segunda-feira, maio 12, 2025

Segunda, 12.

Não sei o que dá ao Black. Está tranquilo a dormitar no sofá do salão, mas assim que ouve a voz trinada da senhorita dos cãezinhos e gatinhos, desata a miar de uma forma especial e só se cala quando lhe abro a porta da saída. Explico-lhe, cheio de paciência, que aquela senhora é a sua presidente, que quer o seu bem, se bate na Assembleia pelos seus direitos, mas o gato, em vez de me escutar, corre desalvorado de ao pé de mim. 

         - Dia empolgante. Andei a saltar de táxi em táxi, de Entrecampos para o Gama Pinto, daqui para o Chiado, depois para a CGD e desta de novo para o hospital e dali para o Corte Inglês e deste para Roma onde embarquei, enfim, de regresso a casa. Todo este desassossego, porque nada estava marcado tendo eu confiado na sorte que em todos os sítios me favoreceu. O muito que tinha para resolver ficou resolvido. Ufa! 

         - Passei de rompante na Brasileira onde encontrei o João Corregedor e o Carmo na esplanada. Breve cumprimento e resistência em ali ficar a dar à língua numa inutilidade que me entristece. No intervalo, preferi descer à Fnac e aí trabalhar no romance. Em boa hora o fiz porque Ana Boavida não faltou à chamada. Bons e ternos momentos. Se é possível reter o milímetro do segundo alveolado de felicidade, é aquele em que olvido tudo e me entrego inteiro à magia da escrita. 

         - Não sei se a retirada do anúncio dos odores dos canais televisivos foi obra de algum leitor dos quase 65 mil que acompanham este trabalho; o que sei é que tal porcaria desapareceu dos ecrãs. A escrita crítica é sempre um valor incalculável na consciência colectiva.