Quarta, 5.
O nosso António Costa, convidou os seus pares para um “retiro”. Esta originalidade, própria de alguém que adora o conforto e o dandismo, é de estranhar. Se quisermos levar a palavra à letra, somos forçados a imaginar que os dândis de Bruxelas, seja pelos vapores do álcool ou pela fúria da verborreia, não vão ficar calados muitos minutos – essa é a nossa perdição e a gargalhada do grotesco Trump.
- Vou adiantar o meu prognóstico sobre as eleições à Presidência da República: o vencedor é o militar. Não com o meu voto, mas com o daqueles que estão cansados da classe de políticos de chinelo e algazarra. O que é surpreendente num país de miséria de muita ordem, com 10 milhões de habitantes apenas, é haver tantos ladrões de malas e tantos candidatos ao tacho. A América, com cerca de 331 449 300 almas, tem apenas duas alas: democratas e republicados e... basta. Entre nós, não há bicho-careta que não forme o seu partido – é mais rentável que criar uma empresa e mais lucrativo. É tão chique e tão patriótico , não é?
- Os EUA começam o ano não só com a desgraça de Donald Trump, mas também com dois acidentes aeronáuticos. O primeiro, diante dos olhos do Pentágono onde morreram no choque de um avião com um helicóptero três dúzias de passageiros e logo depois, há uma semana, outro avião com mais meia dúzia de pessoas a bordo.
- Quero registar aqui este aviso de Alexandra Lucas Pires: “Quem conhece a Palestina sabe que o HAMAS não vai ser extinto à bomba. Só é possível esvaziá-lo: se a Palestina for livre.” Trump, por favor, lê esta explicita jornalista.
- Faleceu a poetisa Maria Teresa Horta aos 87 anos. Conheci-a desde que entrei para o jornalismo e depois quando comecei a publicar os meus livros. Tivemos vários encontros e sempre apreciei aquela forma de ser beauvoriana, com particular impacto na temática feminina, recomendada por Simone de Beauvoir no Deuxième sex publicado em 1949. Alguns desses encontros estão plasmados mais para trás, e até aquele na praia do Vau com a surpresa do inusitado, onde ambos estávamos de férias.
- A brava Piedade veio aí fiscalizar o meu trabalho e do que viu deu-me zero. Então, decidiu ela voltar a podar as hortênsias de um lado ao outro aqui em frente e um pouco por toda a quinta onde outrora as plantei com gosto.
- Porque é que a vida me oferece hoje a beleza estonteante da juventude como ontem em Setúbal, quando eu decidi fechar o salão de baile e recolher-me ao meu casulo de sombras e memórias!
- Tempo gritantemente magnífico. Encorajado com a presença da Piedade e do dia brilhante de luz, espécie de aceno à energia encolhida, deitei mãos à obra e fui continuar a limpar a erva aqui em frente. Ficou praticamente tudo limpo, faltando-me uma nesga de nada num dos lados. De seguida, para descansar, sentei-me ao sol a ler Gustave Flaubert e mais uma semana termino.