Terça, 3.
Quand je vis ce beau jeune homme,
Il riait á belles dents.
Nous étions tous deux, en somme,
s euls avex Dieu. Cependant,
il mit sa main dans la mienne
et me fit tout un discours,
puis me dit: “Est-ce que tu m´aimes?”
- “Oui, au-delà de l´amour.”
“Donc, dit-il, tu me désires?
- “Tout est désirable en toi.”
- “Crains Dieu alors, oublie-moi!”
- “Si mon coeur veut m´obéir...”
Este poema é do poeta árabe nascido por volta de 757 d.C., e que morreu em Bagdad (talvez) em 815. Se o trago aqui hoje, é para reflectir sobre a ligação de Deus para com os homossexuais. Como se pode observar nesta poesia como em todo livro, Abú Nuwâs, o grande poeta, não complica a relação com o rapaz e não hesita em chamar Deus ao momento único do homem maduro com o adolescente. O Amor no coração dele falou mais alto e nem por isso a culpa entrou nele. O Papa Francisco, tem feito um esforço para acolher, homens e mulheres, com gostos diferentes da maioria e abriu-lhes as portas da Igreja à comunhão conjunta com os demais cristãos. Julien Green sofreu horrores por se sentir diferente e perante Deus penitenciou-se, numa espécie de calvário, a vida inteira. Para mim, todavia, somos a imagem de Deus. Ele acolhe-nos como somos, nas nossas fraquezas e nas nossas diferenças. Durante o fascismo, a Igreja católica condenou milhares de homossexuais ao ostracismo, ao silêncio, à via-sacra dos WCs públicos, dos bares onde se podiam exprimir e, sobretudo, à solidão mais terrível. É verdade que ainda assim, muita rebaldaria acontecia e a Pide não podia estar em todo o lado, mas o patriarcado, com o seu poder escudado no sistema político rigoroso, ia traduzindo o temor a Deus e ao inferno, como destino daqueles que ousavam apesar de tudo manifestar-se. Deus para a Igreja de então, é o carrasco, o terrível ditador que despachava depois da morte para o fogo da eternidade, as almas que tiveram o azar de terem nascido diversas e, ainda por cima, ousavam desafiar as leis da Igreja vigente. Nesse entretanto, sabemo-lo hoje, bispos e cónegos, frades e freiras, párocos e sacristães, iam gozando as loucuras do pecado carnal com jovenzinhos na alvorada da inocência e alguns ávidos do perfume das sacristias. Deus, decerto, em vez da condenação dos pecados, despachava o prazer dos físicos frescos em noites de orgias religiosas... “Olhai para o que vos digo e não para o que faço.” Este axioma fez sofrer muita gente, verdadeiros cristãos no bom sentido do termo – aqueles que sofreram por destinado a secura do espírito e a morte do corpo à mingua de um simples e natural prazer. O poema intitula-se “M´aimes-tu?” Pergunta que já quase não se ouve porque a selvajaria amorosa que parte da animalidade do grosseiro e do inculto, sem sensibilidade nem capacidade para entender a relação entre dois seres, foi substituída pelo interesse, o sexo rápido, o prazer-desprazer que domina as gerações de hoje. O sexo democratizou-se, quero dizer, abandalhou-se. O cio animal impera, a realização sensual não é para o caso chamada e muito menos tolerada como quotidiano entre duas pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes. A lei da aceitação e casamento entre indivíduos do mesmo sexo foi legalizada, mas nas cabeças dos cidadãos e na sociedade nunca foi acolhida como valor libertário e direito a cada um escolher o parceiro/a que entenda. Hitler, a par dos judeus, elegeu os homossexuais para acossar e liquidar. Isto na frente. Na retaguarda, os oficiais das SS, pela calada da noite, nos quartéis gozavam à tripa-forra com os mancebos de raça ariana tão cara ao ditador que impôs a pura eugenia.