quinta-feira, agosto 22, 2024

Quinta, 22.

Fui do Chiado a Baixa. Não encontrando o que precisava, andei às voltas pelas três ruas principais mais a Rua Santa Justa que palmilhei em busca de uma casa de produtos naturais. Não vadiei pelas ruas que me viram nascer, mas pelo inferno por onde serpenteei para fugir aos invasores que se esparralhavam pelas esplanadas, passeios, lojas, praças, esquinas, por todos os espaços na barafunda, no casb bar em que se tornou o centro da minha amada Lisboa. Outrora, pela calada da noite, quando a Baixa nunca se esvaziava e quem por lá andava buscava interesses vários que radicavam na felicidade de um encontro, de uma ida aqui e ali, no toque, num olhar, em duas palavras secas que traduziam o que o coração apertado não ousava balbuciar por pura paralisação. Um hossana de efervescência tomava conta do corpo, a boca secava, o passo acelerava, uma espécie fervura inundava todo o corpo, a ânsia do desconhecido untava de enervamento e quietude os alicerces do desejo, a magia do encontro unia o que nunca poderia ser unido se os sentidos não se tivessem combinado para operar o milagre do instante de luz, do suspiro fundo, do êxtase que perdura e ondula por dois copros arfantes. Corria-se por esses momentos, esquecia-se tudo por eles, por de tão intensos e arrebatados neles habitava a hora incandescente do primeiro desejo, do primeiro pecado, da primeira mancha gravada na pele branca e inocente, desejada e amada, no primeiro suspiro para sempre recordado...