Segunda, 26.
Outro dia fui convidado a entrar num programa apoiado pela Fnac de incentivo à leitura por parte dos jovens. Ao que percebi, nele irão participar uma série de nomes ligados à Cultura, com a actriz Inês Herédia como pivot. Justamente, foi ela que nos entrevistou, ao João Corregedor e a mim. A discussão logo se instalou entre nós, comigo nos antípodas do que ele entendia ser Cultura - uma estaca seca pregada ao chão das orientações políticas que ele professa e dali não arreda pé. Alves Redol, Aquilino, Manuel da Fonseca, Soeiro Pereira Gomes enfim todo o Neo-Realismo patente no museu de Via Franca de Xira; enquanto para mim a Cultura não se deixa amarrara às ideologias, às catedrais do pensamento único, ao torpor do conhecimento. Inês tenta obter de mim o livro que mais me influenciou, respondo que não sou capaz de o citar porque, precisamente, a cultura desbrava diariamente novos caminhos: filosóficos, históricos, científicos, sociais, políticos. Todavia, se João cita nomes, eu também os posso citar: desde logo me ocorreu Odisseia, o nascimento da filosofia com os gregos, os textos filosóficos de Cícero, Santo Agostinho e o seu De Civitate Dei, Dostoevsky, os escritores americanos de New Generation, Jeanne Hersch, Pierre Hadot, Cioran, Julien Green (que ela não conhecia), Yourcenar, Virginia Woof, Junger e tantos outros onde abarco Eça, Aquilino, Teixeira de Pascoais, Fernando Pessoa e mais recentemente Lídia Jorge, Francisco José Viegas, Hugo Mãe... Contudo, apesar da sua simpatia, do facto de o cameraman e a anotadora terem vindo falar comigo para que aceitasse ser filmado, recusei e recusei. Então a simpática e bela Inês Herédia disse que não podia dispensar o registo de tudo o que eu havia exposto, e em sintonia com a equipa combinou-se ficar o diálogo que travámos sem a minha imagem. Ufa!
- Ante a investida de Moscovo sobre a Ucrânia a noite passada, Donald Trump diz que Putin está louco. Terá razão. Na verdade o mundo está a ser governado por uma plêiade de loucos a começar no Presidente dos Estados Unidos da América.
- Os chamados gigantes empresariais, estão a tombar como tordos. É a grande crise financeira que se adivinha e de que Bruxelas diz estar Portugal a tremer com a despesa a saltar dos carris ou, utilizando a linguagem hermética dos entendidos ,“o maior desvio relativamente ao compromisso assumido para a variação da despesa primária líquida”. Mas para que vêm estes mangas-de-alpaca chatear o português pacato, amante do futebol, da "famila", pobrezinho e divertido, indiferente a tudo o que se passa fora das suas fronteiras, contentinho por ter o Sol por alento e o delírio por incentivo. Afinal do que falam os portugueses de Norte a Sul, o que realiza verdadeiramente as suas vidinhas? Do final da taça de futebol entre o Sporting e o Benfica e da narrativa do jogo consoante os pontos de vista de um e outro lado do campo. E viva a festa! Somos patetinhos e sabichões do que se passa com os jogadores, servimo-nos de um português de caserna, e não sabemos para quer servem outros tipos de conhecimento e linguagem. E quer a bela e simpática Herédia, enfiar um livro pela goela abaixo de um povo assim bacoco.