Sábado, 15.
Entrámos em berraria, em promessas falsas, em ódios ditos de adversários, repetições de acusações, sempre as mesmas, repetidas à exaustão de modo a que se convertam em verdades. Estamos, pois, em campanha eleitoral para a Assembleia da República, dita a Selva. E contudo, por muito que me esforce em perceber o confronto entre Luís Montenegro e Vasco Gonçalves, que o Presidente da República diz ser ético, não alcanço a verdadeira dimensão de tal desastre para os portugueses. É facto que há trapalhada na forma como o primeiro-ministro se exprime, a conta-gotas, dos factos que a oposição o acusa. Também acho estranho a compra, a pronto, de dois apartamentos na capital, da estadia de Montenegro em hotel de luxo, em Lisboa, pela módica quanta de 250 euros/noite, assim como não sei se estão bem esclarecidas as obras naquele prédio familiar de um gosto manhoso, em Espinho. Seja como for, toda esta exposição sorvida pela gente socialista, vem, no início, da empresa que construiu muito antes de ser primeiro-ministro e depois passou para a mulher e de seguida para os dois filhos e, sobretudo, de uma avença de 45 mil euros paga pela Solverde que detém vários casinos. Vocifera Vasco Gonçalves, decerto invejoso, ele que se ficou por uma ajuda ao pai, sapateiro, que Luís Montenegro acumule aquela pipa de massa, com o cargo de primeiro-ministro. Resumindo, se bem entendo, nada mais há a condenar ao pobre homem, esfolado vivo na praça pública! Pergunto: há crime? Há crime que muito antes de ocupar a cadeira do poder ele ter sido empresário? Há crime em possuir de seu os haveres que estão à vista ou para se ser primeiro-ministro, é necessário ser-se pobrezinho, analfabeto, funcionário público, inscrito num partido ou ter nascido no seio de uma família de sapateiros? Pergunto o que faz aqui a ética encontrada por Marcelo Rebelo de Sousa.
Todo este abespinhamento, é a tábua de salvação de que precisa o actual dirigente do PS para alcançar a notoriedade que o partido não há meio de lhe outorgar. Vejam que nem um Presidente da República consegue ter para amostra, o partido continua dividido entre os costistas e os (poucos) santistas. Depois, é bom lembrar, que estes pecadilhos de Montenegro, quando comparados com os de José Sócrates; com aquele que escondeu 75 mil no seu gabinete ministerial; com os muitos advogados (de resto em todos os partidos) que acumulam o vencimento de deputado com o exercido do ramo, a fazer de criminosos santos e arcanjos, sem falar nos sucessivos ministros acusados de tudo e mais alguma coisa, substituídos a um ritmo de valsa acelerada por António Costa, ou dos últimos oito anos de maioria absoluta socialista que transformaram este país num território de terceiro mundo, onde a arrogância, o desprezo pelas populações, a marcha atrás na saúde, na educação, na habitação, apesar dos milhões de esmolas vindas da UE, com tanto Portugal enferma, definha, está coberto de pobreza, as desigualdades são abismais, a corrupção instalou-se, os partidos transformados em loas que vomitam ódio e vingança. Num só ano, Luís Montenegro com o seu governo absolutamente fora de série, conseguiu, sob o pântano socialista de oito anos, endireitar muito do que Costa e seus capangas destruíram. Este Governo foi o melhor que tivemos de há quinze anos ao presente.
- Sim. António Barreto diz na sua página: “Acabar com a democracia, para pôr um termo à sua imperfeição, é o mesmo que matar o ser humano porque está doente, não matar a doença.” Talvez. Contudo, do que eu sei e me é dado observar, nunca foi o povo que se opôs à democracia – quem a matou foi sempre a ganância, a sofreguidão pelo poder, a corrupção. O povo, amochado, aceitou. Os responsáveis, conseguem sempre fugir para paraísos idílicos. Está dito.