quinta-feira, fevereiro 27, 2025

Quinta, 27.

Voltei à piscina esta manhã, não em busca de alguma surpresa, mas para perder o peso que adquiri ontem no almoço em casa do Virgílio Domingues. Encontrámo-nos na Brasileira com a Maria Luísa que o assiste há dez anos, e dali fomos ao seu apartamento na Lapa. Antes de nos sentarmos à mesa, percorri o espaço constituído por três divisões, cozinha e um pátio à moda lisboeta que eu tanto gosto. Que conforto, que silêncio onde as sombras voluteiam e nos sentimos recuar nos anos para espaços idênticos selados pelo afecto que renasce nas memórias que se atropelam. O escultor, logo que entramos, oferece-nos uma peça sua, com cerca de meio metro, um par enamorados olhando-se pela eternidade e todas as paredes cobertas de livros e arte. Magníficas telas do seu amigo com quem partilhou atelier João Hogan e eu conheci relativamente bem, esculturas e objetos artísticos por todo o lado, do mobiliário à mistura deliciosa que ergue a identidade e traduz a personalidade que nele vive. Um desenho emoldurado atraiu a minha atenção e deixei nele o olhar, a ternura, o talento, a magia. São três traços apenas, mas com tal força, presença, arte expressiva que ficaria esquecido a tarde toda a admirar a face colhida de lado do seu amigo Hogan. Que pequena-grande obra genial! Depois sentámo-nos junto à janela larga que dá para uma espécie de largo onde não passa ninguém e os carros se alinham no espaço uns contra os outros. A cortina que traça a luz de um lado ao outro, dá ao interior claridade matizada. Faz frio na peça onde estamos, há humidade, segundo Maria Luísa. O artista tosse amiúdo, uma tosse seca, provavelmente devido ao ar que ali se respira. Acabámos o cozido à portuguesa, estamos sentados no sofá onde Virgílio passa os dias e as noites, diante do aparelho grande de televisão. Maria Luísa fala-me deste diário, não compreende por que conto tudo, incluindo as miudezas da vida. Digo-lhe que um diário é isso mesmo: um estender dos grandes e pequenos momentos da existência, um auto-retrato preciso e impreciso, capaz de deixar a marca do diarista que se expõe com liberdade como santidade e sentido impoluto dos outros. De contrário não é um diário, não é o testemunho singular de alguém que se descobre na inocência que o habita. Explico-lhe que Gide criou a personagem que gostaria de deixar, quero dizer, serviu-se do diário para fazer ficção. Já Julien Green, Ernst Junger, Matzneff, Virginia Woolf, Klaus Mann e tantos outros arriscaram desnudar-se e daí hoje a eles voltarmos para nos abastecermos da sua experiência de vida humana e redentora. Deixei o meu querido amigo por volta das quatro da tarde. Antes fui ao pequeno quintal e aí passei-lhe um raspanete por o deixar ao abandono. Uma grande palmeira, encostada ao muro que dá para o vizinho, esse bem aproveitado, a par de um canteiro de minúsculas flores brancas, sós e infelizes, pouco ou nunca vêem o rosto sereno do seu residente. 

         - Antes de ir ao encontro do meu amigo Virgílio, tomei um táxi. Ao chegar a Lisboa fui directo ao Instituto Gama Pinto. Queria ajustar contas com aquele rebanho de funcionários, que, depois de um ano de espera para a cirurgia à catarata, decidiu mandar-me para as calendas numa carta onde me acusa de ter faltado a uma consulta importante, dia 30 de Setembro do ano passado. Acontece que, danado, durante o fim-de-semana, numa casa cheia de papéis e livros, consegui encontrar os dois documentos dos exames realizados no hospital de S. Lazaro. Felizmente, nem todos os funcionários, são n´importe quoi. Logo a chegada dei com o rapaz da secretaria a quem me tinha queixado da balda dos colegas. Sorridente, disse-me que tinha toda a razão e que o assunto já estava solucionado e a operação marcada para dia 30 de Março. De todo o modo, tenciono enviar à Ministra da Saúde a documentação que diz muito da desorganização e falta de respeito de pessoas que deviam honrar o cargo que têm. 


terça-feira, fevereiro 25, 2025

Terça, 25.

O mundo é chuva no molhado. As nossas apresentadoras, locutoras como antes se chamavam (agora é tudo jornalista), aparecem muito aperaltadas, com duas rolas a insinuarem-se do soutien. Eu não vejo isto nas estações televisivas estrangeiras, por cá deve ser moda e moda pacóvia. O mais curioso (ou talvez nem por isso), é vê-las antecipando a morte do Papa Francisco, vestidas de negro, mas... com aquelas duas arrulhas a espreitar. Depois admiram-se que os homens lhes atirem piropos a que chamam assédio. Por mim, estou sempre de atalaia, a ver quando elas se escapam e se oferecem em voo para a cama mais próxima. 

         - Mas também é este. Um tipo horroroso de aspecto, que tem por profissão influencer (imagine-se!) confessou num Podcast: “Atropelei uma pessoa e fugi. A sério. Ali na subida de quem sai do Bingo da Amadora.” - concluindo com uma risada esfrangalhada. Acontece que o marginal andava a ser procurado pela Polícia por aquele crime, que deixou uma jovem mãe de dois filhos limitada para o resto da vida. Ela diz que não foi um toquezinho, está parada há um ano. Estes ídolos incubados na manjedoura da Internet, fazem as delícias de uns quantos idiotas que os têm por maiores. Pobre sociedade, que resvala para a pocilga atirada pela mixórdia ideológica que tudo aceita em nome da liberdade de expressão.  

         - Emmanuel Macron que continua benevolente, foi a Nova Iorque falar com Trump sobre as negociações unilaterais com Putin acerca da paz na Ucrânia. Eu que na sua versão rei de França o contestei, reconheço agora que o seu papel e visão sobre a Europa a devir é correcto. Ele percebeu, com antecipação, o futuro do velho Continente e pena é que esteja desacreditado junto dos franceses. Gostei daquela mão enluvada, quando corrige Donald Trump quanto ao montante gasto pela Europa na Ucrânia. Ele, só, vale pela Presidente da Comissão Europeia e pelo seu secretário juntos. 

         - Se me permitem, trago para aqui José Pedro Teixeira Fernandes outro dia no Público: “ (...) a política internacional não se esgota nas questões de moralidade, nem de legalidade. Esse é o mundo ideal (entenda-se utópico) normativo e da teoria jurídica. Nunca foi, mesmo nos momentos mais cooperativos da humanidade, o mundo prático e real da política”. 

         - Fui à natação. E de súbito, do meio da natureza murcha e desfeita da beleza consumida pelo tempo, eis que surge uma beauté esguia, ante a qual o trânsito emocional se atrapalha, figura onírica desassossegando o equilíbrio que julgava ter alcançado. A própria manhã se quedou numa excitação-delírio, que amortizou os movimentos do corpo e desviou da rota o obsessivo matutar do impossível... 


segunda-feira, fevereiro 24, 2025

Segunda, 24.

Faz hoje três anos que o ditador Vladimir Putin invadiu a Ucrânia. O prepotente presidente da Federação Russa, pensava que revolveria a coisa em meia dúzia de dias. Enganou-se. De nada lhe serviu alterar a Constituição e impor que o seu reinado acabará em 2036, a sua humilhação começara em 24 de 2022. Neste entretanto, Volodymyr Zelensky, completamente só, e só durante praticamente todo o primeiro ano de guerra, investiu, defendeu-se, contra-atacou, enquanto se ia desmultiplicando pela Europa, EUA, Japão, e diversos países da ex-URSS, da UE solicitando armas, ajuda para os refugiados que debandavam da Ucrânia diariamente aos milhares. A Europa que tinha intuído e bem, que a seguir à anexação da Ucrânia outros países europeus fazendo parte da União Europeia e da NATO, estariam na sua desmedida ambição de reconstruir o império russo que ele acusou Gorbatchov de haver desintegrado, foi lenta como é hábito dos políticos bem instalados, que precisam de 400 reuniões com seus almoços demorados, viagens em primeira, palácios e paisagens idílicas, para começar a perceber a solidão imensa de um homem e de um povo que não estava preparado para investir sobre um exército de gananciosos oficiais e lambe-botas, onde a depravação há muito se havia instalado. É meritório o esforço deste homem, com o seu exército e muita corrupção que vinha dos anteriores presidentes pró-Putin, a pouco e pouco, sem descanso, com um Biden hesitante, foi convencendo pela palavra, pela acção, pela união e confiança do seu povo, o mundo da sua justa argumentação. A Europa da UE, como sempre entretida na palavrosa enfiada de reuniões, de argumentos, de significações que se arrastaram por semanas, meses, anos retardando a ajuda económica, militar, política que tanto entristeceu o povo e os seus dirigentes. Depois, eis-nos chegados ao poder dos oligarcas americanos. Com Trump a brutalidade, a balda, a força sobre o mais fraco, os valores da ética e da moral suplantados em favor da riqueza, da América fechada, forte e narcísica, com o poder e a ambição tirânicas de quem não é por nós é contra nós. Assim, dentro dos seus códigos de bando tresmalhado, Trump elege Putin preferencialmente, esquecendo-se que foi ele o invasor. E fazendo jus à sua técnica de usurpação, nas tintas para quanto o povo ucraniano vem sofrendo, ainda se quer abotoar com as terras ditas raras onde abundam as matérias que hoje fazem os multimilionários como o vilão Elon Musk. E não só. A sua proposta para a paz, acordada apenas com o tirânico russo, vai permitir que ele fique ainda com mais território ucraniano. Não lhe basta a Crimeia que usurpou com a conivência dos políticos medíocres europeus, quer também os territórios conquistados ilegalmente nesta guerra. Zelensky disse hoje que está disposto a deixar a presidência pela paz ou entrada do país na NATO. Tristemente, uma vez mais, a senhora Ursula von der Leynen  e o seu secretário António Costa, foram a Kiev vender ilusões e traições, promessas e desilusões.  

         - Outro foco que se reacendeu com o orgulho e ambição turística-imobiliária espalhada por Trump, é Faixa de Gaza. A conta gotas, lá foram libertados de ambos os lados os reféns e presos retidos com a mesma violência e indiferença pelo ser humano. Estas operações, têm servido às mil maravilhadas para o HAMAS exibir com grandeza e aprumo, o seu imenso poder. As cerimónias de entrega pelo grupo, são um espectáculo de humilhação ao orgulho de Netanyahu. Ele que queria eliminar a organização, repara decerto agora que isso nunca será possível.  

         - O terceiro foco que inquieta a Europa e o mundo, é o estado em que se encontra a Alemanha. Ontem houve eleições e toda a gente temia a chegada da extrema-direita da senhora Alice Weidel ao poder. Não aconteceu e o resultado deu a vitória ao CDU que irá governar com o SPD do primeiro-ministro derrotado. Perdeu esta e perderam Elon Musk e o seu acólito Donald Trump. O pior é a construção da verdade ou antes das verdades que hoje inundam o mundo e baralham os imprevidentes. Aquela senhora que preside ao AFD, é lésbica e vive em comunhão de facto com uma estrangeira, por sinal bem mais bonita do que ela. Até aqui nada a dizer, é tudo muito moderno. Não fora dar-se o caso de o partido condenar a homossexualidade, ser contra os imigrantes, amar a ordem e a autoridade. Bah! Então em que ficamos? 

         - Esta razia da direita e extrema-direita que varre o mundo, devia inquietar a esquerda. Mas, não. A ganância pelo poder é a mesma e não distingue uns e outros. Os valores apregoados pela direita, são, grosso modo, admitidos pela esquerda, uma vez conquistado o poder. Mortas as ideologias de um lado e outro (o clima ainda veio sacudir a esquerda, mas...), enterrado Deus com o seu humanismo sagrado, a cultura e a educação, substituídos pela obsessão da riqueza, nada mais resta após o enterro das ideologias. Um enormíssimo vazio cobre os homens. Um qualquer ditador espreita. As liberdades estão fragilizadas.  A dignidade humana desfeita. A escravatura consolida-se. A merdoîde de políticos aí está. 

         - O Papa Francisco luta contra a dupla pneumonia e as comorbidades que vêm do passado. Eu sou dos que rezo pela sua saúde, porque sua Santidade faz-nos falta nesta altura em que o mundo desagua para  fossa da indiferença humana. E lembrar-me eu que Trump invoca Deus que o protegeu do atentado para salvar a América e Putin diz que foi Ele que o designou para o cargo que ocupa. Que charlatões! 

         - Este dia sublime de sol e silêncio, claro e commumente tão desejado, é uma bênção que o país não aproveita para alterar os caminhos que nos levam ao desastre. Ver os sinais, é só uma questão de atenção. 


sábado, fevereiro 22, 2025

Sábado, 22.

O Parlamento é um lavadoiro onde cada deputado lava diariamente a roupa suja. O nojo em que os “democratas” transformaram a nossa vida colectiva! 

         - Ia-me passando. O homem está taralhouco. Refiro-me a Trump. Dele tudo é de esperar. Aquela de acusar Zelensky de ditador e apreciar Putin, é de alguém que está com os níveis de demência muito elevados. Eu percebo. Putin nos seus esquemas de corrupção - ele fez-se à custa dos oligarcas russos -, entender-se-á muito bem com o especulador de arranha-céus. São os dois da mesma massa. O ego do homenzinho é tal, que acusa o Presidente da Ucrânia de “ditador sem eleições” e adverte-o que “se mexa depressa ou deixará de ser um país”. Acontece que Zelensky foi eleito com 73 por cento de votos e ao abrigo da Constituição, com a lei marcial em tempo de guerra em vigor, não pode haver eleições. Suponho que o Presidente até gostaria de deixar o barco, atendendo ao enorme esforço que tem feito para conduzir o país e a guerra nas condições que sabemos. Mas não são os milhões que o vulgar Trump joga boca fora, que vão convencer os ucranianos a ceder aquilo que por direito lhes pertence. Mais: segundo li, o povo depois de escutar os trovões do ordinário homem de negócios, ainda se uniu com mais certeza e força em torno do seu Presidente. 


sexta-feira, fevereiro 21, 2025

Sexta, 21. 

A anedota do ano relacionada com o SNS que não digo tenha sido montada por António Costa embora ele tenha ajudado, diz respeito à vergonha, ao desprezo pelo cidadão, à excessiva dependência das ordens do Governo em liquidar o pensamento próprio de cada funcionário, ao impor regras rigorosas que retiram humanidade ao sistema e não responsabilizam ninguém pelos actos inumanos que praticam. Assim, esta semana, um pobre idoso cai desamparado no grande largo em frente ao hospital de Évora Os transeuntes acodem, chamam alguém do hospital diante dos seus olhos que nega vir em seu auxílio, por fim chegam os bombeiros e nem eles têm autorização de levar o infeliz sem que antes tenham ordem expressa do Saúde 24. Este ridículo trágico, é a imagem de uma democracia voltada do avesso, é o retrato de um sistema burocratizado, onde os ideais de Hipócrates estão mortos e enterrados e com eles a sua natureza, copiada por um homem honesto, competente e humano, sempre com um leve sorriso na face, António Arnaut. 

         - Cada português tem uma história para contar sobre o sistema de saúde. Eu tenho a minha que ainda ontem me levou ao Instituto Gama Pinto porque, em vez de estar a ser operado à catarata, tinha recebido na véspera uma carta a dizer que não seria operado “porque faltei a uma consulta no dia 30 de Setembro do ano passado”. Uma mentira que me foi fácil desmontar. Todavia, por descanso, fui consultar o que tinha registado neste Dário e lá estava narrada a consulta que agora dizem nunca ter acontecido. Fui muito bem atendido e compreendido por um jovem da secretaria do hospital que, à medida que eu ia debitando datas, actos médicos e referências pessoais, ia conferindo no computador a minha verdade. No final disse-me que iria apurar a veracidade da carta e depois me telefonaria. “É verdade que está tudo em ordem”, descansou-me. 

         - Continuemos. Tendo acordado às seis da manhã para chegar à oftalmologia às oito, fui depois à Brasileira festejar com o Vergílio os seus 93 anos. Só não participei no almoço porque tinha a consulta com a Dra. Vera Martins às 14,30. Bref. Levei-lhe os exames que estavam, afinal, todos bem à excepção do da coluna e colesterol e mais uma vez não aceitei tomar as Sinvastatinas. Quanto à coluna, disse-lhe que as dores tinham desaparecido e quando pensava que me iria receitar anti-inflamatórios, disse-me que tomasse Ben-U-Ron quando sentisse dores e nadasse. Bela prescrição! 

         - Não quero deixar de contar a queda (há muitos meses que não caía) quando tentei acudir ao Virgílio na descida da esplanada do café. Cuidei que ele ia a tombar, mas quem acabou no chão fui eu, não tendo dado atenção ao degrau que aí existe onde há uns anos também me havia espojado como se fosse um novel sacerdote diante do Papa Francisco a ser ordenado padre. À parte o joelho direito um pouco estragado, nada de grave daí resultou. Esta manhã, o enxame de rapazes de mesa (que ontem não estavam de serviço), a saber como me sentia. Simpatia. 

         - Escrevo estas linhas no café da Fnac. Aqui ao lado, na mesa voltada para a rua, está um homem a ler, atentamente, um dos três grossos volumes que tem sobre a mesa. Ao lado dele está, provavelmente, o seu colchão e num saco azul com os seus pertences. Não cheira nada bem, e talvez seja um desses vagabundos que a cidade acolhe com indiferença. A roupa não vê água há muito tempo e a boina que tem na cabeça a suportar o cabelo em tranças até ao pescoço, é imunda. Mas quanta dignidade, meu Deus! Lê com profundo interesse, mergulhado numa liturgia que ele criou para se isolar do mundo desgraçado que o acolhe desviando o olhar da majestade suprema que o interesse pela cultura honorifica.  


quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Quarta, 19.

O que há de curioso na política portuguesa, é ver todos os partidos entrar no jogo do Chega. Como André Ventura não tem programa, ideias, intercâmbio com o conhecimento, com as forças sociais, os outros partidos, impõe-se com a guerra do faits-divers, da calúnia, do calão, da afronta selvagem e básica. Mas quando, depois de tanta agitação e berraria não encontra resposta, lança a bomba atómica para o meio do Parlamento na forma de moção de censura ao Governo. Quase todos os deputados do Hemiciclo (incluindo os da esquerda), já disseram que votarão contra. Portanto, uma inutilidade que só serviu para encobrir os seus próprios problemas e chamar a atenção para a sua existência. Qual a causa invocada? A presumida cumplicidade em negócios de terrenos, compra e venda de imobiliário, por parte do primeiro-ministro com empresa da família, criada há quatro anos, portanto, muito antes de ser chefe do Governo. E assim continuamos nós a perder o tempo precioso para acabar com a pobreza, dar saúde e escolaridade de primeira aos cidadãos. 

         - Recebi os resultados da radiografia aos lombares – um desastre. Pelos vistos tenho a coluna em desmoronamento. Amanhã irei apresentá-los à minha ilustre médica dita de família e ver o que pensa a Dra. Vera Jardim. Estou muito curioso. 

         - À parte isso, a vida imiscui-se por aqui e por ali de uma forma sensual. Quero e não quero absorvê-la. Tem dias que uma hora a admirar o pequeno-grande mundo que se expõe numa árvore, que se insinua na voz de um passante, no murmúrio quedo da tarde transbordante de massa lúcida e absorvente, me deixa parado no princípio dos princípios quando me achei um ser humano transportando o tempo enquanto substância de eternidade. Todavia, neste incessante movimento que é vida na sua essência, perpassa um qualquer fio impreciso que me paralisa e deixa absorto. E também a lassidão que me prepara para o melhor ou pior: o que aí vem cercar-me-á da lucidez bastante para aceitar por natural o resultado que certifica a existência plena da vida. 


terça-feira, fevereiro 18, 2025

Terça, 18.

Na trapalhada própria de um especulador, Trump orienta os seus piões de brega numa dança desorientada. Diz que convoca este e aquele, mas esquece-se de os avisar. Entretanto, a Rússia, sentindo-se apoiada e com alguém na Casa Branca do seu lado, já se dá ao luxo de falar alto, o próprio speaker de Putin deixou de ser uma fotografia tendo em fundo a voz, para aparecer em pessoa a debitar ordens do patrão. Enquanto isso, a Reuters teve acesso a um questionário enviado para as capitais europeias a perguntar quem estaria em condições de garantir a segurança, quais as nações que estariam dispostas a enviar tropas para a Ucrânia como parte de um acordo de paz e qual o montante da força militar liderada pela Europa. O inquérito não pára aqui. Os EUA querem igualmente saber se os aliados (note-se) estão preparados em caso de ataque da Rússia. E a coscuvilhice tácita continua: “Que capacidades adicionais, equipamentos e opções de manutenção sustentada está o seu governo preparado para fornecer à Ucrânia?” Quer dizer, de posse destes dados, Trump vai poder jogar em seu favor, do lado do seu amigo Putin, mas a UE não mete o nariz nas conversações para acabar com a guerra que está à sua porta. Putin vai enganar alegremente um espertalhão que soube vencer na vida a especular na bolsa imobiliária e em breve conquistará os territórios da ex-URSS (o chamado império russo) que Gorbachov desintegrou.  

         - Aquela de Netanyahu querer acabar com o HAMAS, serve apenas os que acreditam em balelas de alguém que antes de tudo quer salvar a pele. Veja-se o caso do célebre Daesh criado na sequência da política sinistra de George W. Bush, no Iraque. Ele aí está a impor-se tantos anos volvidos. Qualquer país lhe serve, desta vez a Somália, de onde expande vitorioso a sua ameaça sobre o mundo. Embora não esteja do lado dos extremistas árabes, nem concorde com as suas acções violentas, o facto é que, no caso da Faixa de Gaza, o próprio Netanyahu os sustentou e, portanto, a ele se deve o ataque de há dois anos. O curioso, contudo, não obstante a violência exercida, é ver que os reféns saem dos seus túneis aparentemente sem danos físicos, exibindo até saúde, e entregando-se aliviados nos braços dos seus entes queridos. Mas é justo que o HAMAS reivindique o seu território (não vale a pena falar da Autoridade Palestiniana porque quase desapareceu), quando o da compra e venda de imobiliário quer correr com o povo do seu país legítimo, para aí erguer a Riviera Francesa. O homem enlouqueceu e ninguém o enfrenta. 

         - Recebi os dados do check-up. De uma maneira geral estão todos bons. Apenas o colesterol se mantem nos 256, porém o dito bom, protege-me e mais os triglicerídeos com vantagem. O açúcar está nos limites, eu sei qual a razão: excesso de doces pelo Natal. É fácil retornar ao antigamente. Quem melhor que cada um de nós pode ser o vigilante da vida que nos foi dada viver? Acresce que no tempo do meu pai, o limite para o colesterol era 250. 

         - Nada é melhor que regressar ao romance. Dele me tenho afastado sem saber para que lado pende a minha vida ante o vazio que cava a adversidade, o deserto, a volubilidade. Suspenso no vagante dos dias, sou quem sou? 


segunda-feira, fevereiro 17, 2025

Segunda, 17.

É muito preocupante o estado actual do mundo e, particularmente, da Europa onde nos inserimos. O especulador imobiliário, em tão pouco tempo, parece estar de rastos ante os oligarcas. Naquela equipa governamental, quem é quem está dependente da conta bancária de cada um. O seu vice, veio a Munique dizer claramente aos europeus que não contassem com a América e que os valores comuns antes confiáveis, são hoje uma ameaça aos Estados Unidos mais que a própria Rússia de Putin. Como se a Europa fosse governada por autocratas, tivesse invadido um país soberano, matado para cima de duas dúzias de capitalistas porque discordaram do seu chefe, mais oposicionista Alexei Navalny, destruído a Ucrânia e forçado à morte milhares de compatriotas de ambos os lados, a liberdade de expressão fosse cerceada. Vance, trazia o sermão bem estudado, e nada disse sobre o esquema montado pelo maioral para a Ucrânia, a NATO, a União Europeia ou o que anda a conjurar com Vladimir Putin. Se este comportamento é reprovável, também pode ser um alerta para os governantes europeus demasiados acomodados aos seus postos, vivendo das mordomias que os nossos impostos lhes garantem, como aristocratas olhando o espectáculo degradante que se estende pela Europa como um facto que não lhes diz respeito e para o qual não contribuíram. A prova provada de que há construção da extrema-direita por todo o lado, é o facto de o vice do especulador ter recebido a senhorita (não sei se a sua esposa também) Alice Weidel da AFD (Alternative für Deutschland), em privado. 

Atente-se no olhar sinistro do ditador. 

         - Assim, desde que deixou de ser ingénuo face a Putin, Emmanuel Macron, convocou os líderes europeus (mais o Reino Unido) para analisar a “traição” americana e encontrar uma frente de defesa para a Ucrânia o mesmo é dizer para o nosso continente. Esta cimeira de emergência, em Paris, vem na sequência de o especulador imobiliário ter posto de parte a Europa nas negociações para acabar com a guerra que pretende levar a cabo a sós com Putin. Mais atento e desde sempre mais interveniente, Keir Starmer diz-se pronto a enviar tropas britânicas de manutenção da paz para a Ucrânia. Há dias o presidente Zelensky, falava na criação de uma pequena NATO europeia. Assim vamos nós. Que esta agitação não sirva o rame-rame tradicional dos políticos que exibem diante das câmaras de televisão a sua grandeza miudinha. 


sábado, fevereiro 15, 2025

Sábado, 15.

O João é muito curioso. Quando se sentou à minha mesa no sítio do costume, logo enalteceu o J.M.T. (no texto acima referido ou seja neste blog em baixo), pergunta-me de rompante se tinha lido o texto do colunista. Como sempre o ouvira dizer raios e coriscos do colunista do Público, avancei que gostei da ousadia e da informação real em que ele se apoia para afirmar o que disse de lobista António Vitorino. Para minha surpresa, João estava de acordo comigo e com João Miguel Tavares, indo ao ponto de afirmar também que desconhecia aquela carteira de clientes, negociações e empresas de que vive o optativo candidato a Belém, rei do reino socialista dos negócios e do sabujismo das influências. Quando deputado (João fez várias legislaturas pela CDU), contou-me que se bateu com Vitorino, grosso e feito, a propósito de qualquer coisa relacionada com o seu trabalho de representante de Portugal em Macau. 

         - Outra surpresa pitoresca do nosso amigo surge quando me pergunta, aparentemente preocupado, pela data da intervenção ao olho esquerdo e sem aguardar a resposta: “Tu diz-me o dia da operação porque quero ser eu a levar-te ao Gama Pinto.” Digo-lhe que já assinei a carta de consentimento do acto médico e que havia posto o meu amigo Carlos Neto por assistente social. E logo ele: “Então a noite vais passá-la ao Hotel Roma que eu alugo lá um quarto.” Sorri. Esta originalidade e preferência pelo hotel perto de sua casa, é opção para nunca convidar os amigos a irem conhecer o seu interior. O grupo dos tertulianos queixa-se disso, diz que ele gosta de almoços e encontros nas suas residências e jamais convidou algum deles para o seu apartamento. Contudo, João não se dá conta que esta sua resistência a franquear a porta onde vive, cria uma rede de falatório onde entra de tudo...

         - Ontem fui a Lisboa numa espécie de passeio. Antes de sair de casa, perguntei-me se devia ou não levar comigo o croché. Estava posto de lado um almoço à maneira (entenda-se à minha maneira), porque hoje tinha de ir fazer um check-up geral e gorduras e açucares estavam fora de questão. Então, despedi-me do João, e fui comer uma sopa e um folhado de legumes ao Celeiro. Com a tarde longa na frente, fui dali à CGD tratar dos carcanhóis e depois ao C.I. onde tinha de trocar um artigo. Uma vez ali, fui sentar-me, o computador nos joelhos, no sítio silencioso e distante onde o isolamento chama pelas personagens dispersas no enredo. Estive ausente durante duas horas e quando voltei ao rumor do estabelecimento, tinha um pouco mais de uma página escrita. Regressei no fertagus quase sem passageiros e fechadas as portadas da casa, acendi a lareira porque o frio havia regressado sem avisar. Daí a um momento, toca o portátil. Era a Mai Hong de Estrasburgo a perguntar-me se a podia receber cá em casa, a ela e mais a família, dois filhos e o marido. Como são ambos médicos, não há fome que não dê fartura. 

         - Não é, fracamente, uma questão de defender os deficientes, é pura e simplesmente atacar um assunto de ordem democrática, educacional, humana e civilizacional. Eu admiro profundamente a deputada Ana Sofia Antunes que, sendo invisual, se bate no Parlamento ao lado dos camaradas socialistas, por objectivos que acha serem os melhores para o país. Do outro lado da bancada, está um grupelho de deputados de chinelo, desordeiro, fascista, que não tendo argumentação nem ideias, desata a ofender a senhora com impropérios de sarjeta. O grupo, na aparência, parece uma manada de carniceiros, anafados, gordos e transpirados de cara, desengonçados, a cópia monstruosa do seu ídolo - o especulador imobiliário que quer instalar o fascismo em todo o mundo. Só a ignorância, a descrença no sistema partidário, o muito mal que os partidos têm feito ao país e aos portugueses, explica a existência de um tal grupo de deputados. Porque o Chega não tem um programa, não tem ideias, não tem conduta moral, vive de quiproquós como forma de dizer aqui estamos, de atrair a atenção dos desacomodados, dos descrentes, dos saudosos do regime anterior, de toda a vilania que por aí anda à espera de se acomodar e tomar conta do país. A Assembleia da República, devia ter forma de correr com gentalha desta. 


quinta-feira, fevereiro 13, 2025

Quinta, 13.

Aquela alcateia de gatos assanhados por um candidato à presidência, nada tem a ver com o cargo, mas com os interesses económicos, políticos e a grande ambição socialista pela riqueza e penacho. António José Seguro, o único homem sério e desinteressado, independente e competente para o cargo, não interessa aos socialistas amantes dos cargos públicos, das negociatas com os privados, do núcleo daquele que tudo fez em proveito próprio quando se apropriou do partido correndo com a insigne figura desprendida das benesses públicas. Todos os partidos com lideranças estáveis já apresentaram o seu candidato a Belém, o PS continua mergulhado em reuniões, em falatório, em esquemas, com os seus líderes a atirar farpas ao camarada que se afastou dos jogos de poder, da corrupção, que percebeu cedo quem era aquele que passou um ano em Paris a aprender francês e a tocar piano, ladrão de primeira ordem, que se pavoneia na marginal da Ericeira, peito inchado, cara à banda, a estender o tempo com recursos pelos tribunais, de modo a poder escapar à prisão por prescrição dos prazos judiciais. João Miguel Tavares, como sempre brilhante colunista, falou primeiro do ódio que a gente do PS tem contra o ex-primeiro ministro e ex-secretário-geral do partido corrido por António Costa que não progrediu nas sondagens como dizia fazer; e hoje abordou aquele que merece os améns do partido dos negócios: António Vitorino. A lista das empresas, as negociatas, os cargos públicos e privados, os grandes negócios que o senhor tem ou teve, a rede de lóbis que manobrou, e eu desconhecia mas não eram ignorados de Ana Jorge, é im-pre-ssi-o-nante. A tal ponto que eu digo como J.M.T. que se fosse ao cómico Vitorino, não renunciaria a nada do que tem por um salário irrelevante para a Presidência da República. O homem deve ser milionário com tanto negócio debaixo de olho. E votarei António José Seguro, observado o panorama dos arpoados artistas da cena política. Que podridão vai por aquele partido dito socialista. Céus! Repito mais uma vez: quando na minha vida activa tive de trabalhar com homens de negócios nacionais (e foram dezenas), admirava-me vê-los desabafar: “Nós preferimos o PS ao PSD.“ Quando lhes retribuía a minha estranheza, eles respondiam: “Ganhamos mais com os socialistas.”  

         - Na capa do Público de hoje, está estampada toda a manigância de dois homens que tanto se odeiam como se identificam: o especulador imobiliário americano e o ditador russo que não viverá muito tempo. 

         - Fui à natação. Quando entrei, lá estavam os velhotes nus a falar sobre o Benfica que... Um deles, magro, com dignidade mesmo despido, atraiu a minha atenção. Vestia-se a um canto dos chuveiros, com gestos vagarosos e belos, o corpo esbelto contorcendo-se a cada movimento, mas todo ele era a imagem de um passado que o tempo não havia consumido de barrigadas de cozido à portuguesa, coscorões, moelas com picante, rojões, pés de coentrada, francesinhas, litros de tinto e pastéis de nata portugueses para rematar. 


quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Quarta, 12.

Ontem fui sob chuva torrencial passar a manhã ao Gama Pinto. De cada vez que lá vou, reforço a sensação de que não falta pessoal – médicos, enfermeiros, auxiliares -, mas, pelo contrário, o que não há é organização. Que trapalhada com o meu processo, a mesma que encontrei com outra senhora e mais um casal completamente perdidos nos corredores do hospital. A eles e a mim, obrigaram a repetir exames, a esperar naquela algazarra da sala de entrada, como se as nossas vidas estivessem à mercê das suas reivindicações, dos seus erros processuais, da sua autoridade macaca. Espero, enfim, que esta tenha sido a derradeira, pois ontem assinei o documento para a intervenção cirúrgica.

         - Enquanto esperava, era na Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que pensava. Que brava Mulher, que inteligência, que força, que honestidade! Depois da balda, da anarquia do ministério dirigido por Manuel Pizarro, sendo esta a pior função do Executivo, faça ela o que fizer, terá sempre a classe toda contra; e no manejo político da sacanagem estabelecida, venha quem vier depois dela, nunca a Saúde encontrará sossego e os doentes tratamento digno, atempado e humano. Os lóbis privados são muito fortes e aqueles que defendem o SNS vão de arrasto no engodo de obterem ganhos das sobras.  

         - Quando deixei o Gama Pinto, sempre sob chuva persistente, fui almoçar ao C.I.. Parece que precisava de me compensar da ocasião e do que havia vivido antes, e, por isso, fiquei um tempo sentado a observar os telhados de Lisboa cintilantes aos primeiros raios de sol timidamente assomados. O meu cérebro não parava, iam e vinham ideias, imagens, pensamentos demorados sobre algo não completamente identificado, como se o mundo girasse em cima de uma esfera e o sossego fosse uma miragem. Claro que tinha trazido o croché, embora soubesse que não iria trabalhar nele. A escrita precisa do silêncio exterior e do interior, necessita de encontrar o lugar, o minuto sagrado onde o seu ofício se estabeleça e as palavras orações perdidas no tumulto interior, brotem. Não foi o caso ontem. De resto, o mundo, este que nos coube e o que virá para as novas gerações, não pressagia nada de harmonioso. Em parte porque as democracias não se sabem defender dos seus próprios carrascos, aqueles que as apregoam do fundo da corrupção, do ódio, da indiferença dos que nela votaram convencidos que eles seriam os seus guardiães. 

         - Com a dupla Trump/Musk cada americano que denuncie um imigrante ilegal, recebe de prémio mil dólares! Palavra de um especulador imobiliário e de um arrivista de feira. Dois ascos desprezíveis.  

         - Não conto deixar este reduto divino hoje. Enquanto Deus me permitir, é aqui que quero viver envolto na magia e no silêncio deste lugar abençoado. Depois aqui há sempre tanto trabalho e para o executar tenho de pedir à minha zona lombar autorização. Esta situação, ainda reforça mais o meu entusiasmo pela complicação que a idade ou o jeito que dei, me oferece. Toda a vida vivi sem problemas de saúde, e, por isso, talvez seja chegado o tempo de me irmanar com todas e aqueles que nunca conheceram um dia livre de sofrimento. 


segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Segunda, 10.

Se quisesse caracterizar o dia de ontem, diria que foi sagrado. Desde logo, porque me sentei no pequeno bistrot do Corte Inglês, primeiro andar, seriam 10 e pouco para uma sessão de trabalho no romance que se prolongou até ao meio-dia. Começou arrastada, sofrida, cada palavra arrancada a ferros, o precipício do desespero a querer instalar-se. De seguida, a pouco e pouco, piano pianíssimo, Ana Boavida e o filho Kivine começaram a abrir os seus corações e a contar-me tudo o que neles escondiam. Daí fui a um daqueles restaurantes barulhentos e desassossegados do rés-do-chão e enfiei uma sopa e um crepe de legumes e raspei-me para adquirir o bilhete para o filme A Semente do Figo Sagrado do realizador iraniano Mohammad Rasoulof. 

         - Filme magistral, bem dirigido por um naipe de actrizes e um actor seguro, passado no Irão dos aiatolas, onde impera o fanatismo religioso e político, e onde, como sabemos, as mulheres são presas e mortas por não trazerem a cabeça coberta com o véu islâmico. Iman, a personagem principal, pai de duas raparigas e marido de uma mulher dócil que tem de se submeter ao poder do chefe da família e, ainda por cima, advogado com aspirações a ser promovido para o Tribunal Revolucionário de Teerão. O filme, na maior parte do tempo, é centrado nele, na sua obsessão pelo novo cargo. Quando isso acontece, é-lhe atribuída uma arma e o regime pressiona-o para assinar sentenças de morte sem julgamento. O poder dizima os jovens que descem às ruas de Teerão, encarcera centenas de estudantes das universidades, uma das filhas do juiz (a mais velha) participa nas manifestações e grita pela liberdade e contra a alienação a uma religião que oprime, que não avança, que ficou perdida na Idade Média. Portanto, do interior do seu próprio lar, uma das filhas conspira, protege as colegas, revolta-se com aquele extremismo que sustem não só a política como os seus altos magistrados. Até que um dia, a arma do oficial de justiça desaparece. O homem tinha nela o poder absoluto, a confiança que lhe foi atribuída enquanto magistrado superior. Interroga, pressiona, ameaça a mulher, depois as duas jovens filhas, e a arma nunca mais aparece. É aconselhado por outro quadro superior a desaparecer por uns tempos, até que a arma como símbolo máximo, apareça. Iman põe a família no seu automóvel e decide isolar-se, refugiar-se na terra da sua infância, num velho mosteiro abandonado. Aí vai exercer toda a sorte de pressão sobre as três, encarcera-as, priva-as do elementar, ameaça-as até que a filha mais velha desaparece levando consigo a arma que dizima gerações inteiras. A sua busca pelos escombros do edifício em ruínas é magnifica, como símbolo e derrocada de um poder impossível de suportar. Até que a dada altura pai e filha encontram-se frente a frente, com a mulher e a filha mais nova por perto. Ambos estão armados: ela com a pistola do pai, este com a que o colega fiel lhe emprestou. O pai ameaça a filha, esta tenta fazer-lhe compreender as suas razões, mas ele refugia-se nas palavras de um Deus tirano e num segundo de loucura a filha dispara e mata o pai que se afunda nos escombros da edificação. A criação daquela família aparentemente exemplar e unida, desaba e desabrocha em mentira e covardia, ódio e morte. O Poder enxameia o cérebro roído pela ideologia, paira omnipresente sobre todos os crédulos. 

         - O PCP é o braço direito da Intersindical. Não admira portanto que o seu Secretário-Geral, Sr. Paulo Raimundo, à mais pequena oportunidade - como no caso do aumento dos comboios da Fertagus e a desarrumação daí resultante e que eu já não vejo porque resolvida -, vem pedir que o serviço passe para a CP. Deus nos livre! A CP que faz todos os fretes partidários, nas tintas para os utilizadores da companhia, se pusesse mãos na Fertagus teríamos o mesmo espectáculo degradante de greves, comboios sempre em atraso, carruagens vandalizadas, interiores sujos, as pessoas como gado a serem transportadas de uma incerteza para um engano. 

         - Detenho-me por uns segundos mais nas progénies, infelizes e miseráveis personagens que antes de o serem já o eram. Aquele residual partido que dá pela sigla BE, na voz da viúva que o dirige, uma pobre autocrata emoldurada de um alo de santidade, quer impor o dever de proteger o “bom nome do partido” a todos os que inocentemente acreditam nas suas balelas. Se esta norma já existisse quando se destapou a moral e a ética praticada contra os seus funcionários, todos seriam postos na rua do partido. A mulher não brinca, arrogância e poder não lhe falta. 

         - Já aqui falei no assunto. Vou voltar a ele porque vem a propósito. Um dia estava eu com o João Corregedor a tomar café na Bertrand, quando ele, no decorrer da conversa, levanta um qualquer tema relacionado com o Bloco de Esquerda e logo eu vocifero: “Isso é um bando de queques que nunca por nunca ser, algum dia chegará ao poder.” O pobre do João, muito atrapalhado, pede-me que me  cale, apontando quem está nas suas costas (portanto na minha frente). Eu que não tinha reparado na viúva debruçada sobre o portátil, decerto a inventar histórias que tanto entretêm os jornais e televisões, prossigo indiferente. Ela, a dada altura, para não me atirar como computador à cara, decide fechá-lo com ruído e deixar a sala de nariz cabisbaixo. Vade retro Satana.  


sábado, fevereiro 08, 2025

Sábado, 3.

Suite. Afinal o inocente de 15 anos sabia mais que o maduro de 50 dando consistência ao meu razoado de ontem. O jovem, apesar da idade, não passa de um prostituto que se vende na tal plataforma homo que eu ainda não sei o endereço. Segundo os jornais, andava envolvido com um homem de setenta que lhe pagava por cada serviço 50 euros. Li algures que este sujeito até lhe havia oferecido, por telemóvel, uma mensalidade fixa. Viva o luxo! Ao chefe Ventura, aconselho que comece já a capar a eito os seguidores do seu partido. Assim, um partido de castrados, é mais violento e serve melhor os princípios e a moral do grande orientador da extrema-direita. 

         - Podia trazer mais um corrupto para registo diário no que se transformou a classe política, deputado desta vez (eles são à vez) do PSD no Parlamento; um dos 60 acusados da operação Tutti-Frutti que ilibou o nosso competente financeiro, amigalhaço de Costa, antigo presidente da Câmara de Lisboa, mas culpou Luís Newton que suspendeu o mandato do Hemiciclo, mas mantém o de presidente da Junta da Estrela, podia mas não vale a pena atendendo à moda da corrupção em todos os domínios que veio para ficar. Todos sabem que não serão presos, não lhes vão às contas bancárias, e daí que tudo termine na santa paz da cumplicidade partidária. 

         - Eça de Queiroz, diz algures nos Maias: “Todo o mundo concorda que o país é uma choldra. E resulta portanto este facto supracómico: um país governado «com imenso talento», que é de todos na Europa, segundo o consenso unânime, o mais estupidamente governado! Eu proponho isto a ver: que, como os talentos sempre falham, se experimentem uma vez os imbecis!” Ocorre-me esta passagem, para falar da risada que percorreu o país de Norte a Sul, com o director-geral da Polícia Nacional de Espanha ao lado do seu homólogo português, a elogiarem-se mutuamente por haverem ao fim de meses capturado todos o reclusos que fugiram da prisão de alta segurança Vale dos Judeus. Não é tão típico português estas palmadinhas ternas! Então, os guardas e as suas direcções deixaram fugir da prisão com facilidade e vergonha perigosos indivíduos, e agora vêm-se enaltecer por os terem encontrado! O crime está feito com a facilidade da fuga, quem falhou foram os guardas prisionais, não é? Ou eu estou maluquinho da moleirinha!  

         - Deixei-me aromatizar este dia com aquela de um amigo que encontrei há dias e me deixou de boca aberta com a enorme barriga que começa no queixo e vai em balão até lá abaixo. Digo-lhe eu: “Eh, pá com essa barriga já não vês o zizi”. Resposta pronta: “mas vejo o dos outros.” Risada hilariante. 


sexta-feira, fevereiro 07, 2025

Sexta, 7.

O prometido é devido ainda que o assunto seja um nojo. Enfim, forma de falar. Porque os gostos do senhor Nuno Pardal são o que são e a lei não os proíbe. Segundo o Observador, o camarário da Câmara de Lisboa, tinha conhecido um garoto numa plataforma (tenho de me informar qual porque a minha curiosidade é mais que muita) de engate homossexual (eles, para disfarçar, chamando-lhe de encontros). Segundo penso, esta é controlada e não devia aceitar bisbilhoteiros com menos de dezoito anos. Ora o rapaz tinha quinze. Portanto, não é culpa do amoroso a excitação que se estabeleceu entre ambos. Perante isso, do meu ponto de vista, era o moço que devia pagar ao matulão; todavia aconteceu o contrário. Bom. Aqui entra a lei que proíbe a pedofilia, como se nos dias de hoje, com o avanço da juventude e a carga de informação e excitação que sai dos computadores, dos telemóveis, das conversas quentes entre os jovens, não os tornassem homens mais cedo, mais depressa do que nós há quarenta anos. Aos quinze anos, uma rapariga ou um rapaz sabe muito bem o que quer, como fazer as coisas, o instinto está activo, os cromossomas expostos mais cedo às loucuras da descoberta da sexualidade, estimulados por uma panóplia de fatores. O que há de curioso neste facto hoje corriqueiro, é o montante que o emissário do Chega à autarquia deu ao nubente (chamemos-lhe assim...): vinte euros! Não sei o que eles fizeram. Que diabo, se o rapaz cumpriu, se foi suficiente sedutor, preencheu todos os lugares que ardiam no fogo do prazer, então a soma devia ser paga em consonância... Depois, sobra deste episódio, uma vergonha muito mais vergonhosa e digna da nossa litania: o facto de Nuno Pardal Ribeiro ter em tempos, ao lado do chefe André Ventura, pedido a castração para os pedófilos.    

E temos o outro, deputado dos Açores, José Paulo Sousa, apanhado a conduzir com 2,5 de alcoolemia no sangue. Os açorianos andam de cabeça baixa por dois dos seus concidadãos, ambos do Chega, colocados em cargos púbicos, terem saído um ladrão de malas, outro bêbado a cair pelas ruas da ilha das Flores. Eu já estive várias vezes na ilha de S. Miguel, tenho amigos lá, fiz, inclusivamente, parte do grupo que se ocupou do projecto da Casa-Museu Natália Correia, em Ponta Delgada, a convite da Cultura da autarquia e daí saber o suficiente para afirmar que estes senhores são ovelhas ronhosas que não merecem confundir-se com as nobres populações das várias ilhas do arquipélago. 


quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Quinta, 6.

A bagunça que reina no Partido Socialista, é medonha. Vasco Gonçalves não tem sensibilidade para estar à frente do partido, é um homem de encontrões, de ameaças, quer levar na frente tudo e todos, não sabe pôr ordem nos ímpetos interesseiros. Então, furando a barreira, adiantam-se outros no seu lugar e dizem de sua justiça. É o caso de Ana Gomes quando se saiu com uma forte contra António Vitorino que Gonçalves gostaria de apoiar. Disse ela: “António Vitorino tem muita esperteza e até sentido de humor. Também têm um background (palavra cara que convence os saloios), um passado de lobista.” Não o querendo na Presidência, conluie: “Obviamente tem que ser gente séria, gente credível, gente com experiência política, mas não espertalhaços que vão utilizar as instituições para outros desígnios que no fundo desacreditam e enfraquecem as instituições.” Este socialista, há muitos anos, andou envolvido na compra de uma quinta aqui em Palmela, porque fez aquilo que toda a gente faz, que é comprar por um preço e dar outro mais baixo às Finanças. De todo o modo, nunca o avistei contrariamente a muitos outros comparsas que os vejo abancados a arrotar felizes depois de almoços avantajados. 

Depois, não podia faltar o outro do Porto. Espertalhão como é, de olhos de águia, grande apoiante e cúmplice de José Sócrates, intelectual de província, veio lançar setas contra António José Seguro, pessoa séria e honesta, equilibrada e competente para ser Presidente de Portugal. Disse ele do camarada “não parece cumprir os requisitos mínimos de uma candidatura (referia-se a Belém) que possa ser apoiada pelo PS e um vasto campo de forças democráticas”. Pobre, homem! Sem António Costa, obrigado a exportar-se para o Norte onde a sua grande inteligência é repisada com martelos de alho-porro.  

         - Que mundo este em que vivemos! E sobretudo que democracias são estas que dão o poder a um só homem, que actua sob os auspícios do dinheiro e por ele altera a ética, submete povos, distribui pobreza, despacha por decreto guerras, desfigura a honra e a dignidade humanas. Tanto poder circunscrito nas mãos de uma clique, oligarca, desumana e cruel, é revoltante. Como pode o mundo, assistir de braços caídos, àquela ideia hedionda que põe em causa toda uma nação, que, depois de 50 anos de escravatura, seguida de uma guerra que tudo destruiu, matou 62 mil inocentes, como pode ele, o todo poderoso dos EUA (com o riso feliz de Netanyahu) transformar a Faixa de Gaza numa espécie de Seicheles para milionários americanos, desinfectada dos infelizes que nunca tiveram direito a ter uma pátria que fosse sua. Espero, sinceramente, que os povos civilizados do mundo inteiro se oponham a esta calamidade, a este crime monstruoso. As ditaduras não podem vingar, sejam elas ditas democráticas ou não. É uma questão de pura justiça. 

         - Não estou com cabeça para falar de mais dois casos vergonhosos praticados por dois deputados camarários do Chega. Um foi apanhado a conduzir bêbado; o outro é acusado de praticar sexo com um jovem de 15 anos pagando-lhe a ridícula soma de 20 euros. Amanhã explanarei estes dois doces das mãos daquele que quer impor a castração dos pedófilos e vai-se a ver vai ter que começar pela ala dos seus simpatizantes. 

         - Para acalmar a tensão deste mundo onde não apetece viver, fui fazer ¾ d´hora de natação. A tristeza maior é ter que me cruzar com corpos que parecem nacos de carne retorcida, barrigas enormes que há muito não enxergam o zizi, fatias penduradas aos bocados, que faz tristeza pousar por descuido o olhar. Que diabo, mesmo no fim da vida, morramos com dignidade, de corpos secos, belos, musculosos. É uma questão de arte e estética. 


quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Quarta, 5.

O nosso António Costa, convidou os seus pares para um “retiro”. Esta originalidade, própria de alguém que adora o conforto e o dandismo, é de estranhar. Se quisermos levar a palavra à letra, somos forçados a imaginar que os dândis de Bruxelas, seja pelos vapores do álcool ou pela fúria da verborreia, não vão ficar calados muitos minutos – essa é a nossa perdição e a gargalhada do grotesco Trump. 

         - Vou adiantar o meu prognóstico sobre as eleições à Presidência da República: o vencedor é o militar. Não com o meu voto, mas com o daqueles que estão cansados da classe de políticos de chinelo e algazarra. O que é surpreendente num país de miséria de muita ordem, com 10 milhões de habitantes apenas, é haver tantos ladrões de malas e tantos candidatos ao tacho. A América, com cerca de 331 449 300 almas, tem apenas duas alas: democratas e republicados e... basta. Entre nós, não há bicho-careta que não forme o seu partido – é mais rentável que criar uma empresa e mais lucrativo. É tão chique e tão patriótico , não é? 

         - Os EUA começam o ano não só com a desgraça de Donald Trump, mas também com dois acidentes aeronáuticos. O primeiro, diante dos olhos do Pentágono onde morreram no choque de um avião com um helicóptero três dúzias de passageiros e logo depois, há uma semana, outro avião com mais meia dúzia de pessoas a bordo.

         - Quero registar aqui este aviso de Alexandra Lucas Pires: “Quem conhece a Palestina sabe que o HAMAS não vai ser extinto à bomba. Só é possível esvaziá-lo: se a Palestina for livre.” Trump, por favor, lê esta explicita jornalista.  

         - Faleceu a poetisa Maria Teresa Horta aos 87 anos. Conheci-a desde que entrei para o jornalismo e depois quando comecei a publicar os meus livros. Tivemos vários encontros e sempre apreciei aquela forma de ser beauvoriana, com particular impacto na temática feminina, recomendada por Simone de Beauvoir no Deuxième sex publicado em 1949. Alguns desses encontros estão plasmados mais para trás, e até aquele na praia do Vau com a surpresa do inusitado, onde ambos estávamos de férias.  

         - A brava Piedade veio aí fiscalizar o meu trabalho e do que viu deu-me zero. Então, decidiu ela voltar a podar as hortênsias de um lado ao outro aqui em frente e um pouco por toda a quinta onde outrora as plantei com gosto. 

         - Porque é que a vida me oferece hoje a beleza estonteante da juventude como ontem em Setúbal, quando eu decidi fechar o salão de baile e recolher-me ao meu casulo de sombras e memórias! 

          - Tempo gritantemente magnífico. Encorajado com a presença da Piedade e do dia brilhante de luz, espécie de aceno à energia encolhida, deitei mãos à obra e fui continuar a limpar a erva aqui em frente. Ficou praticamente tudo limpo, faltando-me uma nesga de nada num dos lados. De seguida, para descansar, sentei-me ao sol a ler Gustave Flaubert e mais uma semana termino.


domingo, fevereiro 02, 2025

Domingo, 2.

Todos os dias rebenta um escândalo que envolve os nossos queridos honestos e sábios e desprendidos do poder e do dinheiro, os políticos. Desta vez é mais um a somar aos anteriores relacionado com o senhor Vítor Escária, chefe de gabinete de António Costa, o tal que escondia 75 mil euros um pouco por todos os cantos do ministério. A Polícia Judiciaria, anda às voltas com uma pen drive guardada no gabinete deste amigo do outro que se escapou para Bruxelas. O objecto guarda segredos de Estado e a polícia suspeita de crimes de acesso ilegítimo e eventual violação das normas confidenciais de um Estado de direito. O sujeito foi constituído arguido. Quanto a Costa, mandou dizer que não sabe de nada. 

         - O Público de hoje diz na primeira página, que a violência doméstica não pára. Só desde o início deste ano, foram mortas cinco mulheres. A que se deve esta barbárie? A muitos factores decerto, mas quanto a mim a um fundamental: a recusa dos homens em aceitar a independência da mulher. Habituados a serem donos dela, a empurrar para ela todas as tarefas do lar, a terem-na presa em casa, é-lhes difícil verem-nas soltarem as amarras de escravidão de séculos. A equidade no relacionamento, é coisa que anula o homem e sobrepõe a mulher. Ora, homem que é homem, quero dizer macho e grosso, tem que domar com autoridade aquela que escolheu para sua vassala.  

         - Trump iniciou a viagem para o desastre e o desequilíbrio mundiais. Aplicou sanções económicas à China, Canadá e México. Os três países responderam como lhes compete, afirmando que também aumentarão as taxas alfandegárias para os EUA em igual proporção. Quanto a mim, se este espectáculo degradante da guerra económica prosseguir, vamos ter uma nova organização mundial com a China (se for inteligente), a formar um novo bloco mundial.  

         - Levantei-me naquela de não me ocupar de nada - leitura, romance, este diário - , vesti-me a rigor deixando para trás as calças rotas e as camisolas roídas da traça, tomei um duche e dispus-me a ir a Lisboa ao cinema. Antes porém, passei no Continente para comprar o jornal e tomar café, fazer algumas compras e regressei a casa para as pôr no frigorífico. Depois, de súbito, olhando o quadro que me é portanto familiar, decido descer lá abaixo para fechar o portão, subir ao quarto, vestir as calças coçadas, a camisola castanha com os emblemas redondinhos das traças e atirei-me a Flaubert. Li de uma assentada 40 páginas e de seguida fui para a cozinha assar um pato medonho que tinha trazido do C.I. quinta-feira. E então, sob os cantores das auroras, o dia decorreu sereno, quase mágico, envolto numa névoa de luz ténue, que me deixou de chinelos como um pobre coitado que a morte chama das alturas da existência renascida.  

         - Falei ontem da coqueluche do momento, madame IA. Pois. A nossa estimada UE, bem pode lançar foguetes e apanhar as canas, que o senhor Trump, atento, acaba de marcar as distâncias que, de resto, eram já suas atendendo ao desenvolvimento que a coisa tem nos Estados Unidos. Dito de outro modo. Enquanto a União Europeia a semana passada anunciou, galharda, um investimento de 1,5 milhões de euros; o mestre do desassossego, respondeu com 500 mil milhões de dólares para o desenvolvimento da Inteligência Artificial. Toma e embrulha. Os condecorados de Bruxelas, amantes do conforto e da vida airada, não acordam e vão levar valentes ensaboadas de sanidade mental. 


sábado, fevereiro 01, 2025

Sábado 1 de Fevereiro.. 

Escutei no fertagus um africano ensoberbecido ao telemóvel: “Não ouço-te porque comboio vai di ponti.” Que graça, não é?

         - O fertagus? As imagens degradantes que as televisões satisfeitas por terem, enfim, notícias daquelas que enchem o olho ao telespectador e aceleram o patuá dos políticos, dão conta de sustos no Pragal, com multidões a querer entrar, desmaios, vociferações. É certo que não viajo às horas ditas de ponta, mas continuo a não ter nada que dizer do serviço. Todavia, eu se habitasse em Almada, o que faria era aguardar pelo próximo comboio porque agora não se espera mais que dez minutos. Todavia, é um facto que o plano de aumento dos horários, não foi bem estudado. Houve aceleração e pouco estudo. É o que me parece.  

         - A prova provada que nós não contamos para nada, está na ofensa do Governo de António Costa ao aprovar com a UE uma série de medidas no uso da inteligência artificial sem consultar ninguém. Esta medida é de tal modo uma afronta à nossa privacidade e liberdade colectiva que a partir de agora, através da utilização da IA, podemos ser espiados em espaços púbicos, em tempo real, os refugiados monitorizados por todo o lado, sobretudo nas fronteiras, utilizando o reconhecimento facial sobre qualquer cidadão suspeito ou com base nas suas opções políticas ou credos religiosos. A França levou a dianteira e Portugal foi atrás na discussão feita nas nossas costas do uso livre da IA. Quem se torna forte e se quiser prepotente, são as forças policiais e organismos de imigração e fronteiras. A Rede Europeia de Direitos Digitais, já veio avisar que a utilização desta tecnologia em locais públicos “significa o fim do anonimato nesses locais”. Em Portugal não houve qualquer discussão sobre o assunto e nenhuma das diretivas aprovadas em Bruxelas, foi discutida e muito menos sufragada por nós. 

         - O que está a acontecer com Donald Trump, é mais do mesmo. Ele é forte com os fracos, fraco com os fortes. Deus que ele diz o salvou da morte por atentado, decerto não foi para tratar os imigrantes como serapilheiras sujas ou criminosos atirados amarrados para o fundo de aviões baldes de lixo.  

         - Ontem prossegui com a roçadora a limpeza em frente da casa, hoje terminei de podar as hortênsias. Apesar das dores lombares, a satisfação e a alegria do dever cumprido, suplantou todas as mágoas.