Quinta, 29.
A política entre nós não tem remédio. O candidato ao cargo do Vasco Gonçalves que agora pode gozar em tranquilidade as aventuras dos carros de alta cilindrada e das suas inúmeras casas até voltar a exercer no Parlamento por não ter onde ganhar a vidinha regalada, diz que quem ganhou as eleições foi o PS “porque teve mais votos do que o Chega”. Esta guerra está para durar, com Ventura a chamar a si a vitória e as cadeiras na Assembleia – tal como se passou com Passos Coelho que venceu as eleições, mas teve de ceder ao malabarismo de António Costa ao criar a desgraçada “geringonça”. De resto, é bom notar que a derrota humilhante dos socialistas não é só do nortenho, é também e acima de tudo do nosso estratego que soube dançar com a senhora von der Leyen e de Marcelo Rebelo de Sousa que andou com Costa (lá está) às costas.
- André Ventura virou delico-doce. Todo ele é brandura, elegância de maneiras e fala, promessas e venturas de sorrisos e palavras mansas. Foi assim que o vi no jornal da SIC outro dia. Não se lhe conhece um programa, um plano para o país, quadros, gente competente, mas já fala em formar um governo que ficará em banho-maria para o que der e vier. Em compensação, comungo com ele da reforma da Constituição se for uma vassourada nos restos do Prec que nela foram metidos à força.
- Espero que Luís Montenegro mantenha o executivo que formou quando tomou o poder. Porque a equipa é competente e trabalhadora e vai ter que reformar muita coisa que António Costa deixou derrapar. A começar pela Saúde. Então não é que soubemos agora que um só dermatologista do Hospital de Santa Maria, ganhou em dez sábados a módica soma de 400 mil euros! Este escândalo, ao que parece, advém do descontrolo e falta de vigilância às cirurgias no SNS feitas fora do horário regular de trabalho. É por estas e muitíssimas outras que o dinheiro para a saúde nunca chega. Os médicos hoje, não têm o brio de então, na privada como na pública, o que conta não é a dor do doente, a deontologia de uma missão nobre, mas o lucro. E lembrar-me eu daquele cardiologista, em Setúbal, espécie de slot machine, que pus em sentido deixando-o a falar sozinho e dizendo-lhe que eu sabia mais do meu corpo que ele com tantos anos de serviço a petiscar patacos ao centímetro quadro na pele dos seus pacientes. Volveu-me um olhar de morte.
- Fui à piscina. Tempo muito quente. Um silêncio pesado trazido pelas temperaturas. Está tudo parado lá fora. Não se ouve um pássaro e o ruído do silêncio infiltra-se nos espaços do tempo, eclipsando-o.