Segunda, 21.
Vladimir Putin, para enfeitiçar Trump que de inteligência não dá provas, disse que suspendia a guerra por dia e meio devido à quadra pascal. Vimo-lo depois na catedral de Moscovo, de vela acesa, muito pio, a rezar ou antes a ciciar os lábios finos dos cínicos. Na mesma altura, caíam bombas em várias zonas da Ucrânia, tendo o ditador dito posteriormente que fora a resposta aos ataques de Kiev. De facto, desde a primeira hora, que Zelensky que se tem revelado o melhor presidente europeu desde a Segunda Grande Guerra, afirmou que não acreditava na palavra daquele que o atraiçoou já por diversas vezes.
- Assim a Europa apressa-se, mas não acredito que as lutas partidárias e as correrias eleitorais, tragam protecção e segurança. Há um gráfico que o Público transcreveu que merece atenção. O número de armas nucleares da Rússia é superior a qualquer outro país do mundo. Só ela possui 5580, contra 5225 dos EUA. A Europa está pior. A França e o Reino Unido juntos, não vão além de 515 unidades. No caso do Reino Unido, estão dependentes da América para serem utilizadas. A própria China possui apenas 600 e a Coreia do Norte (graças em parte ao primeiro mandato de Donald Trump), conseguiu fabricar 50.
- Assisti pela televisão à Missa da Ressurreição transmitida do Vaticano. O Papa Francisco, muito frágil, não deixou de ser lúcido e terno quando na véspera, durante a Via Sacra, falou do mundo dos negócios e da riqueza à custa dos escravos, afirmando a dada altura que “a gratuitidade tem um preço elevado”. Os textos que acompanharam as XIV estações do Pretório ao Calvário, eram notáveis, revelando a profundidade e a justeza que não abandonam as capacidades intelectuais do Sumo Pontifico.
- Segundo li no Público, existem coimas aplicadas a quem falar em alta voz nos transportes públicos. Não sabia, mas aplaudo. Também parece que os comboios estão a pensar em criar “carruagens silêncio”. Eu pago o que for preciso para viajar nelas. Pena que a Fertagus não institua rápido tal sistema, farto como estou de ouvir as negras aos berros (e algumas passageiras brancas parecendo surdas), todo o percurso, e nós a gramarmos aquela miséria de conversa que nos chega da que temos ao nosso lado e da que lá longe grita também e, quando eu farto daquela tristeza, peço para falar mais baixo, logo sou enxotado: “Quem não está bem, muda-se.” As meninas do BE deviam ouvir este calvário se viajassem nos transportes públicos. Como andam montadas nos seus popós, não se misturam com o modi operandi que tanto defendem mas... à distância como rainhas no seu trono.
- Desisto de ter a minha mesa de trabalho arrumada. Todas as manhãs tento, mas logo renuncio porque outras tarefas se atropelam. Então, tendo a Piedade trazido outro dia um ramo de jarros, fui colher do meu jardim(?) as estrelícias com que decorei o salão. Assim, vista de longe, com a jarra de flores de permeio, a secretária parece limpa pela Piedade que, mesmo quando cá vinha todas as semanas, eu nunca autorizei a mexer-lhe.
- Depois de ter registado todas estas impressões, quando ia no comboio a caminho de Lisboa, o João Corregedor telefona a dar-me a triste notícia: o Papa Francisco faleceu. Fiquei mudo, siderado. Notara que ontem, durante a bênção Urbi et Orbi ele estava muito ausente, decerto sofredor, parecia perscrutar o infinito, nem cá nem lá, num espaço que consentia o silêncio que inicia a viagem que nós teremos todos de fazer um dia. Morre um santo, o Papa que melhor interpretou os Evangelhos, que lutou pela humanização da Igreja contra o fausto, a arrogância, a vida airada de certos padres, bispos, cardeais; enfrentou a catrefa de casos de sacerdotes pedófilos, aguentou o confronto com os cardeais americanos e, em surdia, muitos outros, aproximou as mulheres da Igreja real e institucional, gritou contra a guerra, a pobreza, o abandono dos infelizes, dos imigrantes, de todos aqueles que a sociedade liberal sacode para as margens da morte. Trabalhou até ao derradeiro dia. Os textos por ele escritos para a Via Sacra de Sexta-feira Santa, são o derradeiro testemunho de um Homem atento ao mundo espiritual e à passagem, breve e intensa, de cada vida humana. Foi consubstancialmente a luminosa presença de Jesus Cristo na Terra.