domingo, novembro 17, 2024

Domingo, 17.

Foi com regozijo que li a reconciliação de Simon & Garfunkel aos 83 anos. Para assinalar a alegria desse encontro, ontem passei uma parte da tarde a rever o álbum que eles editaram na CBS Bridge Over Troubled Water. E prometo, se subirem ao palco de novo e vierem a Lisboa, irei vê-los. Mais: até chegar às suas idades, vou revisitar a sua música com mais frequência. Força rapazes, acabou a tontaria.  

         - Escolhi o dia de hoje para ver Anora. O filme é para corações empedernidos e cabeças estruturadas. Mas sobretudo para os que se perdem de amores por Putin. Sem decerto querer o trabalho de  Sean Baker é igualmente um retrato dos oligarcas que sustêm o ditador Putin. Quis escapar às greves que aconteceram no metro e nos comboios, sem esquecer as dos professores. Toda a gente reclama mais dinheiro, a canção é a mesma em todos os sectores e parece que os senhores deputados juntaram-se na mesma avidez. Para aquilo que fazem, quero dizer, a litania de ódios, as presenças mudas e estáticas ao serviço dos partidos, já auferem mais que suficiente. O problema, reconheço, é que todos os salários da classe média são esmolas e nem quero entrar nas reformas que são gorjetas. António Costa (sempre ele) vendeu a imagem de um país rico e talvez tenha razão, pois conseguimos sobreviver às manobras financeiras do senhor Medina e a todos os roubos do líder José Sócrates aos diversos socialistas que integraram o seu governo.   

         - Estas linhas de António Barreto: “Se excluirmos o óbvio, como sejam o voto e as liberdades, a saúde perfila-se.” Será?  O problema para mim é simples: sem saúde não há liberdade, nem votos. (Leia-se o que escrevi, quarta-feira, dia 13).

         - Luís Montenegro diz que não é substituindo a Ministra da Saúde, que os problemas da saúde se resolvem. E tem razão. E tem-na contra o pedido do PS e quejandos, que fazem essa exigência (como sempre em bicos de pés está a viúva), pois quando puseram na rua a sua ministra hoje radiante da Silva em Bruxelas, os problemas não só não desapareceram, como se agravaram e de que maneira com o seu sucessor. 

         - Cedendo ao convite da Maria João que não via há muito, estive hoje em Lisboa. Ora, tendo eu nascido e crescido na capital, e havendo passado milhares de domingos correndo ruas e espaços desertos, esta Lisboa que me recebeu é um enorme lugar descaracterizado, onde vive um mundo escuro, se fala muitas línguas e se espanta com a pobreza estampada naqueles que se cruzam por nós. Sinceramente, não vejo beleza nem humanismo nesta paisagem tão cara à esquerda, que não a vê senão através das limusinas, repimpada nas mordomias que a política criou para ela. “Coitados dos imigrantes” diz a viúva e a actriz que vive à grande em Bruxelas, e digo eu porque os vejo nas ruas, perdidos nos transportes púbicos, acampados nas estações de comboios e nos jardins ao relento. No metro, sentou-se em torno de mim, um bando de brasileiras que falavam tão alto que todo o vagão as escutava. Falando sempre no gerúndio, às tantas, prontas para sair, interrogam a que estava ao meio lado: “Você se levanta ou está enrolada?” A enrolada desenrolou-se de pronto.