sexta-feira, abril 04, 2025

Sexta, 4. 

Um só homem, desarruma a vida de milhões de pessoas em 59 países, ordenando taxas e processos económicos-financeiros que põem em causa os seus quotidianos provocando com certeza milhares e milhares de desempregados. Como é isto possível num país democrático, ou antes, outrora democrático, como os EUA. Que é feito do dito partido democrático que parece ter morrido e enterrado no dia seguinte à investidura de Donald Trump? No que nos toca a nós, União Europeia, a taxa imposta pelo déspota inclino da Casa Branca, é de 20%. Todavia, países há como a China com 54% ou a Tailândia com 36%, até ao pequeno território dos Camarões com 11% de taxas nos produtos exportados para a América. É claro que a economia mundial vai sofrer com a súbita medida draconiana e cada um vai tentar adaptar-se como puder, mas as feridas vão ser muito profundas e a desconfiança no célebre mercado global, vai sofrer um recuo inevitável. Quem quanto a mim tem estado atento ao  curso prazo, é Emmanuel Macron que me surpreende pela imediata capacidade de compreender o que está em jogo.  

         - Ontem apareceu aí o Johnson. Não sabia que eu tinha sido operado. Ele e o Nilton tinham vindo à minha procura no domingo. Censurou-me por não o ter procurado para se ocupar de mim. Falamos, falei. A dada altura ele convida-me a entrar no jipe para um café que logo se estendeu numa ida à casa onde o meu Poineer repousava há três anos para arranjo. Arrancou-o ao técnico que parecia querer ficar com ele. Felizmente que eu havia feito uma foto do cartão de entrega para arranjo. Bom. Dali, porque lhe falei em querer montar um toldo no lounge (o chique é do Carlos), disse-me que ele e o Nilton poderiam fazê-lo. Aí vamos nós para Setúbal, ao Leroy Merlin, saber preços para a estrutura, etc.. Na sequência, como eu tenho de ir a Badajoz adquirir o necessário ao arranjo da piscina, ele propôs-se vir connosco (comigo e com o Nilton) e acrescentou: “Se necessário vamos no jipe onde cabe tudo.” Homem assim já não há. Ou existe e eu desconheço? 

         - Há anos que não permanecia aqui a semana inteira. Foi o mau tempo que me reteve, mas também a rotina dos colírios (quatro vezes ao dia) no olho operado. E um certo respaldo que a cirurgia requer. Ler, pouco; escrever, o indispensável. À parte isso, a cabeça foi enchendo do bom e do mau que as circunstâncias impunham. Como agora vejo em claridade há muito impedida, vou ter que substituir as lâmpadas porque esta casa parece uma cidade em festa. Durmo com a venda na vista, de barriga para cima e permissão para o lado direito. Mas este jogo, é certamente alterado durante o sono, porque acordo muitas vezes. Se a isto se juntar a dor no lombar direito, temos o triunfo da velhice que se vai instalando sem pedir autorização. Por outro lado, estou impedido de fazer natação durante todo este mês. Era ela que fazia arrepiar as dores e me iria permitir assim que o bom tempo retorne, começar a cortar o matagal que me cerca. Adoro contar estes affaires caseiros. É com eles que aprendo a escrever, que me debruço sobre o quotidiano onde tudo desagua aparentemente sem interesse nenhum. Ficar horas no aconchego das palavras, no exercício da escrita, é transbordar de prazer e viver instantes de pura harmonia, de sublime felicidade. Talvez os meus leitores não compreendam esta vida solitária, banhada pela labuta do silêncio murmurante, atravessado por personagens que se apresentam vindas de lugares inóspitos, com suas falas mansas ou alteradas, mas sempre disponíveis para me encher o tempo vasto que antecipa a eternidade...