terça-feira, julho 01, 2025

Terça, 1 de Julho.

Penoso, muito penoso sermos esmagados pela canícula. Nestes últimos dias, às seis da manhã, já estou a regar. Todavia, todo este esforço e canseira, não tem sido suficiente para conservar a beleza das hortênsias que estão já todas queimadas do sol. Assim como os acantos, e só as laranjeiras ainda se mantêm de pé, verdes e belas, cheias do fruto que irá desenvolver-se para gáudio meu até Dezembro. Felizmente, sem nenhuma dor de costas, nem qualquer outra. Puxar mangueiras com cinquenta metros, não e pera doce.   

         - Ontem fui a Lisboa e passei na Brasileira para cumprimentar os velhotes. Nem lá, na esplanada, se estava bem. Fugi ao encontro da Alzira que me esperava para o almoço no C.I.. Aí, sim, residia o paraíso. Quando nos separámos, fui tratar de avançar com a compra de um Mac mais recente. O meu, com mais de dez anos, está ultrapassado e nem as operações bancárias exigidas on line, consegue fazer. 

         - Ir a Lisboa por dias assim de suplício, é uma tortura. Outro dia, com o saco pesado da lona aos ombros, sem a minha querida mochila que me acompanha com o portátil dentro, pude carregá-lo até ao Bangladesch. Curioso, senti-me outro sem aquele apetrecho útil aos meus tempos e perpetuamente disponível para me concentrar e mergulhar em coscuvilhices com Ana Boavida. Com ele acho-me gente, sem ele vejo-me um tipo qualquer sem identidade. Mal comparado, sou como aquelas damas que se pintam com tons provocantes, abrem o rego do peito para que espreitemos (discretamente, claro) as mamas frescas que exibem com falsa circunspecção, mas que são a marca daquilo que querem ser para os olhares dos homens lambidos de libido assanhada. 

         - “Um dia reconhecerá que éramos felizes e não sabíamos”. frase de Marcelo para António Costa na balbúrdia e desnorte de tempos sinistros, aplica-se também a Trump e Elon Musk. Transcrevo o que o oligarca americano tuitou na sua rede pessoal: “Elon deve ser o ser humano que, de longe, mais subsídios recebeu em toda a história, e, sem subsídios, Elon deveria ter de fechar a loja e regressar à África do Sul. Não há mais lançamentos de foguetões, satélites, ou produção de carros eléctricos e o nosso país iria poupar uma fortuna.” Resposta do homem mais rico do mundo: “Cortem-nos todos.”  

         - Fui à natação enquanto aguardo pelo homem das piscinas me venha limpar paredes e chão da minha. Muita gente, o calor como sinal. Ontem no Rossio estavam 41 graus, hoje aqui 40. 


sábado, junho 28, 2025

Sábado, 28.

Trump voltou para o seu castelo inchado de orgulho, passado a pente dourado de vaidade. Assim que ele debandou, os nossos entendidos e orgulhosos euro-governantes, caíram na real: afinal o homem não se havia esquecido das percentagens que fazem o lustro da sua governação. A criatura acenou-lhes da Casa Branca que não olvidassem as taxas a aplicar aos produtos chegados aos EUA - são para cumprir. Foi um balde de água fria que despejou sem piedade sobre as suas cabeças doidas e levianas. Que humilhação, que miséria! Ainda por cima redisse que a Europa tem andado a enriquecer à conta da América.  

         - Tenho tido dias duros não só por causa da canícula, mas pelo serviço que venho prestando ao Nilton no arranjo da piscina. Ontem fui ao Bangladesch, à sua secção na estação do metro Restauradores, entregar a lona para que os costureiros a transformassem na cortina que há-de descer sobre o lounge (modo de falar à Carlos Neto). No Rossio abafava-se, O calor era tanto, que mal se podia andar. E todavia, baratas tontas estrangeiras não faltavam. Fui mastigar qualquer coisa ao paraíso C.I. e despachei-me para casa onde a frescura convida ao ripanço e ao dolce far niente. O galdério do gato, só daqui saiu pelas dez da noite ao encontro da namorada que o chamava do lado de fora. O único sitio mais difícil para se estar com estes quase 40 graus centígrados, é a cozinha. Mas é lá que estou bem, o ar condicionado ligado. Hoje fui ao encontro do Nilton à loja onde se vende material para piscinas. Diz-me ele que esta tarde, quando voltar de ao pé da namorada brasileira, poderá pôr a água a circular e terminar o trabalho. A ver vamos. Estou ansioso por correr com a rã que lá se instalou e não pára de cantar. A mim faz-me impressão vê-lo trabalhar sob esta temperatura de morte. Pela uma e meia da tarde, quase lhe ordenei que fosse fazer a sesta e voltasse pelas cinco. Recusou. Eu insisti. Contrariado aceitou. Bref. 

         - Terminei o livro de Hugo Mãe. Que dizer. São curtas histórias do seu quotidiano, que se lêem num ápice, na sintaxe do costume, e logo se esquecem. Prefiro-o nos romances onde a criatividade e o sentido da história nos prende e somos, literalmente, arrastados. 

         - O artigo de João Miguel Tavares de hoje, sobre a figura sinistra de Augusto Santos Silva, termina assim: “Bem sei que o ressabiado Santos Silva, após dizer e repetir que Seguro não cumpre os “serviços mínimos”, veio agora informar a pátria de que irá anunciar na quarta-feira se ele próprio é, ou não, candidato à presidência. Espero que venha a ser, porque eu tenho este sonho: ver Augusto Santos Silva ser humilhado nas urnas ao mesmo tempo que Jose Sócrates é julgado nos tribunais. Seria um final feliz para os piores anos da democracia portuguesa.” Assino de cruz.     

         - Agora, no inferno em que se tornou há muito a Faixa de Gaza, são os solados israelitas que denunciam ordens para matar multidões que procuram alimentos para não morrerem à fome. Naturalmente o assassino Netanyahu, desmente.  


quinta-feira, junho 26, 2025

Quinta, 26.

Uma vergonha, uma nojenta vergonha a Cimeira da NATO com Trump a presidir, senhor todo poderoso a quem toda a cambada de políticos medíocres renderam vassalagem. Salvo Pedro Sánchez, o grande, o independente, que prefere acudir ao seu país e aos factores sociais de Espanha, que embarcar nos 5 por cento que o poderoso impôs para manter a Organização. Pergunta-se por quê 5 e não 10 ou 20%, uma vez que nunca li nenhum estudo sobre a necessidade de um tal acréscimo em armamento. Aquela bajulação, nem ao menos teve em conta os desafios de Donald Trump ao pretender anexar a Gronelândia, pertença da Dinamarca, território da União Europeia. Vivemos um momento de loucura, somos governados por insignificantes seres, pequeninos como moscas, equidistantes dos grandes que reconstruíram a Europa, estou a pensar em De Gaulle que tendo pertencido à NATO, abandonou-a em 1966, correndo com as bases militares americanas do país. Ele sabia bem porquê. Seguiu-se a corrupção dos Sarkozys deste mundo, o futuro encurtou até não ter margem de visão - a França deixou de ser independente e com ela toda a Europa. Estamos sob a pata de governantes tirados a papel químico do modelo americano. 

         - Faz muito calor. Fui à piscina com a sorte de haver uma faixa só para mim durante uma hora. Nos balneários não assisti a nenhuma daquelas cenas de terror. Ao contrário, na água, naquilo a que chamam hidroginástica, uma chusma de mulheres que faziam cada uma três vezes o meu corpo. E mais uma vez me assaltou este terror: como será aquilo todas nuas nos chuveiros? Pesadelo, pesadelo! 


quarta-feira, junho 25, 2025

Quarta, 25.

Regressar ao conforto de mim, apoiar-me no ombro do meu Criador, fechar a cortina de luz e vento, descer as pestanas de luz, e deixar-me invadir pela paz, o silêncio que murmura orações e cânticos e desce das alturas carregado de bênçãos. Ficar hirto como uma estaca no deserto, tocada pelos temporais que não assustam antes revigoram porque nos sacodem e nos devolvem a identidade perdida na aprendizagem manipulada, nas vozes doces truncadas de falsa sabedoria, no segredo incrustado em nós desde tempos imemoriais. Ler o breviário das horas e descobrir em cada página o percurso das sombras, o sopro das divindades, o eco das preces num mundo breve, ruidoso, sem sentido nem esperança, traçado na ira e ódio que rasteja e ciranda e sobe e desce e contorna cada um de nós da nostalgia do passado, quando os humanos se reconheciam como humanos...  


terça-feira, junho 24, 2025

Terça, 24.

Ninguém me consegue explicar – à parte a dança habitual dos políticos que pensam todos em pescadinha e já agora também dos sabichões comentadores – qual a diferença entre arma atómica construída pelo Irão e aquelas outras que alguns países possuem sem que ninguém os obrigue a desfazerem-se delas. Ouço falar americanos e europeus que o regime iraniano é cruel, dominador, envaido de moralidade e dominado por ditadores de crenças religiosas, querendo com isso contrapor os regimes democráticos onde ninguém se sobressai dos demais em decisões de tamanha importância como o disparo de armas nucleares. Com esta particularidade. Foi um país democrático, os EUA,  o primeiro a fazer uso de tais armas de morte e destruição e não uma, mas duas vezes: Hiroshima e Nagasaki. E se um louco democrático como Donald Trump quiser hoje utilizá-la, não pode? Ou o seu camarada Vladimir Putin? Ou aqueloutro varrido dos miolos Kim Jong-un? 

         - O Executivo aprovou a Lei da Nacionalidade. Grosso modo, concordo não fora as excepções que dão a palavra à madre superiora do Bloco de Esquerda e dos seus acólitos. Esta lei faz dos imigrantes pessoas de primeira e de segunda. Os ricos, os dos “Vistos Gold” que ninguém fiscaliza, os profissionais altamente classificados com cartão azul da UE podem fazer o que muito bem quiserem; os restantes ficam sujeitos a todos os entraves, peripécias, demoras e esforços para conseguirem residência entre nós. Não tarda, teremos a vir morrer neste espaço ao sol como lagartixas em fim de vida, toda a casta de oligarcas, de Trump a Putin, de Elon Musk a Mark Zuckerberg. 

         - Fui à piscina. Água gelada a fazer encolher tudo à dignidade secreta da cobiça dos olhares. Ontem, no C.I. adquiri o último livro de Valter Hugo Mãe, Educação da Tristeza. Também abanquei por duas horas na esplanada de A Brasileira em cavaqueira ligeira sobre o peso do mundo actual. Mas quando chegou o João, mal se tinha sentado, já falava contra a América. Debandei de pronto. À chegada a este paraíso, tinha o Nilton de volta da piscina e a sua namorada por ele mandada vir do Brasil há um mês, a ajudá-lo.  


domingo, junho 22, 2025

Domingo, 22.

Desde que um boçal alcança o poder, tudo é de esperar. Contudo, o que a mim mais me  surpreende, é como a democracia fica vassala de um qualquer arrogante, oligarca ou egocêntrico, que de súbito está de posse do poder absoluto, indo contra os adversários políticos, as leis internacionais, o Senado ou Assembleia Nacional, fazendo o que melhor serve os seus objetivos pessoais e interesses privados. É o caso original e extremamente assustador de Trump. De braço dado com o criminoso e seu bajulador Netanyahu, bombardeou ontem o Irão com armas que só os EUA possuem. Fê-lo sem prevenir ninguém. Como senhor absoluto do mundo e da força que o regime americano põe ao seu dispor. O mundo acordou para esta triste realidade. Muitos foram já os países que a condenaram, a nossa estimada UE só amanhã vai reunir para analisar os factos. Que chateza virem-nos aborrecer no fim-de-semana. Já não basta a pobreza que berra, vêm agora os islâmicos incomodar-nos com bombas que nem sequer foram lançadas por nós. Esperemos de cabeça erguida pela resposta de Teerão. 


sábado, junho 21, 2025

Sábado, 21.

Eu sou muito metódico. Organizo-me em função de objectivos, com margem apesar de tudo para imprevistos e estes me incomodarem. Perguntei outro dia ao João Biancard, hoje com proveta idade, o que mais o incomoda na vida. Ele respondeu a alteração abrupta dos meus ritmos, a desistência de projectos subitamente adiados ou suspensos, o atraso de alguém para quem as horas não contam. Eu estou com ele. Esta manhã fiquei muito incomodado com o senhor que tem vindo cá limpar com a roçadora a erva seca. Ontem, tendo chegado com a mulher, uma rapariga simpática, uns trinta anos mais nova, ouvi-o dizer para ela: “Aqui é que nós passávamos um bom dia com o nosso filho a nadar.” Pois bem, esta manhã, saí para o mercado dos pequenos agricultores quinze minutos depois das oito – hora combinada para início do trabalho e ele sem vir. Na volta, encontro a mulher a aparar os arbustos da entrada juntamente com ele. Digo-lhe que aquele não era o projecto combinado, mas sim limpar em volta da quinta de modo a que o Sr. Correia pudessem trabalhar com o tractor sem danificar as macieiras (ontem o veiculo teve uma pane). Amuou. Nesse entretanto, a rapariga vem falar-me, dizendo que em vez de estar em casa só e gostando de plantas, ia desimpedir-lhes as ervas ruins. Disse-lhe que não gostava de misturar as coisas e apliquei aquele velho ditado: “trabalho é trabalho, conhaque é conhaque”. Todavia, se há alguém a quem devo atribuir esta triste situação, é a mim. Porque sou demasiado comunicativo, tomo toda a gente por igual, sou incapaz de ser grosseiro. O resultado, com certas educações, rapidamente se instala a familiaridade, o tu-cá-tu-lá, misturando tudo: sentimentos, à-vontade, liberdade, aproveitamento. 

         - O dia acordou claro e um vento ligeiro cirandava em torno da casa. Não fazia calor, havia até uma ligeira neblina suspensa no horizonte. Quando desci para o pequeno-almoço, ao abrir a porta, dou com as hortênsias que durante a noite tinham rejuvenescido, catitas e de sorriso aberto. São elas que me amparam os dias, são elas que me iluminam as manhãs, é nelas que repouso o cérebro e enterro os desaires frágeis da existência. 

         - O tema do dia, são os ataques dos neonazis e a construção de uma rede internacional para derrubar pela extrema direita a democracia. Não duvido de uma tal construção que se sente impulsionada por Donald Trump. São violentos, atacam inocentes, não respeitam as leis, tudo fazem para se impor pela força. Contudo, são uma vantagem para uma certa esquerda dando-lhe espaço, visibilidade, discurso e acção de ordem vária. Porque esta é tão violenta como aquela, usa a força das palavras, o poder da argumentação, o ódio, a messiânica missão de impor ideologias, que mais não são que democracias disfarçadas de ditaduras. Portugal, noutros tempos, também conheceu esta mesma arbitrariedade por parte dos grupos extremistas de esquerda. Portanto, muita atenção a uns e outros. O que soubemos que se passou no interior do Bloco de Esquerda no tocante ao desprezo pelas suas funcionárias grávidas e outras que largaram o partido, indica-nos o rumo que facilmente nos leva para o outro lado – o despotismo. 


sexta-feira, junho 20, 2025

Sexta, 20.

Mais uma vez se comprova que Trump é forte com os fracos – imigrantes, estudantes, funcionários públicos – e fraco com Netanyahu e Ali Khamenei. Para aqueles a violência é imediata e sem restrições, para estes precisa de duas semanas para decidir se entra na guerra Israel/Irão, sendo certo que ele já lá está embora disfarçado de justiceiro. A coisa está preta. Netanyahu perde em toda a linha: por não conseguir trazer de volta os reféns na posse do HAMAS, por não alcançar a destruição do material nuclear do Irão. 

         - A madre superiora do BE e o eclesiástico do Livre, juntos com a salvadora dos animalzinhos, além de contestarem o programa do PSD/CDS, insistem que os ministros são os mesmos com particular raiva contra a Ministra da Saúde que, repetem, os portugueses vão sair mais uma vez prejudicados. Acontece que a atitude de Luís Montenegro em não lhes ligar patavina, revelou-se benéfica para o país. Os doentes vão ver as operações adiadas desde o tempo daquele que abancou em Bruxelas e deixou o SNS num pântano, serem feitas com recurso aos privados - medida inteligente que põe de parte as ideologias em favor de quem precisa. Também a fantasia de António Costa no acolhimento indiscriminado de imigrantes, vai a pouco e pouco tomando forma legal e equilibrada. Os brasileiros que inundaram este pobre rectângulo, aqui chegando como turistas e depois instalando-se sine die, vão ser obrigados a visto de residência. Como a lei da greve vai ser revista e muito bem. A lei que vem praticamente do tempo do PREC, favorece apenas os sindicatos e seus associados e constitui um poder que se contrapõe muitas vezes ao poder dado pelos cidadãos em sufrágio. As centrais sindicais são braços activos dos partidos e só têm em conta os seus interesses, estando-se lixando para a multidão de trabalhadores que precisa de ganhar o pão de cada dia, paga o passe social, gasta em UBERs, para que suas excelências possam viver à grande. Um exemplo, os lordes das Infra-Estruturas.  

         - Um dos grandes jornalistas que não perco a sua opinião no Público, é Jorge Almeida Fernandes. Aconselho a leitura do seu artigo hoje no jornal “Cabe a Trump decidir a guerra” que termina assim: “O Espírito Santo não costuma iluminar Trump. Mas poderia desta vez fazer uma excepção.” 

         - Economizo quanto posso para me permitir continuar neste oásis de verdura e silêncio. Desta vez, tive aqui três trabalhadores: um a roçar o mato, outro com o tractor a limpar a quinta e o terceiro (Nilton) a arranjar a piscina. Sem falar no Johnson que quis dar o seu parecer ao brasileiro sobre como trazer a água da piscina para o circuito da bomba - este por gentileza. 


quinta-feira, junho 19, 2025

Quinta, 19.

Longa conversa ao telefone com o Fernando Dacosta que eu conheço dos tempos do jornalismo. A conversa veio por causa do Mr. Johnson a quem eu o apresentei quando ele aventou a hipótese de lhe comprar uma casa pré-fabricada. Já lá vão um par de anos! Nessa altura, fui com ele ver o terreno que estava à venda em avos e logo disse ao Fernando para não se meter nisso. Não me deu ouvidos, ele e mais uns colegas. Resultado: perderam o dinheiro e o espaço onde pensavam erguer a casa de campo. Fernando explica-me este triste fim às gargalhadas intercortadas com “tu é que tinhas razão”. Johnson queria comprar-lhe o terreno decerto aproveitando o impulso dos americanos que por aqui procuram residência. Vamo-nos encontrar na próxima semana, longe da Brasileira para podermos estar a conversar à vontade, sem ter por perto os “de fé nos dogmatismos inspiradores”.  

         - A pobre esquerda nacional, com ou sem razão, sempre que pode cavalga sobre os media alterada, recôndita, ameaçadora, purista. Desta vez, sob o impulso de uns pequenos que por aí andaram a ameaçar e a sovar pessoas caritativas, artistas ou simples cidadãos. Claro que ela tem razão, mas parece-me que a montanha pariu um rato. Uns quantos estão sob custódia da Judiciária, mas o manancial de armas que a esquerda dizia eles possuírem, não corresponde para um assalto programado à Assembleia da República. A verdade é esta: os neonazistas são fruto da extrema esquerda. E deste modo, servem-na com a publicidade que os seus actos aproveitam á sua permanência em jornais e televisões. 

         - Não deixei este espaço. Choveu de manhã e à tarde. O calor imperou digno por todo o lado. Hoje não reguei as hortênsias, mas aproveitei para fazer compota de alperce apanhados logo de manhã. Ufa! 


quarta-feira, junho 18, 2025

Quarta, 18.

O Programa do Governo passou na Assembleia da República apenas com os votos contra dos partidos pequenotes. Que vivem incendiados de lutas, princípios, e todo aquele cacareco ideológico que passam os dias, os meses, os anos a impingiram-nos e assim  preencherem o espaço informativo como forma de erradicar os demais. É tão fácil ser-se de esquerda em Portugal! Só me espanta como os portugueses os põem de parte e não compreendem os seus programas eivados de coisas maravilhosas e fraternas e inclusivas e de igualdade e de futuro onde os sóis reinam na imperiosidade do sua sua luz que a todos abraça. Como é possível que ninguém ligue ao Livre, BE, à senhorita dos cãezinhos, ao PCP que é de todos - apesar de não comungar da sua ditadura do proletariado -, tem outra postura e dignidade. Já agora, se me dão licença, retenho do discurso de José Luís Carneiro este princípio que aqui tantas vezes defendi: Os trabalhadores precisam de ordenados condignos e não de subsídios.

         - É insuportável aquilo que se passa em Gaza onde crianças continuam a morrer sem que alguém as proteja. Elas vão por comida, mas por cima das suas cabeças descem mísseis que as deixam inanimadas no solo no meio dos escombros. Desde que a ONU se ausentou de levar ajuda aos palestinianos e Israel e os EUA tomaram essa tarefa a seu cargo, que a procura pela sobrevivência parece ter-se transformado numa armadilha para a morte. Só ontem morreram mais de 400 pessoas na busca de comida. Ninguém consegue travar o assassino Netanyahu e seus defensores. A começar pela nossa querida União Europeia. 

         - Entretanto, a guerra prossegue entre Israel e Irão que furou com os seus drones e mísseis o balão de defesa que Israel julgava invencível. Os ortodoxos e os que acreditam na justeza do primeiro-ministro, ao verem o seu território em ruínas e morte, começam a interiorizar o sofrimento dos palestinianos ao longo destes dois últimos anos e durante cinquenta anos de prisioneiros no seu próprio país. Não sou apoiante do regime dos ayatollah, mas não tolero aquela do amador Presidente dos EUA “exigir rendição incondicional” a um país soberano. Que, por outro lado, a esta hora já percebeu que Putin roeu a corda da parceria que havia feito com o Irão. Penso que a guerra está para durar e em desespero tendo em conta o que a morte significa para os povos islâmicos, ela se estenderá a outras nações. Israel vai sair muito mal deste conflito. 

         - Ia-me a esquecer. Então não é que o socialista Pedro Sánchez, em vez de correr com o infrator, senhor Santos Cerdán, secretário do PSOE, por haver recebido 620 mil euros em comissões de obras públicas e convocado novas eleições, decidiu pedir desculpa ao povo espanhol e manter-se no cargo. Não é original esta saída socialista! 

         - Ontem andámos, Johnson e eu, por toda a cidade sob tirania da canícula. Apenas descansámos no restaurante panorâmico do C.I. onde eu lhe ofereci o almoço. O resto das horas, passaram-se em voltas na Baixa em busca de lonas para os toldos. No final, no regresso, o meu vizinho e amigo dizia-me no seu português típico: “Você diz que é coxinho, coitadinho, mas sou eu que estou morto de cansaço.” 


terça-feira, junho 17, 2025

Terça, 17.

Os crimes hediondos praticados por Netanyahu ninguém neste mundo parece poder parar. Abriu várias frentes de guerra e a todas corresponde com o ódio e o armamento de que dispõe, inesgotáveis. Ontem e anteontem, reduziu a cincas Teerão, continuou a matança de vários cientistas e responsáveis políticos e ameaça agora matar o chefe supremo o atola Ali Khamenei. A isto responde Trump, descartando-se. E, contudo, é ele que está na origem desta guerra, com o pretexto de eliminar a bomba nuclear que dizem estar nos finais da sua concretização. Se Trump lava dali as mãos, a UE, como é seu hábito, fala, fala, e nada faz. 

         - E todavia, a mim me parece este problema um modo de subjugar os países mais fracos e com menos condições económicas. Porque a questão não está em impedir outras nações de construírem a arma nuclear, está em haver tantos que a possuem. Qual a razão de para uns a arma ser a sua defesa principal, enquanto para outros a sega imposição de não a desenvolverem? A razão é simplesmente poder, humilhação, submissão. Eu compreenderia se todos destruíssem o armamento atómico que possuem, mas no caso actual, tal como as coisas se encontram, não pode haver mísseis nucleares bons e outros ruins. Objectar-me-ão com o tipo de regime ditatorial, onde um só homem ou clique, decide da vida e da morte do povo em contraponto com as democracias. A resposta é só uma: os EUA são uma democracia, eram-no durante a Segunda Grande Guerra, e são os únicos que até hoje utilizou aquele engenho de horror e morte. Em que ficamos, caros leitores?

         - Escrevo estas linhas enquanto aguardo pelo Dear Johnson que me levará no seu carro a Lisboa. Ele tal como eu, queremos montar toldos nas nossas casas e vamos por isso à Pollux ver o que encontramos. Porque o calor aqui não pára de aumentar. Ainda por cima, não consigo avançar com o arranjo da piscina, bloqueado por não haver quem venha ver o que aconteceu à bomba. Ontem estava-se melhor em Lisboa. Passei um espaço da manhã na Brasileira, naquele ram-ram de conversa que enche o tempo e não me enche o coração. Almocei na Fnac e de seguida instalei-me no café decidido a chamar a Ana Boavida; embora ela tenha acedido ao chamamento, as minhas energias estavam por terra e daí a um tempo levantei amarras de regresso a casa. 

Um dos meus trabalhos de sábado, esta tarte de cordonizes. 



segunda-feira, junho 16, 2025

Segunda, 16.

Ontem, como na véspera tinha trabalhado que nem um negro, dei-me ao luxo de nada fazer. Então, tomei o fertagus sem passageiros, almocei no C.I. e depois fui ao cinema como se fazia noutros tempos quando a vida era reduzida de horizontes, mas nem por isso monótona. O que apreciei não foi o filme que, não sendo destituído, não era obra prima. Falo de A Prisioneira de Bordéus. Em cena Isabelle Huppert e Hafsia Herzi ambas óptimas atrizes e no enredo iguais na imoralidade de vida, apesar de opostas nas origens sociais. 

         - A América é hoje um país à revelia da sua moralidade ingénua. Com Trump, em tão pouco tempo, está irrreconhecida. Abateram-se os pilares democráticos, morais, sociais e campeia por todo o lado a desordem, a violência, o salve-se quem puder. Nestes dias, um casal de democratas foi assassinados e um autarca sofreu o mesmo destino, milhares de imigrantes obrigados com violência a deixar o país, a polícia está nas ruas, os militares por todo o lado. Donald Trump é o senhor absoluto, o soberano a quem todos os norte-americanos se vergam. Deram-lhe uma vitória impressionante, agora sentem-se traídos. 

         - Uma amiga telefonou dizendo-me que sou citado no Diário de Vergílio Ferreira em reedição (penso) pela Quetzal. Estou safo. Alcancei a imortalidade.  

         - Também por aqui ela me bate à porta. Volta que não volta, aparece alguém, empresa ou empresário, a propor-me uma quantia para exibir na página de abertura um qualquer produto. Recuso e bloqueio o número. 


sábado, junho 14, 2025

Sábado, 14.

Ontem excelente almoço na companhia do Carlos Neto. Antes, tendo atravessado a cidade da Brasileira à Fnac, desta ao C.I. o movimento era quase nenhum. No Chiado permaneci um tempo no ripanço de quem se sente livre e só disposto a gozar o momento sem o embaraço dos turistas e de tutti quanti. O meu amigo é uma espécie de James Bond. Tudo o atrai embora seja na pintura que eu lhe reconheço mérito. À mesa a comédia abancou e os momentos de galhofa foram mais que muitos. Não tive tempo de lhe cortar o braço quando ele, estendendo o pulso onde tinha o relógio cheio de magia, o apontou ao aparelho Multibanco para liquidar o repasto. Ele adora estas fantasias e tudo quanto é tecnologias o apaixona. Não sei se terá conhecimentos bastantes, sei que a sua curiosidade quase infantil por gadgets tecnológicos é mais forte que ele. Bref, viva o amigo!

         - A guerra está iniciada entre Israel e Irão. Nos últimos dois dias, a 2 mil quilómetros de distância um do outro, pelo espaço que os separa, centenas de mísseis e drones levam a destruição e a morte. Os EUA apoiam Netanyahu, mas, como sempre, adoram a guerra longe das suas fronteiras - só colhem dela os benefícios do lucro.  

         - Aquelas pobres criaturas do BE, refasteladas nos bons salários que a democracia lhes oferece mensalmente enquanto deputadas uma em Bruxelas, outra na Assembleia Nacional, vão magicando formas de impor as suas ideologias coxas e facciosas. Que odor a bedum, santo Deus! O pior é que encontram jornalistas que as apoiam e divulgam os seus estratagemas de poder e autocracia. A ex-actriz é a co-presidente da nova Aliança de Esquerda Europeia. Mas quem é que acredita nestas almas! 

Ante a beleza das hortênsias em flor, como posso eu abalar deste paraíso? 




quinta-feira, junho 12, 2025

Quinta, 12.

No atropelo das notícias de ontem, onde não havia uma definição clara do que tinha acontecido em Lisboa, sendo este exercício um diário e, por isso tocado pelo impulso, tornou-se hoje claro que se tratou de dois lamentáveis acontecimentos de idêntica gravidade e testemunho do desinteresse pela vida humana. O primeiro na forma covarde de agressão a actores, ou seja, de ataque à cultura e à arte; no segundo uma escaramuça entre adeptos do Sporting e FC Porto. Este segundo caso reveste-se de especial gravidade porque houve a vontade  nítida de atentar contra as vidas dos jovens que se encontram no interior do carro. Quando os energúmenos do Sporting atiram para dentro da viatura onde estavam quatro rapazes um engenho incendiário, havia a clara intenção de acabar com os seus adversários. O automóvel ardeu e, felizmente, nas imagens de TV vemos os rapazes a fugirem minutos antes do fogo reduzir a cinzas o  carro. Uma vítima  foi transportada em estado grave  para o hospital. 

         - Grandes Estados da América estão em pé de guerra devido a confrontos com a polícia enviada por Donald Trump para correr com os imigrantes. Cenas dramáticas, porque o senhor todo poderoso, usando da força sem discriminação, varre a eito todos os que não são nativos do país ou que tendo nascido de imigrantes, sejam ao abrigo da Constituição tão americanos como ele.  

         - Mais uma vez tivemos de gramar as opiniões do ex-MRPP que, embora com o sorrisinho apatetado mais sombrio talvez devido à idade, nos impingiu um discurso que é aquilo e o seu contrário, no dia em que Portugal comemora a entrada na hoje União Europeia. Isto é uma obsessão dos meios de comunicação, para quem o senhor que foi Presidente da União Europeia e saiu enxovalhado directamente para o banco americano Goldman Sachs, pretende ter ideias originais e vincar a importância de uma organização que com ele esteve no auge da corrupção. Diz sua excelência “a União Europeia contribuiu para o desenvolvimento de Portugal durante estes anos. O nosso País está hoje em muitos aspetos irreconhecível para melhor quando comparado com a situação anterior a 1985/86, data da assinatura do Tratado e da efetiva adesão.” Pergunto quantos portugueses com o mínimo de juízo subscreverão este raciocínio. Mas o sabichão diz mais: “Conseguiu-se um acelerar da convergência económica com os países mais desenvolvidos, (mas!!!) ainda que neste aspeto devamos realçar que há problemas que persistem, nomeadamente no domínio da competitividade da nossa economia, problemas esses que dependem não tanto da União Europeia, mas sobretudo da capacidade nacional para lhes fazer face.” O homem sempre foi mestre a dar uma no cravo, outra na ferradura. A mim nunca me iludiu, conheço o género de ginjeira.

         - Os camaradas dos transportes púbicos, são fanáticos por greves às sextas e segundas-feiras e nos dias em que os cidadãos mais precisam do Metro e da Carris. Hoje é dia grande para muitos lisboetas e arredores, sendo as festas santantoninhas a marca da capital. Pois bem, os autocarros não andaram todo o dia e o metro fecha às oito da noite. Toma, Zé povinho e embrulha.  Bem diz o outro que Portugal está mais desenvolvido. 

         - Fui à natação. Talvez por isso, as dores lombares quase desapareceram. Contrário à toma de medicamentos, vou optando por fazer frente aos problemas introduzindo o esforço do exercício físico. 


quarta-feira, junho 11, 2025

Quarta, 11.

Os políticos que nos saíram na Farinha Amparo, são férteis em palavreado, em discursos ocos, feitos para serem escutados pelos seus iguais, longe da sua correspondência em acções de interesse público. Que o diga o salmo embalador do Presidente da República ontem no Algarve. Um homem que poderia ter deixado uma marca indelével à sua passagem por Belém, sai como um qualquer trolaró, vendedor de sonhos e quimeras, arrastado pela obsessão da popularidade e da demagogia. Salvou o 10 de Junho a escritora Lídia Jorge, que introduziu um esquema mental interessante e trouxe-nos de volta a justeza do pensamento, da História e do nosso futuro enquanto povo.  

         - Às vezes dou comigo a pensar na pobreza que a democracia não conseguiu erradicar, e serve os interesses das fervorosas ideologias ou simplesmente dos sequiosos do poder. Porque a pobreza está associada à iliteracia, ao desinteresse pela coisa pública, ao bajulamento, ao arrebate dos piões de arrasto sempre úteis aos ditadores e prepotentes. A pobreza é submissa, corre atrás da côdea, segue quem a socorre, não possuiu espírito crítico, é facilmente manobrada, está entregue ao subsídio, encosta-se ao ripanço, conformada com a sua sorte. Mesmo em democracia, enche as bocas dos políticos de boas intenções, faz boa figura, propaga objetivos, propaganda, elege os oportunistas, é tema de todas as campanhas. Sem ela o que seria a esquerda e a direita, definhadas dos valores que reivindicam como seus. Quase me apeteceria dizer que sem a pobreza institucionalizada, a maior parte dos partidos com os seus arautos, estava reduzia a coisa nenhuma. É ela que mantém Portugal no subdesenvolvimento, passivo ou premeditado, do poder que nasceu com o 25 de Abril de 1974. De contrário, como explicar os dois milhões e meio de pobres, os milhões de portugueses a viver no limite das suas necessidades, o quase analfabetismo, a incentivação da primazia do futebol, como coisa que distrai, aliena, não puxa pela inteligência, adormece os pobres numa doce satisfação que sobrevoa a apatia. Não me digam que vamos ter de esperar por mais 50 anos para que o país ascenda à dignidade, ao trabalho que compensa, à saúde que prolonga a vida, à instrução que não se limita às análises trabalhadas do INE e se contenta com saber escrever e ler... 

         - Com  chegada de Trump ao poder, houve como que um apelo aos extremismos de toda a ordem. O mundo aparenta ter sido voltado do avesso e somam-se os casos todos os dias. A juventude parece perdida, abandonada à sua sorte, e nada a satisfaz neste mundo onde tudo abunda em quantidade. Não nos bastavam os tiranos que invadem países independentes, ou os de extrema direita que querem chacinar os povos vizinhos, Putin e Netanyahu, chegaram agora os assassinatos em massa levados a cabo por adolescentes. Como os de ontem em Graz, Áustria, onde um jovem de 21 anos, entrou na sua antiga escola secundária e disparou contra dez pessoas antes de se fechar numa casa de banho para se suicidar. Qual a motivação de um tal horror, ninguém sabe. Num instante, morreram dez inocentes e não há resposta que dê motivo ao descontrolo. O mesmo ocorreu anteontem em França. Um adolescente de 14 anos, matou a facadas uma assistente educacional da escola que frequentava. Porquê é a pergunta que se houve por todo o lado. Porquê?

         - Que também se pode pôr entre nós. O teatro A Barraca estava prestes a começar a sessão de ontem, quando um grupo de boçais do futebol, que a imprensa diz serem neo-nazis, uns do Sporting, outros do Porto, atacou os actores tendo um deles ido parar ao hospital. Dizem pertencer à extrema direita e até pode ser, embora a mim o que me revolta é o ataque a pessoas desarmadas ao ponto de ferirem os pobres profissionais do teatro e de incendiarem uma viatura. 


terça-feira, junho 10, 2025

Terça, 10.

Neste dia consagrado a Camões e à raça nacional, apetece-me perguntar em que país vivemos. Outro dia o João já fragilizado nas suas convicções, atirava-me que eu estou sempre do contra. E como posso eu estar de acordo, quando em letras gordas nos jornais se abre o país que somos, com o seu emaranhado de vidas, tudo para um lado, pouco ou nada para o outro. O Público diz que só a senhorita Maria João Carioca, tem a receber da CGD, 200 mil euros de prémios de quando foi aí gestora. Mas diz mais: que entre esta classe de privilegiados, há sete outros gestores bancários nas mesmas condições, ascendendo a um total de 1,3 milhões. Os contentinhos, entre outros, claro, são Luísa Soares da Silva, Francisco Barbeira, Pedro Barreto. Se nomeio os seus nomes, é para convidar os pobres com salários de merda e os aposentados com reformas de pobreza, a irem bater-lhes à porta dos seus palácios hollywoodescos. Nunca Portugal foi tão criminalmente díspar, como em a democracia.  É um triste paradoxo. 

         - Já agora, posso?, citarei o cronista (que a esquerda detesta, mas que eu não estando sempre de acordo com ele, acho-o bem documentado e livre de expor aquilo em que acredita) falo de João Miguel Tavares. “O crescimento do Estado e do Estado Social conduziu-nos a esta situação: por cada 100 euros do Orçamento do Estado, 24 euros vão para pagar salários e 40 para pagar prestações sociais. Isso significa que dois terços daquilo que o Estado recebe anualmente já estão alocados à partida. Quando em cima disso se coloca o dinheiro necessário para o regular funcionamento de escolas, hospitais, tribunais, exército ou polícias, depressa se conclui que o Orçamento “livre”, à disposição de um governo, é pouquíssimo e que o poder executivo está imensamente limitado na sua acção.” É por isso, acrescento eu, casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. 

         - Espero sentado pelas reformas que Luís Montenegro quer implementar. Apreciei até agora a sua forma de fazer política completamente contrária ao seu antecessor, com poucas palavras e trabalho aturado. Mas, pessoalmente, desconfio dos políticos portugueses habituados a governar mais do lado da passividade, do deixa correr, e contra as lutas genuínas que é imperioso levar a cabo. Quero-me enganar. 

         - Ontem o meu dia – e já agora o do Nilton – só terminou pelas 21,30. Estivemos de volta da bomba de água que fazia que queria trabalhar e logo desistia. Recomeçámos esta tarde para grande decepção dos dois e outra forma não vai haver (parece) que substitui-la. 


segunda-feira, junho 09, 2025

Segunda, 9.

Guerra. Não se fala de outra coisa por toda a Europa, enquanto nós, divertimo-nos à farta com futebol, gozamos os prazeres do Sol, entretemo-nos com a simplicidade de vida. A Alemanha está a levar a hipótese de um conflito mundial muito a sério. Vai daí, decretou a urgência de restaurar uma parte dos 2000 bunkers do tempo da Guerra Fria e construir rapidamente mais espaço para um milhão de pessoas. A Finlândia, mais exposta, dispõe de 50.000 espaços de protecção capazes de albergar 4,8 milhões de concidadãos. E nós como estamos? Quem pensa nisso? Na campanha para as legislativas, não escutei de um único político uma palavra que fosse. 

         - O candidato presidencial ao mais alto cargo na Colômbia, Miguel Uribe Turbay, foi atingido a tiro durante um comício e está em estado crítico. O autor é um jovem de 15 anos! Como explicar uma coisa destas? A França também tem tido atentados perpetrados por jovens desta idade, assim como a Inglaterra. A arma mais comum é a faca, o que torna o acto mais horroroso. 

         - Luís Montenegro pôs de parte a Cultura ao juntar num só ministério Cultura, Juventude e Desporto. Esta opção é de quem não percebe os alicerces de um povo, de uma nação e o imperativo objectivo da liberdade e conhecimento enquanto raiz indispensável à unidade do todo. 

         - Sob calor abrasador, dei assistência ao Nilton durante a manhã e tarde. O homem, talvez porque é de pele escura e muito peludo, parece não ser afectado pelo calor. Desmontou sábado todo o sistema de ligação dos skimers entre si e hoje montou a nova tubagem impermeabilizando os fundos das duas caixas. Estou curioso em saber como isto vai terminar, porque o Nilton não sendo técnico de piscinas, possui o condão da inteligência e, sobretudo, da reflexão atenta antes de iniciar qualquer tarefa. Neste particular, é um artista. 

         - Tarde magnífica a de ontem diante da televisão a ver uma emissão (ARTE) dedicada à mezzo-soprano Grace Bumbry. São suas as mais extraordinárias interpretações de Carmen de Bizet. É fascinante recordá-la nas muitas versões que o tempo consagrou à encarnação de uma personagem para quem a liberdade estava a cima dos conceitos, das convenções e dos preconceitos. Georges Bizet segue-nos ainda hoje muito à frente. 


sábado, junho 07, 2025

Sábado, 7.

É caso para se dizer tão amigos que nós éramos... Refiro-me a Donald Trump e ao multimilionário Elon Musk. De repente, o grande obreiro da Indústria, homem mais rico do mundo, depois de ter sido afastado da Casa Branca por discordar da proposta orçamental do Governo, tratou o Presidente de ingrato e aproveitador dos seus dinheiros para alcançar a presidência, indo ao ponto de o associar ao abuso sexual de crianças exalados nos famosos ficheiros Jeffrey Epstein. A resposta não tardou. O Presidente apressou-se a dizer que poderá cancelar contratos às firmas de Musk. Aliás o bilionário, escreveu no seu X de uma forma sucinta: "Hora de jogar a bomba realmente grande: Donald Trump está nos arquivos de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não se tornaram públicos. Tenha um ótimo dia, DJT!." Dois egocêntricos não há memória serem compatíveis. A acompanhar com interesse os capítulos que se seguem. 

         - “As pessoas do Ocidente não fazem ideia da crueldade, da opressão, da escuridão, da agressão e da brutalidade da ocupação israelita. Estou a falar do antes do 7 de Outubro. Já dura há décadas e piora todos os anos. É inacreditável. É a pior situação em todo o mundo – há muitas situações más no mundo, de Myanmar (na Brimânia) ao Sudão, mas esta está a acontecer com o apoio e a cumplicidade do mundo “civilizado” e “democrático”. E as mentiras, a hipocrisia e a incapacidade de dizer a verdade ou e informar sobre o que se está a passar.” Gabor Maté em entrevista a Pedro Rios quando do lançamento do seu livro No Reino dos Fantasmas Famintos

         - Andou todo o dia o Niton a refazer o trabalho que uma empresa dita especialista daqui fez mal feito há anos. Calor insuportável que me obrigou a assisti-lo, com correrias aqui e acolá em procura do necessário à reparação da piscina. Outra dose virá segunda-feira. 


sexta-feira, junho 06, 2025

Sexta, 6. 

Os muitos desastres de António Costa vão ser difíceis de eliminar. E não só. Dão também lugar à desumanização e aproveitamento de muitos outros como, neste caso, a igreja evangélica que procura o lucro servindo-se dos infelizes imigrantes. Em Loures, em condições insalubres, com duas casas de banho e duas cozinhas, foram encontradas mais de sessenta pessoas maioritariamente imigrantes, mas também portugueses. Pagam entre 270 a 370 euros e o lucro mensal da organização dita religiosa é avultado - rondará aos 12 mil euros/mês.

         - A viúva do BE já de si coberta de escuro da cabeça aos pés, anda negra com o partido que dirige. Para cima de 100 camaradas deixaram o rachado que dizem ser “castrador e sem democracia”. Mas dizem mais os militantes de Santarém quanto à estratégia política pós-geringonça, acusam a direcção de afastar críticos e adoptar práticas que “envergonhariam muitos patrões”. Estas fulanas a mim nunca me enganaram, conheço-as de ginjeira.  

         - Marcelo deu posse ao novo Governo. Que cheiro horroroso a bafio, a terceiro mundo, a patetice! Como podemos nós confiar em gente tão convencida, que se trata por sua excelência, senhor doutor, e outros salamaleques dignos dos governantes africanos encomendados na candonga. Na cerimónia, perpassava um odor fétido a salazarismo. E no entanto, são estes “doutores” que falam assim:: “o que é que é isto?”, “de há trinta anos a esta parte”, “esta situação é impactante”, “estamos no Porto, aqui”, etc. etc. etc. etc.. No meio daquele lupanar, o único que se distinguia pela simplicidade e desinteresse pelo cargo - de resto, sempre se marimbou e esteve nas tintas para a pompa e circunstância -, foi Marcelo Rebelo de Sousa. Honra lhe seja feita. 

         - Ao ouvir o plano de trabalho de Luís Montenegro, o que me ocorre desejar é que consiga levar a bom porto o que promete. Há cinquenta anos que o poder se tem dividido entre esquerda e direita e ambas as facções nada fizeram que tivesse revitalizado a economia, desse dignidade aos portugueses, construísse um futuro sólido para todos. Sempre os nossos políticos gostaram das remessas de dinheiro que vêm de Bruxelas e com elas vendem todas as ideologias, fazem todas as promessas, conquistam o poder que exercem em seu proveito próprio. Estamos praticamente como há quarenta anos, fruto da alternância PSD/PS com maior incidência deste último. Criámos um povo de subsídios, nacionais e estrangeiros, temos salários baixos, inflação galopante que os míseros aumentos logo desaparecem engolidos pela ganância, pagamos impostos de país rico, somos esta indecência de povo que a esquerda mesquinha e medíocre nunca conseguiu alterar porque também ela é uma maçaroca de ambições, construções ideológicas sem base sólidas, com o mesmo discurso que eu escutava no tempo de Marcello Caetano pelos jornais onde trabalhei, quando ser de esquerda era um chique como ser católico progressista. Estamos na cauda da Europa, como estivemos no tempo de Cavaco Silva e fomos há muito ultrapassados por países da Cortina de Ferro que souberam melhor do que nós construir uma economia ao serviço de todos. Pobretões e alegretes como nos ensinou António de Oliveira Salazar. 


quarta-feira, junho 04, 2025

Quarta, 4.

Estou sem ter em quem votar para a Presidência da República. Até agora só nos saem militares, comentadores televisivos, gente que construiu fama a palrar. O único decente, é António José Seguro embora tenha caído também na tentação de politólogo. A propósito, como eu aqui havia previsto, sendo o vencimento de deputado tão sedutor (eles acham que são mal pagos, imagine-se!), o nosso esquerdista do PS e ex-secretário-geral, arrumada a vidinha e não encontrando nela nem nos negócios dos sapatos compensação monetária digna, apresentou-se ontem no Parlamento para se sentar junto do seu grupo parlamentar. Morde aqui a ver se eu deixo. O homem só começou a ser gente, desde que com José Sócrates no poder, entrou para a política. O relatório fala por si. A primeira declaração de rendimentos, só entrou em 2005 quando chegou a deputado. O então jovem parlamentar registou na primeira declaração a 20 de maio desse ano, rendimentos de apenas 3.109 euros anuais. A partir daí foi sempre a subir: em 2008, apenas como deputado, nos quatro anos seguintes, já apresentou mais de 50.000 euros anuais. De seguida, como ministro e outros cargos públicos, a fortuna pessoal escalou  e permitiu-lhe uma vida descontraída de bons carros desportivos, casas, e a arrogância socialista que se lhe reconhece. Mais recentemente, quando promovido a ministro das Infra-Estruturas, o rendimento anual subiu para 90.850,60 euros (isto porque se demitiu do cargo). É por estas e muitas outras, que ser de esquerda é um doce longe do estômago dos dois milhões e meio de pobres e da vida estreita e miserável da maioria dos portugueses.  

         - Sexta-feira passada, tive uma violenta discussão com o João Corregedor que prometo a mim mesmo ser a última. Foi a propósito do “engenheiro” Sócrates que ele diz ser inocente de todas as acusações de corrupção e do resto. Nem a propósito, saltou para a ribalta a “Operação Marquês” que o tem a chafurdar na corrupção pura e dura. Apareceu o meu amigo, entusiasmado com a entrevista que o fulano deu não sei a que órgão de informação. Que ele é inteligente, conhecedor, comparou, imagine-se, o rendimento médio dos americanos com o dos europeus e aquele é 27% mais elevado e outras meninices do género. Disse que a casa de Paris, perto da da minha amiga Françoise, fora emprestada por um primo e a vida airada do engenheiro de canudo tirado ao domingo, era feita modicamente pelos pequenos bistrôs de Saint-Germain-des-Prés. Evidentemente, com a reforma de deputado, não sendo má, não dá para uma tal vida que incluiu aprendizagem de piano e francês por mais de um ano. O que João não quis saber quando precisa que o Sócrates nunca foi prenunciado, é dos inúmeros e estratégicos recursos que foram adiando o processo e, daí, prescrevendo uma boa parte dos crimes.  


terça-feira, junho 03, 2025

Terça, 3.

Futebol. Esta praga só tem paralelo com os telemóveis. Um clube francês ganhou não sei que campeonato e logo os tristes franceses inundaram os Champs-Elysées e as principais artérias por todo o país. O seu poder é imenso e pode-se dizer que constitui um estado dentro do Estado. Para conter a maldição, foram mobilizados quarenta e tal mil polícias e mesmo assim houve duas mortes, lojas pilhadas, afrontamentos com a autoridade, prisões, material público destruído, vários agentes feridos, um em estado grave. Tudo isto é o futebol. E mais a imposição com ruas fechadas, estabelecimentos, restaurantes, alterando o quotidiano da população que não embarca naquela loucura e vê-se privada dos seus direitos, da sua vida normal, em favor de uma actividade que é rainha de tudo e de todos. Para não falar nos energúmenos de ambos os lados, que se exibem como reis absolutos deste mundo cada vez mais desigual.  

         - No intervalo do trabalho de limpeza do terreno que o Sr. António deve hoje concluir, fui à natação. As dores das costas diria que desapareceram, sinto-me renascer das cinzas da mortificação. Provera a Deus que consiga arranjar a piscina de modo a que possa nadar como tenho feito ao longo de toda a vida e foi factor de haver chegado até aqui sem problemas de saúde. Graças ao meu querido amigo Mário Frota que desde muito jovens me incutiu esta actividade desportiva. E à Alzira que me tirou o medo de perder pé quando me incentivou na piscina de Penha de França. 

         - O desplante. Sábado fui ao mercado do Livramento, em Setúbal. Os figos do Algarve estavam a... 22,90/kg! 

         - O desespero é quase sempre irmão da violência e às vezes da criatividade. Que o diga o engenho fabuloso de técnica, inteligência e arrojo aplicado pelos ucranianos na guerra contra os russos. O Exército da Ucrânia vergou meio mundo com o programa de ataque com drones que destruiu pelo menos 40 aviões russos. Ainda por cima os alvos estavam a mais de 4.000 km da Ucrânia e os drones construídos com muito pouco dinheiro. Depois de os transportarem durante um ano em caminhões através do território russo, sem serem interceptados, escondidos em telhados do tipo galpões, fizeram o prodígio bélico que espanta meio mundo e deixa Putin de boca aberta. Uma vez removidos à distância, isto é, de qualquer ponto da Ucrânia, os drones voaram praticando com eficácia a sua missão. Zelensky e os seus militares estão de parabéns. Enfrentar o exército pessoal do ditador, é dar esperança à criatividade e à destreza de um povo a sofrer uma guerra injusta há três anos começada por um monstro. E lembrar-me eu que os nossos comunistas, dos poucos que ainda existem na Europa, apoiaram desde o primeiro dia a invasão a um território soberano.  


domingo, junho 01, 2025

Domingo, 1 de junho.

Ontem, torpor absoluto. Deve ter sido devido à canícula que aqui se abateu e não me despegou da chaise longue todo o santo dia, mergulhado num sono quase ininterrupto, absoluta renúncia a fazer o que quer que fosse. Deitei-me com as galinhas e dormi, dormi que parecia ter feito essa opção para o resto dos meus dias. É certo que me desgosta a impossibilidade de trabalhar lá fora devido às dores lombares que não me largam. Ainda assim, sendo eu um lutador que nunca se rendeu, fraquejei a um ponto que me entristeceu. Daí que hoje tenha decidido levar a preceito o que me disse o Tó há tempos e empreendi a toma da medicação como ele me indicou. Porque, conheço-me, não ignoro quanto detesto medicamentos e tenho o hábito de adaptar a sua toma como melhor me parece. 

         - Nem leituras tenho feito e nessa letargia abri o livro de  Jean d´Ormesson onde sublinhei este parágrafo quando o li. “Après leur long triomphe, les dinossaures dispaissent d´un coup, il y a soixante-cinq millions d´années, dans une catástrofe cosmique due sans doute à la chute sur notre planète d´un asteroide meurtrier qui élimine les trois quarts de la vie sur notre Terre.” Cruzes! O autor, grande amante da Ciência, ocupou uma parte da sua vida a pensar a nossa existência. Muitos dos seus livros sendo époustouflant, não deixam de ser de uma precisão que nos encanta e eleva. 

         - O nosso militar parece compreender a utilidade da teia enquanto factor aglutinador. A surpresa de ter escolhido para seu director de campanha Rui Rio, é disso prova. Este, mais uma vez, esteve igual a si próprio ou antes esperou para espetar a farpa no momento oportuno. Que trapalhada vai por aí, desde que o “nosso povo” correu com os do costume! 


sexta-feira, maio 30, 2025

Sexta, 30.

Respondendo ao apelo do João, fui à Brasileira esta manhã. Enquanto aguardava por ele, deixei o tempo correr na esplanada onde só eu e os empregados falavam português. No centro daquela babilónia, estava Pessoa na forma escultórica que Lagoa Henriques o imortalizou. Cirandava em meu redor, com a multidão de turistas, uma aragem quente que não feria, mas incomodava. Ali fiquei uma boa meia hora, perdido a observar sem ver, o pensamento vagabundeando por lugares e rostos, a memória arrastada para longe, sem sair daquele lugar que comecei a frequentar muito moço e cujas recordações conservo como tesouros não só de uma época como de um edifício que se mantém vertical ante a derrocada de tudo à minha volta. Naquele exercício, aconteceu uma espécie de esvaziamento mental, como quem se despe e expõe a pureza do corpo onde a inocência está intacta e não fere o olhar nem atrai a concupiscência do delírio. Estive parado numa bolha de tempo, desaparecido de mim, e todavia centrado no espaço de tempo que me conserva intacto, à flor do presente-passado, nessa garganta próxima do abismo que se esvai, carregando consigo memórias ancestrais, segredos e paixões que não ousamos contar ao tempo leviano infiltrado em nós, levando e trazendo, como coscuvilheira de vão de escada, os segredos que sobem do fundo do mistério de uma manhã que rasga em pedaços recordações vadias que emergem em cachão de nós. 

         - O Almirante disse ao que vem. Contudo, o seu projecto apresentado ontem solenemente na Gare Marítima de Alcântara, não passa de um programa de governo – sua excelência enganou-se.   


quinta-feira, maio 29, 2025

Quinta, 29.

A política entre nós não tem remédio. O candidato ao cargo do Vasco Gonçalves que agora pode gozar em tranquilidade as aventuras dos carros de alta cilindrada e das suas inúmeras casas até voltar a exercer no Parlamento por não ter onde ganhar a vidinha regalada, diz que quem ganhou as eleições foi o PS “porque teve mais votos do que o Chega”. Esta guerra está para durar, com Ventura a chamar a si a vitória e as cadeiras na Assembleia – tal como se passou com Passos Coelho que venceu as eleições, mas teve de ceder ao malabarismo de António Costa ao criar a desgraçada “geringonça”. De resto, é bom notar que a derrota humilhante dos socialistas não é só do nortenho, é também e acima de tudo do nosso estratego que soube dançar com a senhora von der Leyen e de Marcelo Rebelo de Sousa que andou com Costa (lá está) às costas. 

         - André Ventura virou delico-doce. Todo ele é brandura, elegância de maneiras e fala, promessas e venturas de sorrisos e palavras mansas. Foi assim que o vi no jornal da SIC outro dia. Não se lhe conhece um programa, um plano para o país, quadros, gente competente, mas já fala em formar um governo que ficará em banho-maria para o que der e vier. Em compensação, comungo com ele da reforma da Constituição se for uma vassourada nos restos do Prec que nela foram metidos à força. 

         - Espero que Luís Montenegro mantenha o executivo que formou quando tomou o poder. Porque a equipa é competente e trabalhadora e vai ter que reformar muita coisa que António Costa deixou derrapar. A começar pela Saúde. Então não é que soubemos agora que um só dermatologista do Hospital de Santa Maria, ganhou em dez sábados a módica soma de 400 mil euros! Este escândalo, ao que parece, advém do descontrolo e falta de vigilância às cirurgias no SNS feitas fora do horário regular de trabalho. É por estas e muitíssimas outras que o dinheiro para a saúde nunca chega. Os médicos hoje, não têm o brio de então, na privada como na pública, o que conta não é a dor do doente, a deontologia de uma missão nobre, mas o lucro. E lembrar-me eu daquele cardiologista, em Setúbal, espécie de slot machine, que pus em sentido deixando-o a falar sozinho e dizendo-lhe que eu sabia mais do meu corpo que ele com tantos anos de serviço a petiscar patacos ao centímetro quadro na pele dos seus pacientes. Volveu-me um olhar de morte. 

         - Fui à piscina. Tempo muito quente. Um silêncio pesado trazido pelas temperaturas. Está tudo parado lá fora. Não se ouve um pássaro e o ruído do silêncio infiltra-se nos espaços do tempo, eclipsando-o. 


terça-feira, maio 27, 2025

Terça, 27.

José Luís Carneiro decidiu avançar sozinho para a presidência do PS. O seu gesto, deu para perceber como o partido está dividido, formando-se agora três facções distintas: a de António Costa que cantou loas com a saída de Vasco Gonçalves, a deste, a do próximo secretário-geral. O mulherio socialista tem muita força no seio daquela correnteza de homens gastos e embrulhados numa vida contraditória àquilo que apregoam e desejam para o comum dos mortais. De todos, Luís Carneiro parece-me o mais sensato, o que se distingue pela clareza das ideias e actos políticos. A ver vamos se os outros o deixarão governar. Isto porque em Portugal, fazer política não é pensar na nação, nos portugueses, no futuro do país, é abrir em continuo um campo de batalha entre uma espécie de gangsters eternamente ambiciosos. 

         - O socrático senhor Augusto Santos Silva, que de manobras é mestre, no artigo hoje publicado no Público (que diz ter hesitado em aceitar o convite...), remexe e remexe nos mesmos esquemas mentais que povoam os socialistas saudosos da governação de José Sócrates, perdão, do engenheiro socialista. Há, todavia, um fundo moral que perpassa naquilo que escreveu, mas que a mim não me convence. O seu juízo pressupõe um agigantar-se de disposição para voos mais altos, quiçá uma candidatura a Belém. De uma maneira geral, o pensar socialista é o mesmo, porque o inimigo é a extrema-direita e ele e os camaradas não conseguem compreender como foi possível estarem hoje na terceira posição do espectro político – eles que governaram o país praticamente desde o 25 de Abril e pelos vistos o país permanece o que sempre foi. 

         - Já não vendo este domínio. Agora que um homem andou aí o dia inteiro a alindar em torno da casa e já posso observar a beleza de um recinto limpo e arejado, abandono o aceno de uns milhões que em verdade não servem para coisa nenhuma. 

         - “Qual é que é...” dizem os senhores doutores, os deputados, os locutores, os apresentadores de rádio e TV, os jornalistas, os jogadores de futebol, os médicos, os meteorologistas, os advogados, os jovens das escolas e decerto também os professores... É “Impactante” mas é assim que o português rasteja neste pobre país. 


segunda-feira, maio 26, 2025

Segunda, 26.

Outro dia fui convidado a entrar num programa apoiado pela Fnac de incentivo à leitura por parte dos jovens. Ao que percebi, nele irão participar uma série de nomes ligados à Cultura, com a actriz Inês Herédia como pivot. Justamente, foi ela que nos entrevistou, ao João Corregedor e a mim. A discussão logo se instalou entre nós, comigo nos antípodas do que ele entendia ser Cultura - uma estaca seca pregada ao chão das orientações políticas que ele professa e dali não arreda pé. Alves Redol, Aquilino, Manuel da Fonseca, Soeiro Pereira Gomes enfim todo o Neo-Realismo patente no museu de Via Franca de Xira; enquanto para mim a Cultura não se deixa amarrara às ideologias, às catedrais do pensamento único, ao torpor do conhecimento. Inês tenta obter de mim o livro que mais me influenciou, respondo que não sou capaz de o citar porque, precisamente, a cultura desbrava diariamente novos caminhos: filosóficos, históricos, científicos, sociais, políticos. Todavia, se João cita nomes, eu também os posso citar: desde logo me ocorreu Odisseia, o nascimento da filosofia com os gregos, os textos filosóficos de Cícero, Santo Agostinho e o seu De Civitate Dei, Dostoevsky, os escritores americanos de New Generation, Jeanne Hersch, Pierre Hadot, Cioran, Julien Green (que ela não conhecia), Yourcenar, Virginia Woof, Junger e tantos outros onde abarco Eça, Aquilino, Teixeira de Pascoais, Fernando Pessoa e mais recentemente Lídia Jorge, Francisco José Viegas, Hugo Mãe... Contudo, apesar da sua simpatia, do facto de o cameraman e a anotadora terem vindo falar comigo para que aceitasse ser filmado, recusei e recusei. Então a simpática e bela Inês Herédia disse que não podia dispensar o registo de tudo o que eu havia exposto, e em sintonia com a equipa combinou-se ficar o diálogo que travámos sem a minha imagem. Ufa! 

         - Ante a investida de Moscovo sobre a Ucrânia a noite passada, Donald Trump diz que Putin está louco. Terá razão. Na verdade o mundo está a ser governado por uma plêiade de loucos a começar no Presidente dos Estados Unidos da América. 

         - Os chamados gigantes empresariais, estão a tombar como tordos. É a grande crise financeira que se adivinha e de que Bruxelas diz estar Portugal a tremer com a despesa a saltar dos carris ou, utilizando a linguagem hermética dos entendidos ,“o  maior desvio relativamente ao compromisso assumido para a variação da despesa primária líquida”. Mas para que vêm estes mangas-de-alpaca chatear o português pacato, amante do futebol, da "famila", pobrezinho e divertido, indiferente a tudo o que se passa fora das suas fronteiras, contentinho por ter o Sol por alento e o delírio por incentivo. Afinal do que falam os portugueses de Norte a Sul, o que realiza verdadeiramente as suas vidinhas? Do final da taça de futebol entre o Sporting e o Benfica e da narrativa do jogo consoante os pontos de vista de um e outro lado do campo. E viva a festa! Somos patetinhos e sabichões do que se passa com os jogadores, servimo-nos de um português de caserna, e não sabemos para quer servem outros tipos de conhecimento e linguagem. E quer a bela e simpática Herédia, enfiar um livro pela goela abaixo de um povo assim bacoco. 


domingo, maio 25, 2025

Domingo, 25.

As coisas estão pretas para o lado da viúva do BE. Como o “nosso povo” chutou com a equipa do Parlamento ficando apenas ela e a camarada dos cãezinhos e gatinhos, vai haver uma redução significativa dos nossos impostos para manter o grupo esquerdista. Ela, que apareceu no dia das eleições com o keffiyeh palestiniano enrolado ao pescoço, quer agora agarrar-se ao cargo pese embora alguns dirigentes do partido a aconselharem a deixar o tacho. O capital que ela tanto detesta, mas pelo qual luta com unhas e dentes, sempre orientou aquele minúsculo partido, com audiências nas televisões de grande partido. Prefiro a política do PCP que paga (ou pagava há dois anos) 700 euros aos seus funcionários e os deputados têm de entregar ao partido uma percentagem do salário. 

         - As atrocidades prosseguem na Faixa de Gaza. Ontem nove filhos dos dez de um casal de médicos, ficaram debaixo dos escombros. A mãe estava de serviço no Hospital Nasser quando os corpos dos filhos lhe foram entregues. Horror! Horror! 

         - As minhas démarches para pôr este espaço digno, vão ter início terça-feira. Eu não vou poder fazer o trabalho porque tenho tido dores intensas na região lombar. Comecei hoje as regas. 


sábado, maio 24, 2025

Sábado, 24. 

As palavras de ordem dos partidos de esquerda, são as mesmas que ouvíamos no tempo da outra senhora. É impressionante como esta gente não consegue compreender os tempos modernos, como insiste em valores que não se ajustam com as pessoas de hoje, pobres ou ricos, como se o passado persistisse em se impor ao presente, mas sem ninguém dentro. Eles ainda não perceberam que o que perderam não recuperarão nos anos mais próximos e que a filiação cega, embora funcione em países pobres e dependentes do Estado, é oscilante, roliça, e leva no arrastão as causas do momento e não os valores morais e sociais. “A luta continua”, mas só nas mentes empedernidas, grudadas nas filosofias edificantes de um certo período da História, hoje completamente ultrapassadas, paradas lá para trás quando as circunstâncias políticas pediam o esforço e empenho na moralização do edifício social de si muito básico e apropriado ao feudalismo que tinha na escravidão os seus alicerces. 

         - Fui almoçar a casa da Alice em Caldas da Rainha. A viagem, por si só, é um encanto e o jardim que ela sozinha construiu, uma beleza que embeleza não só a paisagem como o coração de quem pousa o olhar pelo vasto parque de quatro hectares. Sem esquecer a nossa tradicional ida ao mercado, na Praça da Liberdade, com a sua magia e seu encanto, nas pessoas e no falar, nos produtos e nos sabores. Depois do almoço simples e saboroso, a Alice quis mostrar-me os cantos e recantos do seu domínio, onde continuam a faltar bancos corridos para nos sentarmos a colher os odores embriagantes que pairam à nossa volta ou a ler pelo adiantado das horas. Ouvi-la falar dos reizinhos que pululavam na Assembleia da República do seu tempo, é confirmar aquilo que eu sempre aqui denunciei e nunca acreditei fosse possível ser diferente num Portugal tacanho e convencido onde quem tem olho é rei. As mordomias à conta do erário público de certos ministros (no caso dois socialistas), também foram narrados ao pormenor. 

         - Encontrei ao abandono na estação de camionagem, dois africanos. Um de São Tomé, outro de Angola. Sem bagagem, perdidos, procuravam trabalho. A dada altura diz o primeiro para o segundo: “Vai para Lisboa porque lá ganhas a apanhar fruta.” Achei a ideia bizarra, mas limitei-me a perguntar ao angolano se queria mesmo rumar à capital e, se sim, eu lhe pagaria a viagem. Hesitou. Nesse momento o santomense, diz-lhe (eles não se conheciam) que fosse com ele para Bombarral. Entretanto chegou o meu autocarro e deixei para trás os dois infelizes a decidir das suas vidas. Mas senti o coração apertado por ver dois rapazes que nem vinte anos teriam, abandonados à sua sorte - dois entre milhares que ninguém vê na vasta paisagem de nómadas que cobre Portugal de Norte a Sul. Mais uma obra de António Costa repimpado em Bruxelas, longe das feridas que deixou para os seus sucessores curarem. É por esta e por muitas outras, que desejo um longo período de abstinência governativa aos socialistas. Vade retro satana. 

         - Esta gente se não existisse não fazia cá falta nenhuma. Aquele que vendeu a imagem, durante anos aos domingos na SIC, e se candidata a Presidente da República, disse de Gouveia e Melo que com ele se atira a Belém, que o militar não tem experiência política nenhuma. Todavia, Ventura que pouca ou nula tem também, a figura comentarista não se coíbe de aconselhar acordos com o Chega, dirigido por um homem que de governação nada percebe e pouco exerceu. Não votarei nem num nem outro. Mas a honestidade manda que não ludibriem os incautos. 


quarta-feira, maio 21, 2025

Quarta, 21.

As vozes são mais que muitas a condenar a chacina que Benjamin Netanyahu e seus extremistas judaicos, levam a cabo na Faixa de Gaza. Foi agora a vez do ex-primeiro-ministro Ehud Olmert se juntar ao coro afirmando que esta “guerra sem propósito, uma guerra sem qualquer hipótese de alcançar algo que possa salvar a vida dos reféns” e vai mais longe dizendo o que  acontece “em Gaza está muito perto de ser um crime de guerra”.

         - Enquanto isto, por cá, o coro anedótico dos partidos prossegue. Esta gente vive fora da realidade, fechada na sua concha de privilégios, atirando flechas uns aos outros, como se Portugal pudesse escapar à depressão de toda a ordem que se aproxima da Europa. Para esta gente fantasiosa, as doutrinas passadiças da História, não conflituam com as suas filosofias presentes, assentes em pequenos episódios de lana-caprina, em raivas pessoais, em delírios de poder. Não se vislumbra uma ideia, um projecto, uma união que tenha em conta o trabalho imenso que há a fazer, não só para reconstruir o que António Costa destruiu, como para enfrentar os novos ventos ciclónicos que ia vêm. 

         - Sempre fui atingido pela Primavera. Talvez desde a infância que ela me arrasta num raspão de intensidade tal que me paralisa, atormenta, desmembra a pacatez indispensável ao meu existir, à minha mente sobressaltada, à confiança em mim. É como um tornado que entra em mim adentro, me aprisiona numa lassidão terrível que faz parar o cérebro, bule com o sono, constrói a dúvida e instala a morte. Fico à mercê do vazio de um grande e assustador despovoamento.   

         - Johnson, amável, apareceu aí para me dar instruções de compra da lona para o toldo que adquiri em Badajoz. Depois ficámos à conversa lá fora no lounge ainda sem dignidade. As histórias sucediam-se, umas vezes no seu português difícil de entender, outras no meu inglês de meia-tigela. De um lado e outro, grande reinação. A dada altura, disse-lhe que tudo tenho feito para esquecer o que aprendi em Londres; ele pergunta-me se era por causa de Trump. Respondei, também. 


terça-feira, maio 20, 2025

Terça, 20.

O país político habituou-se ao rame-rame e nem a voz autorizada da maioria dos portugueses consegue abanar as hostes dos que afirmam “a luta continua”. Ei-los já a retornar às estratégias, aos slogans, ao enxotar de culpas, comidos pelas ideologias que não os largam desde que beberam alegremente nas teorias marxistas-leninistas e de outros comparsas cuja filosofia mereceu interesse no séc. XIX e hoje mercê do progresso social, económico e da abolição de classes, não fazem qualquer sentido. De certo modo, nunca fizeram, a não ser quando impostas sob a pata das ditaduras que as sustêm. Andre Gide (já aqui disse uma vez), quando após a II Grande Guerra foi convidado para ir conhecer a URSS, no retorno não se coibiu de resumir: “O comunismo é igual ao fascismo”.  

         - Às vezes dou comigo a pensar que Portugal não poderá conservar a democracia por muito tempo. Primeiro, porque os partidos não a aceitam como valor fundamental da unidade nacional; segundo, porque o povo só a conhece enquanto instrumento ou mais-valia do seu quotidiano. Uns e outros estão profundamente enganados. O primeiro porque colhe dela a ambição, o poder absoluto e a força hegemónica das suas teses; o segundo porque é básico em quase tudo e só toma da realidade o imediato, as promessas, as satisfações do dia-a-dia. A liberdade como pilar superior que impera sobre uns e outros, parece não ter importância nenhuma. É a prática, a contestação que no-lo diz. De contrário, como explicar que largas manchas do Alentejo, tradicionalmente comunista, tivessem abandonado a doutrina de Cunhal e abrasassem agora a de André Ventura que nem doutrina tem, mas tem a força bruta da palavra que revira o olhar e transtorna  a cabeça daqueles que vivem sem rumo nem visão do futuro. O Portugal que somos, dizem os entendidos, mudou muito. Talvez nalguns aspectos, mas no essencial, contentes como vejo os políticos por não haver analfabetismo - a sua base cultural é diminuta e os conhecimentos políticos são quase nulos. O português médio, vive entre duas realidades que aparentemente o satisfaz e realiza: o futebol e Fátima. Não é por acaso que Ventura, recuperado da doença que ainda não sabemos que nome tem, assim que se apresentou a alardear vitória, disse que tinha acabado de chegar da missa. São estes truques que embalam o povo devoto, a família egoísta e a ordem social tapada com um grande chapéu de hipocrisia e cinismo. 

         - O grande Ministro da Cultura do senhor António Costa, num artigo ontem no Público com este título: “Estavam à espera do quê?” Gostam deste português? Eu peva. 

         - Quando prenderão Netanyahu e a sua clique de criminosos? Os ataques aumentaram em Gaza nestes últimos dias. Mais de 700 palestinianos mortos e mil feridos. A ONU lançou um apelo desesperado para que abastecimentos de toda a ordem possam entrar na Faixa de Gaza. Há crianças e idosos a morrer de fome, de doenças, abandonadas entre os edifícios em ruínas. Com o alvo voltado para a Ucrânia, a UE pouca atenção tem dado ao que se passa em Gaza. O grande ganhador é o HAMAS que apesar de tantos mísseis despejados sobre o território, consegue deter ainda um considerável número de reféns israelitas. 

         - Fui nadar. Como a sorte estava do meu lado, pude ter uma faixa só para mim. Depois do almoço, sob calor já tórrido, continuei a rapar a erva em torno da piscina. Muita dor de costas. Aquilo que fui no passado e até há meia dúzia de meses, recusa-se a manter-se no presente. 


segunda-feira, maio 19, 2025

Segunda, 19.

De uma maneira geral estou de acordo com os meus compatriotas e só lamento a subida do Chega que não apresentou qualquer programa, serviu-se da doença súbita do seu génio, e não tem nenhuma ideia consistente para governar o país. O seu líder é um bluff e um arruaceiro que usa meios poucos dignos em política como na vida tout court. Dito isto, há que louvar o desaparecimento de Pedro Nuno Santos, enfim, aqui nomeado. O homem é medíocre, violento, sem experiência de vida, vingativo. Basta ouvir o que ele disse no acto da derrota, vinculando o seu sucessor a não aceitar nada que venha de Luís Montenegro. Também apreciei a derrota de toda a esquerda que vive ainda no tempo da outra senhora e não percebe absolutamente nada do “nosso povo”. Acima de grupos e grupelhos, fiquei feliz pela infelicidade da viúva do BE, vai ficar a falar sozinha na Assembleia da República ou a segredar à solitária comadre dos cãezinhos e gatinhos. Quanto ao mais, estarei atento à governação de Luís Montenegro e da sua equipa. O essencial foi alcançado, resta a política que se segue. Na ponta final no lugar vergonhoso, equiparado ao Chega, em que o secretário-geral do PS deixou o partido, acresce o exemplo do corrupto (o último) Eduardo Vítor Rodrigues, autarca de Gaia. O Partido Socialista desaparece em beleza graças ao actual dirigente e a António Costa que deixou o país num pântano. Este  serviu-se do país para alcançar um lugar que nem sequer é eleito pelos europeus; aquele serviu-se do partido como sobrevivência pessoal dramática. Reconhecer isto por parte dos socialistas é impossível, porque os partidos não têm gente, têm carneiros. Da tristeza da abstenção ninguém fala, e no entanto isso é bem mais trágico que a dança dos lugares. 


domingo, maio 18, 2025

Domingo, 18.

Escrevo estas linhas na Fnac do Chiado depois de ter ido votar. Acordei com tonturas mas depois de um bife parece que tudo se normalizou. Não percebi nada do boletim de voto, uma confusão que penso prejudicará a AD de Luís Montenegro. Mas estou com Victor Hugo julgo em Choses Vues depois de votar, anotou: 

Je ne voterai pas du tout

Car l´envie a semé d´embûches

Pour le génie et pour le goût

Cette urne d´où sortent des cruches.

          - Já em casa. Talvez por ser domingo, o machimbombo vinha apinhado de negros. A África estava inteira nas suas diversas etnias e ex-colónias portuguesas. Uma negra entrou com as mamas claramente à descoberta saltitantes, tesas, frescas. Por todo o lado, um fedor a bufas pretas. Horror! 


sábado, maio 17, 2025

Sábado, 17.

Dia magnifico o de ontem. Largámos daqui às oito da manhã no meu carro. Não imaginava que os meus camaradas fossem tão divertidos e tão atentos à minha pessoa, disponíveis para pesquisar aqui e acolá o que me fazia falta e me levara a Badajoz. Alguma grande empresa encerrada de vez como, por exemplo, a do Corte Inglês Hipercor e outras famosas lojas. Todavia, o que notei foi um crescendo de restaurantes, e o que se mantém, a gritaria como se os espanhóis fossem todos surdos. Calor bastante, e aquela ausência, paralisia de morte, entre as duas e cinco da tarde para a sesta. Ruas desertas, taipais descidos, toldos nas janelas e varandas baixados, um silêncio estranho embrulhando a cidade num susto suspendo de um ritmo esquecido. Aproveitámos esse espaço de tempo, para um almoço no meu restaurante costumeiro, sob as arcadas da Plaza de los Alfereces, ali onde o mundo parou e só as vozes cruzadas de afectos e acontecimentos lançam o derradeiro grito abafado pela tarde caliente. Descansámos da longa jornada a cruzar ruas, praças e avenidas, de um lado para o outro, em buscas dos skimers, do toldo, dos produtos para a piscina. Nem tudo consegui encontrar, mas o dia saldava-se com o brilho de um trio tão diferente entre si e tão próximo e fraterno que dir-se-ia terem-se conhecido nos bancos da escola primária. Para lá conduzi eu, para cá o Johnson com as suas histórias dos “iluminates”, intercaladas com as da Bíblia a paixão do Nilton. 

         - O homem das vacinas, revelou, enfim, o segredo mais conhecido e badalado: vai candidatar-se à Presidência da República. Não terá o meu voto, mas estou certo que ganhará porque o povo está farto da lengalenga dos políticos. 

         - Não acompanhei a campanha (por protecção da minha sanidade mental) às legislativas salvo o debate entre os líderes do PSD e PS. Grosso modo, deviam todos esconder a cara pela vergonha que nos fizeram passar durante este último mês. Continuamos a ser o Portugal dos pequeninos que Salazar se impôs erguer e perdurar. Somos, de facto, muito incultos, pacóvios, provincianos. Somos e iremos continuar a ser, porque não se vislumbram no horizonte homens e mulheres capazes de levantar este pobre e triste país esquecido no extremo da Europa. Ainda agora, é futebol que absorve esta patetice geral, babada por este ou aquele pateta-herói em cuecas, pernas depiladas, a correr atrás de uma bola. 

         - Ontem, quando chegámos pelas oito da noite, o Nilton voltou a fazer um exame aos skimers e concluiu que talvez os possa recuperar. Sendo brasileiro, redimiu-me da minha desconfiança de um povo ligeiro, amante do samba e do futebol – ele é o único brasileiro que vejo a utilizar a cabeça com total capacidade e inteligência. 

         - Justamente, porque ele me aconselhou, comecei esta tarde a preparar o espaço envolvente à piscina roçando o mato com dois metros de altura. Calor insuportável de súbito. Saímos directamente do Inverno longo, para o Verão cortante. 


quinta-feira, maio 15, 2025

Quinta, 15.

Ontem passei na Brasileira e abanquei com dois dos tertulianos na esplanada. Falatou-se um bom bocado e de seguida, tendo ali ido com intenção de comprar os novos óculos, entrei numa grande loja da especialidade que faz gaveto com a Rua Ivens. Depois das análises, estudada a nova receita médica, vamos ao preço. Grosso modo, 900 euros! Espanto meu, resposta da funcionária: “Tem algum seguro? - O do ACP e chega-me. Então tem um desconto de 50 por cento!” Reviro os olhos, aguço os ouvidos e peço-lhe que repita: “Esse cartão tem 50 por cento de desconto!” Isto é Portugal no seu melhor e no seu imprevisto. 

         - A campanha, felizmente, está no fim. Basta de tanto barulho, de tanta aridez, de tantas falsas promessas, de tanta poluição. Ao Ventura deu-lhe o badagaio e por duas vezes. A primeira numa arruada quando discursava para os fiéis no Algarve, a segunda à saída do hospital onde havia passado a noite em exames. Marcelo disse-lhe que tomasse juízo e recuperasse antes de embarcar naquele trabalho duro que pode não matar, mas deixa as criaturas num lodo de fadiga. O Chega estremeceu. Se alguma coisa mais grave acontece ao seu presidente, sendo a única pessoa e formando em si todo o staff, lá se vai a vaidade e a oportunidade de chegarem perto do tacho. 

         - Eu imagino a corrupção que vai no Governo de Trump. Aquilo é só negociatas, enriquecimento fácil e rápido, ao ponto de lhe terem oferecido um jacto que dizem ser no interior a cópia da Riviera Francesa que Trump quer construir em Gaza. Como se esperava, Putin roeu a corda e mandou os lacaios falar com Zelensky. Nessas condições, Trump também não apareceu na Turquia onde o encontro estava agendado. Neste entretanto, vários bombardeamentos sobre a Ucrânia. E em Gaza que Trump não quer visitar e onde mais um hospital foi destruído e não sei quantos mais palestinianos mortos. 

         - Gostava de falar dos carros topo de gama da colecção do socialista que lidera o PS e das inúmeras casas que comprou e vendeu, do seu património que só saiu do meio do avô sapateiro, quando entrou para o partido, se fez seu funcionário, ministro e mais não sei o quê. Queria, mas hoje estou sem tempo. 

         - Fui de manhã à piscina, de tarde atirei-me de roçadora em punho à limpeza deste lugar porque amanhã vou com o Johnson e o Nilton a Badajoz. 

         - Ontem, pelas oito e meia, tomei o fertagus. Nos lugares reservados aos coxinhos, coitadinhos, encontrei um velhote com duas muletas, cabelo de neve, a dormir de cabeça  encostada ao vidro da janela. Sentei-me a seu lado. De quando em quando, tossia. Eu, por precaução, coloquei a máscara. Duas vezes o vi levar à boca um rebuçado de mentol. Bom. No fim da tarde, entrei no comboio em Roma (início) e lá estava o mesmo velhote, na mesma carruagem, a cabeça decaída para o vidro que fazia canto. Conclusão: o pobre homem, fez do vagão o seu quatro e do banco a sua cama. É este o Portugal que o conforto de vida dos políticos ignoram, entretidos nas suas fantasias tão distantes da realidade que no fundo não lhes interessa para nada.  


terça-feira, maio 13, 2025

Terça, 13.

Os negócios levaram Trump para um périplo ao Médio Oriente. Adiantando-se e de certo modo fazendo pressão, a UE tomou a si uma acção bem consertada para pressionar Putin a enfrentar olhos nos olhos Zelensky na Turquia. Até este momento não se sabe se o ditador aceita o desafio de tréguas na guerra contra a Ucrânia por um mês. O czar é cheio de truques, de sensibilidades matreiras, concentradas numa violência sem armistícios fora e dentro da Rússia.  

         - Fui à piscina. As tentações surgem de todos os cantos na forma impressionante daquelas e daqueles que não se aceitam como são e Deus os fez. São quase sempre jovens que têm na moda de ocasião a recusa intrínseca à ordem natural da vida. Aos meus olhos, desclassificam-se e tornam-se figuras descaracterizadas que fazem dó. São seres infelizes construídos sobre os esqueletos destruídos. Felizmente que hoje mercê da disciplina interior, é-me possível passar ao lado sem ser afectado. 

         - Soube ontem no Gama Pinto pela minha oftalmologista que tinha contraído um fungo nas pestanas. Daí as minhas queixas e sucessiva comichão pela manhã nos olhos. Logo ela foi ao gabinete ao lado e trouxe uma pomada para aplicar de manhã e à noite. Custo da consulta para novos óculos e do  remédio: zero. Bendito Serviço Nacional de Saúde! Que a ganância de médicos e enfermeiros, o oportunismo dos políticos que nos couberam na Farinha Amparo, não venham a destruí-lo. No tempo de António Costa, cheguei a pensar que ia acabar e até pedi ao seu obreiro, o socialista António Arnaut que velasse por ele lá onde repousa em paz. Um grande socialista por quem tinha uma profunda estima.    

         - Terminei o livro de Jean d´Ormesson Un jour je m´en irai sans en avoir tout dit. Uma luta constante entre a minha combatividade e os olhos que recusam o trabalho intenso da escrita e da leitura. 


segunda-feira, maio 12, 2025

Segunda, 12.

Não sei o que dá ao Black. Está tranquilo a dormitar no sofá do salão, mas assim que ouve a voz trinada da senhorita dos cãezinhos e gatinhos, desata a miar de uma forma especial e só se cala quando lhe abro a porta da saída. Explico-lhe, cheio de paciência, que aquela senhora é a sua presidente, que quer o seu bem, se bate na Assembleia pelos seus direitos, mas o gato, em vez de me escutar, corre desalvorado de ao pé de mim. 

         - Dia empolgante. Andei a saltar de táxi em táxi, de Entrecampos para o Gama Pinto, daqui para o Chiado, depois para a CGD e desta de novo para o hospital e dali para o Corte Inglês e deste para Roma onde embarquei, enfim, de regresso a casa. Todo este desassossego, porque nada estava marcado tendo eu confiado na sorte que em todos os sítios me favoreceu. O muito que tinha para resolver ficou resolvido. Ufa! 

         - Passei de rompante na Brasileira onde encontrei o João Corregedor e o Carmo na esplanada. Breve cumprimento e resistência em ali ficar a dar à língua numa inutilidade que me entristece. No intervalo, preferi descer à Fnac e aí trabalhar no romance. Em boa hora o fiz porque Ana Boavida não faltou à chamada. Bons e ternos momentos. Se é possível reter o milímetro do segundo alveolado de felicidade, é aquele em que olvido tudo e me entrego inteiro à magia da escrita. 

         - Não sei se a retirada do anúncio dos odores dos canais televisivos foi obra de algum leitor dos quase 65 mil que acompanham este trabalho; o que sei é que tal porcaria desapareceu dos ecrãs. A escrita crítica é sempre um valor incalculável na consciência colectiva. 


domingo, maio 11, 2025

Domingo, 11.

Habemus Papam. O anúncio chegou ao quarto escrutínio do Conclave, quinta-feira ao fim do dia. Os cardeais com assento na Capela Sistina, ao todo 133, elegeram o norte-americano Robert Francis Prevost, que tomou o nome de Leão 14. O mundo católico exultou e todos esperam dele o ciclo iniciado pelo seu predecessor, santo Papa Francisco. Não tenho opinião formada, mas se me apoiar no nome por ele escolhido, Leão XIV, bem como no primeiro discurso feito da janela do Vaticano, onde a palavra paz foi evocada várias vezes, assim como as décadas de trabalho pastoral no Peru, reconforto-me antecipadamente por um novo movimento de aproximação aos valores humanitários levados a cabo por Leão XIII nos princípios da Revolução Industrial. Por outro lado, ele pertence à Ordem Agostiniana, formada no séc. III, pelo Papa Inocêncio IV, o que nos dá indícios de ser um sacerdote decidido e combatente.   

          - Céus! Mas que será esta nomeação que se crê ser obra do Espírito Santo, comparada com a pequenez da política partidária que nos apoquenta e decepciona e arrebanha a ignorância e a pequenez do “nosso povo”. É um verdadeiro susto, um terror o que nos espera. Eu fui marcado pela acção socialista de António Costa e não quero de-ma-mei-ra-ne-nhu-ma viver outro inferno social e político, institucional e quotidiano uma segunda vez. O período que é suposto ser o que nos informa e esclarece sobre todos os pontos essenciais do nosso futuro próximo, com divulgação dos respectivos programas políticos, está transformado numa feira, num carnaval de ataques pessoais, de coisa e coisinhas de ralé, pequenos montinhos de dejectos, que cheiram que tresandam, e são um ataque feroz à democracia e à nossa saúde mental. 

         - Um exemplo que cito com tristeza. Um tal Pedro Adão e Silva, que foi ministro da Cultura, muito fracote por sinal, diz no Público de sexta-feira isto: “A forma ligeira como se descarta a questão Spinumviva é um sintoma do abismo moral que rege as democracias hoje.” Até pode ser. Mas não é diferente do que se passou com o Sr. Vítor Escária que foi ao ponto de esconder milhares em vários pontos do seu gabinete, em S. Bento, ele e tantos outros socialistas, ou de José Sócrates que telefonava ao seu amigo industrial de Leiria sob estas palavras: “Olha (aqui fazer a voz fanhosa do sujeito), não te esqueças de me mandar aquilo que tu sabes que gosto tanto.” “Aquilo” eram os milhões que lhe permitiram viver à grande e à francesa em Paris aprendendo francês e a tocar piano. 

         - O fertagus é uma escola onde se aprende a evolução da juventude dos nossos dias. Outro dia, no percurso entre Pragal e Fogueteiro, três jovens, pelo que percebi universitários, do princípio ao fim da viagem, era tanta a “merda” (cada duas palavras lá vinha o mau cheiro), e outras iguarias do mesmo género que, de cada vez que um dizia a dita cuja, um dos dois repetia: “eu caguei-me”. A conversa misturava temas da aula, da professora e assim. Quando eles deixaram o comboio e passaram por mim, disse alto e bom som: “Já podemos respirar, os maus odores daqui para fora.” Olharam-me espantados e saíram.