sábado, agosto 31, 2024

Sábado, 31.

Tenho-me deliciado em ver os jogos para-olímpicos. Os meus camaradas coxinhos, coitadinhos, sem braços, pernas, colunas vertebrais inoperantes, corpos deformados, cegos, enfim, reduzidos ao esforço, à vontade, à energia e à arte desportiva que lhes brota enérgica do pouco físico que resta, são pela audácia, a valentia, o esforço intrépido, o entusiasmo, o confronto consigo próprios, um hino à vida, uma reflexão ao nosso convencimento formoso, um desafio ao que se convencionou chamar normal. A vida, a verdadeira, brota de cada um deles e reduz à comiseração aqueles corpos criados nos ginásios, brutos, idiotas, falsos, inventados por máquinas para serem exibidos por e para obtusos. 

         - Israel não pára. Depois de ter reduzido os palestinianos da Faixa de Gaza a míseros presos sob o seu despotismo quase um século, voltou-se agora para a Cisjordânia onde faz razia de mortes. Aguenta, pelo menos, quatro frentes de combate, porque aqueles que falam em paz continuam a fornecer-lhe a guerra: EUA, França, Alemanha, Inglaterra e decerto outros mais. Há excepções que pouco interessam. Como a de Josep Borrell que defende sanções contra “alguns” ministros israelitas.  

         - Continuo sem carro. O Sr. Gaspar foi adoptado por mim para meu chauffeur. É ele que me vem buscar e trazer sempre que tenho necessidade. Ontem, mal me viu chegar, disparou: “Vem muito carregado.” Era verdade porque me abasteci em Lisboa do necessário para sobreviver. Parecia o preto da Casa Africana. Os antigos lisboetas sabem do que falo; os outros não se interessam em saber como não se importam com nada. Vivem marrando nos telemóveis que lhes fornecem os dejectos quentinhos e bons.   

         - Como vai este pobre país? Como sempre de mal a pior. Não há dia que não nos traga a tristeza dos políticos que se armaram em democratas e à sombra dos partidos onde se sentem protegidos de tudo, como grupos de mafiosos, somos surpreendidos pela face oculta dos seus crimes. Assim, o presidente da Assembleia da República, Aguiar-Branco, segundo o Correio da Manhã, omitiu na declaração de rendimentos e património que entregou à Entidade para a Transparência  o Valor Patrimonial Tributário de 10 imóveis urbanos. Vai continuar em funções? Claro, pois então! Outro facto inédito, o assalto ao Ministério do Administração Interna. Foram levados alguns computadores e até agora não se descobriram os larápios e não se sabe o que tinham de importante as máquinas. Que choldra. 

         - É raro encontrar um leitor deste diário. Aconteceu-me há dias. O rapaz falava com a colega nestes termos: “A prosa do blog é literatura gulosa.” A outra franziu o sobrolho e ele explica: “A gente lê e não pára, eu às vezes tenho de ir ao dicionário quando não percebo uma palavra.” Literatura gulosa, nunca tinha ouvido tal!