segunda-feira, setembro 23, 2024

Segunda, 23.

Acontece que o Tó veio aí recolher uma abada de LPs com a História da Música Clássica Europeia que eu lhe ofereci. Ficámos a conversar um pouco. A dada altura ele perguntou-me se o episódio sinistro de ter acordado alagado em sangue tinha tido sequência. Disse-lhe que não, e adiantei que era um doente sem doenças. Se considerarmos que duas calosidades em luta uma com a outra nos dois dedos mindinhos do pé direito, nada mais me aflige. Foi quando ele, sendo médico, me aconselhou pôr entre os dois dedos infectados um penso higiénico e acrescentou: “O chato é teres de o comprar.” Percebi o que ele queria dizer e adiantei que vergonha e preconceitos não andam de mão dada comigo. E assim, ontem, entrei no supermercado em busca do artigo caro a qualquer dama. Procurei, procurei e não vi nada que se assemelhasse à descrição do meu amigo. Chamei uma empregada minha conhecida e perguntei-lhe se havia pensos higiénicos. Ela dirigiu-me para a secção e apontou para não sei quantas marcas, modelos, tamanhos, cores, embalagens... Vendo-me hesitante, pergunta: “A sua esposa costuma usar qual destas?” “Não é para a minha esposa, é para mim.” Espanta-se ela com reserva e começa a tirar da prateleira um e outro modelo. Nesse instante, surge uma colega que lhe diz de rompante que anda à sua procura há uma data de tempo. Desculpa-se a minha simpática empregada comigo. Diz acelerada do corredor: “É para a sua esposa?” “Ele não tempo esposa”, responde a rapariga loira a meu lado. “Nunca vi um homem a comprar pensos higiénicos e se não tem esposa só pode ser para pôr no cu.” Digo-lhe eu: “Por enquanto aí não preciso.” Festa seguida de foguetes e gargalhada forte. Avança a morenaça e começa a tirar da prateleira vários pacotes e caixas. “Serve este? Ou quer antes aquele?” Vendo-me perdido, mais serena, rindo-se sempre, pergunta-me: “Se não é para o cú é para onde?” Digo que o médico me deu de conselho usá-lo para proteger os dois calos que tenho no pé. Admira-se ela e voltando-se para a camarada: “Tás a ver! E nós a pensarmos que estas coisas só nós é que usávamos!” De seguida: “Que cor quer?” “A mim tanto se me faz.” “E o tamanho?” “Tamanho”, surpreendo-me eu. “Sim. Para onde isto vai não tem sempre a mesma medida.” Estou completamente desconcertado. E ela: “Então o senhor não sabe que nós mulheres somos umas mais apertadinhas, outras mais largas e algumas mais rechonchudas?” Digo eu rindo: “Não sabia, mas nunca é tarde para aprender.” E então ela retira da prateleira dois modelos que a mim me pareciam para rechonchudas, tendo em conta o que o Tó me informou fazer com o artigo. Estou numa grande dúvida quando a despachada morena, desata a abrir o pequeno saco com os ditos pensos lá dentro. À primeira impressão aquilo parecia um linguado imenso para caber entre os dois dedos dos pés e disse que não sabia o que fazer. Foi quando ela fez estalar o plástico que guarda o produto e o desenrola. Aos meus olhos parecia ter o formato de um olho demasiado grande e torci o nariz. “Parece um olho grande.” “Pois, riem-se as duas, há quem lhe chame outras coisas.” Para abreviar a coisa, aponto para o mais barato. Quando a cena parecia estar acabada, eis que a loira, dispara: “Que cheiro prefere?” Petrifiquei e devo ter ficado alguns minutos absorto, quando ouço a morena: “O que eu mais gosto é de açucena, leve esse.” Que mundo! 

         - Enquanto as democracias se encaminham para a decadência, as ditaduras (de direita e esquerda) reforçam-se e prosperam. 

         - Estou de novo apeado. Quando esta manhã, pelas sete e meia chegava a Setúbal para fazer análises ao colesterol na disputa que nos opõe, a minha médica e eu, quanto à toma Sevastatinas, o carro desatou a fazer uma fumaça medonha pelo tubo de escape e pelo capot. Parei. Chamei o reboque do ACP e, depois de colocar na traseira o triângulo, esperei. De súbito, comecei a ver os carros a derrapar e quase todos travavam muito perto de me baterem por trás. Foi quando vi chegar dois carros de bombeiros e um da polícia. Só então percebi que havia vertido óleo no alcatrão desde a curva uns metros antes. Os bombeiros despejaram muito saibro(?) no chão uns vinte metros para trás e para a frente do meu carro. Aguardei e tornei a aguardar em jejum e irritado com a porcaria do carro que não havia uma semana tinha chegado do mecânico. Era meio-dia quando tirei sangue. Atendendo ao meu estado físico, creio que, pelo menos, diabético não serei.