Sábado, 30.
Se Portugal como país ombreasse com os seus políticos ou vice-versa, éramos admirados e seguidos por todo o mundo. Pequeninos, mas ladinos. Acabou de ser, enfim, aprovado o OE2025. Os nossos deputados fartaram-se de trabalhar, saíram das maratonas parlamentares esgotados, coitadinhos. Mesmo assim, não se esqueceram de reivindicarem os 5% que no tempo da troika Passos Coelho, nas muitas medidas que tomou sem favorecer ninguém nem nenhum sector, se viu obrigado a suprimir aos vencimentos (modestos, claro) porque José Sócrates não se contentou em roubar como malbaratou a gestão do país. Pois bem, os nossos estimados deputados apresentaram não sei quantos milhares de propostas de alteração ao programa económico-financeiro. Milhares! A propósito dos cinco por cento, admirei a senhora dos gatinhos e dos chãozinhos, única elegida pelo povo e, portanto, primeira e segunda deputada, falar da dignidade do cargo. Pergunto: e a dignidade de milhares de pobres e de reformados com 700 euros de reforma e até menos?
- Ontem encontrei-me com o João. Da Brasileira, por proposta minha, fomos almoçar à Confeitaria Nacional. Há muito tempo que lá não ia e ignorava como os preços haviam inflacionado. O João comeu barato e pagou em consonância; eu, que pouco ligo à comezaina, paguei forte e feio. Bref. Do que queria falar todavia, era do meu amigo, com quem fiquei muito tempo à mesa em cavaqueira. O João quando não fala de política é um bom conversador e alguém com quem dá gosto acamaradar. Revemos muitos dos nossos colegas de jornais, numa viagem que começou antes do 25 de Abril até quase aos nossos dias. Foi extremamente agradável e até me esqueci do preço da minha refeição.
- Os telemóveis são a maior praga dos nossos dias. Eu, na curta viagem que faço no Fertagus para Lisboa, sou incomodado com conversas tristes (as dos africanos), olé olé (dos brasileiros) e sussurradas (as dos árabes) de futebol (dos portuenses). Aquilo são rios de conversa fiada, ladainha para entreter a vida vazia, clamores de misericórdia e expiação de existências complicadas e sofridas. Uma brasileira mulata ao meu lado saiu-se com esta, que não percebi como foi recebida do outro lado da linha: “Olha, Sofia, ninguém brinca com mulher que ora.”
- Um desabafo: não foram só os iphones que nos invadiram, foram também os acrónimos.