sexta-feira, maio 30, 2025

Sexta, 30.

Respondendo ao apelo do João, fui à Brasileira esta manhã. Enquanto aguardava por ele, deixei o tempo correr na esplanada onde só eu e os empregados falavam português. No centro daquela babilónia, estava Pessoa na forma escultórica que Lagoa Henriques o imortalizou. Cirandava em meu redor, com a multidão de turistas, uma aragem quente que não feria, mas incomodava. Ali fiquei uma boa meia hora, perdido a observar sem ver, o pensamento vagabundeando por lugares e rostos, a memória arrastada para longe, sem sair daquele lugar que comecei a frequentar muito moço e cujas recordações conservo como tesouros não só de uma época como de um edifício que se mantém vertical ante a derrocada de tudo à minha volta. Naquele exercício, aconteceu uma espécie de esvaziamento mental, como quem se despe e expõe a pureza do corpo onde a inocência está intacta e não fere o olhar nem atrai a concupiscência do delírio. Estive parado numa bolha de tempo, desaparecido de mim, e todavia centrado no espaço de tempo que me conserva intacto, à flor do presente-passado, nessa garganta próxima do abismo que se esvai, carregando consigo memórias ancestrais, segredos e paixões que não ousamos contar ao tempo leviano infiltrado em nós, levando e trazendo, como coscuvilheira de vão de escada, os segredos que sobem do fundo do mistério de uma manhã que rasga em pedaços recordações vadias que emergem em cachão de nós. 

         - O Almirante disse ao que vem. Contudo, o seu projecto apresentado ontem solenemente na Gare Marítima de Alcântara, não passa de um programa de governo – sua excelência enganou-se.   


quinta-feira, maio 29, 2025

Quinta, 29.

A política entre nós não tem remédio. O candidato ao cargo do Vasco Gonçalves que agora pode gozar em tranquilidade as aventuras dos carros de alta cilindrada e das suas inúmeras casas até voltar a exercer no Parlamento por não ter onde ganhar a vidinha regalada, diz que quem ganhou as eleições foi o PS “porque teve mais votos do que o Chega”. Esta guerra está para durar, com Ventura a chamar a si a vitória e as cadeiras na Assembleia – tal como se passou com Passos Coelho que venceu as eleições, mas teve de ceder ao malabarismo de António Costa ao criar a desgraçada “geringonça”. De resto, é bom notar que a derrota humilhante dos socialistas não é só do nortenho, é também e acima de tudo do nosso estratego que soube dançar com a senhora von der Leyen e de Marcelo Rebelo de Sousa que andou com Costa (lá está) às costas. 

         - André Ventura virou delico-doce. Todo ele é brandura, elegância de maneiras e fala, promessas e venturas de sorrisos e palavras mansas. Foi assim que o vi no jornal da SIC outro dia. Não se lhe conhece um programa, um plano para o país, quadros, gente competente, mas já fala em formar um governo que ficará em banho-maria para o que der e vier. Em compensação, comungo com ele da reforma da Constituição se for uma vassourada nos restos do Prec que nela foram metidos à força. 

         - Espero que Luís Montenegro mantenha o executivo que formou quando tomou o poder. Porque a equipa é competente e trabalhadora e vai ter que reformar muita coisa que António Costa deixou derrapar. A começar pela Saúde. Então não é que soubemos agora que um só dermatologista do Hospital de Santa Maria, ganhou em dez sábados a módica soma de 400 mil euros! Este escândalo, ao que parece, advém do descontrolo e falta de vigilância às cirurgias no SNS feitas fora do horário regular de trabalho. É por estas e muitíssimas outras que o dinheiro para a saúde nunca chega. Os médicos hoje, não têm o brio de então, na privada como na pública, o que conta não é a dor do doente, a deontologia de uma missão nobre, mas o lucro. E lembrar-me eu daquele cardiologista, em Setúbal, espécie de slot machine, que pus em sentido deixando-o a falar sozinho e dizendo-lhe que eu sabia mais do meu corpo que ele com tantos anos de serviço a petiscar patacos ao centímetro quadro na pele dos seus pacientes. Volveu-me um olhar de morte. 

         - Fui à piscina. Tempo muito quente. Um silêncio pesado trazido pelas temperaturas. Está tudo parado lá fora. Não se ouve um pássaro e o ruído do silêncio infiltra-se nos espaços do tempo, eclipsando-o. 


terça-feira, maio 27, 2025

Terça, 27.

José Luís Carneiro decidiu avançar sozinho para a presidência do PS. O seu gesto, deu para perceber como o partido está dividido, formando-se agora três facções distintas: a de António Costa que cantou loas com a saída de Vasco Gonçalves, a deste, a do próximo secretário-geral. O mulherio socialista tem muita força no seio daquela correnteza de homens gastos e embrulhados numa vida contraditória àquilo que apregoam e desejam para o comum dos mortais. De todos, Luís Carneiro parece-me o mais sensato, o que se distingue pela clareza das ideias e actos políticos. A ver vamos se os outros o deixarão governar. Isto porque em Portugal, fazer política não é pensar na nação, nos portugueses, no futuro do país, é abrir em continuo um campo de batalha entre uma espécie de gangsters eternamente ambiciosos. 

         - O socrático senhor Augusto Santos Silva, que de manobras é mestre, no artigo hoje publicado no Público (que diz ter hesitado em aceitar o convite...), remexe e remexe nos mesmos esquemas mentais que povoam os socialistas saudosos da governação de José Sócrates, perdão, do engenheiro socialista. Há, todavia, um fundo moral que perpassa naquilo que escreveu, mas que a mim não me convence. O seu juízo pressupõe um agigantar-se de disposição para voos mais altos, quiçá uma candidatura a Belém. De uma maneira geral, o pensar socialista é o mesmo, porque o inimigo é a extrema-direita e ele e os camaradas não conseguem compreender como foi possível estarem hoje na terceira posição do espectro político – eles que governaram o país praticamente desde o 25 de Abril e pelos vistos o país permanece o que sempre foi. 

         - Já não vendo este domínio. Agora que um homem andou aí o dia inteiro a alindar em torno da casa e já posso observar a beleza de um recinto limpo e arejado, abandono o aceno de uns milhões que em verdade não servem para coisa nenhuma. 

         - “Qual é que é...” dizem os senhores doutores, os deputados, os locutores, os apresentadores de rádio e TV, os jornalistas, os jogadores de futebol, os médicos, os meteorologistas, os advogados, os jovens das escolas e decerto também os professores... É “Impactante” mas é assim que o português rasteja neste pobre país. 


segunda-feira, maio 26, 2025

Segunda, 26.

Outro dia fui convidado a entrar num programa apoiado pela Fnac de incentivo à leitura por parte dos jovens. Ao que percebi, nele irão participar uma série de nomes ligados à Cultura, com a actriz Inês Herédia como pivot. Justamente, foi ela que nos entrevistou, ao João Corregedor e a mim. A discussão logo se instalou entre nós, comigo nos antípodas do que ele entendia ser Cultura - uma estaca seca pregada ao chão das orientações políticas que ele professa e dali não arreda pé. Alves Redol, Aquilino, Manuel da Fonseca, Soeiro Pereira Gomes enfim todo o Neo-Realismo patente no museu de Via Franca de Xira; enquanto para mim a Cultura não se deixa amarrara às ideologias, às catedrais do pensamento único, ao torpor do conhecimento. Inês tenta obter de mim o livro que mais me influenciou, respondo que não sou capaz de o citar porque, precisamente, a cultura desbrava diariamente novos caminhos: filosóficos, históricos, científicos, sociais, políticos. Todavia, se João cita nomes, eu também os posso citar: desde logo me ocorreu Odisseia, o nascimento da filosofia com os gregos, os textos filosóficos de Cícero, Santo Agostinho e o seu De Civitate Dei, Dostoevsky, os escritores americanos de New Generation, Jeanne Hersch, Pierre Hadot, Cioran, Julien Green (que ela não conhecia), Yourcenar, Virginia Woof, Junger e tantos outros onde abarco Eça, Aquilino, Teixeira de Pascoais, Fernando Pessoa e mais recentemente Lídia Jorge, Francisco José Viegas, Hugo Mãe... Contudo, apesar da sua simpatia, do facto de o cameraman e a anotadora terem vindo falar comigo para que aceitasse ser filmado, recusei e recusei. Então a simpática e bela Inês Herédia disse que não podia dispensar o registo de tudo o que eu havia exposto, e em sintonia com a equipa combinou-se ficar o diálogo que travámos sem a minha imagem. Ufa! 

         - Ante a investida de Moscovo sobre a Ucrânia a noite passada, Donald Trump diz que Putin está louco. Terá razão. Na verdade o mundo está a ser governado por uma plêiade de loucos a começar no Presidente dos Estados Unidos da América. 

         - Os chamados gigantes empresariais, estão a tombar como tordos. É a grande crise financeira que se adivinha e de que Bruxelas diz estar Portugal a tremer com a despesa a saltar dos carris ou, utilizando a linguagem hermética dos entendidos ,“o  maior desvio relativamente ao compromisso assumido para a variação da despesa primária líquida”. Mas para que vêm estes mangas-de-alpaca chatear o português pacato, amante do futebol, da "famila", pobrezinho e divertido, indiferente a tudo o que se passa fora das suas fronteiras, contentinho por ter o Sol por alento e o delírio por incentivo. Afinal do que falam os portugueses de Norte a Sul, o que realiza verdadeiramente as suas vidinhas? Do final da taça de futebol entre o Sporting e o Benfica e da narrativa do jogo consoante os pontos de vista de um e outro lado do campo. E viva a festa! Somos patetinhos e sabichões do que se passa com os jogadores, servimo-nos de um português de caserna, e não sabemos para quer servem outros tipos de conhecimento e linguagem. E quer a bela e simpática Herédia, enfiar um livro pela goela abaixo de um povo assim bacoco. 


domingo, maio 25, 2025

Domingo, 25.

As coisas estão pretas para o lado da viúva do BE. Como o “nosso povo” chutou com a equipa do Parlamento ficando apenas ela e a camarada dos cãezinhos e gatinhos, vai haver uma redução significativa dos nossos impostos para manter o grupo esquerdista. Ela, que apareceu no dia das eleições com o keffiyeh palestiniano enrolado ao pescoço, quer agora agarrar-se ao cargo pese embora alguns dirigentes do partido a aconselharem a deixar o tacho. O capital que ela tanto detesta, mas pelo qual luta com unhas e dentes, sempre orientou aquele minúsculo partido, com audiências nas televisões de grande partido. Prefiro a política do PCP que paga (ou pagava há dois anos) 700 euros aos seus funcionários e os deputados têm de entregar ao partido uma percentagem do salário. 

         - As atrocidades prosseguem na Faixa de Gaza. Ontem nove filhos dos dez de um casal de médicos, ficaram debaixo dos escombros. A mãe estava de serviço no Hospital Nasser quando os corpos dos filhos lhe foram entregues. Horror! Horror! 

         - As minhas démarches para pôr este espaço digno, vão ter início terça-feira. Eu não vou poder fazer o trabalho porque tenho tido dores intensas na região lombar. Comecei hoje as regas. 


sábado, maio 24, 2025

Sábado, 24. 

As palavras de ordem dos partidos de esquerda, são as mesmas que ouvíamos no tempo da outra senhora. É impressionante como esta gente não consegue compreender os tempos modernos, como insiste em valores que não se ajustam com as pessoas de hoje, pobres ou ricos, como se o passado persistisse em se impor ao presente, mas sem ninguém dentro. Eles ainda não perceberam que o que perderam não recuperarão nos anos mais próximos e que a filiação cega, embora funcione em países pobres e dependentes do Estado, é oscilante, roliça, e leva no arrastão as causas do momento e não os valores morais e sociais. “A luta continua”, mas só nas mentes empedernidas, grudadas nas filosofias edificantes de um certo período da História, hoje completamente ultrapassadas, paradas lá para trás quando as circunstâncias políticas pediam o esforço e empenho na moralização do edifício social de si muito básico e apropriado ao feudalismo que tinha na escravidão os seus alicerces. 

         - Fui almoçar a casa da Alice em Caldas da Rainha. A viagem, por si só, é um encanto e o jardim que ela sozinha construiu, uma beleza que embeleza não só a paisagem como o coração de quem pousa o olhar pelo vasto parque de quatro hectares. Sem esquecer a nossa tradicional ida ao mercado, na Praça da Liberdade, com a sua magia e seu encanto, nas pessoas e no falar, nos produtos e nos sabores. Depois do almoço simples e saboroso, a Alice quis mostrar-me os cantos e recantos do seu domínio, onde continuam a faltar bancos corridos para nos sentarmos a colher os odores embriagantes que pairam à nossa volta ou a ler pelo adiantado das horas. Ouvi-la falar dos reizinhos que pululavam na Assembleia da República do seu tempo, é confirmar aquilo que eu sempre aqui denunciei e nunca acreditei fosse possível ser diferente num Portugal tacanho e convencido onde quem tem olho é rei. As mordomias à conta do erário público de certos ministros (no caso dois socialistas), também foram narrados ao pormenor. 

         - Encontrei ao abandono na estação de camionagem, dois africanos. Um de São Tomé, outro de Angola. Sem bagagem, perdidos, procuravam trabalho. A dada altura diz o primeiro para o segundo: “Vai para Lisboa porque lá ganhas a apanhar fruta.” Achei a ideia bizarra, mas limitei-me a perguntar ao angolano se queria mesmo rumar à capital e, se sim, eu lhe pagaria a viagem. Hesitou. Nesse momento o santomense, diz-lhe (eles não se conheciam) que fosse com ele para Bombarral. Entretanto chegou o meu autocarro e deixei para trás os dois infelizes a decidir das suas vidas. Mas senti o coração apertado por ver dois rapazes que nem vinte anos teriam, abandonados à sua sorte - dois entre milhares que ninguém vê na vasta paisagem de nómadas que cobre Portugal de Norte a Sul. Mais uma obra de António Costa repimpado em Bruxelas, longe das feridas que deixou para os seus sucessores curarem. É por esta e por muitas outras, que desejo um longo período de abstinência governativa aos socialistas. Vade retro satana. 

         - Esta gente se não existisse não fazia cá falta nenhuma. Aquele que vendeu a imagem, durante anos aos domingos na SIC, e se candidata a Presidente da República, disse de Gouveia e Melo que com ele se atira a Belém, que o militar não tem experiência política nenhuma. Todavia, Ventura que pouca ou nula tem também, a figura comentarista não se coíbe de aconselhar acordos com o Chega, dirigido por um homem que de governação nada percebe e pouco exerceu. Não votarei nem num nem outro. Mas a honestidade manda que não ludibriem os incautos. 


quarta-feira, maio 21, 2025

Quarta, 21.

As vozes são mais que muitas a condenar a chacina que Benjamin Netanyahu e seus extremistas judaicos, levam a cabo na Faixa de Gaza. Foi agora a vez do ex-primeiro-ministro Ehud Olmert se juntar ao coro afirmando que esta “guerra sem propósito, uma guerra sem qualquer hipótese de alcançar algo que possa salvar a vida dos reféns” e vai mais longe dizendo o que  acontece “em Gaza está muito perto de ser um crime de guerra”.

         - Enquanto isto, por cá, o coro anedótico dos partidos prossegue. Esta gente vive fora da realidade, fechada na sua concha de privilégios, atirando flechas uns aos outros, como se Portugal pudesse escapar à depressão de toda a ordem que se aproxima da Europa. Para esta gente fantasiosa, as doutrinas passadiças da História, não conflituam com as suas filosofias presentes, assentes em pequenos episódios de lana-caprina, em raivas pessoais, em delírios de poder. Não se vislumbra uma ideia, um projecto, uma união que tenha em conta o trabalho imenso que há a fazer, não só para reconstruir o que António Costa destruiu, como para enfrentar os novos ventos ciclónicos que ia vêm. 

         - Sempre fui atingido pela Primavera. Talvez desde a infância que ela me arrasta num raspão de intensidade tal que me paralisa, atormenta, desmembra a pacatez indispensável ao meu existir, à minha mente sobressaltada, à confiança em mim. É como um tornado que entra em mim adentro, me aprisiona numa lassidão terrível que faz parar o cérebro, bule com o sono, constrói a dúvida e instala a morte. Fico à mercê do vazio de um grande e assustador despovoamento.   

         - Johnson, amável, apareceu aí para me dar instruções de compra da lona para o toldo que adquiri em Badajoz. Depois ficámos à conversa lá fora no lounge ainda sem dignidade. As histórias sucediam-se, umas vezes no seu português difícil de entender, outras no meu inglês de meia-tigela. De um lado e outro, grande reinação. A dada altura, disse-lhe que tudo tenho feito para esquecer o que aprendi em Londres; ele pergunta-me se era por causa de Trump. Respondei, também. 


terça-feira, maio 20, 2025

Terça, 20.

O país político habituou-se ao rame-rame e nem a voz autorizada da maioria dos portugueses consegue abanar as hostes dos que afirmam “a luta continua”. Ei-los já a retornar às estratégias, aos slogans, ao enxotar de culpas, comidos pelas ideologias que não os largam desde que beberam alegremente nas teorias marxistas-leninistas e de outros comparsas cuja filosofia mereceu interesse no séc. XIX e hoje mercê do progresso social, económico e da abolição de classes, não fazem qualquer sentido. De certo modo, nunca fizeram, a não ser quando impostas sob a pata das ditaduras que as sustêm. Andre Gide (já aqui disse uma vez), quando após a II Grande Guerra foi convidado para ir conhecer a URSS, no retorno não se coibiu de resumir: “O comunismo é igual ao fascismo”.  

         - Às vezes dou comigo a pensar que Portugal não poderá conservar a democracia por muito tempo. Primeiro, porque os partidos não a aceitam como valor fundamental da unidade nacional; segundo, porque o povo só a conhece enquanto instrumento ou mais-valia do seu quotidiano. Uns e outros estão profundamente enganados. O primeiro porque colhe dela a ambição, o poder absoluto e a força hegemónica das suas teses; o segundo porque é básico em quase tudo e só toma da realidade o imediato, as promessas, as satisfações do dia-a-dia. A liberdade como pilar superior que impera sobre uns e outros, parece não ter importância nenhuma. É a prática, a contestação que no-lo diz. De contrário, como explicar que largas manchas do Alentejo, tradicionalmente comunista, tivessem abandonado a doutrina de Cunhal e abrasassem agora a de André Ventura que nem doutrina tem, mas tem a força bruta da palavra que revira o olhar e transtorna  a cabeça daqueles que vivem sem rumo nem visão do futuro. O Portugal que somos, dizem os entendidos, mudou muito. Talvez nalguns aspectos, mas no essencial, contentes como vejo os políticos por não haver analfabetismo - a sua base cultural é diminuta e os conhecimentos políticos são quase nulos. O português médio, vive entre duas realidades que aparentemente o satisfaz e realiza: o futebol e Fátima. Não é por acaso que Ventura, recuperado da doença que ainda não sabemos que nome tem, assim que se apresentou a alardear vitória, disse que tinha acabado de chegar da missa. São estes truques que embalam o povo devoto, a família egoísta e a ordem social tapada com um grande chapéu de hipocrisia e cinismo. 

         - O grande Ministro da Cultura do senhor António Costa, num artigo ontem no Público com este título: “Estavam à espera do quê?” Gostam deste português? Eu peva. 

         - Quando prenderão Netanyahu e a sua clique de criminosos? Os ataques aumentaram em Gaza nestes últimos dias. Mais de 700 palestinianos mortos e mil feridos. A ONU lançou um apelo desesperado para que abastecimentos de toda a ordem possam entrar na Faixa de Gaza. Há crianças e idosos a morrer de fome, de doenças, abandonadas entre os edifícios em ruínas. Com o alvo voltado para a Ucrânia, a UE pouca atenção tem dado ao que se passa em Gaza. O grande ganhador é o HAMAS que apesar de tantos mísseis despejados sobre o território, consegue deter ainda um considerável número de reféns israelitas. 

         - Fui nadar. Como a sorte estava do meu lado, pude ter uma faixa só para mim. Depois do almoço, sob calor já tórrido, continuei a rapar a erva em torno da piscina. Muita dor de costas. Aquilo que fui no passado e até há meia dúzia de meses, recusa-se a manter-se no presente. 


segunda-feira, maio 19, 2025

Segunda, 19.

De uma maneira geral estou de acordo com os meus compatriotas e só lamento a subida do Chega que não apresentou qualquer programa, serviu-se da doença súbita do seu génio, e não tem nenhuma ideia consistente para governar o país. O seu líder é um bluff e um arruaceiro que usa meios poucos dignos em política como na vida tout court. Dito isto, há que louvar o desaparecimento de Pedro Nuno Santos, enfim, aqui nomeado. O homem é medíocre, violento, sem experiência de vida, vingativo. Basta ouvir o que ele disse no acto da derrota, vinculando o seu sucessor a não aceitar nada que venha de Luís Montenegro. Também apreciei a derrota de toda a esquerda que vive ainda no tempo da outra senhora e não percebe absolutamente nada do “nosso povo”. Acima de grupos e grupelhos, fiquei feliz pela infelicidade da viúva do BE, vai ficar a falar sozinha na Assembleia da República ou a segredar à solitária comadre dos cãezinhos e gatinhos. Quanto ao mais, estarei atento à governação de Luís Montenegro e da sua equipa. O essencial foi alcançado, resta a política que se segue. Na ponta final no lugar vergonhoso, equiparado ao Chega, em que o secretário-geral do PS deixou o partido, acresce o exemplo do corrupto (o último) Eduardo Vítor Rodrigues, autarca de Gaia. O Partido Socialista desaparece em beleza graças ao actual dirigente e a António Costa que deixou o país num pântano. Este  serviu-se do país para alcançar um lugar que nem sequer é eleito pelos europeus; aquele serviu-se do partido como sobrevivência pessoal dramática. Reconhecer isto por parte dos socialistas é impossível, porque os partidos não têm gente, têm carneiros. Da tristeza da abstenção ninguém fala, e no entanto isso é bem mais trágico que a dança dos lugares. 


domingo, maio 18, 2025

Domingo, 18.

Escrevo estas linhas na Fnac do Chiado depois de ter ido votar. Acordei com tonturas mas depois de um bife parece que tudo se normalizou. Não percebi nada do boletim de voto, uma confusão que penso prejudicará a AD de Luís Montenegro. Mas estou com Victor Hugo julgo em Choses Vues depois de votar, anotou: 

Je ne voterai pas du tout

Car l´envie a semé d´embûches

Pour le génie et pour le goût

Cette urne d´où sortent des cruches.

          - Já em casa. Talvez por ser domingo, o machimbombo vinha apinhado de negros. A África estava inteira nas suas diversas etnias e ex-colónias portuguesas. Uma negra entrou com as mamas claramente à descoberta saltitantes, tesas, frescas. Por todo o lado, um fedor a bufas pretas. Horror! 


sábado, maio 17, 2025

Sábado, 17.

Dia magnifico o de ontem. Largámos daqui às oito da manhã no meu carro. Não imaginava que os meus camaradas fossem tão divertidos e tão atentos à minha pessoa, disponíveis para pesquisar aqui e acolá o que me fazia falta e me levara a Badajoz. Alguma grande empresa encerrada de vez como, por exemplo, a do Corte Inglês Hipercor e outras famosas lojas. Todavia, o que notei foi um crescendo de restaurantes, e o que se mantém, a gritaria como se os espanhóis fossem todos surdos. Calor bastante, e aquela ausência, paralisia de morte, entre as duas e cinco da tarde para a sesta. Ruas desertas, taipais descidos, toldos nas janelas e varandas baixados, um silêncio estranho embrulhando a cidade num susto suspendo de um ritmo esquecido. Aproveitámos esse espaço de tempo, para um almoço no meu restaurante costumeiro, sob as arcadas da Plaza de los Alfereces, ali onde o mundo parou e só as vozes cruzadas de afectos e acontecimentos lançam o derradeiro grito abafado pela tarde caliente. Descansámos da longa jornada a cruzar ruas, praças e avenidas, de um lado para o outro, em buscas dos skimers, do toldo, dos produtos para a piscina. Nem tudo consegui encontrar, mas o dia saldava-se com o brilho de um trio tão diferente entre si e tão próximo e fraterno que dir-se-ia terem-se conhecido nos bancos da escola primária. Para lá conduzi eu, para cá o Johnson com as suas histórias dos “iluminates”, intercaladas com as da Bíblia a paixão do Nilton. 

         - O homem das vacinas, revelou, enfim, o segredo mais conhecido e badalado: vai candidatar-se à Presidência da República. Não terá o meu voto, mas estou certo que ganhará porque o povo está farto da lengalenga dos políticos. 

         - Não acompanhei a campanha (por protecção da minha sanidade mental) às legislativas salvo o debate entre os líderes do PSD e PS. Grosso modo, deviam todos esconder a cara pela vergonha que nos fizeram passar durante este último mês. Continuamos a ser o Portugal dos pequeninos que Salazar se impôs erguer e perdurar. Somos, de facto, muito incultos, pacóvios, provincianos. Somos e iremos continuar a ser, porque não se vislumbram no horizonte homens e mulheres capazes de levantar este pobre e triste país esquecido no extremo da Europa. Ainda agora, é futebol que absorve esta patetice geral, babada por este ou aquele pateta-herói em cuecas, pernas depiladas, a correr atrás de uma bola. 

         - Ontem, quando chegámos pelas oito da noite, o Nilton voltou a fazer um exame aos skimers e concluiu que talvez os possa recuperar. Sendo brasileiro, redimiu-me da minha desconfiança de um povo ligeiro, amante do samba e do futebol – ele é o único brasileiro que vejo a utilizar a cabeça com total capacidade e inteligência. 

         - Justamente, porque ele me aconselhou, comecei esta tarde a preparar o espaço envolvente à piscina roçando o mato com dois metros de altura. Calor insuportável de súbito. Saímos directamente do Inverno longo, para o Verão cortante. 


quinta-feira, maio 15, 2025

Quinta, 15.

Ontem passei na Brasileira e abanquei com dois dos tertulianos na esplanada. Falatou-se um bom bocado e de seguida, tendo ali ido com intenção de comprar os novos óculos, entrei numa grande loja da especialidade que faz gaveto com a Rua Ivens. Depois das análises, estudada a nova receita médica, vamos ao preço. Grosso modo, 900 euros! Espanto meu, resposta da funcionária: “Tem algum seguro? - O do ACP e chega-me. Então tem um desconto de 50 por cento!” Reviro os olhos, aguço os ouvidos e peço-lhe que repita: “Esse cartão tem 50 por cento de desconto!” Isto é Portugal no seu melhor e no seu imprevisto. 

         - A campanha, felizmente, está no fim. Basta de tanto barulho, de tanta aridez, de tantas falsas promessas, de tanta poluição. Ao Ventura deu-lhe o badagaio e por duas vezes. A primeira numa arruada quando discursava para os fiéis no Algarve, a segunda à saída do hospital onde havia passado a noite em exames. Marcelo disse-lhe que tomasse juízo e recuperasse antes de embarcar naquele trabalho duro que pode não matar, mas deixa as criaturas num lodo de fadiga. O Chega estremeceu. Se alguma coisa mais grave acontece ao seu presidente, sendo a única pessoa e formando em si todo o staff, lá se vai a vaidade e a oportunidade de chegarem perto do tacho. 

         - Eu imagino a corrupção que vai no Governo de Trump. Aquilo é só negociatas, enriquecimento fácil e rápido, ao ponto de lhe terem oferecido um jacto que dizem ser no interior a cópia da Riviera Francesa que Trump quer construir em Gaza. Como se esperava, Putin roeu a corda e mandou os lacaios falar com Zelensky. Nessas condições, Trump também não apareceu na Turquia onde o encontro estava agendado. Neste entretanto, vários bombardeamentos sobre a Ucrânia. E em Gaza que Trump não quer visitar e onde mais um hospital foi destruído e não sei quantos mais palestinianos mortos. 

         - Gostava de falar dos carros topo de gama da colecção do socialista que lidera o PS e das inúmeras casas que comprou e vendeu, do seu património que só saiu do meio do avô sapateiro, quando entrou para o partido, se fez seu funcionário, ministro e mais não sei o quê. Queria, mas hoje estou sem tempo. 

         - Fui de manhã à piscina, de tarde atirei-me de roçadora em punho à limpeza deste lugar porque amanhã vou com o Johnson e o Nilton a Badajoz. 

         - Ontem, pelas oito e meia, tomei o fertagus. Nos lugares reservados aos coxinhos, coitadinhos, encontrei um velhote com duas muletas, cabelo de neve, a dormir de cabeça  encostada ao vidro da janela. Sentei-me a seu lado. De quando em quando, tossia. Eu, por precaução, coloquei a máscara. Duas vezes o vi levar à boca um rebuçado de mentol. Bom. No fim da tarde, entrei no comboio em Roma (início) e lá estava o mesmo velhote, na mesma carruagem, a cabeça decaída para o vidro que fazia canto. Conclusão: o pobre homem, fez do vagão o seu quatro e do banco a sua cama. É este o Portugal que o conforto de vida dos políticos ignoram, entretidos nas suas fantasias tão distantes da realidade que no fundo não lhes interessa para nada.  


terça-feira, maio 13, 2025

Terça, 13.

Os negócios levaram Trump para um périplo ao Médio Oriente. Adiantando-se e de certo modo fazendo pressão, a UE tomou a si uma acção bem consertada para pressionar Putin a enfrentar olhos nos olhos Zelensky na Turquia. Até este momento não se sabe se o ditador aceita o desafio de tréguas na guerra contra a Ucrânia por um mês. O czar é cheio de truques, de sensibilidades matreiras, concentradas numa violência sem armistícios fora e dentro da Rússia.  

         - Fui à piscina. As tentações surgem de todos os cantos na forma impressionante daquelas e daqueles que não se aceitam como são e Deus os fez. São quase sempre jovens que têm na moda de ocasião a recusa intrínseca à ordem natural da vida. Aos meus olhos, desclassificam-se e tornam-se figuras descaracterizadas que fazem dó. São seres infelizes construídos sobre os esqueletos destruídos. Felizmente que hoje mercê da disciplina interior, é-me possível passar ao lado sem ser afectado. 

         - Soube ontem no Gama Pinto pela minha oftalmologista que tinha contraído um fungo nas pestanas. Daí as minhas queixas e sucessiva comichão pela manhã nos olhos. Logo ela foi ao gabinete ao lado e trouxe uma pomada para aplicar de manhã e à noite. Custo da consulta para novos óculos e do  remédio: zero. Bendito Serviço Nacional de Saúde! Que a ganância de médicos e enfermeiros, o oportunismo dos políticos que nos couberam na Farinha Amparo, não venham a destruí-lo. No tempo de António Costa, cheguei a pensar que ia acabar e até pedi ao seu obreiro, o socialista António Arnaut que velasse por ele lá onde repousa em paz. Um grande socialista por quem tinha uma profunda estima.    

         - Terminei o livro de Jean d´Ormesson Un jour je m´en irai sans en avoir tout dit. Uma luta constante entre a minha combatividade e os olhos que recusam o trabalho intenso da escrita e da leitura. 


segunda-feira, maio 12, 2025

Segunda, 12.

Não sei o que dá ao Black. Está tranquilo a dormitar no sofá do salão, mas assim que ouve a voz trinada da senhorita dos cãezinhos e gatinhos, desata a miar de uma forma especial e só se cala quando lhe abro a porta da saída. Explico-lhe, cheio de paciência, que aquela senhora é a sua presidente, que quer o seu bem, se bate na Assembleia pelos seus direitos, mas o gato, em vez de me escutar, corre desalvorado de ao pé de mim. 

         - Dia empolgante. Andei a saltar de táxi em táxi, de Entrecampos para o Gama Pinto, daqui para o Chiado, depois para a CGD e desta de novo para o hospital e dali para o Corte Inglês e deste para Roma onde embarquei, enfim, de regresso a casa. Todo este desassossego, porque nada estava marcado tendo eu confiado na sorte que em todos os sítios me favoreceu. O muito que tinha para resolver ficou resolvido. Ufa! 

         - Passei de rompante na Brasileira onde encontrei o João Corregedor e o Carmo na esplanada. Breve cumprimento e resistência em ali ficar a dar à língua numa inutilidade que me entristece. No intervalo, preferi descer à Fnac e aí trabalhar no romance. Em boa hora o fiz porque Ana Boavida não faltou à chamada. Bons e ternos momentos. Se é possível reter o milímetro do segundo alveolado de felicidade, é aquele em que olvido tudo e me entrego inteiro à magia da escrita. 

         - Não sei se a retirada do anúncio dos odores dos canais televisivos foi obra de algum leitor dos quase 65 mil que acompanham este trabalho; o que sei é que tal porcaria desapareceu dos ecrãs. A escrita crítica é sempre um valor incalculável na consciência colectiva. 


domingo, maio 11, 2025

Domingo, 11.

Habemus Papam. O anúncio chegou ao quarto escrutínio do Conclave, quinta-feira ao fim do dia. Os cardeais com assento na Capela Sistina, ao todo 133, elegeram o norte-americano Robert Francis Prevost, que tomou o nome de Leão 14. O mundo católico exultou e todos esperam dele o ciclo iniciado pelo seu predecessor, santo Papa Francisco. Não tenho opinião formada, mas se me apoiar no nome por ele escolhido, Leão XIV, bem como no primeiro discurso feito da janela do Vaticano, onde a palavra paz foi evocada várias vezes, assim como as décadas de trabalho pastoral no Peru, reconforto-me antecipadamente por um novo movimento de aproximação aos valores humanitários levados a cabo por Leão XIII nos princípios da Revolução Industrial. Por outro lado, ele pertence à Ordem Agostiniana, formada no séc. III, pelo Papa Inocêncio IV, o que nos dá indícios de ser um sacerdote decidido e combatente.   

          - Céus! Mas que será esta nomeação que se crê ser obra do Espírito Santo, comparada com a pequenez da política partidária que nos apoquenta e decepciona e arrebanha a ignorância e a pequenez do “nosso povo”. É um verdadeiro susto, um terror o que nos espera. Eu fui marcado pela acção socialista de António Costa e não quero de-ma-mei-ra-ne-nhu-ma viver outro inferno social e político, institucional e quotidiano uma segunda vez. O período que é suposto ser o que nos informa e esclarece sobre todos os pontos essenciais do nosso futuro próximo, com divulgação dos respectivos programas políticos, está transformado numa feira, num carnaval de ataques pessoais, de coisa e coisinhas de ralé, pequenos montinhos de dejectos, que cheiram que tresandam, e são um ataque feroz à democracia e à nossa saúde mental. 

         - Um exemplo que cito com tristeza. Um tal Pedro Adão e Silva, que foi ministro da Cultura, muito fracote por sinal, diz no Público de sexta-feira isto: “A forma ligeira como se descarta a questão Spinumviva é um sintoma do abismo moral que rege as democracias hoje.” Até pode ser. Mas não é diferente do que se passou com o Sr. Vítor Escária que foi ao ponto de esconder milhares em vários pontos do seu gabinete, em S. Bento, ele e tantos outros socialistas, ou de José Sócrates que telefonava ao seu amigo industrial de Leiria sob estas palavras: “Olha (aqui fazer a voz fanhosa do sujeito), não te esqueças de me mandar aquilo que tu sabes que gosto tanto.” “Aquilo” eram os milhões que lhe permitiram viver à grande e à francesa em Paris aprendendo francês e a tocar piano. 

         - O fertagus é uma escola onde se aprende a evolução da juventude dos nossos dias. Outro dia, no percurso entre Pragal e Fogueteiro, três jovens, pelo que percebi universitários, do princípio ao fim da viagem, era tanta a “merda” (cada duas palavras lá vinha o mau cheiro), e outras iguarias do mesmo género que, de cada vez que um dizia a dita cuja, um dos dois repetia: “eu caguei-me”. A conversa misturava temas da aula, da professora e assim. Quando eles deixaram o comboio e passaram por mim, disse alto e bom som: “Já podemos respirar, os maus odores daqui para fora.” Olharam-me espantados e saíram. 


quinta-feira, maio 08, 2025

Quinta, 8.

Ontem ao chegar à Brasileira, ouço da parte das meninas que nos servem, a surpresa de me verem. Diz-me uma: “Já tinha perguntado por si, já tinha saudades de o ver, anda muito afastado.” Respondo: “Não digam isso porque começo já a chorar.” Sim. Enternece-me a gratidão dos outros no que à minha pessoa diz respeito e, conhecendo-me como me conheço, logo disfarço a lágrima que surge empurrada pela estima e afecto embalados nas palavras. Ali estivemos – João, Carmo, Virgílio e a brasileira que agora cuida do ilustre escultor – em amena cavaqueira. Pouca gente, poucos clientes dentro e fora do legendário café. Pelo meio-dia, levantámos amarras. O Carmo e eu descemos o Chiado, o João deixei-o para trás de modo a não ter que almoçar com ele e assim perder o meu dia para a escrita no romance. Daí que a paragem tivesse sido na Fnac, onde desci com a grande livraria de dois andares sem vivalma. Motivo: a greve dos trabalhares da CP que (julgo) vai até dia 14 deste mês. Por isso, os menos conhecedores da riqueza da Fertagus, cobiçada pelos comunistas para a incendiarem de greves e rebaldaria, se interrogavam como pude eu arribar à minha cidade natal. Com efeito, as gares estavam vazias, uma infinita quantidade de viajantes diários (uns milhares de milhares), tinham ficado privados de sair para os seus empregos. Diz o Governo que isto é manobra dos sindicados (hoje são não sei quantos, antes havia só a Intersindical e a UGT) e todos combinados, sem qualquer respeito pelo “nosso povo”, varrem das vias ferroviárias todos os comboios e nem um circulou ontem e hoje. Eu já aqui expressei a necessidade urgente de rever a lei da greve, porque os sindicatos são ontem como hoje, correias de transmissão dos partidos. Estes servem-se dos trabalhadores e os trabalhadores, sem qualquer ética, atiram para o desespero aqueles que nem podem fazer greves, não só porque não lhes é permitido, ainda porque se as fizerem não recebem o mísero salário. 

         - Foi o caso do meu amigo muçulmano, que trabalha no Corte Inglês e mora julgo na Amadora, desloca-se em cadeira de rodas, labora sentado nela, e teve que alugar um Uber para ir trabalhar que lhe saiu “muito caro”, Perguntei se a empresa pagava a deslocação, respondeu-me com um sorriso aberto no seu rosto simpático e escuro: “Olha! Não queria mais nada!” Calei-me, envergonhado. Espero que este atentado à liberdade e à dignidade dos que pagam impostos, passes sociais, levantam-se de véspera, e são tão maltratados por grupos secos, ácidos e oportunistas às mãos dos capatazes de esquerda que por eles velam e ordenam respeitinho, sirva para dar força a Luís Montenegro e à sua equipa. Por mim, votarei nele. Antes tinha votado no IL (sempre com aquele rabinho liberal à solta que não aprecio) e agora pretende privatizar tudo até o ar que se respira, Esta gente é louca, não sabe o que diz e muito menos o que faz. Que Deus lhes perdoe tanta estupidez. 

         - Voltei à natação. Com uma faixa livre só para mim, estendi-me e por uma hora não parei. A seguir ao almoço, atirei-me a rapar à erva e tenho trabalho para umas semanas. As máquinas não há meio de me conhecerem e, como esta tarde aconteceu, não aceitaram as minhas ordens e os meus métodos de as equipar. No fim, quem venceu foram elas. Como sempre. 

         - Ontem, pela tarde fora, no pequeno café da Fnac, Ana Boavida, vá-se-lá-saber porquê entregou-me mais uma parte da sua vida. De resto, outra coisa não tem acontecido ao longo destes últimos três anos e das 260 páginas escritas. Amigos perguntam-me se não é chegada a hora de lhe pôr fim, respondo que não tenho pressa, não escrevo para ganhar a vida, a escrita para mim é sagrada, e tenho por hábito respeitar os sopros, as crises de temperamento, os dias menos simpáticos, os silêncios, as tergiversações, as revelações a conta gotas, sacadas com paciência e consideração pelas personagens. 


terça-feira, maio 06, 2025

Terça, 6.

O criminoso Netanyahu, associado ou não à indecência que governa a América, mantém o seu plano de acabar com os palestinianos assassinando-os em massa como fez Hitler aos judeus. Tal como o nazi assassino não acabou com a raça de Netanyahu, assim este não conseguirá exterminar um povo nobre e mártir que durante cinquenta anos esteve prisioneiro na sua própria casa. Não compreendo a razão que leva Portugal a não reconhecer aos palestinos o direito a ter uma pátria, livre e independente. 

         - Assim como não entendo a lei feita pelos socialistas governados por António Costa, que permite à vítima de violência doméstica (Decreto-Lei 101/2020 que estive a consultar e me parece uma trapalhada), ter assistência num momento difícil quando é forçada a abandonar a casa, os filhos no rol, para receber um montante irrisório de 160 euros, além de o período de acesso a este subsídio ser apenas de 10 dias! Se é isto socialismo venha o diabo e escolha. Mais, calcula-se que os crimes de agressão a mulheres pelos respectivos cônjuges, cada ano, ronde os 30 mil casos. Cruzes! O PSD de Montenegro, lançaria uma lança em África se renovasse uma tal lei feita para a propaganda do excelentíssimo senhor agora Presidente do Conselho da UE. Penso muitas vezes: de quem parte estas abstrusas construções, a trapalhada do texto, a elaboração do decreto-lei e assim. Este verdadeiro escândalo sobre as mulheres, é sintoma da recusa dos homens, de todos os estratos sociais, da independência e escolha da mulher pela sua própria vida.

         - A vida é uma paixão, provavelmente a maior que o ser humano vive. Pessoalmente, não tenho um dia igual, todos se parecem, todos se diferenciam. Só há dois momentos que surgem tocados pelo início e pelo fim do dia que não altero: as primeiras preces ao acordar; a últimas ao adormecer. Hoje, após o pequeno-almoço, fiz uma hora de leitura e de seguida fui à piscina outra hora. De seguida, rápida passagem pelo supermercado e, engolido o almoço, despachei-me para hora e meia de limpeza com a roçadora frente à casa. Trabalho duro, mais a mais porque descobri, escondida na erva alta, uma quantidade de braços da poda das laranjeiras que as duas damas deixaram no solo. Mas que tem tudo isto a ver com o dia aberto, limpo e quente, verdadeira obra do Criador que me ofuscou e me levou inteiro em êxtase às origens do mundo. 


segunda-feira, maio 05, 2025

Segunda, 5.

Com franqueza não tenho paciência para ouvir, ver e argumentar sobre a capacidade moral e política da rede de candidatos à chefia do país. Vi o debate entre os máximos do PSD e PS e por aqui me fico. Ontem, espreitei por breves minutos o da RTP1 e desliguei o aparelho farto de ver o aproveitamento da célebre Spinumviva – empresa de Luís Montenegro que espero com tanta propaganda seja bem aproveitada pelos filhos que a herdaram. Aquela obsessão que serve ao PS e ao Chega, que não têm programa sério e inovador para apresentar, como pretexto para denegrir um homem que fez carreira política anos a fio na Assembleia da República e, por isso, teve tempo e tarimba para se preparar a voos mais altos e consistentes. Ninguém o acusa de ter praticado qualquer crime, e quanto ao que o incriminam, é tão árido que não encontra chão seguro e foi prática de todos os partidos durante décadas. 

         - De contrário, vejamos. É ou não verdade que o Parlamento sempre foi povoado pela chusma de advogados que ajudaram a fazer certas leis em seu proveito próprio como, por exemplo, aquelas que dão primazia e tempo aos corruptos para irem acumulando fortuna enquanto nos tribunais entram contestações, pedidos de adiamento, declarações disto e daquilo, de forma a protelar julgamentos e acórdãos, condenações e outras penas ou coimas; enquanto o desgraçado que roubou duas  galinhas aqui, três patos acolá, é facilmente engavetado no prazo de dias. É ou não verdade que no Hemiciclo, os deputados escolhidos pelos portugueses para os representar em exclusivo, sempre pertenceram a centrais de advocacia, trabalharam nelas, decidiram julgamentos, montaram grandes empresas, protegeram empresários ao mesmo tempo que na Assembleia labutavam na criação de novas leis e deste modo governarem a sua vidinha duplamente com dois ou mais empregos? É o não verdade que muitos deputados possuíam (e possuem) directa ou indirectamente negócios empresariais, cujos resultados em milhares de euros, somados aos que auferem no Parlamento, lhes oferece uma vida que a maioria dos portugueses não tem nem nunca terá? Então, se esta é a norma à excepção (até agora) do PCP, por que atiram pedras a Montenegro quando o que vamos sabendo (sem que ele me pareça um santo), é que antes de assumir a presidência do PSD e depois a do Governo de Portugal, separou as águas e não há vestígios de corrupção de nenhuma espécie nos seus actos. Ao contrário do que se passa e passou no PS onde casos e casinhos são mais que muitos. Recordo o que costumo dizer dos socialistas que são mais social-democratas que outra coisa: “Aquela gente adora, come, dorme a sonhar com riqueza.”  

         - Fui ver Conclave aconselhado (imagine-se!) por João Corregedor. Que dizer? Confesso que não saí deslumbrado apesar de tudo o que tenho lido sobre o trabalho de Edward Berger o realizador. A mim não me trouxe nada de novo, nada que eu não soubesse, nada que o mundo de hoje, com as suas divisões sociais e políticas, religiosas e sexuais, não extravase para dentro da Igreja. De resto, basta ouvir e ver o nosso cardeal de Setúbal, para só falar dos que nos estão próximos. A sensação que retive de hora e meia de filme, foi que Deus e os Evangelhos já pouco ou nada dizem àqueles que os apregoam. Subjaz uma obsessão de diletantismo eclesial, uma profissão como outra qualquer, uma vaidade (veja-se o caso do pároco madeirense Tony) e tantos outros que se passeiam no Chiado. A simplicidade de vida, a austeridade como meio de desprendimento da atmosfera material, o sentido do sagrado enquanto escolha de vida, a reserva intelectual e intimidade com o Jesus que se fez igual a nós, todos esses valores que os distinguiam do comum, são hoje postos de lado em favor da luta política, da exposição pessoal, da direita e esquerda, do conservador e do modernaço que fala com autoridade de igualdade de sexos, de homossexualidade, de destruição do corpo como matéria de paixão dos costumes e da identidade de géneros. Toda esta dissonância, os cardeais inconsistentes e inconstantes, modernos e integrados como dizem na comunidade, já pouco sabem do que aprenderam em Teologia e Filosofia. Dentro do Vaticano vestem as cores cardinalícias, fora trajam o triste disfarce de se saberem padres, bispos ou cardeais e, portanto, poderem satisfazer os seus instintos “como qualquer mortal”. O filme, é uma fantasia à maneira americana de ver o mundo. O que há de belo em algumas cenas, foge em altura não por vontade do realizador, mas porque a beleza é a paixão de Deus. Aquele fim é simplesmente ridículo.

Os três cardeais-vedetas mais felizes e jovens do Conclave (o do meio é o tal de quem se fala), até ousaria dizer vendo-os tão joviais que a morte do Papa Francisco foi um acidente de somenos importância. 

         - Eu também passei pela publicidade e até fui director durante vinte e dois anos de uma agência. Por isso, se me permitem, quero olhar para a publicidade que hoje impera nas televisões. Um nojo para atrasados mentais que os criativos nos tomam e com razão. São anúncios impróprios num país que se tivesse autoridades oficiais que os fiscalizasse, seriam erradicados. Desde pura pornografia de um mau gosto execrável (como aquele anúncio dos odores), a ordinários próprios do influencer da Amadora e outros obtusos, tudo hoje é permitido à publicidade e já agora também à propaganda política. Ao abrigo da liberdade de opinião, ganha-se muito dinheiro sujo e catapultam-se abjectas criaturas a lugares inapropriados para as suas faculdades mentais e culturais.

         - O dia aqui foi duro. De tal modo que tive que invocar protecção divina para o trabalho que executei. Refiro-me à motosserra com que aparei os grossos braços do limoeiro: pesada, ruidosa, difícil de transportar pelo meio da erva alta e que as minhas forças físicas não facilitam. Depois, cortei os troncos para a lareira, sempre na indecisão do gesto que a chegada da velhice titubeia. Mas tudo acabou em bem e eu pude exultar e maldizer a chegada discreta da vetustez. A outra parte da jornada, cresceu em dimensão, seja aqui nestas linhas, nas leituras e nos pequenos trabalhos na cozinha. Com todo este rol, claro que não arredei pé deste imenso paraíso. O rapaz de outro dia que devia apresentar-se ao serviço, não veio nem avisou. Surpreendido? Nem um pouco. Não tenho ilusões, tento abastecer-me de mim próprio e tudo o que venha no aceno do imprevisto é bem recebido e por vezes uma grande alegria. 


sexta-feira, maio 02, 2025

Sexta, 2.

Breves sobre o debate. Que a mim e talvez à maioria dos portugueses, não trouxe nada de novo, à parte o espectáculo degradante a que a política chegou. Volto a repetir: se qualquer forma de ditadura vier a acontecer em Portugal, a culpa é toda exclusiva dos políticos que nos couberam na farinha Amparo. Não adianta a esquerda atirar culpas à direita ou vice-versa. Estamos no patamar da incompetência, da degradação dos costumes, do equilíbrio e da brutalidade pública que não se resguarda a si própria. Vale tudo e tudo parece pouco na ambição a um cargo que é de serviço à comunidade, ao país e à dignificação das instituições. A realidade porém - é a praxis que no-lo diz -, estar próximo do tacho é inebriante e qualquer político, de direita ou de esquerda, persegue até ao ódio absoluto o seu adversário. No caso do actual secretário–geral do PS, cuja vida nunca conheceu o sacrifício do trabalho árduo suspenso dos infortúnios, a política é a luta de uma geração toda de esquerda, que se pauta pela festa dos comícios, dos camaradas, da luta (como eles dizem) em favor dos mais desfavorecidos. Uma treta! Ele está a lutar por si próprio. Sem competência, sem sensibilidade, movido pelo ardor antigo das lutas dos estudantes, montado na ideia de que ser de esquerda é trilhar projectos cívicos e sociais que melhoram a vida dos mais pobres. Mas os pobres, quero dizer, os 2 milhões e meio, estão pobres como sempre estiveram. Ele e todos os outros prosperaram na vidinha, criaram ideais, programas, gritaram nas ruas pela liberdade, mas esqueceram-se que é na dignidade do trabalho que o ser humano se realiza e enobrece. Tenho dito. Ponto final. 


quinta-feira, maio 01, 2025

Quinta, 1 de Maio.

Em conversa acesa com o João Corregedor esta manhã na Brasileira, como é hábito estando eu sempre em desacordo com ele, ficaram demarcadas as nossas posições  ideológicas que, de resto, as suas (e as minhas para ele) são bem conhecias. O princípio é este: João começa o seu raciocínio baseado nos programas eleitorais, nos cadernos de encargos, nos decretos-lei, naquilo que o partido escreveu para ser implementado – e daí não sai. Eu contraponho que não me interessam os programas, que são muito bem imaginados e escritos, mas são invariavelmente distorcidos, ignorados, alterados, ineficazes. Portanto, para mim, são as acções que contam e a palavra dada à boca dos acontecimentos, a sua aplicação com competência e rigor. Para ele conta o todo, a ideologia posta ao serviço da competência de quem a pratica; aclarada no escrito que por sua vez vai lá atrás trazer na enxurrada político-social o senhor Marx, o senhor Lenine e assim por diante. Digo-lhe que ponho em primazia as pessoas e quem tem sabedoria e rigor para aplicar as normas do que ficou estabelecido. Para ele a ideologia está acima de todos e cada um; para mim conta este e aquela, o nome de cada um, e o resultado ou o desastre que a política casou. Ele odeia “fulanizar”, eu gosto porque quero chamar criminoso ao criminoso; ladrão ao ladrão; incompetente ao medíocre e assim. A certo momento, diz-me: “Tu preocupas-me. Tens muitas vezes ideias de direita.” Ou esta que achei uma delícia ao contar-me que estava em casa a pensar em qualquer coisa e se levantou e foi a estante sacar os escritos de Lenine para se certificar se o que o ocupava estava certo ou errado. Céus! Em pleno século XXI! Na rua, ante a capa do Público que dá ao debate de ontem 10 a Montenegro e 4 a Nuno Santos: “Estás a ver. Isto é um jornal de direita.” Eu dou 10-5. Para mim o jornal não enfileira em nenhuma linha ideológica - é uma capoeira com diversos galos.