quinta-feira, maio 01, 2025

Quinta, 1 de Maio.

Em conversa acesa com o João Corregedor esta manhã na Brasileira, como é hábito estando eu sempre em desacordo com ele, ficaram demarcadas as nossas posições  ideológicas que, de resto, as suas (e as minhas para ele) são bem conhecias. O princípio é este: João começa o seu raciocínio baseado nos programas eleitorais, nos cadernos de encargos, nos decretos-lei, naquilo que o partido escreveu para ser implementado – e daí não sai. Eu contraponho que não me interessam os programas, que são muito bem imaginados e escritos, mas são invariavelmente distorcidos, ignorados, alterados, ineficazes. Portanto, para mim, são as acções que contam e a palavra dada à boca dos acontecimentos, a sua aplicação com competência e rigor. Para ele conta o todo, a ideologia posta ao serviço da competência de quem a pratica; aclarada no escrito que por sua vez vai lá atrás trazer na enxurrada político-social o senhor Marx, o senhor Lenine e assim por diante. Digo-lhe que ponho em primazia as pessoas e quem tem sabedoria e rigor para aplicar as normas do que ficou estabelecido. Para ele a ideologia está acima de todos e cada um; para mim conta este e aquela, o nome de cada um, e o resultado ou o desastre que a política casou. Ele odeia “fulanizar”, eu gosto porque quero chamar criminoso ao criminoso; ladrão ao ladrão; incompetente ao medíocre e assim. A certo momento, diz-me: “Tu preocupas-me. Tens muitas vezes ideias de direita.” Ou esta que achei uma delícia ao contar-me que estava em casa a pensar em qualquer coisa e se levantou e foi a estante sacar os escritos de Lenine para se certificar se o que o ocupava estava certo ou errado. Céus! Em pleno século XXI! Na rua, ante a capa do Público que dá ao debate de ontem 10 a Montenegro e 4 a Nuno Santos: “Estás a ver. Isto é um jornal de direita.” Eu dou 10-5. Para mim o jornal não enfileira em nenhuma linha ideológica - é uma capoeira com diversos galos.