferença substancial: enquanto o banqueiro dispunha de fundos próprios, aquele possui o dinheiro dos contribuintes. A TAP é a imagem do que pode a esquerda e como funciona em termos ideológicos e práticos. Tudo o que o sujeito condenou aos privados antigos proprietários da companhia, foi o que ele aplicou com rigor, indiferente a tudo e a todos, servindo-se do saco sem fundo dos impostos dos cidadãos: despedimentos em massa, técnicas de pressão, redução dos salários, reformas compulsivas, manobras pessoais, a não devolução das viagens que a Covid impediu de fazer, a par de ter criado ao Estado, isto é, a todos nós um rombo monstruoso que nos vai obrigar de despender somas astronómicas por uma patetice socialista que não lembra ao tinhoso. Graças a esta figura insignificante e ambiciosa, o SNS não vai ter verba para pagar melhor a médicos e enfermeiros, equipar-se com material moderno; o ensino vai derrapar; a vida das pessoas vai descer uns bons pontos mais; o país ficar para trás, a pelintrice crónica agravar-se-á e assim miseráveis seremos mais facilmente domesticáveis. A este propósito, dou a palavra a Rui Ramos no Observador: “Uma sociedade reduzida a funcionários públicos, pensionistas e subsidiados é, agora como sempre, meio caminho para a servidão. Se, a esse respeito, alguma coisa os confinamentos fizeram, ao destruir empregos e negócios, foi tornar essa sociedade mais próxima." 

         - Já agora, se me permitem, traslado para aqui estas passagens de António Barreto no diário de hoje, tiradas do artigo “Ao serviço de todos”. “A miséria é a dos serviços públicos, a maneira como os utentes são tratados (como eu exemplifiquei acima no Metro, em Lisboa), o modo hediondo como os consumidores são atendidos, a incompetente prestação de serviços e a desprotecção dos que recorrem aos serviços públicos.” E mais adiante: “O modo como são tratados os velhos, as crianças, os pobres, os imigrantes, os desempregados e os doentes é um bom retrato desta espécie de democracia de pacote.” Juro que a linguagem não é minha, embora assine de cruz. 

         - Ouvido no Fertagus: “Ela ia a rebentar a baixa médica, mas o médico deu-lhe mais uma semana.”


quinta-feira, janeiro 02, 2025

Quinta, 2 de Janeiro.

A vida está sempre a dar-nos a lição que se fôssemos inteligentes açambarcaríamos em definitivo. É o caso do treinador do Sporting, pessoa que estimo sem perceber patavina do seu trabalho, mas deixo-me arrastar por uma certa moral e arte de viver que ele imprime em tudo o que faz. Não é um gajo qualquer, é alguém que está centrado numa deontologia que o futebol não conhece, e faz da sua estreita presença com os jogadores na sua maioria uns pobre coitados, muitos até patetas de todo, uma filosofia orientadora não só para arte do desporto como para a vida. Acontece que os milhões e a fama devem-no ter sacudido do quotidiano equilibrado, e vai daí, deixando para trás uma multidão de fervorosos de adeptos a chorar, chega a Inglaterra para fazer frente aos sucessivos desaires de um clube local. Passaram dois meses sem vitórias, e aquele que aqui era levado em ombros, lá está na iminência de regressar ao seu canto natal com o rabo entre as pernas. Quem tudo quer...  

         - O grande palrador nacional, botou mensagem de Ano Novo. O enorme desastre deste nosso infeliz país, é que os políticos falam muito e quem fala demais faz pouco e diz muitas asneiras. É neste caos de tagarelas que nos vamos afundar mais um ano. 

         - Pois. O que nos espera o 2025 ficou patente na quantidade de pessoas assassinadas. Só em Nova Orleães foram pelo menos uma dúzia, para não falar noutras partes do mundo como, por exemplo, Montenegro, Ucrânia, Faixa de Gaza.  

         - Este Natal e fim de ano, fui um felizardo. Muitos foram os amigos que me telefonaram. Annie e Robert, o Nam, a Alzira, o Tó (que sendo médico nenhum tempo lhe sobra para os amigos), o Francis eterno defensor da causa homossexual, que do alto dos seus 85 anos me disse ir passar o reveillon “chez les homos”, a Alice, a Gi, Frei Hélcio e o marido, a Michel e não sei quem mais porque a bebedeira entontece. 

         - Como é meu hábito e desmedido prazer, passei a manhã de ontem diante do televisor. Primeiro, a missa transmitida do Vaticano e a bênção urbi et orbi do Papa Francisco, lúcido, embora entorpecido dos membros inferiores; de seguida o Concerto de Ano Novo transmitido de Viena de Áustria, da sala que guardo as mais vibrantes recordações. O maestro Riccardo Muti dirigiu a orquestra, ele que é já peça do mobiliário de tantas vezes ter orientado a orquestra. Apesar da idade, embora um pouco mais lento de movimentos, pareceu-me ter dado um cunho pessoal a algumas daquelas peças musicais, sobretudo as dos familiares do pai Strauss. (Enquanto escrevo, tendo em fundo uma das suas valsas.)

         - Apesar de dorido do lado direito lombar, que o Tó me recomendou tomar três Ben-u-Rons por dia e eu logo barafustei “pitié, pitié Tó, dois chegam”, não deixei de ir a Lisboa e de prosseguir aqui o rapa erva em frente à casa. Encontrei-me com o João Corregedor na Brasileira como é nosso hábito, e dali ele levou-me ao Marquês de Pombal para que eu obtivesse o cartão de circulação grátis para coxinhos, coitadinhos. O João é o meu  mestre em transportes públicos, sabe todos os itinerários, todos os guichés onde tratar de assuntos, ele que sempre os usou mesmo quando tinha direito a carro de Estado com motorista à porta de casa. Esperou por mim enquanto eu me debatia com as funcionárias, preenchendo um questionário pidesco, para no fim, surpresa!, não haver passe algum gratuito para deficientes – como tinha lido nos jornais. Ou antes o passe habitual de 20 euros, ficava agora reduzido a 10 euros! “Nada mau – diz-me a empregada ante o meu espanto – porque nós temos de pagar os transportes públicos, à parte o metro onde trabalhamos!” Não percebi a comparação, mas, pensando bem, o que a criatura queria era gratuitidade enquanto funcionária do metro nos comboios, autocarros, etc.. Os sindicatos, os ministros e os organismos públicos, deviam passar por estes momentos para perceberem a realidade em que o funcionalismo público se encontra e as respostas que o cidadão aguenta. 

         - No princípio do ano não explodem só foguetes e petardos de luz, também estoiram decisões do tribunal como esta de as quatro hospedeiras da TAP que levaram a companhia à judicatura por as haver despedido em 2021 quando da epidemia da Covid-19. O resultado do parecer vai decerto fazer jurisprudência e a TAP vai ter que indemnizar pelo menos 1200 tripulantes que não viram os seus contratos renovados sob pretexto da cobra, isto apesar de a empresa ter adquirido na mesma altura novos aviões. Não vejo citado o nome do grande obreiro deste atentado aos direitos dos trabalhadores, mas lembro-me de na altura me ter insurgido nestas páginas, contra a prepotência de um tal ministro chamado Pedro Nuno dos Santos com o cognome de Vasco Gonçalves.