quinta-feira, janeiro 16, 2025

Quinta, 16.

Na piscina, esta manhã, afoguei-me de alegria. Regressei aos meus 20 anos resolutos, desafiadores, belo e sem consciência disso. Nadei sem parar uns trinta minutos, enquanto ia pensando que a velhice é um estado passageiro, digamos, intermitente, que se entrecruza com a juventude eterna. Somos o que nos chega do coração – e é tudo, tudo aí se resume. 

         - Esta casa é uma espécie de caverna de Ali-Babá. Outro dia, abrindo uma gaveta, dou com este cartão assinado nas costas João Rodrigues. Pus-me a pensar se este nome não é daquele meu amigo, com quem muito convivi e de quem muito gostava, pelos seus modos educados, cordiais, a sua cultura e discrição, sempre pronto a ajudar o amigo, onde, inclusive, estive com a Annie na sua casa ali para os lados da Estefânia, com uma sala coberta de livros das edições clássicas da Gallimard e que a Annie (assim me pareceu) lhe queria deitar a corda ao pescoço. Se assim for, só pode ser o editor da Sextante hoje uma subsidiária da Porto Editora. A propósito, um dia, decidi mandar-lhe o original O Rés-do-Chão de Madame Juju. O romance é um grosso volume e não se lê de pé para a mão. Quando havia pensado que a coisa não lhe interessara, eis que me chega um mail elogioso do meu trabalho tendo, inclusivamente, bastas observações sobre a personagem principal. Depois, no último parágrafo ele informa-me que não o pode publicar por causa da sua amarração à editora do Norte. Numa segunda troca de impressões em que eu esgrimo sobre a construção de Madame Juju, ele responde-me: “Não é só a Madame Juju que está bem desenhada, há outras personagens muito relevantes.” Voltando ao cartão. Não tenho memória para que servia, nem como me veio parar às mãos. Cooperativa de Empregados nunca pertenci, portanto, penso tratar-se de um gesto seu de amizade. 


         - Alguém acredita no último tratado de paz para a Faixa de Gaza? Decerto que não. Pois se quem fornece as armas a Netanyahu, é o mesmo que quer a paz. Mas qual paz? Que ridículo! Que cinismo! Negócio americano emperra sempre quando milhões escorregam.