sábado, janeiro 04, 2025

Sábado, 4.

Há uma outra figura dita pública que vou equiparar ao ex-treinador do Sporting, Rúben Amorim: Ricardo Salgado, o Dono Disto Tudo. Há cerca de dez anos que o destino do banqueiro, homem rico e cheio de importância, que se movia na alta finança como peixe na água, criadagem por todo o lado, escravos a dar com um pau, sobretudo aqueles do seu quilate que para obter fundos e mordomias se arrastavam a seus pés, senhor do mundo da finança internacional, com residências de luxo no Brasil onde Marcelo Rebelo de Sousa passava férias e hoje renega a vassalagem, em Cascais, Comporta e não sei mais onde, com agenda recheada de convites para todo o globo, o telefone que tocava sem descanso para festas e aleluias dos amigos influentes. Este homem que foi único durante quase meio século, que teve tudo e tudo ainda era pouco, vê-se agora reduzido de movimentos, só, a cargo da mulher que heroicamente o mantém com dignidade, com o colapso do BES às costas, a família distante, o andar indeciso, o olhar perdido numa nuvem de espessas sombras, as fraudes de que é acusado, os milhões desaparecidos, os conluios dispersos, os anos a arrastar-se para os tribunais como um condenado à morte antecipada, tendo como presenças Deus, a mulher e o capelão Avelino Alves. Dá que pensar. Sobretudo quando tanta ambição ficou reduzida a um espaço minúsculo onde as sombras se acoitam, o passado morreu e o futuro é a morte que espreita na indignação daqueles que perderam tudo por causa da sua ambição. Por mim, que deixei de ter cerca de um milhar de acções com a falência do Banco Espírito Santo, há muito que lhe perdoei. 

         - Ainda referindo-me ao que acima anotei, volto à carga com a situação da TAP. O que agora veio a lume, diz bem da pouca importância que os assuntos públicos e os impostos que os cidadãos pagam com língua de fora, têm para o socialista que quer ser primeiro-ministro, Vasco Gonçalves. Se se vier a confirmar que o Estado vai ter que pagar milhões a todos os que o arrogante ministro despachou para o desemprego, então se confirmará que o povo teve razão ao não lhe dar votos suficientes para poder governar o país. A jornalista que assina o artigo do Público, Ana Rodrigues, não inúmera uma única vez o nome do responsável pelas Infra-Estruturas. Fui reler o que escrevi a propósito, aqui deixo: 

Março de 2021, Sexta, 26.

Eu não suporto ouvir e ver aquela figura arrogante e convencida que dá pelo nome de Pedro Nuno Santos o socialista dito de esquerda. O homem pensa que é o Dono Disto Tudo, afastado Ricardo Salgado. E todavia, é verdade que já esteve mais longe, com uma diferença substancial: enquanto o banqueiro dispunha de fundos próprios, aquele possui o dinheiro dos contribuintes. A TAP é a imagem do que pode a esquerda e como funciona em termos ideológicos e práticos. Tudo o que o sujeito condenou aos privados antigos proprietários da companhia, foi o que ele aplicou com rigor, indiferente a tudo e a todos, servindo-se do saco sem fundo dos impostos dos cidadãos: despedimentos em massa, técnicas de pressão, redução dos salários, reformas compulsivas, manobras pessoais, a não devolução das viagens que a Covid impediu de fazer, a par de ter criado ao Estado, isto é, a todos nós um rombo monstruoso que nos vai obrigar de despender somas astronómicas por uma patetice socialista que não lembra ao tinhoso. Graças a esta figura insignificante e ambiciosa, o SNS não vai ter verba para pagar melhor a médicos e enfermeiros, equipar-se com material moderno; o ensino vai derrapar; a vida das pessoas vai descer uns bons pontos mais; o país ficar para trás, a pelintrice crónica agravar-se-á e assim miseráveis seremos mais facilmente domesticáveis. A este propósito, dou a palavra a Rui Ramos no Observador: “Uma sociedade reduzida a funcionários públicos, pensionistas e subsidiados é, agora como sempre, meio caminho para a servidão. Se, a esse respeito, alguma coisa os confinamentos fizeram, ao destruir empregos e negócios, foi tornar essa sociedade mais próxima." 

         - Já agora, se me permitem, traslado para aqui estas passagens de António Barreto no diário de hoje, tiradas do artigo “Ao serviço de todos”. “A miséria é a dos serviços públicos, a maneira como os utentes são tratados (como eu exemplifiquei acima no Metro, em Lisboa), o modo hediondo como os consumidores são atendidos, a incompetente prestação de serviços e a desprotecção dos que recorrem aos serviços públicos.” E mais adiante: “O modo como são tratados os velhos, as crianças, os pobres, os imigrantes, os desempregados e os doentes é um bom retrato desta espécie de democracia de pacote.” Juro que a linguagem não é minha, embora assine de cruz. 

         - Ouvido no Fertagus: “Ela ia a rebentar a baixa médica, mas o médico deu-lhe mais uma semana.”