quinta-feira, outubro 31, 2024

Quinta, 31.

Desforro-me agora por todo o lado e de todas as maneiras do grande período de reclusão com saídas precárias. Assim, hoje fui à piscina e estive a nadar durante uma hora praticamente de seguida; outro dia fui a uma esplanada e fiquei um tempo esquecido a saborear a liberdade que tanta falta me fez; ainda outra vez fui ao supermercado e deu-me para me satisfazer de tudo quanto via, estive depois no pequeno bistrot da entrada a ler o Público como se fosse a primeira vez. Tanta largueza de impulsos trazem a marca de uma vida escolhida, obstaculizada apenas pelos imprevistos que nos atingem a todos. Entre este percalço e uma existência fechada num tabuleiro chique ou remediado, com vista para os telhados simétricos da grande urbe, escolho mil vezes este recanto onde vejo o Sol nascer, as noites estenderem-se no dorso limpo das recordações vividas, das paixões sofridas, dos silêncios arrebanhados da impressão clara da vida... 

         - A martirizada Espanha atingida por um temporal medonho que destruiu povoações, reduziu Valência a escombros, matou para cima de uma centena de pessoas e arrasou bairros inteiros, transformando-os numa papa de lama onde os cadáveres dos infelizes jazem, atirando os seus moradores para as ruas, em desespero, de súbito sem tecto nem haveres. O Sul o país está paralisado, pontes desfizeram-se, auto-estradas desapareceram, prédios caíram, um sem-número de carros levados na enxurrada, Espanha surpreendida, parou. Ricos e pobres defrontam-se na mesma condição. 

         - O mundo civilizado e livre, ficou estupefacto com aquela vénia respeitosa e obnóxia de António Guterres ao ditador Vladimir Putin. Deslocou-se o nosso compatriota a Moscovo onde o tirano reuniu uns quantos países que compõem os BRICS para o endeusarem. Tanto o nazi precisa de gente como o secretário-geral da ONU! Definitivamente o nosso socialista não acerta uma, parece até que é naïf, pouco experimentado em lidar com a casta reles dos políticos dos nossos dias. Aquele acrómio, cujos países fundadores foram a Rússia, China, Índia alguns mais e outros que se lhes juntaram, pretende ultrapassar ou comparar-se com o dólar e enfrentar as economias ocidentais e americanas. Mas não têm hipótese, pelo menos nos próximos anos. Compare-se só este pormenor: o banco dos BRICS conta, este ano, empréstimos no valor total de 5000 milhões de dólares; o Banco Mundial 72.000 milhões. Daí que eu me incline para outras pretensões por parte de Moscovo. A Putin tudo serve para a sua sobrevivência. O fim está próximo. O mundo não tarda a dar-lhe a reposta que merece. 

         - Justamente. A Israel tudo lhe é permitido. Agora, Netanyahu, quer enfrentar todos os países que compõem as Nações Unidas e fez passar uma lei proibindo operações da agência da ONU na ajuda aos refugiados palestinianos, a UNRWA. Guterres respondeu que “a legislação nacional não pode alterar essas obrigações”. Será? Dentro de Israel quem manda são os ortodoxos em que o ditador se apoia. São eles que escorraçam os funcionários da ONU dos territórios ocupados, num genocídio praticado à frente de todo o mundo. Eles hão-de vingar os seis milhões de judeus exterminados pelos nazis. 

         - Vou transcrever num arrepio: entre 2015 e 2023 foram identificados 836 casos de casamentos infantis em Portugal.  A maioria têm 15 e 18 anos, mas há 126 situações que envolvem crianças de 10 e 14 anos; 346 entre os 15 e 16 anos, sendo os rapazes com menos de 18 anos os mais afectados. Como é isto possível num país organizado, com fiscalização de muita ordem, leis que nos dizem algumas serem neste domínio das mais avançadas da Europa (quiçá à moda portuguesa), do mundo?


quarta-feira, outubro 30, 2024

Quarta, 30. 

De facto a saúde em Portugal deteriorou-se imenso. Talvez não possa falar dos actos médicos, mas do sistema organizativo, do acesso aos cuidados primários, à marcação de consultas com o expediente que permite a toda a gente trabalhar o menos possível com o processo agora em vigor das “primas” que nos atendem ao telefone. As repartições de finanças adoravam o sistema, até que este executivo acabou com ele. O meu Centro de Saúde que trabalhava muito bem, de repente, entraram as “primas” e desqualificaram tudo. Acrescem também as greves. Nesta altura existem por todo o lado, com especial acuidade a dos médicos e transportes (refiro-me, claro, à CP). O cidadão não conta para coisa nenhuma, ninguém o defende, esmagado pelas centrais sindicais e pelas redes de interesses políticos de toda a ordem. Quem esfrega as mãos de contente, é o sector privado que vai enriquecendo com a vida das pessoas - nunca  o negócio da saúde andou tão próspero. Miserável país este. 

         - Vamos a ver se nos entendemos. Socorro-me de Roger Martin du Gard, grande amigo de Gide, também ele senhor de um volumoso Diário. S´il est tout naturel au Journal d´un écrivain d´éclairer son oeuvre, il ne l´est pas moins de considérer que ce genre d´ouvrage est, peu ou prou, un témoignage de son auteur sur son époque. 


terça-feira, outubro 29, 2024

Terça, 29.

Aleluia! Aleluia! Ao cabo de três meses sem carro, ei-lo de novo de retorno. Aparentemente de boa pinta, parecendo conhecer o seu dono e a casa que fora a sua durante uns quinze anos. Logo que o senhor ucraniano mo entregou, fomos passear juntos a fim de nos estreitar-nos e sabermos se ainda nos entendemos e este entendimento é para outros tantos anos tudo aponta que sim. Resta do grande desarranjo caseiro, o furo. Pesquisei nos meus papéis e encontrei o contacto do rapaz que o montou, em 2020. Ficou de cá vir hoje. O electricista que contactei outro dia, observando a bomba que continua a trabalhar, aventou a hipótese de o furo estar seco – facto que excluo por diversas razões. 

         - O Chega, por assim dizer, é um projecto da esquerda, sobretudo do PS e BE. Estes dois partidos tanto o esventraram que expuseram à opinião pública o desejo de o  curar dos males que elas, esquerdas, lhe atribuem a propósito de tudo e nada. Deram-lhe tanta importância que a sua grandeza adveio da importância que lhe foi outorgada por aqueles que o combatem. Em Ventura tudo é estratégia – coisa que o PS e BE ainda não perceberam. O Chega é a imagem do país, analfabeto, preocupado com tudo menos com a democracia, boçal, alheado da política, arruaceiro, vivendo do imediato, com preocupações básicas e o espírito instalado à manjedoura das televisões que substituíram a família, a escola, a religião. A exemplo da aberração Donald Trump, Ventura, seguindo-lhe os passos, vive de petardos que impressionam a esquerda que pretende só ela possuir o garante da democracia. Acontece porém, que o Chega é um partido representado na Assembleia da República, e como tal com liberdade de emitir toda a sorte de disparates, inventar factos, mentir e atacar quem professa ideologias diferentes da sua – se é que tem alguma. Por outro lado, vivemos felizmente em democracia, e como tal com flexibilidade a expressarmos ideias e filosofias nem sempre comummente aceites. A livre expressão do que sentimos não deve ser proibida, mas corrigida quando necessário, dialogada e, se possível, abrangente. 

         - Pois é. Durante muitos anos assistimos à dupla António Mexia e João Manso à frente da EDP, gurus embalsamados pelos media, laureados por serem génios da economia e estrategos exemplares, com lucros de milhões todos os anos. Sabemos hoje que não passavam de aldrabões, tecendo tramas de corrupção e charlatanice, numa espécie de polvo de grandes dimensões, que José Sócrates fingia desconhecer. O PGR acusa um rol de ilustres gestores entre eles o ex-ministro daquele que foi para Paris aprender a tocar piano e a falar francês, Manuel Pinho. A coisa é tão grande, que se julga haver o Estado perdido 840 milhões de euros e, assim, requerer a perda de bens dos arguidos e da EDP Gestão de Produção de Energia e da EDP. 


domingo, outubro 27, 2024

Domingo, 27.

Não resisto em assinalar o texto de António Barreto de ontem no Público. Sou lisboeta, nascido e criado, com excepção de uma parte da minha adolescência passada em Coimbra, é aqui que me fiz quem sou. Também tantas e tantas vezes me tenho referido à minha terra com tristeza, ao Chiado onde continuo a ir tropeçando em toda a espécie de lixo que a modernidade e o turismo trouxeram, a desumanização e a desordem que parece ter dado o mote a uma cidade sem projectos nem beleza, entregue às loucuras promocionais e políticas dos últimos autarcas e, sobretudo, presidentes de câmara.

Lentamente, os lisboetas adaptam-se e habituam-se a tudo: ao lixo nas ruas, à erva dos passeios, à calçada levantada, aos buracos nas ruas, aos abrigos rodoviários desfeitos, aos edifícios em ruína deliberada, ao estacionamento em segunda fila, às filas de carros evitáveis e às filas inevitáveis de cidadãos diante dos serviços públicos. Os lisboetas habituaram-se aos monumentos em ruínas, às casas abandonadas, às fachadas históricas deformadas e à publicidade luminosa de parolo e pechisbeque. Os lisboetas habituaram-se ao desmazelo, à fealdade e à sujidade. Tal como se habituaram ao pobre, ao sem abrigo e ao pedinte. 

Pior do que tudo, os lisboetas habituaram-se à desigualdade, à miséria, à imigração explorada, aos trabalhadores estrangeiros ilegais, aos alojamentos imundos, aos bairros segregados e aos novos guetos étnicos. 

Lisboa tem hoje a mais, sem previsão nem ordem, turistas, imigrantes, ilegais, pobres, comerciantes e outras populações errantes. Lisboa e Portugal podiam ter tudo o que têm, e muito mais, se fosse melhor, se estivesse previsto, se houvesse políticas e regras.

De repente, por causa de um incidente desastrado e fatal, em que um agente da polícia matou um cidadão, os lisboetas acordaram para uma Lisboa difícil, segregada, desmazelada, ilegal, drogada, explorada e pronta para a violência. 

         - Depois do dia de ontem de uma tristeza infinita, o de hoje acordou cheio de vigor, limpo, anunciando nas extremidades o Outono que acabou de chegar. Uma ligeira ponta de frio insinua-se pelas taliscas da manhã, não fere, não subjuga, espoja-se nos espaços, esfriando-os. 


sábado, outubro 26, 2024

Sábado, 26.

Às oposições tudo serve para chicana política. Fervorosos defensores dos imigrantes, piedosos das suas ideologias sem contrapartidas nenhumas, dizendo-se dignitários protectores daqueles que procuram uma vida melhor entre nós e depois deixam-nos pelas ruas da amargura, dormindo e vivendo miseravelmente, sem respeito e dignidade, tudo aproveitam para se gloriarem de um humanismo de pacotilha, de corações endurecidos pelo radicalismo e sectarismo de que deram provas estes dias no Parlamento. Aquele espectáculo é digno do mais putrefacto e vil que à sombra da democracia nos é dado assistir. O vandalismo é para as suas obsessões a possibilidade, o trampolim que encarcerariam se chegassem ao poder. Tenham ou não razão os que se indignam pela morte do infeliz às mãos de um jovem polícia na noite de quarta-feira no Bairro da Cova da Moura, perdem-na quando misturam a raiva e o desespero e atentam contra a liberdade de milhares e destroem bens públicos e privados em actos de criminalidade impossíveis de aceitar em qualquer regime político. 

         - Já não falta muito para sabermos quem ganhará as eleições nos Estados Unidos da América. Chamemos àquilo democracia. Ou antes, digamos que ela só imperará, se o dinheiro às mancheias for injectado no sistema dito democrático. Não vale a pena chorar no molhado. Quando o maior milionário do mundo, Sr. Elon Musk, oferece um milhão de dólares por dia num sorteio a quem votar em Trump, temos a ruína da democracia diante dos nossos olhos estupefactos, temos a democracia reduzida a um qualquer produto. Como foi possível chegar até aqui? Perguntem à ganância daqueles que querem o poder pelo poder. 

         - Toda a gente exige somas fabulosas para fazer face ao custo de vida, não se perguntando onde vai o Estado buscar o dinheiro necessário à satisfação desmedida de todos os sectores. O nosso país é pobre, a riqueza está nas mãos de uns quantos, o solo não produz coisa que se veja, não temos matéria prima de relevo, e assim o dinheiro que o Estado possui chega-lhe em pescadinha no roulement dos impostos. Por agora o turismo vai sendo a mina de ouro. Não é, todavia, certo que o jazigo não seque. No sistema capitalista em que nos encontramos, tudo o que os governos ofereçam, a inflação vai por trás e rouba. A nossa sociedade, mesma em democracia, não é equilibrada. Uns tudo fazem para a perverter convencidos que na podridão podem tomar o poder; outros instalam-se e chamam ao seu umbigo o mealheiro da riqueza subtraída por manigâncias ínvias. 

         - Ontem, quando descia o Chiado, numa manhã tépida de sol tímido, em passo lento, experimentei o suave encanto que me imbuía de alegria. Foi um momento indiscritível, uma espécie de bênção descida do alto, a sensação de pertencer àquela artéria da cidade desde tempos imemoriais. A minha história pessoal funde-se com aquele lugar, pois desde muito cedo ali parava, ali perto trabalhava, ali aprendi os valores da liberdade ouvindo este e aquela, artistas com quem me cruzei que sem ser esse o seu objectivo escolheram-me como mensageiro de protestos e denúncias que ainda hoje carrego.  Estas páginas e os livros publicados e escritos, são disso testemunho.   

         - Igualmente ao serão, depois do noticiário, afundado no sofá do salão, o silêncio cirandando por todo o lado, a noite aberta lá fora, as estrelas espreitando cá para baixo, senti em mim uma paz profunda como há muito não experienciava. Rodeado de livros, peguei no Somerset Maugham e envolvido no romance, esqueci as horas. Ao aproximar-me das 150 páginas, ouvi o relógio que está por cima da lareira bater meia-noite. Só então me despedi das personagens e do espaço mágico onde estivera submerso por um tempo sem tempo. 


quinta-feira, outubro 24, 2024

Quinta, 24.

Os extremos aproximam-se. Afinal as célebres cativações caras a Centeno e tão condenadas pelo PSD quando na oposição, voltaram em força com o governo Montenegro-Miranda Sarmento. 

         - Tanto prejuízo e incómodo para os habitantes das zonas vandalizadas por grupos de africanos descontentes com a morte de um dos seus, pelo que se percebe sob o nervosismo ou descontrolo do jovem agente que o matou, voltaram a acontecer em mais uma noite de Lisboa, Setúbal, Seixal, Barreiro, sítios onde a segregação, pobreza e inadaptação proliferam. O que se passou ontem na Assembleia Nacional, também não ajuda à tranquilidade que todos reclamam e a que têm direito. 

         - Tempo moche. Continuo sem carro. Evito deslocações e saídas do meu perímetro de vida. Ontem, contudo, fui tomar café com o John e aproveitei para me abastecer do necessário para a cozinha. É curioso como a natureza humana a tudo se habitua. Com três meses apeado, sinto que a pouco e pouco posso viver sem a comodidade da viatura. Bem vistas as coisas, no cômputo final, apesar dos táxis que tenho tomado, devo estar a economizar.  Depois, aqui, há sempre tanta coisa para fazer! 

         - Estou a ler um livro de uma força extraordinária: Férias em Paris de Somerset Maughan (adianto desde já a muitíssimo boa tradução de Elsa Vieira). Foi sempre um autor que me atraiu, não só pelos temas, mas por uma certa descida aos infernos onde almas próximas da dele expiam os seus pecados. A interpenetração das duas personagens principais, Charley e Simon Fenimore, os diálogos entre ambos com a sensibilidade à flor da pele, o precipício ali tão perto e o nobre talento de Maughan a velar pelo interior de cada um, a ampará-los para que o tombo não seja demolidor...  

         - Faleceu Marco Paulo. Desapareceu uma voz maravilhosa, que até ao derradeiro minuto se conservou igual, em extensão e corpo, maciez e nuance, dignidade e profissionalismo. Graças ao Daniel Oliveira, ele esteve presente na vida dos seus fãs e por pouco não morreria diante das câmaras da SIC, cantando. 


quarta-feira, outubro 23, 2024

Quarta, 23.

A Alice que me vai acompanhando com desvelo, diz-me que este tem sido para mim um annus horribilis. Que começou com aquele susto em Fevereiro, continuou com inúmeros desarranjos no meu quotidiano e parece acabar com o furo que desde há duas semanas trabalha em falso, com as consequências no consumo de electricidade daí resultante.

        - No comício do PSD do fim-de-semana, ressurgiu aquele pequenote de nome Bugalho, fazendo aquilo para que fora instruído: filiar-se no partido de Luís Montenegro. Que o repiscou da televisão onde parlapatava todas as semanas para gáudio dos provincianos, oferecendo-lhe a lotaria choruda da União Europeia. Cheio de bugalho, inchado de satisfação, quase um milhão e meio de euros no bolso, ei-lo propagandeando o amor aos 2 milhões e meio de pobres, aos doentes necessitados de ajuda, ao ensino periclitante, aos reformados a ganhar as migalhas que ele deixa cair ao chão, ao Portugal tísico e enfermo e assim por diante. Devia estar atrás das grades por agredir mulheres que lhe passaram pela vida. Mas está triunfante em Bruxelas, como prémio de bom aluno nos esquemas partidários.  Que nojo!  

         - Para quê falar na velhice, se ela fala por nós. Daí me surpreenda as dezenas e dezenas de páginas a ela consagradas por Eugénio Lisboa, no livro que terminei há dias: Acta Est Fabula vol. V. E todavia, que força, que independência, que espírito livre de um homem que soube estar na vida com brio e de cabeça levantada.

        - O John tem sido o meu anjo protector. Veio aqui sábado com o Nilton, voltou hoje para me levar no seu carro ao encontro do rapaz que há quatro anos me substituiu a bomba do furo, esteve antes a falar com o mecânico que se ocupa do Skoda... Fala o português como calha, comigo constantemente a emendar as frases e as palavras soltas. Mas já vai alinhando um discurso minimamente compreensível.  

         - O Filipe mandou-me um vídeo dos incidentes da “noite de inferno”, no Bairro da Cova da Moura. Segundo ele que ali habita, 11 viaturas foram vandalizadas, 4 incendiadas, 1 caixote do lixo ardido, 40 a 50 putos encapuzados com cocktails, muita polícia. A dada altura ele decide sair de casa para mudar o carro e concluiu: “ainda bem que o fiz, senão seria mais um” que ardia. Todo este horroroso espectáculo, porque um polícia abateu a tiro um dos moradores do bairro. Há razões de ambas as partes, saberemos com o inquérito instalado do apuramento dos factos. Entretanto, a barbárie. rebentou noutros pontos da cidade.  O Bugalho resolveria isto depressa – à paulada. 


terça-feira, outubro 22, 2024

Terça, 22.

Voltemos então à Gulbenkian. Não há saloio nenhum que não se deslumbre com a obra de Kengo Kuma, engawa (em japonês e alpendre na nossa martirizada língua), empurrado pelos media que são quem hoje lança as modas e as “desmodas” (para utilizar a expressão de jean Cocteau). Francamente, não vejo o que é que aquele alpendre imenso, que corre em paralelo à galeria da antiga Arte Moderna, faz ali. A mim  parece-me um abcesso no conjunto harmonioso da arquitectura existente. Se ele foi concebido para ser um alpendre, portanto um lugar de onde se observa e desfruta de algo, os nossos olhos não têm muito para onde se estenderem, embora destas obras o jardim do paisagista Vladimir Djurovic seja francamente uma obra de arte. Contudo, no dia em que lá fui, estando a chuviscar, observei como a fila imensa de visitantes se perdia sob aquele espaço, revestido por painéis cerâmicos brancos de três tons de luz matizada, era útil... Os entendidos falam de requalificação do espaço, introduzindo do meu ponto de vista um envolvente japonizado que ali não acolhe conformidade. A entrada que no museu antigo dava directamente para as salas de exposição e restaurante, está hoje enfeitada com a célebre “pala” que tanto tem dado que falar e fotografar. É interessante pela volumetria, um certo ar de voo, a ondulação que provoca e a beleza que se desprende à medida que nos vamos aproximando. Por mim, era ali que as alterações deviam terminar. 


        

          O interior quase não foi mexido. A grande galeria da entrada, que alberga a obra de Leonor Antunes (já lá irei), e as pequenas mezanino adjacentes, ficaram como eu as conhecia. As alterações, estão nos andares de baixo onde existe o bengaleiro, os wc, a vasta sala de exposição. Pouco tenho a dizer das muitas divisões que atravessamos como cão por vinha vindimada, tal a banalidade do que hoje se define por arte. Ali imperou, segundo julgo saber, a moda da paridade de género que eu julgava existir apenas no Parlamento. Mas, não. Está por todo o lado e o resultado é aquela mostra que nada nos diz porque nela imperou a imposição da mulher. Não é a qualidade das artistas do sexo feminino que está em causa, mas sim a mulher que emerge da revolta contra os bastardos maridos e homens que a têm condenado à subalternidade. Conclusão: desde a obra de Leonor Antunes de uma simetria gráfica curiosa, que joga com a luz e nos multiplica o olhar, aos muitos quadros que enchem os espaços, houve a preocupação de realçar a mulher e não a artista, o valor intrínseco da sua arte, em desabono do mérito. Todavia, aqui e ali, admiramos uma ou outra peça de artistas consagrados: Maria Capelo, António Dacosta, Gabriel Abrantes, um ou outro mais. 

         Já no exterior, sobretudo quando entramos pela R. Marquês Sá da Bandeira, experimentamos a satisfação da descoberta e da vivência de um espaço amplo, os imensos aromas entram-nos nos pulmões depois de nos coçar o nariz: eucaliptos, cedros, alfarrobeiras, loureiros, alecrim, murta, loureiros e não sei mais quantas espécies de árvores que já vêm do grande paisagista que foi Gonçalo Ribeiro Teles e António Viana Barreto que foram quem desenhou e construiu o parque inicial da Gulbenkian. Nesta parte do jardim, Djorovic, fez nascer a poesia e um certo clima de feição que nos introduz na beleza do espaço e nos convida a admirar o movimento das árvores, os reflexos da luz, a serenidade do lago, num movimento de cadeiras à mercê do visitante. Talvez também uma abertura, o jardim estendido por recantos abertos para passeios pedonais, sempre com a grandeza do “alpendre” de um lado e aquele canto da cidade do lado de fora dos seus muros baixos, embelezados por peças de escultura em ferro que o tempo irá adornar com a maestria do sol e da chuva.  






segunda-feira, outubro 21, 2024

Segunda, 21.

Mais uma morte e esta decerto leva a palma sobre todas as outras. Trata-se do dirigente do HAMAS tão procurado por Netanyahu, por ter sido o cérebro dos atentados de 7 de Outubro do ano passado, Yahya Sinwar. Os americanos que são co-autores, rejubilam com tamanho feito e prometem, à laia de prémio, fornecer ainda mais armamento a Israel. Tudo isto é uma espécie de ensaio geral para a Terceira Guerra Mundial, se tivermos em conta os milhares de norte-coreanos que se juntaram às tropas russas na guerra da Ucrânia. O Médio Oriente e a Ucrânia estão a pôr à prova e a distribuir facções na geografia bélica, diante dos nossos olhos distraídos.   

         - Entre nós, Vasco Gonçalves II, baixou o tom da sua voz irritante. Montenegro vai desbravando terreno. Contudo, já vou vendo muita trapalhada. Por exemplo, o anúncio dos novos cartões dos transportes públicos. A retaguarda não me parece ter sido reforçada para uma medida desta envergadura. Ainda esta manhã, estando a aguardar embarcar no fiel Fertagus, ouvi os altifalantes anunciar o atraso do Alfa em 25 minutos e o que faz a ligação Setúbal-Barreiro, com doze minutos. Nas bilheteiras, ninguém sabia do passe gratuito para deficientes e para velhinhos no funcionamento dos cartões de comboio. À boa maneira de António Costa, espero que o actual executivo não entre na propaganda barata que divulga uma directriz e só meses depois ela fica implementada. Quando fica. 

         - A vergonha da nossa democracia, o seu fracasso, está patente nestas duas amostras: a primeira refere a sucessão de outras que fui apresentando; a segunda demonstra que a pobreza ofende quando na Rua 1º de Dezembro, em plena Baixa lisboeta, uma série de cartões são camas onde compatriotas nossos se deitam todas as noites. E lembrar-me eu quando o palrador Marcelo, dizia que não se recandidataria ao segundo mandato se continuasse a haver nas ruas da capital este espectáculo obsceno. A verdade é que ele não trocou o conforto do palácio de Belém por esta miséria que em grande parte é o culpado. Para um católico, apostólico, romano, estamos conversados. 

Uma rede impede agora o casal de vir repousar os  magros corpos.

Mais abaixo, no cotovelo para o Rossio, tanta gente passa indiferente.
                                                                 De deputados, népia. 




sexta-feira, outubro 18, 2024

Sexta, 18.

Foram os barões do PS que exigiram do seu secretário-geral, senhor Vasco Gonçalves II, que deixasse passar o OE2025 - e o assanhado homem cedeu. Vai-se abster como eu aqui havia previsto (ver nota quarta, 9). Depois de ter andado meses a chagar o país, de tanta comédia, cenas, arrogância, imposições de muita ordem, louvores aos pobres abandonados, aos jovens, coitadinhos, que emigram, por eles, só por eles lutava, depois de tanto paleio inútil, de tanta banha de cobra, o sujeito morre nos ecrãs de televisão diante do seu povo de olhos esbugalhados de surpresa e gratidão. Agora é esperar tranquilamente que seus camaradas mais equilibrados o dispensem para sempre. As esquerdas apedeutas e revivalistas, choram um choro profundo que se espera lave todo o ódio e ignorância que exibem. 

         - Eu não sei como se portava o Outubro em Portugal. Desde tempos imemoriais que não passo este mês em solo lusíada. Quando chegava nos fins do mês, princípios de Novembro, encontrava a quinta muito diferente do que a vejo hoje. Vi as laranjas madurarem desde fim de Setembro, e olho-as agora amarelas com o chão em seu redor juncado de frutos. Dir-me-ão que isto é derivado ao aquecimento, ao desnorte das estações do ano, à falta de água, a não sei mais o quê. Contudo, quando pego numa ou noutra, não lhe vejo marca de picada de insectos. O fruto está intacto, mas não está em condições de se comer. E não irei comê-lo e o meu fígado agradece.

         - Escrevo na Brasileira como aconteceu no início da semana. Terça-feira, um dos simpáticos rapazes que nos servem, veio sentar-se na minha mesa. Li-lhe o parágrafo que tinha estado a compor e logo ele disparou, como já o havia feito quando tomou contacto com este diário: “É uma escrita gulosa.” Voilà ce que je suis devenu: gourmand. 


quinta-feira, outubro 17, 2024

Quinta, 17. 
Enquanto Vasco Gonçalves II se abespinha por 1 por cento no Orçamento de Estado, a pobreza aumentou segundo um estudo da Pordata hoje divulgado. Conforme os dados apresentados, o risco de pobreza em Portugal aumentou, em 2022, pela primeira vez em sete anos. Pergunto: quem governou este pobre país nos derradeiros oito anos? E de todos o partidos quem esteve à frente do país mais tempo? Eu digo: os ditos socialistas. Que sempre se estiveram marimbando para as pessoas, sobretudo, para os jovens e os pobres. Por favor, malta, debandem. Procurem um qualquer lugar porque qualquer país tem de certeza melhores dirigentes que estes que nos saíram na tristeza sem fim da democracia à portuguesa. O chefe enriqueceu com 31 mil erros/mês mais as benesses e mordomias. Não há socialista que seja pobre nesta terra e mesmo aqueles que eram remediados, são hoje soberbamente endinheirados. As ideologias e os pactos, dividiram a sociedade em duas partes: a da política e da plebe de escravos. Esta merda está condenada ao falhanço e à ditadura. Este país precisa de uma reforma profunda, de atacar o mal pela raiz. Aqui toda a gente se aproveita e a lei das esmolas é hoje a lei que convém primeiro aos políticos - assim trazem-nos amansados e humildes. A corrupção está entre eles e nos colaboracionistas do capital. 50 anos de democracia com muitos milhões da UE, traduziram-se em 2 milhões e meio de pobres. Esta é a verdade que nenhuma ideologia consegue refutar. Uma vergonha, um descrédito, uma eterna desconfiança nesta gentalha que nos tem governado. 

          - A infeliz da Piedade, aos 86 anos, vive um inferno com o neto toxicodependente. Este chega às cinco da manhã a casa e desata a partir tudo. Anteontem foi a cozinha que ficou reduzida a cacos. A brasileira abalou e deixou malas de roupas e outros objectos espalhados pela casa que ela julgava já ser a sua. O neto ameaçou queimar os haveres daquela que partiu a meio da noite há duas semanas. Espera-se que ela não esteja grávida, como aconteceu com a primeira e segunda mulheres. Parece-me que consegui convencê-la a dar parte à GNR, quanto mais não seja para que a Piedade não seja agredida – seu maior pavor.

quarta-feira, outubro 16, 2024

Quarta, 16.

Ficarei todo o santo dia ao chaud. Daqui olharei o mundo e sobretudo olhar-me-ei a mim próprio. Isto não é uma casa, é um castelo onde me abrigo dos olhares sinistros daqueles que olham perscrutando as oportunidades de serem alguém, de montarem o pedestal da fama, de buscarem a imortalidade que as televisões lhes oferecem na pobreza de um gesto, de uma palavra, de uma aldrabice. Ressuscito só para mim Eugénio Lisboa, nesta passagem que se interliga com o meu pensamento. “O êxito passou a ser a Estrela Polar desta sociedade. Tudo se mede pelo “êxito”. O êxito das vendas (de livros, por exemplo) faz passos magnéticos até aos novos-ricos boçais que enchem as universidades. José Rodrigues dos Santos, o Dan Brown do Tejo, vai, por convite, a universidades respeitáveis, onde debita banalidades redondas e troça de autores que vendem menos do que ele. E é recebido como se o seu “produto” fosse coisa de levar a sério: não tarda muito, será alvo de uma dissertação de mestrado ou, mesmo, up-upa!” (Pag. 190 de Acta Est Fabula.) Bom, que alívio! Pelos vistos, não tenho perdido muito ao recusar ler estes “escritores” e “pensadores” que, como os políticos, se formam nas televisões. E lembrar-me eu o que disse João Soares do ilustre amanuense, comparando-o a Aquilino Ribeiro. Ai, ai, meu querido amigo João Soares! 

         - A propósito de João Soares o ex-presidente da Câmara de Lisboa. Houve uma época em que nos víamos com frequência, quando o pai era Presidente da República. Gosto muito dele e sempre o achei uma carta fora do baralho da boçalidade dos seus correligionários. Depois, desde que optei por viver em Palmela, nunca mais nos encontrámos. Minto: cruzamo-nos nas suas crónicas, nos seus pareceres na TSF. Ele pertence a uma época - que é também a do João Corregedor -, com os mesmos raciocínios, as mesmas cautelas, as mesmas raízes, as mesmas abencerragens. Dou um exemplo. O ex-presidente da Câmara de Lisboa, quando fala de um qualquer feito levado a cabo por determinada pessoa, antes de no-lo transmitir, incensa-a/o com títulos académicos, lugares públicos por onde passou, riqueza que possui, relações sociais que são as do visado/a para, enfim, nos dar a conhecer a razão pela qual nos trouxe ao nosso convívio. Eu ao João Corregedor, abrevio aquele trem completamente inútil, que parece favorecê-lo a ele, e peço o final que é isso que me interessa saber.  

         - A imagem do sucesso passeia de caixão aberto pelas televisões. Refiro-me ao banqueiro Ricardo Espírito Santo salgado. Há dez anos que a Justiça o anda a julgar, a maioria das vezes na praça pública, e só agora parece reunir provas para o sentar nos bancos dos tribunais. Neste entretanto, o “dono disto tudo", multimilionário, a braços com a doença de Alzheimer, desceu do trono onde políticos, homens de negócios, cardeais e bispos, capitalistas de todo o mundo, gente simples e até os pobres o endeusavam, para oferecer a triste imagem da abastança e arrogância, arrastando os pés, olhar perdido no vazio, amparado à mulher e acarinhado pelos advogados, ouvindo pelo caminho para a primeira audiência, os gritos lancinantes daqueles que tudo perderam nas falcatruas e crimes económicos praticados pelo banco que dirigiu durante mais de quatro décadas com mão de ferro. Eu também perdi cerca de mil acções, mas desde logo esqueci e não alinhei quando o banco me aconselhou pôr o caso num advogado. Para quê, disse. Quando o Estado e o ex-Espírito Santo sabem quantas são e o seu valor à época do desastre que ainda agora, todos os meses, vêm, perto no branco, no extrato mensal. O problema levantado à justiça pela doença do banqueiro, dada a sua incapacidade cognitiva e a situação frágil em que se encontra, parece dividir advogados e juízes. Uns querem o perdão; outros afirmam que os actos devem ser julgados e apuradas as culpas. Eu sou de opinião que se deve aclarar a situação do seu empório e reparti-lo por todos os visados como forma de compensação. Seja como for, o capitalismo na sua arrogância e poder, dá que pensar. Ver Ricardo Espírito Santo acabar naquela imagem, como um pedinte a arrastar os pés, alienado e dependente, diz da importância da riqueza que neste mundo é tão cobiçada e pela qual tantos se matam ou são mortos. Vir ao mundo para fazer riqueza... que miserável fim. 

         - Quer-me parecer que o Vasco Gonçalves II tem o trono a prémio. Muitos são já os seus camaradas que falam alto sobre as suas decisões, temperamento, liderança. O homem é inapto para o lugar e com aquela personalidade, devia ir pedir emprego ao simpático padeiro que está à frente do PCP. 


terça-feira, outubro 15, 2024

Terça, 15.

Escrevo estas linhas no hospital de S. Lazaro, o computador sobre os joelhos, os sentidos no chamamento para análises e exames preparatórios para a operação à catarata do olho esquerdo. Nunca aqui tinha entrado, imaginava uma unidade saída da Segunda Grande Guerra, cheia de dores, ódios bafientos e gente de queixos escancarados à ousadia de quem passou o limiar do portão com o emblema do partido das duas queques, uma actriz, outra desassossegada enamorada, na lapela. Mas, não. Aqui reina a civilização mais avançada que nem passa pela cabeça dos dirigentes do BE, Livre, PAN, PS e Chega. Somos recebidos como príncipes, de sorrisos de orelha a orelha, salas limpas, cores celestes, operacionais de uma gentileza insuperável. O circuito entre gabinetes, faz-se com ordem, tacto, competência. Há silêncio, empregadas que nos orientam de gabinete em gabinete, tudo bem organizado e num instante somos libertados e numa fúria dirigimo-nos para o primeiro restaurante que encontramos, porque a fome é muita devido à obrigatoriedade das análises ao sangue. São 14 horas e dez minutos. Louvado seja o SNS! E duplamente louvados os seus executantes. Eles merecem o reconhecimento, e mesmo sem ele não abdicam da humanidade e da competência na ajuda aos que sofrem. Eu sou grande utilizador deste serviço e nunca fui maltratado por ninguém - operacionais, enfermeiros, médicos. Até apetece estar doente, quando a cura nos vem do interior de pessoas dedicadas, sérias, aptas e... humanas.  

         - Glória também ao senhor Pedro Sánchez que se juntou a António Guterres na defesa dos palestinos massacrados por Netanyahu. Ele luta para que seja proibida a venda de armas e quer igualmente que a invasão do Líbano seja condenada. Aperta-se o cerco ao nazi, embora os EUA continuem a fazer a guerra de braço dado com o Governo israelita. 

         - Fecho o dia convocando o meu iPhone: 5, 1 quilómetros palmilhados hoje em Lisboa; 10 escadas subidas entre elas a praga do Metro, onde quase todas as escadas rolantes estão em pane há meses, num desprezo pelos utentes, usual hoje na nojice dos organismos públicos depois da passagem de António Costa pela gestão do país;  8949 passos. Nada mau para o coxinho, coitadinho. Os generais do nosso Exército não fazem nem metade e, contudo, marcham aprumados uma barra de ouro em cada pé. 


segunda-feira, outubro 14, 2024

Segunda, 14.

O que o Vasco Gonçalves II aponta a Luís Montenegro, é nem mais nem menos tudo o que o partido socialista dele e de António Costa, praticaram. Bem sei que o Vasco Gonçalves II quer-se distanciar da governação do príncipe que pernoita agora em Bruxelas, longe da escumalha, mas todos estamos recordados dos desastres nas Infra-Estruturas, na TAP, sob sua tutela, etc. Foi corrido por arrogância e incompetência, ele e aquela avalanche de ministros e secretários, directores disto e daquilo que Costa, o político, chamou para com ele administrarem o país. País que ficou paralisado durante oito anos. 

         - Diz aquele que palreia todos os domingos na SIC, que Ventura é um político hábil. Também disseram o mesmo de José Sócrates a quem, inclusive, chamaram “o menino de ouro”, igualmente, de António Costa de todos o mais esperto porque se aproveitou do cargo para alcançar o lugar que ocupa hoje naquela catedral da corrupção e faz de conta que é o Parlamento Europeu. Daí a chinfrineira que por aí vai. Que classe política tão baixa! De onde surgiram estes inteligentíssimos e cultíssimos e competentíssimos e honestíssimos políticos que são exemplo para o vasto mundo de estadistas que não se aequalĭa à nossa plêiade? 

         - Melhor está o glorioso povo espanhol. No passado fim-de-semana, desceu às ruas de Madrid e não só, a protestar contra os valores que senhorios pedem pelo aluguer das casas. Foram 22 e 100 mil (números da Polícia e manifestantes, respectivamente). No meio daquele tumulto, uma ordem se levantou: não pagar as rendas aos senhorios gananciosos. Se o grito vingar, é todo o sistema capitalista que os Estados deixaram nas mãos de políticos incompetentes e corruptos que está em perigo. A glutonaria dos homens do dinheiro, para quem o negócio deve cumprir em escassos meses, é não só falta de inteligência como desumanidade – mas desta ils s´en fout

         - Ontem, apesar de não ter saído de casa, esgotei-me de trabalho. Mesmo assim, consegui ter duas horas plenas de leituras. Na eternidade, saberei da utilidade deste tempo vasto, destas horas preenchidas com o viver rasteiro do qual a vida não pode furtar-se. Somos em cada instante a soma dos dias tricotados ao segundo. 


domingo, outubro 13, 2024

Domingo, 13.

A  verdade é que o Vasco Gonçalves II (o primeiro que “Deus o lá tenha”), com aquela voz que vai mudando à medida que a tensão lhe salta aos broncoceles, torna-se insuportável de ouvir. Ele ainda não percebeu que não possui habilidade nenhuma para gerir o partido e daí que os militantes se tenham apercebido do desastre de o haverem elegido e estejam hoje apreensivos e divididos. Tudo o que ele imputa ao PSD, foi, sem tirar nem pôr, o que os socialistas fizeram com aquele que vive à grande e à francesa, em Bruxelas. O desplante do homem, querendo deixar a sua marca na governação, é tal e tanto que os portugueses, numa próxima ida às urnas, vão acabar por dar a maioria ao PSD. Há tanta ambição pelo poder, tanta mediocridade para o alcançar, que todos se tornam cegos à luz da claridade que emana do equilíbrio, autoridade e competência. 

         - No Sudão a miséria campeia como água correndo para o mar putrefacto da desordem. Ali, há muito que os direitos humanos não são respeitados, que um milhão de pessoas deixou o país, que as guerras entre gangs perpetuam a desgraça e a morte. Os heróicos sudaneses, apesar de todo o sofrimento, continuam a lutar pela sobrevivência ou seja pela vida. 

         - Tomou posse o novo Procurador-Geral da República, sucedendo a essa mulher extraordinária que foi Lucília Gago. Uma tal personalidade na cena nacional é coisa rara, porque todos se amocham quando estão em causa o empregadinho, as mordomias, os penachos. Diz Amadeu Guerra que “rejeita alterações que ameacem independência do Ministério Público”. Esperemos que sim. E declarou-se "desfavorável, em termos gerais, a alterações legislativas levadas a cabo na decorrência de processos concretos, de forma precipitada, por vezes, sem justificação e sem ponderação, designadamente, dos efeitos e consequências que no futuro podem ocorrer". A ver vamos se é desta que os Sócrates desta terra farta para uns e avara para a maioria, conhecem a arte nobre da justiça.  

         - Vou dedicar o dia a pequenos afazeres caseiros. Desde logo um prato para arquivo e mais uns quantos frascos de compota dos meus dióspiros (a experiência auspiciosa da semana passada assim o exige). Vou também colher uma tonelada de romãs e tentar prepará-las para as congelar uma parte, e a outra oferecer. E, naturalmente, umas horas à leitura. 


sábado, outubro 12, 2024

Sábado, 12.

Nos nossos dias, de democracias farfalhudas, governar é fazer espectáculo do mais ridículo e inconsequente que já não espanta ninguém, mas reduz à sarjeta todos os valores que as sustentam ou deviam suportar. Assim, depois de soltarem os cordões à bolsa apenas por meras estratégias políticas e de ganância do poder, os governos, quando instalados, logo subtraem ao cidadão, com desplante e indiferença, as esperanças que com leviandade ousaram prometer. Veja-se o caso da França, pais rico e contestatário, entrou em austeridade absoluta, com redução de ajudas aos mais necessitados e toda uma panóplia de quebra no investimento que vai pôr o país por alguns anos de joelhos ante a divida monstruosa que contraiu. Assim também entre nós. Montenegro, governando com o programa do PS, aprendendo com Medina, dá de um lado e tira do outro. O OE2025, com tantas cedências e ajustes, saiu uma manta de retalhos que de tanto puxar, descobriu os pés. Valham-nos, mais uma vez, as esmolas que vieram do exterior no pacote PRR. Somos e seremos sempre um país de pedintes. Imploro aos jovens que emigrem – isto não é lugar seguro para quem aspire à dignidade e ao futuro. A merdouille nacional habitual como diz Eugénio Lisboa.  

         - Já agora, se me permitem, aquela do arruaceiro Sr. Ventura, inventando factos para o protagonismo que se lhe vai exaurindo, afirmando que Luís Montenegro lhe prometeu um lugar no governo se aprovasse o OE, julgo tratar-se de mais uma boutade indispensável à alegria da ribalta. Depois de tudo o que o primeiro-ministro recusou, não só ao longo da campanha eleitoral, como na Assembleia da República, os dados estão lançados e não me parece que seja jogo de quem diz que está no poder para reorganizar a nação e depois o deixa para sempre. Este desprendimento não bate com a colagem que o Chega apregoa. 

         - Outro dia, aquela senhorita do Prós e Prós, entrevistou Mário Cláudio. Que tristeza! Que sensaborão tempo perdido! Que falta de humor! Que inexistência de tudo, do mais elementar, ao mais profundo! 

         - Ontem fui convidado pelo João para festejar o seu aniversário no La Brasserie de L’Entrecôte, ao Chiado. Almoço divertido, cheio de apartes, sem política (ufa!), tendo em conta o humor discreto da Marília em contraste com o do marido, inexistente. Boa confecção do bife e acompanhamentos, num restaurante vazio (nós e uma mesa de quatro comensais). O João gastou uma pipa de massa e honrou-me com bons momentos na sua companhia e da mulher, perdão, da esposa. 


quinta-feira, outubro 10, 2024

Quinta, 10.

“Por entre silêncios trágicos e tantos silêncios cúmplices, devo confessar que me parece particularmente bizarro que também nós, no conforto dos nosso sofás, escolhamos virar-nos contra uma das poucas vozes que escolheu não ficar calada.” Quem assim fala ou antes escreve no Público de terça-feira, é Pedro Norton. Referia-se ele a António Guterres e com total propriedade tendo em vista o esforço que o secretário-geral das Nações Unidas tem feito para acudir a milhares de inocentes na “guerra da ressurreição” como lhe chamou o criminoso Netanyahu. 

         - Não quero pôr de lado os meus pequenos hábitos. Assim, esta manhã, pedi ao meu chauffeur privativo, Sr. Gaspar, que me viesse buscar para me levar e trazer à piscina. Não sei quando voltarei a ter carro e até lá quero manter intacto o meu quotidiano onde se inscreveu, por exemplo, uma ida aos CTT para levantar a carta de condução, três meses após a sua renovação pelo ACP. 

         - Quarta-feira, quando deixei o Gama Pinto, fui ao C.I. almoçar. Teria ido e teria almoçado? Não me parece, tal a explosão de emoções que vivi no rés-do-chão, no meio daquela desordem habitual, onde estive planando sem saber onde estava, habitado por uma espécie de alienação que me rolou pelo espaço fora, na quietude que se olha sem se ver, que se vive sem se viver, mas deixa na alma a plenitude de quem se deixou impregnar pela presença do oculto que nos ocultou...  

         - A América e o mundo ficaram suspensos da fúria do furacão Milton. Temia-se o pior, mas o tirano decidiu diminuir a sua cólera e chegou à Flórida bastante mais pacato. Mesmo assim provocou muitas mortes, não sei quantos milhões de lares estão sem electricidade, outros milhões fugiram nestes dias, casas foram arrancadas, e o final ainda está por contabilizar. O curioso é que um meteorologista norte-americano, Peter Dodge, falecido há poucos dias, pediu que as suas cinzas fossem libertadas no olho do furacão, quando o ciclone se movia por cima das águas do golfo do México na viagem para a Flórida. Belíssimo.    


quarta-feira, outubro 09, 2024

Quarta, 9.

Os guardas da prisão de Vale de Judeus, seguidos pelos camaradas no seu conjunto, fizeram de uma falta gravíssima que foi a fuga dos quatro presos perigosos, uma vitória. Um deles foi caçado em Marrocos e logo um coro de agentes, levantou a bandeira da vitória: “Conseguimos, conseguimos!” Sim, conseguiram, mas ao fim de duas semanas e ainda assim sem capturarem os restantes. Melhor fora que fizessem como lhes compete e para o qual são pagos o seu trabalho diário, sem esquemas nem corrupção. 

         - Ouvi atentamente a entrevista de Luís Montenegro à SIC. Foi brilhante de precisão, de competência e, sobretudo, sem uma falta a resvalar para a propaganda que o seu antecessor tanto nos brindou. Vasco Gonçalves está entalado, vai ter que se abster na aprovação do OE2025. 

         - Parece que devo ser operado brevemente à catarata que me vai incomodando. Ontem estive no Gama Pinto quinze minutos (!!!) a fazer uma dioptria e tenho agendados para a próxima semana mais uns quantos exames no hospital de S. Lazaro. SNS a funcionar como deve ser. Obrigado, senhora ministra da Saúde. 

         - Dormi toda a noite até às oito da manhã. Não ouvi o vendaval e chuva farta que me dizem ter causado o pandemónio por todo o lado. Com efeito, olhando as imagens do telejornal da RTP1, são assustadoras as ocorrências. Por aqui, até onde os meus olhos alcançam, tudo permanece quedo e apenas “o vento anda e ciranda em torno da velha casa, grande e bela, a qual fora feita para eu morar nela” (cito de memória).

         - Já aqui falei do programa que mantive durante cerca de quatro anos na Rádio Universidade. Pois, outro dia, dando arrumação à secção de poesia da minha biblioteca, deparei com este livro de Nelly Sachs que ganhara o Nobel em 1967. Com a minha equipa radiofónica rumei a Coimbra, à Cumeada, onde morava o ilustre tradutor e professor, Paulo Quintela. Dessa tarde inolvidável, guardo lembrança e esta nota da minha presença em sua casa. 

                                                        



segunda-feira, outubro 07, 2024

Segunda, 7.

No Médio Oriente o estado de alerta é total. Faz hoje um ano que Israel foi atacado por um grupo de apóstolos do HAMAS, numa acção terrorista sem precedentes, que desde logo os próprios israelitas se interrogaram como foi possível num país tido por ultra-seguro. O laxismo da defesa, deve-se em grande parte a Netanyahu, que por conveniências pessoais, deixou o HAMAS com rédea solta. Aos mil e tal mortos no terreno e aos cento e poucos reféns, seguiu-se uma guerra que até agora (os números são o que são), matou para cima de 41 mil palestinianos. O que revolta é a desproporção e ainda por cima sem obter resultados. Não se sabe se os reféns estão vivos ou mortos. O que é líquido é que Netanyahu não conseguiu até agora realizar a promessa de os trazer vivos ao convívio dos seus. E também que os Estados Unidos estão mais opulentos com a venda de armas, os ricos judeus americanos crescem de orgulho, enquanto um país agoniza na miséria e nas ruinas de uma guerra desigual.  

         - Até me custa falar dos momentos preexcelentes ontem diante da TV a ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven, dirigida por Andris Nelsons, transmitida de Viena pela ARTE. Eu tinha por referência a interpretação e direcção de orquestra do maestro Kurt Masur, mas agora vacilo porque Nelsons introduziu uma dimensão artística sublime, cheia de contrastes, de uma sensibilidade pura, servida por um coro que nem de pauta precisou, e me deixou colado ao ecrã, magnetizado.  

         - A Europa vai-se juntando ao Brasil, México, e outros países latino-americanos onde o crime ligado à droga tomou de assalto o poder. Neste pobre e triste país, há dias, num bairro que eu conheço bem, Penha de França, foram assassinadas três pessoas, aparentemente por desentendimento com o dono de uma barbearia. Os três suspeitos do crime, entraram no estabelecimento, pediram para cortar o cabelo, não gostaram da resposta do barbeiro e mataram o dono e duas pessoas que ali se encontravam e fugiram para parte incerta. A polícia anda no seu encalço e associa o crime à droga.         

         Em França idênticas situações, mas mais horripilantes. Na semana passada, morreram duas crianças de 12 e 15 anos, envolvidas em crimes de narcotraficantes, que tinham sido pagas para matar. Uma delas, actuou a mando do criminoso directamente da cadeia onde estava preso. Parece que os milhares de adolescentes que chegam de Marrocos e dos países africanos à Europa, são apanhados pelas redes destes mafiosos. Vivem na extrema miséria, aceitam 100 euros para liquidarem qualquer pessoa. 

         - Faz bem Luís Montenegro em não entrar no jogo do Vasco Gonçalves do PS no que concerne ao OE2025. É melhor irmos a votos que ficarmos reféns de um partido que nos arruinou e do qual, pessoalmente, estou farto. Tenho a certeza que o povo português não quererá para os próximos anos ser governado pela clique sinistra que se diz socialista. Preocuparam-se com “as contas certas” porque essa fama nunca desde o 25 de Abril fora crachá que pudessem exibir. E fizeram-no à força da paralisação da vida económica do país, dos aumentos de impostos às empresas, do não investimento, das esmolas em vez da construção sólida de padrões de dignidade humana e profissional, deixaram Portugal numa ruína social, cheio de precários, numa desordem onde só eram favorecidos os amigalhaços, aqueles que desciam à rua em protesto, os barões dos sindicatos, a indiferença às reais necessidades das pessoas que não contavam nada para estes socialistas de meia-tigela, alhearam-se do esforço dos jovens, deixaram que eles partissem para longe porque aqui passavam fome ou viviam à conta dos pais, pregaram com arrogância a sua ideologia fraca, coqueiral, populista, mas foi o seu imobilismo que nos suspendeu com dois milhões e meio de pobres que devia ser a sua maior vergonha enquanto socialistas e governantes de um pobre e abandonado país, remetido para os idos do desenvolvimento e da decência humana. 


domingo, outubro 06, 2024

Domingo, 6.

Dia tristonho, nem chuva nem sol. Ocupei-me às voltas na cozinha, na apanha de dióspiros e na confecção de compota à moda de uma vizinha a quem eu havia oferecido um mancheia deste fruto, muita leitura e um pouco de TV5 Monde. 

         - Anteontem fui na companhia do João conhecer o Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian ao jeito japonês. É um pouco inconcebível, espécie de acrescento contra-natura, mas toda a gente parece gostar daquele “modernismo” e não sou eu que os vou desiludir. Um dia deste digo porquê. 

         - Hoje queria voltar ao artigo de João Miguel Tavares e à defesa de António Guterres, eu que tanta vez o depreciei. Insurge-se o articulista contra estas palavras ditas na sede da ONU pelo secretário-geral: o HAMAS “não surgiu do vácuo” e o “povo palestiniano tem sido sujeito a uma ocupação sufocante há 56 anos”. O jornalista não gostou “do timing” e do contesto em que as palavras foram expostas. E para reforçar os seus argumentos, cita o facto de os trabalhadores humanitários em Gaza das Nações Unidas, estarem a ser vítimas de Israel; sendo que alguns desses voluntários, segundo o  agressor, pertenciam ao HAMAS. Sim, também li isso, mas penso que as coisas estão descontextualizadas tendo em conta a difícil tarefa para Guterres de controlo de situações como esta. Aliás, segundo li, mais de 300 humanitários enviados pela ONU, morreram nas brutais e desumanas investidas de Netanyahu sobre a Palestina. António Guterres tem sido um acérrimo defensor da justiça e da paz. Surpreende-me que Tavares nunca tenha pensado na carga de interesses que se escondem sob a capa de inúmeras tentativas de paz por parte daqueles que fornecem a guerra. Eu vejo na acção do nosso compatriota, uma espécie de recuperação da imagem molengona da sua direcção à frente das Nações Unidas. Ele foi corajoso, a ponto de o primeiro-ministro israelita ter sido arrogante e prepotente, ao afirmar que as Nações Unidas (ele queria dizer Guterres) eram antissemitas. Tudo o que foi dito pelo secretário-geral em voz alta, anda a ser balbuciada por muitos países sem coragem para erguer alto a verdade que todos conhecemos: durante quase um século, os palestinianos foram escravos de Israel, sem território independente, sujeitos à tirania e à constante guerra dos opressores. Quem não se lembra da “intifada” de 1987? Entretanto, pelos menos 41 mil infelizes palestinos, morreram sob os escombros de uma guerra bárbara que ninguém consegue parar. Mais: Netanyahu, faz o que quer e como quer. Invade um país soberano como o Líbano, bombardeia a Síria, Jordânia e a soma de mortos não pára de crescer. Pouco importa, como no caso da Palestina, que a maioria (ou perto) sejam adolescentes e crianças.  

         - Justamente, desta vez, Emmanuel Macron tombou, enfim, para o lado certo, ao afirmar que irá suspender o envio de armas para Israel e ter apelado no seu discurso nas Nações Unidas para que não haja guerra no Líbano. “Pedimos a Israel que cesse essa escalada no Líbano, e ao Hezbollah que cesse esses lançamentos de mísseis contra Israel. Pedimos a todos aqueles que fornecem [ao Hezbollah] os meios para fazê-lo que parem de fazê-lo.” Sábias palavras a que Netanyahu respondeu: “que vergonha”, acrescentando: “Israel ganhará a guerra com ou sem o seu apoio.”

         - Não compreendo, nem posso estar de acordo com a moda de calar o povo com subsídios e descontos nisto e naquilo. É o que tem feito, como António Costa que se excedeu e vive agora como um príncipe, Luís Montenegro. Um país governado com esmolas, é um país sem dignidade, sem independência, sem espírito crítico, humilhado e dependente dos jogos partidários, onde o nível de vida será sempre rasteiro. Em suma: não é um país, é uma coutada dos grandes senhores que nela recolhem o descontentamento e o ódio, a miséria e pelintrice em seu proveito próprio. Jogam com a ignorância, o pateta contentinho com pouco, adestrado para o infortúnio, e dois milhões e meio de pobres a apascentar. 


quinta-feira, outubro 03, 2024

Quinta, 3.

São patéticas aquelas sucessivas reuniões na sede das Nações Unidas, quando se sabe que quem comanda a organização são os Estados Unidos. Por isso, Netanyahu, de costas quentes, permite-se tudo até chamar a Guterres e ao organismo antissemita e, inclusive, nomeá-lo persona non grata. Os países ali representados, perante o espectáculo ridículo das sessões, deviam, pura e simplesmente, abandonar o hemiciclo. Eu, enquanto português, não me sinto ouvido, representado e defendido quando aquilo que opino não serve para coisa nenhuma. Apenas reuniões infindas de blá blá. É um facto como diz hoje no Público João Miguel Tavares e eu aqui disse já por diversas vezes e, nomeadamente, quando António Guterres tomou posse da primeira vez, que ele me parecia fraco no cargo, mas isso acho que foi reparado com a actual posição do secretário-geral da ONU. O que o articulista preferiria era ver Guterres politicamente correcto, eu escolho a actual política do dirigente das Nações Unidas. Outro que fosse, quem manda ali é Biden, os judeus ricos e os interesses evidentes de todos eles.  

         - Assim é que Israel já luta em várias frentes: Faixa de Gaza, Cisjordânia, Irão, Síria sem que a ONU consiga travar minimamente a loucura daquele que quer salvar a pele. No ataque o sul de Beirute, morreram uns quantos soldados israelitas e a destruição por todo o lado é assustadora. Quem vai levantar vidas, aldeias e cidades após a passagem do nazi sem a mínima compaixão? A propósito, a suplica daquele palestino, que clamava num pranto: “Não há força senão em Deus:” 

         - Nestes últimos tempos, os meios de transporte que utilizo são táxis e reboques. Ontem voltei à carga e fui buscar o carro para o trazer aqui para a quinta. Necessito de saber como se encontra depois do primeiro mecânico o dar por inútil. O John que me ajuda no assunto, vem cá esta manhã para com uma corda o levarmos para um técnico seu conhecido, praticamente meu vizinho, ucraniano, que há anos montou oficina aqui perto. Entretanto, o meu mecânico habitual, pessoa que julgo honesta, ofereceu-me um Renault com cento e poucos quilómetros em muito bom estado, de mudanças automáticas, por um preço correcto dando eu em troca o Skoda mais uns milhares. É nisto que estamos. Vamos ver quanto custa a reparação com motor de ocasião e logo encontrarei a saída. Entre parênteses, julgo que houve algum desleixo da parte dos dois seus empregados, dado que o pobre homem já pouco faz devido a problemas graves numa anca. Encontro-o sempre sentado à secretária, quando antes o vi-a debaixo das viaturas a trabalhar.  Exposto isto, não tenho nenhuma apetência nem vocação para esta momice de vida.  

         - Outro dia conversámos ao telefone, Annie e eu com o Robert à escuta. Disse-lhe que estava sem transporte e ela, aflita, logo providenciou o necessário não para a reparação, mas para compra de um pomposo automóvel. Disse-lhe que não aceitava. E ela: “Se o dinheiro não serve para acudir aos amigos, para que serve?” Não me convenceu. Conhecemo-nos há 400 anos, sei que é riquíssima, mas a riqueza nunca interferiu na nossa amizade. Nunca lhe aceitei um chavo e espero continuar. Todavia, quando da intervenção da troika, ela ouvia falar da pobreza em que nos encontrávamos, muitas vezes quis que eu lhe desse o meu iban para me pôr dinheiro na conta. Neguei. Disse-lhe já diversas vezes: “Annie, só recorrerei à tua generosidade quando estiver a passar fome.” Encolhe-se, triste. 


quarta-feira, outubro 02, 2024

Quarta, 2. 

Como se esperava, Israel ripostou aos ataques do Irão. É nisto que estamos, até vir o pior, isto é, a colossal guerra. 

         - Enquanto almoçava, ia assistindo ao espectáculo dos bombeiros a protestar em frente à Assembleia da República. Querem mais dinheiro, subsídios para isto e para aquilo, e dali dizem não sair enquanto o governo não atender às suas reivindicações. Foi a caixa de Pandora aberta por António Costa antes de se raspar para Bruxelas. Todo este barulho, começa com os dinheiros e subsídios que ele de mãos largas deu  a polícia da PJ. A partir dali todas as outras forças protestam por terem sido marginalizadas. E com razão. A herança socialista de Costa é terrível e Montenegro vai-se ver negro para a ultrapassar. 

         - Como se sabia, Alexei Navalny foi assassinado às ordens do ditador Putin. A confirmação chegou e com ela as provas científicas.

         - Esta sentença de Eugénio Lisboa é de 1995, mas o presente descobre-se nela como passado a papel químico: “Não tinha nascido para aquilo (presidente da Comissão Nacional da UNESCO), para aquele saracoteio vão e inestético, em que tanta mediocridade chafurda, numa ridícula ilusão de poder e imortalidade... Sentia, física e espiritualmente, repulsa por aquela pindérica pompa e circunstância, próprias de país minúsculo a pôr-se em bicos dos pés.” Não pense o leitor que estas palavras são minhas...  Juro que não são.  


terça-feira, outubro 01, 2024

Terça, 1 de Outubro.

Depois de louvar o excelente Crânio Encefálico que o TAC revelou, o médico   acrescentou no final: “Refere-se apenas discreto espessamento da mucosa de revestimento dos seios maxilares, sem secreções, em relação com a discreta sinusopatia inflamatória crónica. Ligeiro desvio do septo nasal de convexidade direita, com pequeno esporão ósseo. Sem outras alterações dignas de registo.“  Isto é o que vem assinalado na folha que encontrei há dias ao arrumar uns papéis; isto foi a causa – não tenho dúvidas – do sangramento diluviano na narina direita em Fevereiro deste ano. Se me tinha lembrado disto, não teria andado em romaria de exames, médicos, tempos de espera, gastos inúteis, cansaço e desgosto de haver confiado na ganância de alguns clínicos privados. 

         - A propósito. Ontem passei três horas no Gama Pinto. Meia hora de consulta, o resto em papelada, filas para tirar senhas, esperas. São os serviços que é necessário revolucionar, pois não é lógico que se convoquem multidões para a mesma hora, como é pura perda de tempo e gastos, andar de papelada em papelada, com o correspondente número de funcionários atrás. Como sempre, nada a dizer se não a agradecer ao dedicado corpo médico e enfermeiros. 

         - Mr. John tomou conta de mim no respeitante à complicação do carro. Assim, esta manhã, levou-me à oficina de um ucraniano para que ele fizesse uma peritagem ao que havia acontecido ao Skoda. Esta protecção é-me não só grata como indispensável, pois não sei como me mover neste mundo. Na minha vida nunca me ocupei destas coisas materiais e sempre tive alguém que as resolvesse: Impostos, relações com bancos, fisco, compra disto e daquilo nunca me ocuparam a mente porque pessoas zelosas o faziam por mim. Aqui chegados, tudo caiu sobre as minhas costas nada musculosas para o efeito e a reacção que tenho é tudo deixar nas mãos da Providência. E nas do técnico que irá fazer o diagnóstico. 

         - O impressionante na declaração de Biden de elogio à morte de Sayyed Hassan, é o facto de ele ainda há pouco tempo invocar Deus no seu próprio destino e debilidade. Para estes cristãos oportunistas, o mal que acontece aos outros é da vontade do Criador, mas os seus ódios e ganâncias de poder, indo ao ponto de achar que aquela morte foi justa, é a justiça divina a rubricar as suas decisões. Cambada de oportunistas e feirantes religiosos. Acusaram-no de terrorista, e Netanyahu o que é? 

         - Mais uma vez me interrogo que destino teve o jovem casal morador no pequeno hotel de rua, em pleno Chiado, asseado e com alguma dignidade que a sua presença conferia. Passei lá ontem, e vi-o no estado que a foto documenta.