Terça, 22.
O mundo parece ter descoberto agora Francisco, alguma Igreja também. A hipocrisia é medonha combinada com o imediatismo e o erguer de cabeça, advertindo: “Eih, estou aqui!” A imprensa portuguesa rema para Setúbal com entrevistas aquele que ela quer ver no Vaticano; Trump, depois de Vance qual hipócrita vaidoso a preparar a sucessão do trapalhão, disse que estaria em Roma para o funeral do Papa, com a sua delicada esposa. Há tanta palermice nestes americanos de segunda, iletrados, convencidos que têm o rei na barriga, tão trágicos na sua insignificância, que não se dão conta do ridículo que ostentam. Burrrrr!
- Talvez o fim de Trump seja antecipado. O povo americano parece ter-se dado pelo desastre de haver votado no núcleo dos gangsters. Fim-de-semana passado, em quase todos os Estados, o povo saiu à rua protestando e chamando todos os nomes possíveis ao especulador imobiliário. Por outro lado, o débil partido democrata, adormecido há três meses, ressuscitou com acções e palavras convincentes. A China, país digno e forte, no oposto à Europa periclitante, comanda o mundo favorecendo-se e aproveitando inteligentemente o que Trump lhe oferece de mão beijada. Não tardará seja ela o maior e mais potente país do globo. Não foi por acaso que a presença europeia cristã por aquelas paragens lhe deram outra dimensão (estou a lembrar-me dos jesuítas). Mao Tsé Tung transformou o povo em escravos e para isso dizimou milhões. Os que vieram depois, sob ditaduras sucessivas, avançaram economicamente, mas contra a natureza humana cujo valor inestimável é a liberdade – e desse ponto de vista vivem numa prisão.
- Inopinadamente, eis que me atiro a limpar as ervas danosas que cobrem todo este espaço. Comecei a medo, antevendo a dor lombar do lado direito e como resposta àqueles que preferem o café em vez do trabalho. Porque antes havia gente de todas as idades para nos ajudar em pequenos trabalhos, hoje não há uma alma e os campos estão abandonados. Bref. Ao cabo de uma boa hora, tinha metade da parte de quem aqui chega, limpa - uma máquina. Não é muito, eu sei. Mas é tanto porque me enche de contentamento, e espero seja o começo de um período profícuo.
- Estive a ver um podcast do Adelino Gomes quando das primeiras horas do 25 de Abril de 1974. Vou ter de me olhar bem ao espelho... Nós fomos colegas no início da nossa actividade radiofónica, mas com quem eu me dava bem era com a nossa colega que julgo veio a ser sua mulher. Curiosamente, surgiu-me agora a ideia, o mesmo aconteceu com o casal Joaquim e Helena. Talvez me desse melhor com o Joaquim Furtado, mas recordo-me, perfeitamente, que era com a Helena que eu gostava de conversar e discutir, recordo a sua sensibilidade. O mesmo se passou com o João David Nunes, embora com este a nossa amizade tivesse tido mais extensão e, lá está, por virtude daquela que viria a ser sua companheira. Para não falar no Zé Nuno Martins, no Alferes Gonçalves com quem me dava lindamente e passo. É toda uma geração de jornalistas e mulheres e homens da rádio que agora chega ao fim, é toda uma vida de empenho, agitadíssima, florescente que trouxe muito para a forma como hoje se faz jornalismo e rádio. Posso dizer que fomos pioneiros. Por exemplo, o meu programa semanal, Nova Musa, a montagem era sempre feita pelo João David Nunes. Foi ele que introduziu as vozes e as guitarras num programa de poesia com poemas e apresentação que eu escrevia e divulgava aos microfones da Rádio Universidade adstrita à Emissora Nacional. O Zé, locutor de serviço na estação ao domingo, apresentava-me sempre deste modo: “E agora o Nova Musa do catedrático Helder de Sousa.” Era um gozo que nos divertia.