domingo, setembro 15, 2024

Domingo, 15.

Tenho o habito de pela manhã regar não só as plantas como as árvores. Ontem porém, deu-me para o fazer ao fim da tarde. Não sei por que carga de água, sentia-me excepcionalmente bem, com forças, empreendedor. Puxei os cinquenta metros da mangueira mais forte e comecei aqui perto de casa, depois as romãzeiras,  as palmeiras e quando puxei a mangueira para o lado oposto da casa, levantou-se um coro de súplicas: macieiras, outras romãzeiras, a cyca, arbustos, caducas hortênsias, oliveiras, damasqueiros, laranjeiras, ameixieiras, outra figueira, agapantos, acantos todo este mundo vegetal rejubilava pensando que eu estava ébrio ao saciar-lhes a sede num dia rigoroso calor.  As árvores no fundo da quinta, gritavam: “queremos a outra, chama a outra”. A outra era a Gi que, quando cá esteve, as embebedou sob alegria contagiante como eu nunca as havia visto. Ouvia-se até uma espécie de glu-glu quando a água penetrava nas raízes, seguido de um suspiro que inundou o ar de um canto sublime que se foi acomodando já perto do crepúsculo, antes de a noite acrescentar ao sono a frescura há muito reclamada. 

         - Hoje escolhi a RTP1 para assistir à missa dominical. A cerimónia foi transmitida da igreja de São Francisco, Estremoz, e celebrava o dia do Exército. A presidi-la o arcebispo de Évora. Sua eminência, antes e durante a missa, fartou-se de tecer loas às individualidades presentes, entre elas o Presidente da Câmara e figuras fardadas dos quartéis. “Comprimentos” a torto e a eito, puro acto político em que os actuais signatários da Igreja se confrangem. Acontece que ali somos todos iguais como na morte. Perante Deus não há povo nem clero, pessoas de primeira e segunda categorias. O lugar dos sacerdotes hoje, parece exercer-se entre o poder divino e as honras das tiaras, casulas e solidéus. 

         - Dizem-nos que entre hoje e terça-feira Portugal vai estar sob temperaturas abrasadoras. Disso são provas os incêndios em actividade por todo o lado, especialmente no Norte onde Viseu, Covilhã, Fundão, Braga, Leiria, são corridos a vento forte não dão descanso aos incansáveis bombeiros.  

         - No oposto encontra-se a Europa Central com tempestades, inundações, destruição, pelo menos quatro mortes, tudo por força do Boris que veio tocado a ventos ciclónicos. Polónia, Eslováquia, Áustria, Hungria, são os mais atingidos. 

         - Ontem, o João começou uma conversa sobre o Relatório Draghi acerca do estado da UE. Eu, como sempre na retranca, não vá ele estender-se em considerações que nos opõem constantemente, reservei-me. Mas é evidente que há muita coisa a reter do dito documento, em particular estas: A União Europeia está a perder há muito competição, nomeadamente, com americanos e chineses. Calcula-se que a nossa produtividade ande pelos 70 por cento da americana. Os americanos trabalham mais, nós divertimo-nos à brava. Assim, a economia americana com 340 milhões de almas, representa 26% da economia global; a União Europeia com 440 milhões apenas 17 por cento, igual à da chinesa com 1400 milhões de chinesinhos-formigas. O rendimento per capita desde há vinte anos nos EUA é duas vezes mais o da Europa. Palavras para quê? Aqui, tudo é demora em leis, tratados, conversas, discussões, birras, interesses pessoais e de cartel. Fala-se ainda no processo contra-revolucionário que está por fazer.