Quarta, 11.
Os políticos que nos saíram na Farinha Amparo, são férteis em palavreado, em discursos ocos, feitos para serem escutados pelos seus iguais, longe da sua correspondência em acções de interesse público. Que o diga o salmo embalador do Presidente da República ontem no Algarve. Um homem que poderia ter deixado uma marca indelével à sua passagem por Belém, sai como um qualquer trolaró, vendedor de sonhos e quimeras, arrastado pela obsessão da popularidade e da demagogia. Salvou o 10 de Junho a escritora Lídia Jorge, que introduziu um esquema mental interessante e trouxe-nos de volta a justeza do pensamento, da História e do nosso futuro enquanto povo.
- Às vezes dou comigo a pensar na pobreza que a democracia não conseguiu erradicar, e serve os interesses das fervorosas ideologias ou simplesmente dos sequiosos do poder. Porque a pobreza está associada à iliteracia, ao desinteresse pela coisa pública, ao bajulamento, ao arrebate dos piões de arrasto sempre úteis aos ditadores e prepotentes. A pobreza é submissa, corre atrás da côdea, segue quem a socorre, não possuiu espírito crítico, é facilmente manobrada, está entregue ao subsídio, encosta-se ao ripanço, conformada com a sua sorte. Mesmo em democracia, enche as bocas dos políticos de boas intenções, faz boa figura, propaga objetivos, propaganda, elege os oportunistas, é tema de todas as campanhas. Sem ela o que seria a esquerda e a direita, definhadas dos valores que reivindicam como seus. Quase me apeteceria dizer que sem a pobreza institucionalizada, a maior parte dos partidos com os seus arautos, estava reduzia a coisa nenhuma. É ela que mantém Portugal no subdesenvolvimento, passivo ou premeditado, do poder que nasceu com o 25 de Abril de 1974. De contrário, como explicar os dois milhões e meio de pobres, os milhões de portugueses a viver no limite das suas necessidades, o quase analfabetismo, a incentivação da primazia do futebol, como coisa que distrai, aliena, não puxa pela inteligência, adormece os pobres numa doce satisfação que sobrevoa a apatia. Não me digam que vamos ter de esperar por mais 50 anos para que o país ascenda à dignidade, ao trabalho que compensa, à saúde que prolonga a vida, à instrução que não se limita às análises trabalhadas do INE e se contenta com saber escrever e ler...
- Com chegada de Trump ao poder, houve como que um apelo aos extremismos de toda a ordem. O mundo aparenta ter sido voltado do avesso e somam-se os casos todos os dias. A juventude parece perdida, abandonada à sua sorte, e nada a satisfaz neste mundo onde tudo abunda em quantidade. Não nos bastavam os tiranos que invadem países independentes, ou os de extrema direita que querem chacinar os povos vizinhos, Putin e Netanyahu, chegaram agora os assassinatos em massa levados a cabo por adolescentes. Como os de ontem em Graz, Áustria, onde um jovem de 21 anos, entrou na sua antiga escola secundária e disparou contra dez pessoas antes de se fechar numa casa de banho para se suicidar. Qual a motivação de um tal horror, ninguém sabe. Num instante, morreram dez inocentes e não há resposta que dê motivo ao descontrolo. O mesmo ocorreu anteontem em França. Um adolescente de 14 anos, matou a facadas uma assistente educacional da escola que frequentava. Porquê é a pergunta que se houve por todo o lado. Porquê?
- Que também se pode pôr entre nós. O teatro A Barraca estava prestes a começar a sessão de ontem, quando um grupo de boçais do futebol, que a imprensa diz serem neo-nazis, uns do Sporting, outros do Porto, atacou os actores tendo um deles ido parar ao hospital. Dizem pertencer à extrema direita e até pode ser, embora a mim o que me revolta é o ataque a pessoas desarmadas ao ponto de ferirem os pobres profissionais do teatro e de incendiarem uma viatura.