sábado, novembro 30, 2024

Sábado, 30.

Se Portugal como país ombreasse com os seus políticos ou vice-versa, éramos admirados e seguidos por todo o mundo. Pequeninos, mas ladinos. Acabou de ser, enfim, aprovado o OE2025. Os nossos deputados fartaram-se de trabalhar, saíram das maratonas parlamentares esgotados, coitadinhos. Mesmo assim, não se esqueceram de reivindicarem os 5% que no tempo da troika Passos Coelho, nas muitas medidas que tomou sem favorecer ninguém nem nenhum sector, se viu obrigado a suprimir aos vencimentos (modestos, claro) porque José Sócrates não se contentou em roubar como malbaratou a gestão do país. Pois bem, os nossos estimados deputados apresentaram não sei quantos milhares de propostas de alteração ao programa económico-financeiro. Milhares! A propósito dos cinco por cento, admirei a senhora dos gatinhos e dos chãozinhos, única elegida pelo povo e, portanto, primeira e segunda deputada, falar da dignidade do cargo. Pergunto: e a dignidade de milhares de pobres e de reformados com 700 euros de reforma e até menos?  

         - Ontem encontrei-me com o João. Da Brasileira, por proposta minha, fomos almoçar à Confeitaria Nacional. Há muito tempo que lá não ia e ignorava como os preços haviam inflacionado. O João comeu barato e pagou em consonância; eu, que pouco ligo à comezaina, paguei forte e feio. Bref. Do que queria falar todavia, era do meu amigo, com quem fiquei muito tempo à mesa em cavaqueira. O João quando não fala de política é um bom conversador e alguém com quem dá gosto acamaradar. Revemos muitos dos nossos colegas de jornais, numa viagem que começou antes do 25 de Abril até quase aos nossos dias. Foi extremamente agradável e até me esqueci do preço da minha refeição. 

         - Os telemóveis são a maior praga dos nossos dias. Eu, na curta viagem que faço no Fertagus para Lisboa, sou incomodado com conversas tristes (as dos africanos), olé olé (dos brasileiros) e sussurradas (as dos árabes) de futebol (dos portuenses). Aquilo são rios de conversa fiada, ladainha para entreter a vida vazia, clamores de misericórdia e expiação de existências complicadas e sofridas. Uma brasileira mulata ao meu lado saiu-se com esta, que não percebi como foi recebida do outro lado da linha: “Olha, Sofia, ninguém brinca com mulher que ora.” 

         - Um desabafo: não foram só os iphones que nos invadiram, foram também os acrónimos. 


quinta-feira, novembro 28, 2024

Quinta, 28.

Confesso que me sinto muito perturbado com as memórias de Alexei Anatolievich Navalny morto às ordens do “czar de pacotilha” depois do primeiro envenenamento que recuperou na Alemanha, até ao último e definitivo, no início deste ano. Pensando que me aliviava o cérebro indo fazer uma hora de natação, o facto é que continuei a pensar enquanto nadava na vida aterradora que fora a sua, sob a mãozorra do nazi, durante vinte anos. Recuperado do veneno na Alemanha, podia lá ter ficado como lhe ofereceu a senhora Merkel, mas optou por regressar à Rússia e enfrentar o hitleriano mais o clube de senis saudosos de Estaline, que se apoderou do poder e o exerce com toda a espécie de abusos, impunidade, crimes, perseguições, assassinatos, corrupção, ameaças, pobreza extrema do povo, e nem aqueles que antes estiveram próximos como a dezena de oligarcas que desapareceram, escaparam. Um a um tombaram como tordos às ordens do senhor absoluto. Um das escadas, outro do iate, aquele apunhalado não se sabe por quem, este suicidou-se atirando-se do último andar da sua residência, aquele acolá foi encontrado morto na cama, nenhum, segundo o partido Rússia Unida comandado pelo carrasco, fora obra do FSB. Navalny tinha descendência ucraniana, e quando a invasão acontece, ele está (julgo) na Colónia Penal Pokrov 2 ou na Colónia Penal 6 (a de Melekhovo) ele andou por tantas que me perdi, e anota: “Tudo o que digo fica registado. Por isso, hoje iniciei a minha ida a tribunal com uma petição: Estimado tribunal, desejo oficialmente e para que fique registado declarar que estou contra esta guerra (na Ucrânia). Considero-a imoral, fratricida e criminosa. Foi declarada pela quadrilha do Kremlin para que lhes seja mais fácil roubar. Andam a matar para poderem roubar.”  E aqui vai, mais uma vez, a minha indignação e nojo ante a atitude ao Partido Comunista Português na defesa de Putin que é pior que qualquer arrogante Trump ou Elon Musk. 

         - Foi patética a aparição de Luís Montenegro ontem na televisão, com o aparato ridículo de duas ministras e chefes da GNR, PSP, ASAE e não sei mais quem, em torno dele. Todo aquele deslumbre para falar de segurança e aproveitar para oferecer uns milhões para renovação das frotas automóveis àquelas corporações. É Luís Montenegro em modo António Costa, levando à frente a propaganda que depressa foi descoberta quando ouço um oficial da polícia dizer que já antes tinham prometido a modernização dos veículos e nunca aconteceu. 

         - Ninguém diga que está bem. O meu amigo Fr. Hélcio, nascido em Cabo Verde, apanhou lá um vírus que o levou para o Santa Maria por duas semanas. Sempre que lhe telefonava ou melhor dizendo, sempre que lhe telefono (ou vice-versa), começo por lhe pedir: “Fr. Hélcio, a sua bênção.” E em resposta; “Deus te abençoe.” Só então falamos ou quando almoçamos, iniciamos a refeição. É um ritual que vem do tempo em que ele era franciscano, antes, portanto, de haver deixado o sacerdócio para se casar com um senhor economista ligado à UE. Ele é muito divertido e parece entender-se bastante bem com o seu namorado (ou marido? Ou companheiro? Ou cara metade?) não sei como dizer e para o caso pouco importa posto que sejam felizes. Mesmo internado e cheio de dores e impossibilitado de andar, nunca o humor lhe faltou e as nossas conversas arrastam-se às vezes por quase uma hora. Desta vez, quando ele me disse que o pé infectado ficara todo branco, eu retorqui: “Mas isso é óptimo. Imagina que esse branco se estende por todo o teu corpo, não há ninguém na Avenida de Roma (eles moram ali numa casa lindíssima e cheia de luz) que não páre para te admirar. Gargalhada à africano, (apetecia-me dizer à preto, pois acho feíssimo negro) despudorada e contagiante. 


quarta-feira, novembro 27, 2024

Quarta, 27.

Acabei a autobiografia de Alexei Navalny. Na página 433, aquele que nunca esmoreceu de lutar pela liberdade e pelos Direitos Humanos, regista: “Se eles acabarem por dar cabo de mim, o livro será o meu memorial.” Esta previsão, datada em 21 de Outubro de 2021, isto é, três anos antes de Putin o ter assassinado com Novichok. As últimas palavras do heróico humanista e denunciador das mentiras, corrupção, enriquecimento ilícito do criminoso russo: “A minha função é procurar o Reino de Deus e a sua retidão e deixar que o velho e bom Jesus  e o resto da sua família tratem de tudo o resto. Eles não irão desapontar-me e resolverão todas as minhas dores de cabeça. Como dizem aqui na prisão: eles irão receber os socos por mim.” Quando fechei o livro dirigi-me a Deus numa prece por sua intenção. E lembrar-me eu que é este regime e o seu ditador, que o Partido Comunista defende. Ao livro voltarei. 


terça-feira, novembro 26, 2024

Terça, 26.

Que dizer quando o mundo está suspenso, olhando em todas as direcções, perscrutando os ares, miríades de luz que surgem dos quatro cantos do Universo, tremendo de medo ante a ameaça da guerra que parece iminente. Só se fala em armamento, todos se querem preparar até aos dentes, quando nunca se importaram por manter a paz. A mim o que me inquieta, é a força que um só homem possui – Putin, Trump, Jinping, o tolo da Coreia do Norte, Netanyahu – um ou outro mais quando associado a algum destes. Eles só conseguem isto, porque possuem do seu lado os exércitos que deviam estar ao serviço das pessoas, das nações, das democracias. Qual a razão para impor à juventude a renuncia à vida solta, a ventura quando se tem vinte anos, o futuro, a experiência do amor, a loucura dos corpos inundados da força e vitalidade da alegria. Morrer sem viver parece ser a ordem de um idiota que pela corrupção e força domina milhões de seres humanos, em pleno século XXI, é um contra-senso sem lógica nem humanismo. 

         - Não gostava de me ocupar da sopa requentada que de há muito a política nacional. Em 50 anos de democracia, se não fossem os milhões da UE, que paralelamente foram desviados por políticos corruptos conluiados com empresários e gente sem escrúpulos, nem com tanto dinheiro Portugal avançou, sendo até ultrapassado por outros países mais pobres que nós. Temos uma Assembleia Nacional de deputados profissionais, pagos a peso de ouro com os nossos impostos, e toda aquela amálgama de gente apenas tricota uma malha de interesses ideológicos, no oposto da vida moderna, sem consolidação com a realidade. Os jovens que não estão para aturar esta ressabiada gente e nem nela confia, decide emigrar e faz muito bem. Só no ano passado, apesar de muitas fórmulas financeiras e económicas para os deter, partiram para a Suíça 12 mil portugueses, 27% da diáspora nacional – não confiam na propaganda dos políticos, nem na sua competência. O problema é que uma parte do Portugal mais atrasado, dá importância a cada palavra desta gente sem palavra. 

         - Já agora, digam-me se souberem: como seria o país governado por aquele engodo do BE? 

         - Todas as estruturas públicas estão a rebentar pelas costuras. O metro foi transformado num imenso ginásio que nos obrigam a frequentar, com as escadas rolantes sempre avariadas e pessoas de língua de fora a subir cinquenta e cem degraus como me aconteceu hoje na estação Baixa-Chiado. 


segunda-feira, novembro 25, 2024

Segunda, 25.

Ontem o John apareceu e fomos tomar café. Ele trazia na ponta da língua (no português que é o dele) a lição bem estudada. Mostrou-me no smarthphone o meu sítio e o projecto onde vai nascer no próximo ano o Tage Studios, idealizado à moda dos nossos dias, naturalmente verde, mesmo aqui ao lado. Ao que ele me explicou, todos os dias, no pequeno pueblo com cerca de uma dúzia de almas onde ele vive, não há dia nenhum que não apareça uma mãozada de especuladores a perguntar quem quer vender casas e nacos de terreno que por aqui ficaram perdidos. Mais: em face do meu espaço, do outro lado do caminho de terra batida, há uma casa que pertence a um polícia e mais terrenos, entre os quais um dele, John, que os bancos se apressaram a penhorar depois de anos de arrasto no pagamento das prestações devidas. No tocante ao meu vizinho, ele tinha alugado o espaço a uma família e agora apressou-se a comprar outro pedaço de terra por 5 mil euros para os lados de Cabanas, onde transferirá o seu inclino e mais a casa pré-fabricada. Aqui parece que a terra e os homens, foram sacudidos por um vulcão subitamente acordado de um profundo sono romântico, com pastagens e gado à solta, murmúrios de ovelhas e tractores a sulcar a terra. Eu, pelo sim, pelo não, mantenho sempre o portão fechado, não vá aparecer um milionário americano a enlamear-me de dólares. 

         - Quase no fim do livro de Alexei Navalny, o que me vem à ideia e ao coração, é que este homem, tendo vivido uma parte da vida preso por defender as suas ideias e afrontar Putin, “o mentiroso”, transmite um sudário de santidade que nos põe de joelhos ante a nossa vidinha medíocre. Os sofrimentos por que passou, a maldade do ditador russo, é tal e tanta que nos paralisa de revolta e indignação. O silêncio não pode de modo nenhum amortalhar um homem assim. 

         - Ontem ao fim do dia, levantou-se aqui um vendaval, que escoiceava portas e janelas e levantava do chão os minúsculos seres que nele gravitam. Hoje, sol tímido a pedir licença para se instalar.  


sábado, novembro 23, 2024

Sábado, 23.

Vou retirar das minhas opções de voto, António José Seguro. Ele rendeu-se à frivolidade depois de nobres anos de ausência dos palcos políticos, recusa da saloiice bem portuguesa de aparecer na televisão a mandar bostas de pareceres, depois de uma vida recolhida na sequência da sacanice que aquele que reina em Bruxelas de sorriso macaco de felicidade o ter atraiçoado e ainda por cima sem obter mais votos, depois de tantos anos de dignidade pessoal, indiferença à canalha, deu agora para entrar no patuá daqueles que nas televisões têm apenas um objectivo: vir a ser Presidente da República. Fico, portanto, com Passos Coelho e Mário Centeno.  

         - A França está debaixo de uma tremenda tempestade de neve, auto-estradas e cidades, vilas e aldeias estão submersas pelas camadas de neve que caiem há três dias. Até parece que eles já se haviam desabituado dos rigores dos invernos, tal o grau de paralisação a que chegou o país.  

Uma parte do jardim da Annie sob a neve.

         - O Tribunal Penal Internacional, decretou um mandado de detenção contra Netanyahu, como já antes havia feito contra Putin. A Hungria, através do primeiro-ministro húngaro, senhor Viktor Orbán, convidou o seu homólogo israelita a visitar o país. Assim se vê a união da Europa a partir de Bruxelas.  

         - Querem que eu morra rico contra minha vontade. Ao que me diz o John que anda sempre muito bem informado, andaram aí dois helicópteros a fotografar esta grande área onde vivo, junto a uma quinta de muitos hectares, com o intuito já aprovado da construção de um estúdio de filmagens de gente de Hollywood. Ao que parece, existem até buscas de residências para actores que se querem ver livres de Donald Trump. Seja como for, ao que sei, os preços dos terrenos e casas duplicaram desde que parece certo o novo aeroporto vir para Alcochete. Eu nem digo quanto já me acenaram se quiser desfazer-me deste paraíso. Está tudo doido ou o dinheiro não tem valor. 


sexta-feira, novembro 22, 2024

Sexta, 22.

Afinal, Donald Trump, não é o senhor todo poderoso que ambicionava ser. O oligarca, Matt Gaetz que havia sido escolhido para a Justiça, já foi posto fora do balde dos dejectos. Ninguém o quer porque não lhe aprovam a vida dissoluta que tem sido a sua. 

          - A democracia, honra lhe seja feita, permite-me agora ter três candidatos à Presidência da República que suplantam largamente o actual Presidente: António José Seguro, Mário Centeno e Passos Coelho. O resto não fazem parte da minha lista. 

         - Quero saudar a semana que finda. Suponho que todos os dias trabalhei no romance e em breve vou imprimir as últimas 100 páginas para ver como tem avançado a história. 

         - Comprei na FNAC o romance de Lionel Shriver, Vamos ou Ficamos? Gosto dos autores imbuídos da revolta, que não encarneiram, que correm o risco de não serem populares, que andam contra a corrente.  


quinta-feira, novembro 21, 2024

Quinta, 21.

A Rússia disparou um míssil intercontinental sobre a Ucrânia. Dizem os jornais que foi a primeira vez que o fez. Os países nórdicos estão já a aconselhar os seus povos a preparem-se para a guerra. Por todo o mundo, nunca se gastou tantos milhões em armamento. Por cá, continuamos com as questões de lana-caprina. Não temos um Salazar que nos defenda, mas temos palavreado que nos entretém. 

         - Contam os jornais que faz hoje 10 anos que o inefável José Sócrates foi detido à saída do avião que o trouxe de Paris onde estivera a aprender francês e a tocar piano.  A justiça fala “num interminável carrossel de recursos” que ele tem utilizado com o intuito de fazer caducar os muitos processos que correm nos tribunais. Pergunta-se quem paga ao advogado que tão zelosamente tem construído a argumentação. Os recursos são feitos para quem tem dinheiro e não para a grossa maioria de portugueses que nem acesso tem à Justiça. O homem tem tanta lata, que em artigo diz que isto tudo não passa de uma cabala para o impedir de se candidatar à Presidência da República. Mas quem é queria um homem desta natureza, um corrupto, um ladrão, um Zé-ninguém que enganou toda gente, se aproveitou, era socialista com camaradagem íntima com António Costa que o enxotou quando viu as coisas a tombar para o torto?  

         - Prossigo o corajoso relato da vida de Alexei Navalny que o João ontem disse ter sido escrito pela mulher. Que cegueira! Que fanatismo! Esta gente, mesmo sendo hoje a Rússia governada por um fascista de primeira, nem por isso deixa de ver por todo o imenso território russo, a imagem de Lenine, Estaline, Kustchev, o alcoólico Yeltsin e outros mais, que reduziram o povo à pobreza, ao analfabetismo, ao isolamento e à escravatura em nome de princípios que só os favoreceu a eles. 

         - Fui fazer uma hora de natação. 


quarta-feira, novembro 20, 2024

Quarta, 20.

Todos os dias Donald Trump deita cá para fora um oligarca americano. O de hoje é em tudo igual aos outros e vem enxameado de pouca vergonha na forma continuada de sexo em grupo com raparigas muito novas. Este naipe governamental é sinistro e o mundo olha de espanto a democracia americana. Não tarda os americanos que foi a maioria a votar no voraz Presidente, vão chegar à conclusão que foi um monstruoso embuste – mais o mal está feito. 

         - Eu prometo sempre deixar o João a falar sozinho quando aborda questões políticas. Mas não sou capaz ante o seu sectarismo. Discutia ele o ordenado bastante mais baixo que a Assembleia da República lhe pagava quando foi deputado pelo PCP (ele diz MDP) relativamente ao que auferia no privado. Ele como todos os outros camaradas, vivem num mundo à parte, e nem se apercebem que todas as suas teorias juntas não chegaram para abater à miséria e à pobreza 2 milhões e meio de portugueses, nem tão pouco dar uma vida decente ao resto dos nossos concidadãos. Em 50 anos de democracia!

         - Ontem à noite lá fui ao MUDE. A sessão estava marcada para as cinco e meia, mas começou uma hora depois. Nessa hora, havia um buffet aberto onde se servia café da Brasileira e Porto! Comigo João Corregedor, António Carmo, Alexandre e os nossos amigos empregados da instituição lisboeta. A pouco e pouco, a sala foi-se enchendo e às seis e meia estava lotada. Nesse entretanto, no ecrã, apareciam os trabalhos a concurso – coisa mazinha, sem criatividade nem originalidade (das 38 telas, aprovaria uma). Os seus autores estavam agrupados ao longo da parede de um lado da sala. Seguiu-se uma série infinda de mulheres, directoras disto e daquilo, secretárias deste ministério e do outro, discursos onde em grupos de cinco palavras lá vinha o “aqui”, os “comprimentos” e assim. Chegaram até a agradecer a presença do secretário do turismo que só veio daí a hora e meia! Cada uma daquelas criaturas, enfeitadas como se fossem para um baile de máscaras, ia despejando uma sorte nojenta de elogios umas às outras, num total desprezo pela razão que nos tinha reunido a todos. Às tantas decido abalar. Não suporto aquela arrogância saloia de quem nunca foi nada na vida e, de repente, assume a proa de um cargo para satisfazer esta hedionda moda da paridade de sexos. 

         - O PCP pelo esgar do João, não se importa que o ditador de extrema-direita, Vladimir Putin, utilize armas nucleares. Se não o dizem claramente, deixam implícito nos seus comentários à decisão de Biden em deixar que Zelensky, esse Nobel sucessor de Alexei Navalny, faça uso dos mísseis de longo alcance. Nem percebem que a decisão de Joe Biden é a mais acertada, por controlar e pôr em pé de igualdade os dois contendores quando se aproxima a hipótese de acordo para o fim da guerra na Ucrânia. 

         - Ontem, quando deixei o MUDE, a noite tinha abraçado a cidade. Tomei o metro no Terreiro do Paço iluminado para o Natal e senti uma alegria breve, como um aceno do passado, quando jovenzinho por ali parava à procura de aventuras suspeitas. Pena que tivesse pressa em chegar a casa; de contrário teria atrasado o retorno e ficado por aquelas ruas assinaladas pela minha embriaguez perigosa, onde ia jurar ter visto um rapazinho bonitinho, aloirado, perdido, achado, voltado a perder-se até haver encontrado o homem que hoje é...


terça-feira, novembro 19, 2024

Terça, 19.

O mundo começa a preparar-se para a guerra. Eu sou dos que acreditam que Putin no seu estado normal é isso que pretende. O problema é a entrada em cena de Trump e seus amigalhaços com seus códigos de honra, e a Europa dividida como sempre esteve na ajuda e compreensão dos objectivos do ditador no concerne à Ucrânia e ao Ocidente. Continuo a pensar que o que disse no início deste ano, vai realizar-se. 

         - Alinho estas linhas na FNAC. Vou trabalhando enquanto faço tempo para corresponder ao convite que me foi feito para estar presente no MUDE, na apresentação dos pintores e suas obras, que irão substituir os quadros dos grandes mestres que se ausentam da Brasileira para restauro e limpeza. 

         - Vou escrevendo, desmotivado. O meu país e os horizontes rasgados, não são lugares que se recomendem para viver. Todavia, de súbito, uma nota de esperança. Aqui na mesa ao lado desta onde estou sentado, apareceram dois rapazes que talvez nem dezoito anos tenham. Observo-os. Os dois foram ao balcão e pediram um café e um sumo. Voltaram para as mesas e num conciliado tomam as bebidas, pausadamente. Demoram-se pouco à mesa. Levantam-se, vão depositar as bandejas no balcão, agradecem ao empregado brasileiro, voltam para pegar as mochilas e arrumam as cadeiras como as tinham encontrado ao chegar. E eu de mim para mim: “Ainda há disto, hoje?” Vou voltar ao convício de Ana Boavida mais encorajado. 


segunda-feira, novembro 18, 2024

Segunda, 18.

Ontem pedi à minha amiga que se encontrasse comigo no café da FNAC, acrescentando “o mais tarde possível, mesmo em cima da hora do almoço”. Isto porque tinha saído daqui cedo com o croché na mochila e era meu intento tricotar o máximo possível, ou antes, tanto quanto Ana Boavida mo consentisse. Assim aconteceu. Àquela hora, sendo domingo, na FNAC não havia quase ninguém e muito menos no pequeno bistrot onde só estava eu e um velhote com ar disparado de artista. O rapaz brasileiro que nos serve, é já meu conhecido de há muito e quando chegou sempre o afago com perguntas sobre a sua vida entre nós. Informou-me respondendo à minha pergunta, que não tinha dia de folga ou quando muito, com alguma sorte, lá vinha um só dia de descanso. Bom. As duas horas e meia escoaram num virote. Ana Boavida tinha sido condescendente comigo assim como o marido Santiago Afonso e no final havia enchido página e meia. Quando a Maria João chegou, dei-lhe a ler o que tinha escrito e logo ela: “Oh, isto é muito complicado.” Ri-me lembrando-me de Maria Ondina Braga que não conheci pessoalmente e decerto tinha adquirido os meus livros, conversando com um amigo comum, comentava: “Os livros do  Helder de Sousa são muito profundos.” Posto isto, pergunto: que quer dizer complicado e profundos?  

         - As oposições, como é habitual, não descansam enquanto não correrem com a Ministra da Saúde. Agora agarram-se ao presidente do INEM, um homem por quem tenho simpatia, visivelmente sem experiência em sacanices e fintas partidárias, tímido, frágil e por vezes inseguro e assustado, retrato humano na forma de fazer política, sem ressabiamentos nem jogos de poder e muito menos sem a voz autoritária e mandona da viúva do BE, tão procurada pelos media que um simples traque escapulido inadvertidamente de onde é usual virem, é notícia. 

          - Joe Biden queima os últimos cartuchos da sua governação titubeante e desastrosa. Zelensky, o heroico Presidente da Ucrânia, anda há anos a pedir-lhe que autorize a utilização dos mísseis americanos de longo alcance de modo a defender-se dos ataques distantes de Putin. Agora que está de saída, aquiesceu. A ver vamos se a guerra muda de figura. Macron, honra lhe seja feita, neste particular é mais preciso e incisivo. A revolta, é vermos como o número de horrendos dirigentes cresce por todo o lado. Desde aquele campo de concentração que é a Coreia do Norte, passando pela China e terminando na Argentina, um rol de facínoras canta loas à vitória de Trump. Pode ser que o mundo não vá na direcção que eles se preparam para dar. Eu tenho esperança na humanidade informada e lúcida sobre a qual recaia a bênção da revolta.  


domingo, novembro 17, 2024

Domingo, 17.

Foi com regozijo que li a reconciliação de Simon & Garfunkel aos 83 anos. Para assinalar a alegria desse encontro, ontem passei uma parte da tarde a rever o álbum que eles editaram na CBS Bridge Over Troubled Water. E prometo, se subirem ao palco de novo e vierem a Lisboa, irei vê-los. Mais: até chegar às suas idades, vou revisitar a sua música com mais frequência. Força rapazes, acabou a tontaria.  

         - Escolhi o dia de hoje para ver Anora. O filme é para corações empedernidos e cabeças estruturadas. Mas sobretudo para os que se perdem de amores por Putin. Sem decerto querer o trabalho de  Sean Baker é igualmente um retrato dos oligarcas que sustêm o ditador Putin. Quis escapar às greves que aconteceram no metro e nos comboios, sem esquecer as dos professores. Toda a gente reclama mais dinheiro, a canção é a mesma em todos os sectores e parece que os senhores deputados juntaram-se na mesma avidez. Para aquilo que fazem, quero dizer, a litania de ódios, as presenças mudas e estáticas ao serviço dos partidos, já auferem mais que suficiente. O problema, reconheço, é que todos os salários da classe média são esmolas e nem quero entrar nas reformas que são gorjetas. António Costa (sempre ele) vendeu a imagem de um país rico e talvez tenha razão, pois conseguimos sobreviver às manobras financeiras do senhor Medina e a todos os roubos do líder José Sócrates aos diversos socialistas que integraram o seu governo.   

         - Estas linhas de António Barreto: “Se excluirmos o óbvio, como sejam o voto e as liberdades, a saúde perfila-se.” Será?  O problema para mim é simples: sem saúde não há liberdade, nem votos. (Leia-se o que escrevi, quarta-feira, dia 13).

         - Luís Montenegro diz que não é substituindo a Ministra da Saúde, que os problemas da saúde se resolvem. E tem razão. E tem-na contra o pedido do PS e quejandos, que fazem essa exigência (como sempre em bicos de pés está a viúva), pois quando puseram na rua a sua ministra hoje radiante da Silva em Bruxelas, os problemas não só não desapareceram, como se agravaram e de que maneira com o seu sucessor. 

         - Cedendo ao convite da Maria João que não via há muito, estive hoje em Lisboa. Ora, tendo eu nascido e crescido na capital, e havendo passado milhares de domingos correndo ruas e espaços desertos, esta Lisboa que me recebeu é um enorme lugar descaracterizado, onde vive um mundo escuro, se fala muitas línguas e se espanta com a pobreza estampada naqueles que se cruzam por nós. Sinceramente, não vejo beleza nem humanismo nesta paisagem tão cara à esquerda, que não a vê senão através das limusinas, repimpada nas mordomias que a política criou para ela. “Coitados dos imigrantes” diz a viúva e a actriz que vive à grande em Bruxelas, e digo eu porque os vejo nas ruas, perdidos nos transportes púbicos, acampados nas estações de comboios e nos jardins ao relento. No metro, sentou-se em torno de mim, um bando de brasileiras que falavam tão alto que todo o vagão as escutava. Falando sempre no gerúndio, às tantas, prontas para sair, interrogam a que estava ao meio lado: “Você se levanta ou está enrolada?” A enrolada desenrolou-se de pronto. 


sexta-feira, novembro 15, 2024

Sexta, 15.

Estou curioso embora não espere nada de transcendente, em saber o que vai ser o reinado de Donald Trump. Pela escolha do seu Governo, dos nomes que têm vindo a lume, aquilo cheira-me a um bando de patifes. Mas gostava de estar enganado. Contudo, à escala mundial, com a manápula sobre Europa e outros continentes de referência, a coisa vai ser parecida com o caos e a desorganização que nos coube a nós no modo António Costa. Desse aspecto, temos a sorte de estarmos imunizados. Suponho que o contraponto do excesso de poder num homem imprevisível, tombe para ONU como vigilante do equilíbrio mundial. Outro detalhe de grande importância: o convite de Joe Biden a Trump para tomar chá na Casa Branca e falarem sobre a transferência de poder. Uma bofetada de luva branca que muito apreciei. Ele sai lustroso, depois de ter escolhido (ou alguém por ele) o desastre Kamala Harris. As esquerdas por todo o lado parecem passadas a papel químico, mas sectárias como são, não aprendem.    

         - O tempo mudou. Eu sabia que isto do arrefecimento versos-lareira, o pior é começar. Assim, a casa encolheu-se, mirrou-se, aninhou-se de frio para deixar que as lareiras brilhassem no encanto de noites longas e frios recolhidos. 

         - Por Espanha, Itália, certas zonas de França as intempéries trazem agora nomes como se os cientistas as quisessem humanizar. O pior é que elas não cedem à violência e às catástrofes que as acompanha e deste modo somam-se mortes, cidades destruídas, a indústria paralisada, o comércio encerrado e as pessoas abandonadas à sua sorte. Assim tendo sido, assim voltou a ser anteontem, ontem e hoje. 


quinta-feira, novembro 14, 2024

Quinta, 14.

As memórias de Alexei Navalny lêem-se com sofreguidão. Nem uma semana tem que comprei Patriota e já devorei metade do livro. É uma autobiografia que conta a luta do ativista pelos direitos humanos e, simultaneamente, a história da URSS e depois a Rússia de Putin herdada do alcoólico Yeltsin. Escrito nas prisões por onde o autor passou antes e logo a seguir ao envenenamento e recuperação num hospital na Alemanha, por obra da senhora Merkel, bendita seja, as suas páginas estão cheias da juventude que acredita na palavra enquanto força de atracção da verdade e movimento das ideias que conduzem à liberdade. Quando recordo aquilo que militantes comunistas me diziam à cerca do eldorado que se espraiava pelo vasto território da URSS, com o centro em Moscovo, gente naturalmente que nunca daqui tinha saído e confiava nas verdades da intelectualidade da altura, homens sombrios, dedos manchados do tabaco, tristes, cofiando os bigodes no abandono abominável de quem não vive no reino da luz dos povos governados por aquele trio sinistro: Lenine, Estaline, Kruschev. Ainda hoje escuto dos que se dizem comunistas, a sombra de palavreado que ignora a verdade ou pretende tomar o todo por partes, como, por exemplo, tudo é política, luta de classes e quejandos, que escondem ou realçam as mentiras que armadilham sob o pretexto da luta de classes. No tempo daqueles senhores, tudo tinha de ser explicado em termos de luta de classes, desde que eles estivesse excluídos de enxame do povo pobre, às ordens dos ditadores, onde a corrupção imperava por todo o lado e a miséria era tanta a par da escravidão em que vivia o povo da URSS, que ainda hoje reina sob a batuta do homem que se galardoou para mais não sei quantos anos à frente dos destinos de 270 milhões de almas. O poder é e sempre foi “a vaca leiteira” que seduz em carrossel toda e elite russa hoje chamada oligarcas.  À medida que vá avançando, aqui voltarei para criar a curiosidade e o prazer aos meus leitores em descobrirem as mentiras que sempre foram apanágio dos governantes soviéticos e hoje estão arreigadas num só homem: Vladimir Putin.  

Indispensável 

         - Ontem, não parei em andanças por toda a cidade. Quando, enfim, me acomodei no Fertagus para retorno à minha santa terrinha de adopção, encontrei o resultado: 6,5 km percorridos; 8 pisos palmilhados; 8951 passos andados; 7,55 horas de sono. Nada mau. 

         - Hoje entrecortei o dia com leituras, uma insistência com Ana Boavida que me rejeitou logo às primeiras palavras, e uma ida à piscina para meia hora de natação. Tempo que nos ameaçaram chuvoso e apenas deitou umas comoventes lágrimas.


quarta-feira, novembro 13, 2024

Quarta, 13.

Ontem vi imagens assustadoras num canal estrangeiro de TV do comboio que costuma fazer aquele baile mandado dos eurodeputados entre Estrasburgo-Bruxelas-Estrasburgo. Vi explosões a desfraldarem dentro das carruagens. Pensei que teria sido obra dos chamados antissemitas, mas até ao momento não se sabe nada. Não se registaram feridos, e os nossos zelosos eurodeputados não foram amputados de nenhum membro. Graças a Deus. 

         - Agora que Trump já quase anunciou a sua equipa governamental, prosseguem as análises de todos os ângulos sobre que o levou à maior maioria de sempre na América. Citado por Teresa de Sousa (aviso já que não temos parentesco embora o apelido seja o mesmo), referindo um homem que eu aprecio sobremaneira, Fareed Zakaria, que no Washington Post  reflectiu sobre o discurso das “políticas identitárias” que eu chamo de moda, depois de invocar os erros dos democratas, afirma: “Olharem para as pessoas quase só através da sua identidade racial ou étnica ou de género, não os deixa ver a realidade tal como ela é.” Assim é, com efeito. Todavia, quem acerta na muche, é a nossa jornalista: “O problema não está em que estas preocupações não sejam justas, que são. Está em que, se somos todos iguais, também somos todos diferentes.”  

         - A coisa está preta. Fazer política neste querido e infeliz país, é semear ódio por todo o lado. Que o diga esse direito que está acima de todos os outros: o acesso à saúde. Que foi completamente destruído pelos socialistas e quem não se lembra do ministro que começou por tudo fazer para ser ministro e depois vacilou numa valsa mal dançada com sindicatos, médicos e enfermeiros. Aquilo era uma bagunça diária, um tremendo desencontro entre a realidade e a propaganda. Chegou Montenegro e a ministra da saúde, Ana Paula Martins, as coisas a pouco e pouco começaram a amainar, com diversos acordos alcançados, decerto contra os patrões dos sindicatos e dos partidos. Ultimamente o desastre do INEM que vem muito de trás, rebentou e no Parlamento foi uma festa de acusações da parte das esquerdas sem responsabilidades e do PS que lá esteve e nada fez para solucionar a situação dos técnicos do INEM que, de resto, debandaram em força no tempo de António Costa. Das palavras da excelente ministra, percebeu-se que deve estar cansada e pensa abandonar a pasta, deixando os arruaceiros a falar sozinhos. Pois eu daqui, peço-lhe, cara Senhora, que não se demita. Defronte esta chusma de doidos varridos e imponha o saber e competência, reduzindo-os à sua força democrática. Que algum leitor ou leitora, leve este meu pedido à competentíssima ministra, que ainda por cima é equilibrada, sabedora e dialogante. Como me dizem que tenho muitos leitores entre a classe médica, que algum aceite esta incumbência.   

         - Ora, nem a propósito. Ontem fui ao meu Centro de Saúde. Saí daqui cedo, com o croché na mochila, e sentei-me a trabalhar num café perto do Jardim da Estrela até às onze e meia quando tinha consulta. Praticamente só para mostrar os exames que tinha feito há dois meses. Como tudo estava em ordem, fiquei à conversa com a médica que tem substituído a minha cara Dra. Vera Martins de regresso no início do ano após o nascimento de uma menina. Esta clínica, Dra. Luísa, é uma jovem empenhada na sua profissão e nos seus doentes. Disso se falou e às tantas, ela desabafa: “O que mais me custa, quando chego a casa e revejo o meu dia de trabalho, é pensar que não sei se os medicamentos que prescrevo aos doentes que vejo resultam ou não, porque muitos deles nunca volto a vê-los.” Percebi a profundidade das suas palavras, o seu interior, e emocionei-me a um ponto que senti as lágrimas inundarem–me os olhos. Disse-lhe “a senhora (ela mais parece une jeune fille rangée) nem imagina como isso me toca! É por pessoas assim que eu apoio e louvo o Serviço Nacional de Saúde. A senhora é magnífica.” E abalei para não me expor mais. No caos de egoísmo e luta pelos valores materiais em que o mundo se tornou, encontrar um ser humano com esta dimensão, é um tesouro imenso que me obriga a não desesperar da humanidade. Ela é a semente que germinará da ganância e da indiferença humanas. 

         - Depois, de súbito, a casa regelou. Então, acendi a salamandra que une a sala de jantar à cozinha, e pus o edredão na cama. Assim começou o Inverno por aqui. Há tanto frio, o vento que passa é gélido, que me espanta esta inusitada invasão. 


terça-feira, novembro 12, 2024

Terça, 12.

Fiz por assim dizer as pazes com a Carmo Pólvora. Eu explico. Desde aquele fatídico almoço no 1800 aqui narrado, nunca mais atendi os seus insistentes telefonemas e furtava-me a encontrar-me com ela. Isto durante mais de um ano. Acontece que outro dia, para preencher o serão, desligada a televisão, após as notícias, peguei no livro que ela em tempos me havia oferecido e mergulhei a fundo nele. A obra é um trabalho conjunto com o poeta João Rui de Sousa (alguns poemas são magníficos) e redundou num trabalho absolutamente sublime, poderoso, belo, levantado do fundo mais fundo da extraordinária pintora que ela é. Fiquei a flutuar de página em página, rendido à magia da sua forte abstracção, onde a presença da realidade é transformada num símbolo poético que abraça o espaço e lhe dá a dimensão mítica de singular beleza. O domínio da cor, a introdução dos valores simbólicos, os sombreados que amparam e fazem sobressair a ideia enquanto matéria apenas abordada, mas suficientemente presente nas linhas melódicas do traço e na definição do objectivo. Até perto da meia-noite ali estive, absorto, a olhar cada pintura, a ler o poema que a acompanhava, abraçado pelo silêncio e o escuro da noite que jorrava estrelas sobre a obra luminosa e incandescente de Carmo Pólvora. No dia seguinte liguei-lhe. Ela atendeu, surpreendida. Quis saber a razão daquele contacto ao fim de tanto tempo. Disse-lhe que depois de ter olhado atentamente a sua bela obra plasmada no livro Respirar pela Água, não há zanga nenhuma, nenhum João Corregedor à face da terra, que possa impedir de lhe dizer quanto admiro o seu trabalho.  A tua arte vingou o desgosto daquele asco de almoço. Parecia apatetada. 

         - Lição do moderno português de hoje utilizado por todo o lado: “Qual é que é o problema?” 


segunda-feira, novembro 11, 2024

Segunda, 11.

Para cumprir calendário, assei umas quantas castanhas no forno, ocupei-me do arranjo da cozinha, dei um jeito ao salão, confeccionei um prato no forno para arquivo. Todo este trabalho extra surgido do nada, tirou-me umas horas ao meu quotidiano habitual. Não me lamento porque, a pouco e pouco, aprendo a arte de aceitar o que o destino escolhe para me abastecer os dias. Neles cabem tanto o deslumbre como o inevitável. 

         - As intempéries que assolaram Valência e arredores, não cessam de nos atormentar. Sabe-se agora que os mortos foram 220 e mais de 50 pessoas continuam desaparecidas, 100 mil viaturas apodrecem nas ruas, a cidade é ainda um lamaceiro incrível. A população, essa, não desarma e está por toda a Espanha aos milhares a pedir a cabeça do autarca por “assassino” e péssimo gestor da crise. Ele e Sánchez.  

         - Trump, na língua dos russos e italianos, pronuncia-se “trampa”.  Donald Trampa. Haverá coincidências? 

         - Grosso modo, o Executivo de Luís Montenegro oferece-me confiança. À parte, talvez, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, com o seu infeliz prenúncio de que em Janeiro iria discutir com os sindicatos das forças de segurança o direito à greve dos agentes da ordem, e indo lá atrás à gestão dos fugitivos (ainda nem todos encontrados) da cadeia de Vale dos Judeus que também apalermou o bastante, todo o resto da equipagem tem a minha simpatia. Mesmo aqueles de quem tinha dúvidas, mostram-se competentes, céleres e correctos nas decisões. Até porque a greve dantes era o derradeiro recurso; hoje é uma arma rápida de manejar bastando um sopro dos sindicatos ou partidos. Gente que diz favorecer os trabalhadores, coitadinhos, com quem eu viajo e espero nas gares tempos incertos de chegada dos comboios, e ouço os seus dramas e lamentos pelo transtorno pessoal e financeiro que isso lhes acarreta e de que os barões sindicais se estão literalmente nas tintas. Sou dos que acham urgente rever a lei que permite tantos abusos, decretar interrupção de serviços públicos às sextas e às segundas-feiras, encostados a fins-de-semana longos que tanto jeito dão aos revolucionários.  O savoir-faire desta gente é uma arte conquistada pelo 25 de Abril, Sempre. 

         - Não resisto a transpor para aqui o artigo de António Barreto “A democracia também é de direita”, saído no Público de ontem. Esta passagem: “Identificar a democracia com a(s) esquerda(s) e estas com a bondade e a humanidade é o mais miserável erro de pensamento político que se pode imaginar. Impede de pensar e compreender. Dispensa a argumentação. Quem assim se comporta ajuda as autocracias de todo o mundo. Estimula as direitas.” Está tudo dito e não fui eu que o disse.   

         - Os governantes europeus condenam a prisão os manifestantes antissemitas, como este fim-de-semana aconteceu quando eclodiram escaramuças no final do jogo entre o Ajax e o Maccabi (isto para mim é chinês, transcrevo como leio). Nem sei quem ganhou e para o caso pouco importa. O que resultou foi mais impressionante que o jogo, e redundou em confrontos que fizeram cindo feridos e 62 detenções. O acontecimento teve lugar em Amesterdão e os revoltosos investiram sobre os adeptos israelitas em sinal de protesto contra a guerra na Faixa de Gaza, melhor dizendo, ao genocídio palestino. Podem os governos tomar tais medidas quando a hipocrisia os leva a fornecer armas a Israel? É a minha pergunta, a minha pura e absoluta revolta.  


domingo, novembro 10, 2024

Domingo, 10.

Não me escapa por entre o silêncio que aqui reina, o ruído constante da nossa classe política, que se serve da democracia para obter os louros que entumecem as suas vidinhas vazias. E qualquer coisa ou facto serve, a avidez é uma doença sem cura. Choram lágrimas de crocodilo pelas onze mortes da semana que passou, como se nós os honrássemos por tanto zelo e pranto derramado pelas almas dos falecidos e a indiferença dos sindicatos que regem o pessoal do INEM causador do abandono dos aflitos, com a sua gloriosa greve impossível de compreender. Acusam a ministra da Saúde, pedem a sua substituição, atiram-se ao primeiro-ministro, tudo como se ele e a sua equipa pudessem restabelecer em meia dúzia de meses o rasto de destruição e caos deixados pelos socialistas nos oito anos de governação. Melhor fora que “o maior partido da oposição” se ocupasse com o país real e deixasse de ambicionar o poder a qualquer preço. 

         - Estou esgotado e por aqui me quedo. Hoje tive que dar assistência ao senhor Nilton no trabalho de desentupir a rede de canos da cozinha, ficando esta alagada em consequência. Não há nada que não me calhe. 


sexta-feira, novembro 08, 2024

Sexta, 8,

Quem ler aquele rosário de misericórdias com que o patriarcado do PS incensou os pobres e imigrantes, rubricado por António Costa e seus associados no Público de anteontem (Em defesa da honra do PS), percebe o que foi o reinado daquele que hoje impera em Bruxelas com todas as benesses que os dois milhões e meio de pobres nunca alcançarão por muito longa que for a sua vida. Confrontemo-lo. O Eurostat avançou há dias com os números de 2023 e Portugal surge em 13º país da UE como a maior taxa de risco de pobreza e exclusão social. Assevera o estudo que mais de 2 milhões de habitantes em Portugal continuam a viver numa situação de vulnerabilidade, e pelo menos 12 por cento dos activos vive com rendimentos abaixo do limiar da pobreza e “ter emprego não garante que se consiga escapar à pobreza”. Que posso eu acrescentar, se não pedir encarecidamente aos meus leitores que não embarquem nos discursos daqueles que se aproveitam da situação ou vivem em mundos sem qualquer ligação com a realidade. Nós, “todos, todos, todos” não existimos – somos vermes que só existem quando se arrastam para votar.  

         - Antes que baixe o ruído que espantou políticos e a turba de jornalistas e comentadores, quero acrescentar mais alguma coisa ao que disse no dia das eleições americanas. Não sei que Donald Trump surgirá desta vez à frente dos destinos da América. Do meu ponto de vista, num país ancorado nos direitos humanos, na justiça e igualdade, nunca um qualquer Trump devia poder candidatar-se ao governo da nação. Explico porquê. Um homem que foi acusado de um rol de crimes (pelo menos 34); que está a contas com a justiça por ter mantido relações sexuais com actriz porno e a ter remunerado com dinheiro da empresa; que provocou o incêndio e assalto ao Capitólio; que falsificou resultados para ocultar pagamentos; que levou da Casa Branca para a sua residência documentação confidencial; estes e mais alguns processos que correm contra ele, e decerto vão ser arquivados, são o descrédito da democracia e dos valores morais que alicerçam a nossa vida colectiva. Entregar os destinos de uma nação imensa, com ramificações de toda a ordem sobre o mundo a um reles assim, é apostar numa incógnita assustadora. Quanto ao mais é a Democracia que sai de rastos ludibriada por um homem que se está nas tintas para os seus valores, um egoísta, um mitómano que conseguiu arrastar um povo cansado das políticas e dos políticos. 

         - Lição de bom português, administrada na TSF: “O homem está impactado pelas novas tecnologias.”


quinta-feira, novembro 07, 2024

Quinta, 7.

À grande calamidade das inundações em Valência, juntam-se agora os roubos e açambarcamentos de produtos alimentares. Parece que a polícia e, sobretudo, os voluntários, patrulham noite e dia as ruas e já conseguiram deitar mão aos meliantes, pelos menos mil foram presos. As recentes imagens, ao cabo de quase uma semana, mostram militares e agentes da polícia em acção no terreno. Os políticos aparecem de vez em quando, mas são corridos de “sacanas” e “filhos da puta”. O número de mortos ainda não está fechado, porque os parques de automóveis das grandes superfícies comerciais, com vários andares, assemelham-se a lagos que os agentes percorrem de pneumáticos em buscas de corpos.  

         - Zangam-se as comadres e descobre-se o cinismo e a concórdia apregoada como uma das muitas mentiras de que fomos bafejados no período António Costa. No centro da disputa, está o presidente da Câmara de Loures, o socialista Ricardo Leão, no seu propósito de correr das casas camarárias aqueles que participaram nos tumultos em defesa de Odair Moniz, morto pela policia. O Vasco Gonçalves mostrou-se condescendente com ele, mas o clã Costa, em artigo no Público de ontem, assinado pelo abastado socialista de Bruxelas mais os amigalhaços José Leitão e o inefável Pedro Silva Pereira, fazem a apologia da FAUL de onde o autarca acabou de se demitir. Dizem eles que foi na Federação da Ária Urbana de Lisboa, que nasceram muitas das políticas públicas socialistas a favor da integração dos imigrantes, que o socialista camarário com o seu propósito deita a perder. Bem entendido, toda a estratégia do esquerdista agora à frente do PS foi, desde a primeira hora, uma tentativa de banir da memória aquele que se ri de coração e bolsos cheios, anafado de honrarias e, provavelmente, ainda a magicar voos mais altos. Ele é o estratega, o outro o emotivo, o repentista.  Entre um e outro, venha o diabo e escolha. 

         - Antes de deixar Lisboa, ontem, passei no C.I. para comprar o jantar e de caminho o livro de memórias de Alexei Navalny que estou a ler com interesse. O carrasco Putin aparece logo nas primeiras páginas das quinhentas que tenho para devorar. Como é possível (penso nisso muitas vezes) que o Partido Comunista defenda um ditador daquele calibre! Daí que alargue o meu pensar e imagine Portugal sob a alçada do comunismo um dia. Terror, terror. 


quarta-feira, novembro 06, 2024

Quarta, 6.

Como eu previra (v. sábado, 2), Trump saiu vitorioso do confronto com Kamala Harris. Serei eu mais inteligente, olheiro ou perspicaz? Nada disso. O que se passa é que os nossos queridos jornalistas vêem a América com olhos pequeninos, ainda por cima arrimados à esquerda, e não são capazes de analisar com independência factos e circunstâncias, atitudes e ideias de passagem e ligá-los ao que necessariamente vem a seguir, muitas vezes no oposto daquilo que foi proclamado durante os comícios. Assim, adianto, que muito do que Donald Trump disse que iria fazer, não acontecerá. Não só porque ele aprendeu a lição do seu anterior mandato, como porque o mundo mudou e força-o a ser mais cordato, condescendente, cauteloso e lúcido. Sem que com isso deixe de pôr em prática muito dos programas enunciados, mais a mais porque a vitória foi arrebatadora com o Senado e a Câmara dos Representantes a engrandecê-lo. 

         Kamala Harris, como aqui disse, foi uma espécie de abencerragem que os democratas julgavam ser a primeira, mas acabou a última. A sua candidatura foi atabalhoada, a senhora não possuía atributos para o cargo (embora se tenha desenrascado com esforço), mas era alguém que enquanto vice de Biden fora obscura, não tinha a simpatia dos americanos, conhecia-se o seu passado pela Administração Pública, mas não possuía talento e originalidade para a Presidência. Caiu em esquemas que não convencem ninguém e são apanágio das esquerdas como a hegemonia das mulheres, o acolhimento dos imigrantes, a concordância com as espécies de sexo assumidas como bandeira de um terceiro ser que se desfaz das origens para se transformar em algo que o futuro ainda não ditou qual virá a ser. Isto é, preferiu as modas, o patuá, as ideias feitas, à concepção da realidade enquanto valor colectivo. Porque, adianto já, nos aspectos económico-financeiros, falou a América que, de esquerda ou direita, sobrevaloriza a riqueza enquanto arma que subjuga os pobres, as nações, faz as guerras e reduz o outro a lixo. Curioso. Lendo e escutado os media nacionais, a vitória da senhora era um facto consumado. 


terça-feira, novembro 05, 2024

Terça, 5.

Deixei-me levar na torrente da chuva batendo nas janelas. Ela tinha o mesmo timbre do silêncio de asas abertas no dia encolhido de tristeza. Pensei ir nadar, mas o rumor, lá longe, onde as dores se acolhem, reteve-me. No caminho de terra batida aonde chego quando daqui parto, não passava vivalma. Havia, todavia, no túnel de arvoredo encharcado, um mistério que não ousei decifrar e se fez a pouco e pouco uma memória por inventar. Desviei o olhar das estantes de livros quedos, do rumor das vozes surdas que proliferam por toda a casa e fiquei quedo a escutar tudo quanto não ousarei divulgar. Há um mundo que me espera, mas eu hesito em conhecê-lo, a mente perturbada pela incógnita que sobrou dos anos vividos. Sem pressas, contudo, vou-me aproximando, espreitando quem foi adiante, e nada rima com o salmo decantado levantado das cinzas dos mares. 



segunda-feira, novembro 04, 2024

Segunda, 4.

Quando Luís Montenegro falou em libertar a escola das “amarras a projectos ideológicos de facção”, o ex-ministro do Governo de má memória, Sr. João Costa, apressou-se a chamar ao proposto pelo primeiro-ministro, um “retrocesso civilizacional”. Pois é. Quem lhe responde à letra, em artigo ontem no Púbico, é o professor João Marôco. Aconselho a sua leitura que não se restringe ao momento, vai lá atrás acusar os sucessivos ministros da Educação de preferirem os portugueses reduzidos à escolaridade obrigatória, que nada tem a ver com Cultura. A esta gente, a quarta classe, basta. Quanto mais analfabetos, humildes e alienados ao futebol enquanto pilar do “bom povo português”, melhor.  

Eis a nossa triste situação e matéria de Leitura, Matemática e Ciência. 

         - O meu Centro de Saúde era exemplar em tudo. Hoje é um desastre e a razão foi-me transmitida: a tomada extraordinária de gente vinda do Nepal, Afeganistão, Índia, África. Elas com filhos na barriga; eles com toda a sorte de doenças que a pobreza e a miséria produzem. Acresce que há pouco pessoal auxiliar e médico para esta avalanche que serve os mafiosos para ganhar muito dinheiro ao trazê-los para o nosso país onde a saúde é à borla. Esta é mais uma obra transgressora de António Costa. Faz muito bem Luís Montenegro em estabelecer regras de entrada no nosso país, de contrário somos nós os prejudicados e a ira contra os imigrantes vai entrar em fase de ódio – os pobres não têm culpa. Ficam bem os socialistas contentinhos com as suas ideologias, mas a prazo são os portugueses que vão sofrer (já sofrem) com o SNS de pantanas.  

         - O desplante do Vasco Gonçalves não sei como classificá-lo. Tudo o que ele condena ao Governo actual, foi exactamente aquilo que os socialistas fizeram. Por exemplo. Ele reprova ao primeiro-ministro não ter ainda ido aos locais onde a desordem e o crime imperou e fala de leis que não são aplicadas ou deviam ter sido ordenadas, mas omite as dezenas e dezenas de decretos-lei criados por Costa, muitos deles renovados ou esquecidos três ou quatro dias depois de terem sido publicados. Dir-me-ão, mas este secretário-geral do PS não é António Costa. Compreendo. Não ignoro, todavia, que ele quis fazer esquecer o reinado do seu antecessor e o resultado está à vista: da escolha dos eurodeputados à forma atabalhoada como se tem imposto ao país. O homem não tem sensibilidade, não possui grandeza, personalidade, saber para ocupar o cargo. Só o radicalismo partidário não vê o que salta à vista de qualquer pessoa que pensa, observa e avalia. 

         - Outra tragédia se anuncia para o Sul de Espanha. Desta vez o temporal parece ir-se deslocar para Barcelona. Seja como for, em Valência e burgos adjacentes, a água que entretanto caiu, aumentou a desgraça voltando a inundar e a criar lodaçal sobre lodaçal. Os atingidos gritam por socorro, têm fome e frio, estão sem tecto nem lugar onde dormir, têm a vida virada do avesso. Sánchez, do interior confortável do palácio de Moncloa, fala em prender os criminosos, promete, promete mas não ousa descer ao terreno onde os infelizes o enxameiam de ignomínia. 


domingo, novembro 03, 2024

Domingo, 3.

São difíceis de ver as imagens que continuam a chegar de Valência. A única nota positiva foi a chegada maciça de voluntários vindos de toda a Espanha. É impressionante ver aquela mobilização quando falta tudo (ou quase) da parte das autoridades locais e sobretudo do governo central. Ao quarto dia, apareceram o Rei e a Rainha,  e também Pedro Sánchez. Foram corridos pela população indignada com a indiferença das autoridades, ouviram, alto e bom som, a população a insultá-los: “fora daqui”, “assassinos, assassinos”, enquanto lhes atiravam com lama. O governante socialista, para quem a propaganda é a sua principal nota governativa, ainda não decretou a calamidade nacional nem solicitou à UE ajuda. De facto, de tantas cadeias de televisão que tenho visto (nacionais e estrangeiras), nunca presenciei imagens de agentes da autoridade ou militares no teatro das operações.   

         - Surpreendeu-me pela positiva o artigo do cineasta Luís Filipe Rocha sobre o activista e revolucionário Camilo Mortágua, publicado no Público de hoje, falecido aos 90 anos. Embora a personagem não me diga nada, o artigo disse-me muito. É bem pensado, magnificamente escrito, num português eloquente, que não só aviva a memória do lutador, como deixa dele a imagem que nem todos partilham. Retenho esta passagem por me parecer à luz dos nossos dias arauto inestimável. “Nunca o poder ou a política enquanto palcos ou trampolins de cargos e benesses públicos ou privados, de carreira partidária ou verborreia ideológica lhe interessaram.” 

         - De facto, enfim, não há maior satisfação e alegria, bem estar e júbilo que o duche que reencontrei após um longo período de banhos comme ci comme ça. 


sábado, novembro 02, 2024

Sábado, 2.

Tenho acompanhado com interesse a campanha para a presidência dos EUA. A impressão que tenho é que Trump sairá vencedor do confronto com Kamala Harris. Não me informo lendo e ouvindo o que dizem entre nós jornais e televisões que, como é habitual, propagandeiam a temática dos socialistas. Faço-o lendo e vendo outros meios de informação internacionais mais independentes e, portanto, objectivando com seriedade factos e acontecimentos. A eleição do trovão vai ser uma desgraça para o mundo, mas a sua opositora é fraca, durante o seu reinado como vice, não passou da cepa torta, é uma construção para correr com Biden que também foi um Presidente medíocre.  

         - Ficam-me os olhos de mágoa ao ver a catástrofe que se abateu no Sul de Espanha. O número de mortos não pára de crescer e já ultrapassou as duas centenas. É dramática a situação de milhares de espanhóis que tudo perderam: casas, familiares, haveres, ruas e pontes, auto-estradas e os sítios herdados dos seus antepassados. Sobra a extraordinária mobilização de todo país que desembarcou em Valência e arredores para ajudar quem precisa e confortar os abandonados à sua sorte. Que alguma lição se tire desta desolação e se pense em construir menos, de forma a que os solos possam absorver o que por direito lhes pertence.   

         - A saga do Skoda ainda não terminou. Esta manhã fui meter gasóleo quando um grupo de homens que por ali parava, me alertou: “Já viu que está a perder combustível no chão.” Abri o capô e na realidade vi esguichar por um pequeno tubo o líquido. Um deles que trabalhava na gasolineira, propôs-se ajudar-me. Fez várias tentativas com fita adesiva para bloquear o furo do tubo do rotor (julgo que foi assim que ele lhe chamou), mas em vão. Telefono ao ucraniano que ainda estava a dormir e combinámos que ele viria buscar-me para juntos irmos ver o que se passa. Resumindo: a falta foi do mecânico segundo o empregado das bombas, porque ao pôr o novo motor devia ter substituído todas as borrachas e tubos com ligação ao mesmo – coisa que não aconteceu. 

         - De igual modo a questão do furo artesiano. Diz-me o simpático rapaz que há quatro anos era uma beleza e agora apareceu de pança majestática e cara de bolacha, que o total do arranjo rondará os 300 euros. Decididamente a riqueza não quer nada comigo. Contudo, se puder tomar hoje um duche comme il faut, ressuscita em mim a bem-aventurança. 

          - A lição de bom português, registada na RTP1: “O porquê que vai impactar tudo isto...”


sexta-feira, novembro 01, 2024

Sexta, 1 de Novembro.

O presidente da Câmara de Loures, perante as noites de pré-revolução que tiveram lugar em muitos sítios da capital e arredores, incluindo, Loures, na sequência da morte do infeliz africano morto a tiro na Cova da Moura, decidiu expulsar os cúmplices pelos estragos públicos, com aprovação do Chega e outros partidos à excepção do PCP, das casas de renda económica onde vivem. Embora não concorde com o vandalismo a que se assistiu, e ache que devem ser condenados e ficar atrás das grades, penso que esta não é a melhor forma de fazer justiça e não estranho que tenha saído de um socialista de gema. Vimos muitas coisas parecidas nos oito anos de governação António Costa. Esta gente nunca me enganou. Se fosse Montenegro ou Moedas a fazer um tal descrédito, caía o Carmo e a Trindade, corridos a fascistas e racistas. Como foi um socialista, bico calado. 

         - Esta manhã, na Brasileira, uma senhora empregada já com alguma idade, que se exprime num português impecável, superior ao de quase todos os políticos, diz-me de imprevisto: “O senhor é muito bonito e jovial.” Encolhi-me, apalermado. Recompus-me e fui pedir parecer a dois dos rapazes que nos servem à mesa: um cabo-verdiano, outro português, ambos pelos vinte anos. O primeiro disse “e é”, o segundo “digo o mesmo”. À mon age! Pena que o Papa Francisco resida tão longe. 

         - Não há nada que não me aconteça. Saí para Lisboa muito cedo deixando o portão aberto para que o técnico que há quatro anos me pôs o furo a funcionar, viesse ver que doença o consome agora. Quando regressei, tinha o tubo da água com os seus oitenta metros, estendido até à entrada da quinta. Telefonei ao rapaz para saber o que se passa e ele respondeu-me que o tubo está roto em vários pontos pelo que tem de ser substituído. Bah! Bem sei que com os seus mais de trinta anos de actividade, merece um fim digno. Mas que diabo! Tudo ao mesmo tempo não dá para aguentar. Annus horribilis