Quarta, 2.
Como está o meu querido amigo Helder? Responde o Sousa: Benzinho, graças a Deus. E por aqui ficou o diálogo que ambos vinham mantendo de fugida desde que se levantaram da cama. E todavia, o mundo com os seus horrores não parou, as promessas de felicidade gritadas por políticos ouviram-se mais alto, as guerras não abrandaram, os gangsters que dominam o mundo prosseguiram na sua cegueira de ganância e idiotice, os pobres ficaram mais pobres, os ricos dormem em colchões de bilhetes de banco, os dias somam-se às noites, o tempo, indiferente, continuou a sua marcha indelével para o inferno que se abre em cada coração desumanizado, em cada tirano, em cada ditador construtor de impérios sobre vidas espezinhadas e seres humanos deixados para trás como coisas inúteis.
- A cena nacional não sendo criativa, submete-nos à monotonia das ideias aldrabadas, repetidas à exaustão de forma a que se construam como verdades. Para o líder do PS o tempo passa e não se apercebe que não tem competência para o cargo, nem dá pela reacção dos seus camaradas nas mais pequenas coisas da vida comum, aquele toca e foge de nomes para este e aquele cargo, o vazio que se instala, o bater de asas ante o socialismo radical que a ninguém convence. As sondagens quando lhe convém não contam para nada, o resultado das eleições na Madeira foi um fenómeno local, o nome para a Presidência da República que tarda virá, a subida do PSD um facto momentâneo...
- A nossa esquerda está retratada naquela figura, protótipo do século XIX, Boaventura Sousa Santos. Perdão, professor Sousa Santos, autor de “Epistemologias do Sul”, uma lengalenga neoliberal, dirigente do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e irrequieto machão que passava a pente fino muitas das suas assistentes que agora o condenam na barra dos tribunais por incorrigível matador. Não só ele. Outro camarada do mesmo CES, está também acusado de assédio sexual a camaradas que com ele trabalham (ou trabalharam) sob a direcção do insigne intelectual. Recentemente, o octogenário, à CNN veio descartar uma série de normas dos anos Sessenta e Setenta, segundo as quais um “piropo” não fazia mal a ninguém e até havia senhoras que o apreciavam. Acontece que o que leio não se trata de “piropos”, mas de crimes na sua forma tentada. Mas deixo a palavra a João Miguel Tavares, em artigo de terça-feira, no Público. “Em primeiro lugar (refere-se ao nosso belo exemplar de homem) foi vitima do patriarcado. ´Qualquer homem da minha idade que diga que, nos anos 60 ou 70, não fez um piropo ou um galanteio a uma mulher ou é mentiroso ou é hipócrita.´ Ou seja a culpa de qualquer mal-entendido é da cultura patriarcal, até porque ele - ´uma pessoa atraente sempre ´ - teve sorte com as mulheres ´ (palavras suas). Em segundo lugar, Boaventura foi vítima do capitalismo: devido à ´precariedade´ de quem não conseguiu um lugar no quadro do CES, o neoliberalismo empurrou as 13 mulheres contra ele. É uma conspiração mundial: ´Sou um pensador incómodo, um intelectual critico´, diz. Logo o internacionalismo neoliberal foi obrigado a calá-lo com estrondo. Eis o grande intelectual da sociologia portuguesa. As Epistemologias de Boaventura ficam-se pelo sul. Já o seu ego dá a volta ao globo.”