Quinta, 8.
Eu não me calo. Desde que percebi no que se traduziu o 25 de Abril, com os cálculos pessoais e ideológicos a marcar o ritmo da democracia, a soma astronómica, de súbito, como um arrastão de gente ligada à esquerda, como se o país tivesse virado do avesso e do apoio quase unânime a Marcelo (falo dele porque foi no seu reinado que me fiz gente) houvesse sido em segredo do PCP, PS e dos grupos pequeninos que por aí ocupam a grelha parlamentar. Depois, instalados no poder, a ideologia é içada, a prática anulada pelos interesses pessoais de partidários. Exemplos são aos milhares. Retenho-me, contudo, neste: a horrenda acção de Fernando Medina quando presidente da Câmara de Lisboa (do PS, pois então) ao entregar a Putin os nomes dos jovens e não jovens que em Lisboa protestaram no caso chamado Russiagate. Agora a Comissão Nacional de Proteção de Dados multou a Câmara de Lisboa, condenando a autarquia a pagar uma coima de 1.027.500 euros pela acção pidesca do ex-presidente camarário. O actual autarca fala em pesada herança do Partido Socialista e hesita em pagar a coima ou enviá-la para a sede dos socialistas no Largo do Rato.
- Dia terrível de andanças. Sabendo disso, cheguei cedo à Brasileira (8,30 h.) ainda vazia de turistas, e sentei-me para duas horas no romance. A coisa ia correndo bem, tão bem que sentia a tensão a martelar na minha cabeça. Só parei quando vi que estava a entrar em delírio, quero dizer, a prosa a saltar desordenada entre as linhas da acção romanesca. Saí e fui comer qualquer coisa, dei um salto ao Reino para lhe dar conta de um projecto a dois, subi as escadinhas do Duque para resolver um assunto e voei para o Hospital da Luz ao encontro do Tó, enfim, ressuscitado. Que prazer em vê-lo ao fim de pelo menos dois anos! Longa conversa no sofá do corredor, no final disse-lhe pedisse aos seus doentes desculpa pelo tempo que lhe tomei. O Tó! O mesmo sorriso, a mesma atenção, a mesma empatia de sempre! A propósito vou citar Jouvet: “On reconnaît le bonheur au bruit qu´il a fait en partant.”