Quinta, 28.
Confesso que me sinto muito perturbado com as memórias de Alexei Anatolievich Navalny morto às ordens do “czar de pacotilha” depois do primeiro envenenamento que recuperou na Alemanha, até ao último e definitivo, no início deste ano. Pensando que me aliviava o cérebro indo fazer uma hora de natação, o facto é que continuei a pensar enquanto nadava na vida aterradora que fora a sua, sob a mãozorra do nazi, durante vinte anos. Recuperado do veneno na Alemanha, podia lá ter ficado como lhe ofereceu a senhora Merkel, mas optou por regressar à Rússia e enfrentar o hitleriano mais o clube de senis saudosos de Estaline, que se apoderou do poder e o exerce com toda a espécie de abusos, impunidade, crimes, perseguições, assassinatos, corrupção, ameaças, pobreza extrema do povo, e nem aqueles que antes estiveram próximos como a dezena de oligarcas que desapareceram, escaparam. Um a um tombaram como tordos às ordens do senhor absoluto. Um das escadas, outro do iate, aquele apunhalado não se sabe por quem, este suicidou-se atirando-se do último andar da sua residência, aquele acolá foi encontrado morto na cama, nenhum, segundo o partido Rússia Unida comandado pelo carrasco, fora obra do FSB. Navalny tinha descendência ucraniana, e quando a invasão acontece, ele está (julgo) na Colónia Penal Pokrov 2 ou na Colónia Penal 6 (a de Melekhovo) ele andou por tantas que me perdi, e anota: “Tudo o que digo fica registado. Por isso, hoje iniciei a minha ida a tribunal com uma petição: Estimado tribunal, desejo oficialmente e para que fique registado declarar que estou contra esta guerra (na Ucrânia). Considero-a imoral, fratricida e criminosa. Foi declarada pela quadrilha do Kremlin para que lhes seja mais fácil roubar. Andam a matar para poderem roubar.” E aqui vai, mais uma vez, a minha indignação e nojo ante a atitude ao Partido Comunista Português na defesa de Putin que é pior que qualquer arrogante Trump ou Elon Musk.
- Foi patética a aparição de Luís Montenegro ontem na televisão, com o aparato ridículo de duas ministras e chefes da GNR, PSP, ASAE e não sei mais quem, em torno dele. Todo aquele deslumbre para falar de segurança e aproveitar para oferecer uns milhões para renovação das frotas automóveis àquelas corporações. É Luís Montenegro em modo António Costa, levando à frente a propaganda que depressa foi descoberta quando ouço um oficial da polícia dizer que já antes tinham prometido a modernização dos veículos e nunca aconteceu.
- Ninguém diga que está bem. O meu amigo Fr. Hélcio, nascido em Cabo Verde, apanhou lá um vírus que o levou para o Santa Maria por duas semanas. Sempre que lhe telefonava ou melhor dizendo, sempre que lhe telefono (ou vice-versa), começo por lhe pedir: “Fr. Hélcio, a sua bênção.” E em resposta; “Deus te abençoe.” Só então falamos ou quando almoçamos, iniciamos a refeição. É um ritual que vem do tempo em que ele era franciscano, antes, portanto, de haver deixado o sacerdócio para se casar com um senhor economista ligado à UE. Ele é muito divertido e parece entender-se bastante bem com o seu namorado (ou marido? Ou companheiro? Ou cara metade?) não sei como dizer e para o caso pouco importa posto que sejam felizes. Mesmo internado e cheio de dores e impossibilitado de andar, nunca o humor lhe faltou e as nossas conversas arrastam-se às vezes por quase uma hora. Desta vez, quando ele me disse que o pé infectado ficara todo branco, eu retorqui: “Mas isso é óptimo. Imagina que esse branco se estende por todo o teu corpo, não há ninguém na Avenida de Roma (eles moram ali numa casa lindíssima e cheia de luz) que não páre para te admirar. Gargalhada à africano, (apetecia-me dizer à preto, pois acho feíssimo negro) despudorada e contagiante.