quinta-feira, dezembro 05, 2024

Quinta, 5.

Para aligeirar o que acima registei, este encontro. Ontem fui à piscina e quando ia na segunda ou terceira volta na faixa dos “recreativos”, dois velhotes quando chego ao topo onde eles estão em descanso, um deles diz-me: “Você nem respira. Faz isto tudo de uma assentada. Eu não sou capaz”, acrescenta o outro: “Eu também não, entra-me água para o nariz.” Digo-lhes que tenho uma boa caixa torácica e quanto a entrar a água para dentro do nariz, é só irem aos chineses comprar uma mola (inventei a resposta sem conhecimento do facto). Ambos responderam: “Já hoje que lá iremos.” 

         - Está cá em casa o Carlos de passagem para Angola. Ficará oito dias e deste modo tive que me ajeitar para a vida debaixo do mesmo tecto. Tento dar-lhe o auxílio indispensável e, em simultâneo, preservar os meus ritmos de vida e trabalho. Há muito tempo que não vivia uma experiência assim. É compatível com a tua personalidade e rompimento com a solidão tão adorada? É. Primeiro, porque quebra os ritmos sucessivos; segundo, porque desobriga o egoísmo de se instalar; terceiro, vivifica em mim o paradigma criado para ajustes a uma só pessoa, em desprimor do outro que existindo em mim, me ultrapassa e se projecta na realidade existencial do todo e desta forma sou solitário com todos os outros. E esta minha terna condição só é possível por me saber parte do outro enquanto interpelação possível na minha solidão. 

         - O Governo de Michel Barnier caiu com os votos da senhora Le Pen e do agitador profissional, senhor Mélenchon. Como se vê é cada vez mais uma função revolucionaria os extremos darem as mãos para se imporem. A pouco e pouco, esquerda e direita desmascaram-se e dizem-nos que éramos nós, espíritos independentes e atentos, que tínhamos razão. Borda-fora com ideologias, com a ditadura do proletariado e quejandos, o importante são os nossos interesses, o poder pelo poder,  o nosso único objectivo.