Segunda, 11.
Para cumprir calendário, assei umas quantas castanhas no forno, ocupei-me do arranjo da cozinha, dei um jeito ao salão, confeccionei um prato no forno para arquivo. Todo este trabalho extra surgido do nada, tirou-me umas horas ao meu quotidiano habitual. Não me lamento porque, a pouco e pouco, aprendo a arte de aceitar o que o destino escolhe para me abastecer os dias. Neles cabem tanto o deslumbre como o inevitável.
- As intempéries que assolaram Valência e arredores, não cessam de nos atormentar. Sabe-se agora que os mortos foram 220 e mais de 50 pessoas continuam desaparecidas, 100 mil viaturas apodrecem nas ruas, a cidade é ainda um lamaceiro incrível. A população, essa, não desarma e está por toda a Espanha aos milhares a pedir a cabeça do autarca por “assassino” e péssimo gestor da crise. Ele e Sánchez.
- Trump, na língua dos russos e italianos, pronuncia-se “trampa”. Donald Trampa. Haverá coincidências?
- Grosso modo, o Executivo de Luís Montenegro oferece-me confiança. À parte, talvez, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, com o seu infeliz prenúncio de que em Janeiro iria discutir com os sindicatos das forças de segurança o direito à greve dos agentes da ordem, e indo lá atrás à gestão dos fugitivos (ainda nem todos encontrados) da cadeia de Vale dos Judeus que também apalermou o bastante, todo o resto da equipagem tem a minha simpatia. Mesmo aqueles de quem tinha dúvidas, mostram-se competentes, céleres e correctos nas decisões. Até porque a greve dantes era o derradeiro recurso; hoje é uma arma rápida de manejar bastando um sopro dos sindicatos ou partidos. Gente que diz favorecer os trabalhadores, coitadinhos, com quem eu viajo e espero nas gares tempos incertos de chegada dos comboios, e ouço os seus dramas e lamentos pelo transtorno pessoal e financeiro que isso lhes acarreta e de que os barões sindicais se estão literalmente nas tintas. Sou dos que acham urgente rever a lei que permite tantos abusos, decretar interrupção de serviços públicos às sextas e às segundas-feiras, encostados a fins-de-semana longos que tanto jeito dão aos revolucionários. O savoir-faire desta gente é uma arte conquistada pelo 25 de Abril, Sempre.
- Não resisto a transpor para aqui o artigo de António Barreto “A democracia também é de direita”, saído no Público de ontem. Esta passagem: “Identificar a democracia com a(s) esquerda(s) e estas com a bondade e a humanidade é o mais miserável erro de pensamento político que se pode imaginar. Impede de pensar e compreender. Dispensa a argumentação. Quem assim se comporta ajuda as autocracias de todo o mundo. Estimula as direitas.” Está tudo dito e não fui eu que o disse.
- Os governantes europeus condenam a prisão os manifestantes antissemitas, como este fim-de-semana aconteceu quando eclodiram escaramuças no final do jogo entre o Ajax e o Maccabi (isto para mim é chinês, transcrevo como leio). Nem sei quem ganhou e para o caso pouco importa. O que resultou foi mais impressionante que o jogo, e redundou em confrontos que fizeram cindo feridos e 62 detenções. O acontecimento teve lugar em Amesterdão e os revoltosos investiram sobre os adeptos israelitas em sinal de protesto contra a guerra na Faixa de Gaza, melhor dizendo, ao genocídio palestino. Podem os governos tomar tais medidas quando a hipocrisia os leva a fornecer armas a Israel? É a minha pergunta, a minha pura e absoluta revolta.