domingo, setembro 29, 2024

Domingo, 29.

Hezbollah confirmou a morte do seu líder xiita Sayyed Hassan. O que se segue é uma incógnita. Biden, no seu jeito apatetado, veio dizer que Israel fez justiça ao liquidar o homem que dirigia o Líbano há 30 anos. É natural porque ele faz a guerra em cooperação com Netanyahu e está sob a pata dos interesses económicos e os pacotes de dólares para a campanha da criação Harris. A incoerência ridícula desta gente! O que os EUA aconselham para a Ucrânia, não funciona para o Médio Oriente. O Irão já disse que Israel “será punido de forma adequada”. Tenhamos esperança que Benjamim Netanyahu seja apanhado um dia e julgado pelos crimes de guerra que praticou sem dó nem piedade. Esta gente, é a mesma que nos relata o Antigo Testamento e que recusa o Novo Testamento. 

         - Com mais disponibilidade para me concentrar, olhando em torno das mesas e sofás, verifiquei que não havia livro que não tivesse sido lido. Então subi à biblioteca de cima onde estão numa prateleira as obras que vou comprando, achei a de Eugénio Lisboa, Acta Est Fabula que comecei a ler. Todavia, estranhamente, o dia correu de feição. Dentro de portas, muitos pequenos trabalhos: ocupei-me a confeccionar um prato para arquivo, alindei uns espaços agora que a Piedade já pouco faz, pus roupa na máquina e enxuguei-a ao sol e vou daqui a nada fazer compota de maçã.   

         - No capítulo que se segue do folhetim OE2025, parece levar o epílogo para o Chega. Pelo menos foi o que disse Marcelo Rebelo de Sousa que há meses anda a pregar para surdos. Marcelo esquece-se que a esta gente o que lhes interessa é o poder e não o “interesse nacional”. As pessoas, o país, nunca estiveram nem estarão nas suas mentes e acções. Ventura tem agora uma hipótese de sobressair da turba multa dos alienados e sectários partidos à esquerda. Se for esperto, ficará com o ónus da viabilização do documento. 

         - Como tinha absoluta necessidade de assistir à missa, não desliguei o televisor quando vi o célebre padre Toni, do Funchal entrar-me em casa. Lá estava ele cheio de tiques, vaidade e prazer em se ouvir. Contudo, bela e bem estruturada homília no desenvolvimento do evangelho (Mc 9,38-43.45.47-48). 

         - Depois de ter lido o notável livro de Paulo Santos sobre a tela de Marquês de Pombal à guarda do município de Oeiras, voltei ao princípio para anotar as gralhas, os erros, os pequenos nadas que em mim tomam sempre na escrita o drama da perfeição. Aconselho aos meus leitores a leitura e a posse de um livro que interpela não só a história da sua execução, como a interliga com a história de Portugal. É muito interessante. 




sábado, setembro 28, 2024

Sábado, 28.

Estando recluso, é em Marguerite Yourcenar que penso. Ela, depois da Segunda Grande Guerra refugiou-se na América com a companheira americana Grace Frick. Falecida esta, encontra refúgio no amigo que ela lhe deixou. Mas Jerry morre de SIDA pouco depois e, só, na Petite Plaisance, a casa do Maine, sul dos Estados Unidos, atira-se ao trabalho com paixão e contrapartida. Muitas obras nasceram então daquela solidão imensa amiga da reflexão, do tempo lesto, do espaço finito entre a vida e a morte. Sem me querer comparar à Estátua, faço dos meus dias encalhados, um tempo de escrita, escrita lenta, pensada, vivida e em simultâneo carrego baterias para me lançar às garras da vida de hoje feita de sobressaltos, imposições, interesses financeiros, leis estúpidas, encontros vadios onde reina a hipocrisia e o salve-se quem puder. Decidi ir buscar, terça-feira, o carro à oficina onde julgo ter havido leviandade no arranjo da viatura e levá-la para outra que me perece mais apetrechada e séria. Não vou na conversa do primeiro mecânico incitando-me a dá-la para abate. O automóvel está praticamente novo, com 155 mil quilómetros, impecável por dentro e por fora, e gosto muito dele. Por isso, vou optar por pôr um motor novo ou de ocasião, de forma a poupar na carteira, mas também a não resvalar para esta loucura colectiva do desaproveitamento. O carro não é o meu trono - é o meio prático que me facilita a vida. 

         - Israel, na sequência de forte ataque aos subúrbios de Beirute, anuncia a morte do líder do Hezbollah, Sayyid Hassan Nasrallah. Na sua obsessão criminosa, Netanyahu, imagina que alguma vez conseguirá acabar com o Hezbollah. Rei morto, rei posto. Toda a região, desconfio, prepara-se para uma guerra generalizada. O que se observou ontem na sede das Nações Unidas (no caso desunidas) onde o ditador discursou, é o rotundo sinal do encaminhamento do mundo.  Quando o corrupto primeiro-ministro israelita começou o sua exposição, praticamente todos os presentes abandonaram a sala. Israel politicamente está só no caminho que empreendeu. Os países que lhe fornecem as armas, aproveitam para ganhar milhões, alimentam uma ditadura desumana e abandonaram os palestinianos que há quase um século tanto sofrem sob a pata dos ultra que apoiam um tipo arrogante e assassino. Contudo, ainda nada foi confirmado por parte do Hezbollah.




sexta-feira, setembro 27, 2024

Sexta, 27.

E agora, o que se segue? Anteontem o mecânico telefona-me a dizer que a avaria é insignificante, uma simples perda de óleo; ontem que o motor “gripou” e de duas uma: ou dou a viatura para abate ou ponho um motor usado. Depois do susto, vou-me remetendo conforme posso sem perceber onde estou metido.  

         Depois dos figos, vieram as maçãs e ontem recolhi um cabaz delas que vou transformar em compota. Agora tenho em força dióspiros que, por serem tantos, vou oferecê-los. Para a semana, recolherei as romãs de várias árvores carregadas que oferecerei igualmente. Restam as oliveiras que ainda devem estar cansadas de tanto fruto o ano passado, nenhuma delas me presenteou com uma azeitona para amostra. A fechar o Verão, os marmelos que não sendo muitos este ano, são suficientes para os assar no forno. E assim todo este universo se recolherá para um sono profundo até à próxima Primavera. 

         - Recebi os resultados das análises ao colesterol e diabetes. Com a persistência do Danacol, vi baixar ainda mais os valores. Assim, vou prosseguir a minha batalha contra a toma das Sebastatinas. No tempo dos meus pais, os valores rondavam os 250mg., depois 220mg., hoje os laboratórios impõem aos médicos 180mg. Acontece que o colesterol controlado é indispensável ao cérebro. 

         - Netanyahu prepara o seu exército para investia terrestre sobre o Líbano. Não vai ser um passeio, tendo em conta o número de soldados e sua formação para o combate. Em quantidade o exército árabe é muito maior.  E também tem mísseis e todo o lanceiro de armamento capaz de fazer frente ao exército israelita. Impressionante como um homem só é capaz de enfrentar quase todas as nações do mundo. Só? Claro que não. Ele tem as costas quentes com as palavras dúplices daqueles que falam em paz e carregam-no de armas. 

         - Esta tarde veio aí o simpático homem que me trata das lareiras. Limpou a salamandra da sala de jantar e deixou tudo impecável por um preço correto. Assim o Inverno pode aninhar-se. A lenha está serrada e recolhida debaixo do telheiro, as lareiras disponíveis, a casa e o seu proprietário prontos para lhe dar as boas-vindas. Este senhor que cá vem tratar das lareiras, é um cavalheiro de trato e perfeição e sensibilidade no trabalho. É um diamante que não quero perder. Ele ao chegar perguntou-me pelo carro. Contei-lhe a história e terminado o que cá o trouxe, fez questão de me levar ao supermercado comprar croquetes para o Black que estavam a esgotar. 


quinta-feira, setembro 26, 2024

Quinta, 26.

Sobra da bagunça na área da Educação, o caso da professora (sim, professora) Paula Pinto Correia. A docente leccionava Matemática há uma data de anos e foi impedida de o fazer quando se descobriu que não possuía diploma para tal. Pelo que julgo saber, os seus conhecimentos e aplicação nas aulas eram tais e tantos que participou, inclusive, na elaboração de manuais e livros sobre a matéria. Esta é a imagem de um Portugal mesquinho onde o que conta é o canudo e não o conhecimento. Era assim no tempo de Salazar, continua no tempo da democracia. Temos tantos “doutores” analfabetos e a pulhice de uns anula o saber de outros. 

         - O mundo mira-se a ver quem possui o armamento mais mortífero. Os conflitos e a ganância campeiam por todo o lado e ninguém nos garante que antes do fim do ano não tenhamos uma guerra à nossa porta. O corrupto e assassino Netanyahu abriu outra frente de guerra com o Líbano. Segunda-feira, Israel lançou um ataque feroz contra o Sul do vizinho do qual resultaram 500 mortos e 1600 feridos e um êxodo sem precedentes da população na direcção da Síria. EUA, França, Alemanha e alguns mais, choram lágrimas de crocodilo na ONU onde estão reunidos para estudar o assunto, mas nenhum deixa ou deixou de enviar toneladas de armas mortíferas para Israel. Este é o mundo onde nos encontramos – um sítio horrendo onde vidas humanas são carne para canhão como se dizia nas guerras de 18 e 39 do século passado.  

         - Estando sem carro, desloco-me de táxi. Ontem, o motorista que me trouxe de regresso a casa, não parou de enxovalhar António Costa e seus pupilos. Eu limitei-me a assinar de cruz tudo o que o homem irado dizia. Até porque a diferença de governação é já de tal modo clara que julgo não passar despercebida a nenhum português. No tempo daquele que se pirou para Bruxelas com a vidinha alimentada a honrarias e dinheiro à farta, cada ministro, qual banha da cobra, exibia-se todos os dias aos gritos estridentes nas televisões. Hoje, há recato, há estudo dos dossiers, não se fala por falar, expõe-se os assuntos com autoridade, não se embarca na loucura de uma imprensa tresloucada que vive do faits divers, ignorante, populista como ficou demostrado recentemente com os fogos.

         - Chove, enfim! Ouço a chuva cair lá fora ante o prazer e satisfação das árvores tão necessitadas do que vem do céu. Este murmúrio brando, é música que me entra no salão onde estou sentado diante da lareira com o computador nos joelhos. O silêncio que estacionou por detrás da chuva, anda e ciranda em torno da casa e de vez em quando é tocado por um cativante vento, um silvo doce, ladainha estendida à varanda para curiosos ousados. Por mim recolho-me com as mãos cheias de palavras que vou alinhando da esquerda para a direita da página em branco. Estas e a chuva, formam uma harmonia que o silêncio insinuando-se fecha. Somos um todo nestes instantes supremos onde a magia impera e os minutos se espreguiçam. 


terça-feira, setembro 24, 2024

Terça, 24.

A podologista atirou com desdém o penso higiénico para o cesto do lixo. Examinou de seguida o estado do meu pé direito e quis observar também o esquerdo que tende a fazer perder a cabeça a mulheres feitas e a raparigas imberbes. Depois de me ouvir dizer que me sentia duplamente coxinho coitadinho, e que nem o facto de a perna que os cavalheiros e os rapazes admiram com olhar cobiçoso no seu estado equilibrava o meu caminhar trempedanças. Como médica, não me pareceu impressionada e logo pôs mãos ao trabalho. Com o bisturi, rapou os dois calos que se entrechocavam fazendo doer quando caminhava. Depois, utilizando plasticina(?) moldou uma prótese que foi aperfeiçoando e ajustando aos meus dedos. Os dois finais em conflito, ficaram isolados e o modelo passava para o dedo maior atravessando o peito do pé. Assim protegido, enfiou-me a meia e marcou-me consulta para daqui a dois meses de forma a fazer duas palmilhas (julgo que no mesmo produto) “porque essa que usa no pé esquerdo está completamente deformada – daí o esforço do pé direito”. Conclusão: quando à noite tirei o molde e o lavei como me indicou, senti-me aliviado de todas as dores que pareciam ter-se acomodado de vez.  A pergunta que agora faço a mim mesmo: que fazer ao pacote de pensos higiénicos? 

         - Três longas horas de escrita no romance. Isto de ter ideias todos os dias, não é pera doce. Mesmo este registo, tem muitas horas de trabalho e para onde vou levo comigo o croché. Aquilino tinha razão – a criação de um romance faz-se ponto a ponto na encruzilhada da matéria de onde parte a criação. 

         - Envelhecer. Interrogo-me muitas vezes, sobretudo depois daquele dilúvio sanguíneo de Fevereiro, quando começamos a declinar. Cismando sem descanso, chego à conclusão de que envelhecer é antes demais uma atitude mental, um súbito esquecimento de todas as quedas, lapsus memoriæ, dores disseminadas pelo corpo que tivemos na juventude e não lhe atribuímos o princípio à velhice. A ideia de que a idade pesa, de que o fim se aproxima, é absolutamente imprópria à luz de um facto redundante: morremos porque nascêramos. Quero dizer que a morte é a companheira de uma vida e não de um velho. Falecemos não porque temos esta ou aquela idade, mas porque a missão de qualquer ser vivo é esse encontro intenso e absolutamente deslumbrante com a morte. Todo o mistério da vida, está resumido no segundo em que deixamos este mundo para conhecermos um outro, provavelmente mais arrebatador porque nos dá a conhecer o verdadeiro sentido da nossa passagem por esta terra. A descoberta do autêntico sentido  une os dois extremos – a vida e a morte. Todavia, é nesta que o futuro se espelha. Somos eternos no sagrado que levámos da nossa existência terrena. Porque toda a vida possui implícita uma missão, ainda que nós não consigamos decifrar o sentido da nossa viagem, as apostas que fazemos, a orientação que fomos pegando e largando ao longo do tempo. Não estamos no mundo sós. Nunca estivemos, nem sabemos de alguém que tenha estado. Viver implica a existência dos outros, da Natureza, até dos desgostos, da solidão, do sofrimento. Estar frente a frente com estes aparentemente estranhos sentimentos, é criar vida, é aprender a conhecer os vários ângulos da existência a caminho da morte, e fazer a experiência intensa que a dor ferra no nosso corpo e no nosso cérebro. Nada do que aqui vivemos escapa ao destino que nos espera. É por isso que viver intensamente nos transporta para o patamar da aceitação da morte. Viver a morte através de uma vida plena, curta ou longa, é decerto o meio mais eficaz de nos realizarmos enquanto seres vivos que esperam a morte como destino e salvação. Não há velhice no tempo que passa, na paisagem que se detém para nosso deleite, no cochichar da voz humana nos beirais da felicidade que nos une à plenitude da exultação da vida. Vivamos, pois. Porque até na decadência existe a dignidade de uma vida espraiada nos lodos do sofrimento, nas alegrias e tristezas, nos dias sombrios e nas manhãs claras. A morte espera-nos para nos deixar noutra forma de vida que eu creio seja eterna. André Malraux, o ateu, quando lhe perguntaram como queria que o seu filho morto num acidente fosse a enterrar, disparou: “Quero um enterro religioso, porque o meu filho não é um saco de batatas.”


segunda-feira, setembro 23, 2024

Segunda, 23.

Acontece que o Tó veio aí recolher uma abada de LPs com a História da Música Clássica Europeia que eu lhe ofereci. Ficámos a conversar um pouco. A dada altura ele perguntou-me se o episódio sinistro de ter acordado alagado em sangue tinha tido sequência. Disse-lhe que não, e adiantei que era um doente sem doenças. Se considerarmos que duas calosidades em luta uma com a outra nos dois dedos mindinhos do pé direito, nada mais me aflige. Foi quando ele, sendo médico, me aconselhou pôr entre os dois dedos infectados um penso higiénico e acrescentou: “O chato é teres de o comprar.” Percebi o que ele queria dizer e adiantei que vergonha e preconceitos não andam de mão dada comigo. E assim, ontem, entrei no supermercado em busca do artigo caro a qualquer dama. Procurei, procurei e não vi nada que se assemelhasse à descrição do meu amigo. Chamei uma empregada minha conhecida e perguntei-lhe se havia pensos higiénicos. Ela dirigiu-me para a secção e apontou para não sei quantas marcas, modelos, tamanhos, cores, embalagens... Vendo-me hesitante, pergunta: “A sua esposa costuma usar qual destas?” “Não é para a minha esposa, é para mim.” Espanta-se ela com reserva e começa a tirar da prateleira um e outro modelo. Nesse instante, surge uma colega que lhe diz de rompante que anda à sua procura há uma data de tempo. Desculpa-se a minha simpática empregada comigo. Diz acelerada do corredor: “É para a sua esposa?” “Ele não tempo esposa”, responde a rapariga loira a meu lado. “Nunca vi um homem a comprar pensos higiénicos e se não tem esposa só pode ser para pôr no cu.” Digo-lhe eu: “Por enquanto aí não preciso.” Festa seguida de foguetes e gargalhada forte. Avança a morenaça e começa a tirar da prateleira vários pacotes e caixas. “Serve este? Ou quer antes aquele?” Vendo-me perdido, mais serena, rindo-se sempre, pergunta-me: “Se não é para o cú é para onde?” Digo que o médico me deu de conselho usá-lo para proteger os dois calos que tenho no pé. Admira-se ela e voltando-se para a camarada: “Tás a ver! E nós a pensarmos que estas coisas só nós é que usávamos!” De seguida: “Que cor quer?” “A mim tanto se me faz.” “E o tamanho?” “Tamanho”, surpreendo-me eu. “Sim. Para onde isto vai não tem sempre a mesma medida.” Estou completamente desconcertado. E ela: “Então o senhor não sabe que nós mulheres somos umas mais apertadinhas, outras mais largas e algumas mais rechonchudas?” Digo eu rindo: “Não sabia, mas nunca é tarde para aprender.” E então ela retira da prateleira dois modelos que a mim me pareciam para rechonchudas, tendo em conta o que o Tó me informou fazer com o artigo. Estou numa grande dúvida quando a despachada morena, desata a abrir o pequeno saco com os ditos pensos lá dentro. À primeira impressão aquilo parecia um linguado imenso para caber entre os dois dedos dos pés e disse que não sabia o que fazer. Foi quando ela fez estalar o plástico que guarda o produto e o desenrola. Aos meus olhos parecia ter o formato de um olho demasiado grande e torci o nariz. “Parece um olho grande.” “Pois, riem-se as duas, há quem lhe chame outras coisas.” Para abreviar a coisa, aponto para o mais barato. Quando a cena parecia estar acabada, eis que a loira, dispara: “Que cheiro prefere?” Petrifiquei e devo ter ficado alguns minutos absorto, quando ouço a morena: “O que eu mais gosto é de açucena, leve esse.” Que mundo! 

         - Enquanto as democracias se encaminham para a decadência, as ditaduras (de direita e esquerda) reforçam-se e prosperam. 

         - Estou de novo apeado. Quando esta manhã, pelas sete e meia chegava a Setúbal para fazer análises ao colesterol na disputa que nos opõe, a minha médica e eu, quanto à toma Sevastatinas, o carro desatou a fazer uma fumaça medonha pelo tubo de escape e pelo capot. Parei. Chamei o reboque do ACP e, depois de colocar na traseira o triângulo, esperei. De súbito, comecei a ver os carros a derrapar e quase todos travavam muito perto de me baterem por trás. Foi quando vi chegar dois carros de bombeiros e um da polícia. Só então percebi que havia vertido óleo no alcatrão desde a curva uns metros antes. Os bombeiros despejaram muito saibro(?) no chão uns vinte metros para trás e para a frente do meu carro. Aguardei e tornei a aguardar em jejum e irritado com a porcaria do carro que não havia uma semana tinha chegado do mecânico. Era meio-dia quando tirei sangue. Atendendo ao meu estado físico, creio que, pelo menos, diabético não serei. 


sábado, setembro 21, 2024

Sábado, 21.

O presidente do Parlamento russo, avisou a UE que “o tempo de voo de um míssil intercontinental Sarmat até Estrasburgo, é de três minutos e 20 segundos”. O aviso está feito. O ditador Putin não gostou da viagem da senhora Ursula von der Leyen a Kiev esta semana carregada com 160 milhões de euros de ajuda para o Inverno. A atmosfera que se instala no mundo dos nossos dias, é parecida com aquela que precedeu a Segunda Grande Guerra. 

         - Vou aconselhar o Paulo Santos a passar a edição corrente o seu notável estudo sobre o quadro do Marquês de Pombal, obra de Claude-Joseph Vernet, propriedade da Câmara de Oeiras.  


sexta-feira, setembro 20, 2024

Sexta, 20.

Os mil e tal fogos que por todo o país serpentearam, estão na grossa maioria terminados. Contudo, aquelas meninas que dizem ser jornalistas, como ontem aconteceu, perguntaram a um velhote como foi a noite anterior. Ele respondeu que tinha sido boa, liberto da inquietação. E ela, insatisfeita, continua: “Mas a de anteontem não foi fácil.” E logo o pobre homem se põe a chorar a contar o terror por que passou. A jornalista sentia-se a melhor da sua geração, a notícia aconteceu. Foi na RTP1 mas podia ter sido na SIC ou TVI. E lembrar-me eu da exigência que nos era imposta nas redacções dos jornais! A informação dos nossos dias, tem as mãos sujas de sangue, suor e lágrimas. 

         - Como será a Terceira Guerra Mundial que se aproxima? A avaliar pelas tecnologias que por aí se desenvolvem, vamos ter um conflito de uma covardia impressionante e sádica. Já não vai ser homem contra homem, vai ser o céu incendiado de bombas, satélites, armas teleguiadas, coisas monstruosas e sinistras que voam de distâncias imensas para atingirem o alvo a milhares de quilómetros no espaço a uma precisão de milímetro. Ninguém está a salvo e ganha quem for mais ousado no armamento tecnologicamente mais avançado e maligno. Uma pequena amostra aconteceu nestes dias quando os homens do Herbollah ligaram os seus portáveis ou pagers ou walkie-talkies e estes explodiram matando e ferindo não só o dono deles, ainda as pessoas que estavam na imediação. Uma dezena foram mortas e pelo menos 450 feridas. Esta novidade nunca vista, parece ter a marca do senhor Netanyahu. São ataques altamente sofisticados e requerem saber e muita tecnologia. Fontes de segurança dos EUA e do Líbano afirmaram que a Mossad (o serviço de inteligência de Israel), teria colocado explosivos em milhares de pagers do Hezbollah antes de os dispositivos serem detonados no país. Eu não acredito que os EUA não soubessem do assunto, eles que fazem a guerra contra os palestinianos em conjunto. 


quinta-feira, setembro 19, 2024

Quinta, 19.

O tempo arrefeceu, o Outono espreita para dentro das aflições do Verão, não por culpa deste, mas pela de todos os criminosos que em nome do lucro e ganância utilizam os infelizes para construir o seu império. Luís Montenegro falou grosso e promete persegui-los. Contudo, de boas intenções está o mundo cheio e o que se segue, como habitualmente neste pobre país, é nada. Para o ano repetem-se as mesmas acusações, invocam-se os mesmos direitos e obrigações, alguns morrerão queimados, o país fica sem florestas, mas os jornais, televisões, políticos, têm uma caleche de temas para esgrimir uns conta os outros. E siga dança. 

         - Ontem estive à conversa com o Sr. Castilho. O homem só fala de milhões mas é tão simpático que me encho de paciência a ponho-me a contar mentalmente quanto são dez milhões. Diz-me ele que uma conhecida marca espanhola de vestuário que abriu uma loja no edifício onde antigamente eu tomava chá com a tia Dália, no Rossio, paga de renda mensal 5 milhões! Toda esta fantasia, anuncia uma catástrofe, uma ruína ao nível do país e da Europa. Sente-se que tudo está preste a rebentar. Porém, como sempre, os portugueses assobiam para o lado. 

         - Fui à natação. Um punhado de mulheres extremamente gordas, verdadeiras lontras luzidias, chapinhavam na água ao comando de uma rapariga ucraniana. Quando debandaram na direcção dos balneários, pensei que gostaria de ser mosca para ver aquele rebanho de mulherio, todo nu, palradeiras, barriga contra barriga, a serpentear por entre os bancos corridos dos duches. Seria o maior espectáculo de horror nunca visto. 

         - Na escola básica da Azambuja, um adolescente de 12 anos, com colete à prova de bala, esfaqueou seis colegas. Uma menina continua internada com prognóstico reservado, as outras estão bem e o único rapaz atingido também. A directora da escola, disse o que muitas vezes se ouve dizer que "era um aluno como os outros, tinha brincadeiras [...], tudo perfeitamente normal, portanto nada levaria que tivesse tomado uma atitude destas”. Julgo que em Portugal é a primeira vez que um tal acto ocorre. Seja como for, devido à idade, o rapaz não pode ser julgado. 


terça-feira, setembro 17, 2024

Terça, 17.

Que dizer deste dia, senão a grandeza da alegria abraçada às palavras que iam passando do cérebro para a folha do romance. Levantei-me duas horas depois de haver estado sentado na Brasileira, levitando sobre o tempo sem tempo que constrói a ficção-realidade. O mistério sagrado da criação, é sempre para mim a dádiva maior da vida. 


segunda-feira, setembro 16, 2024

Segunda, 16.

Dir-me-ão: não mates a cabeça a pregar para surdos, dependentes e escravos; poupa-te para fins mais nobres, sonhos, explosões íntimas, viaja por sítios imaginários, perde-te por lugares onde a poesia e a beleza persistem em existir, extasia-te diante do pôr-do-sol e a ressurreição das auroras, dialoga com o silêncio, embriaga-te dele, e deixa o teu cérebro cansado repousar no dorso dos cavalos marinhos que galopam no firmamento... É daí que tu és e não dos escombros de um país mergulhado na podridão, paralisado por inoperância, em guerra permanente por ideologias velhas e relhas, apedeuto, gerido nos ecrãs de televisão, que é escola que ensina as crianças e os adultos a arte da resignação, da hipocrisia, da mentira, da alienação e do egoísmo. Eles gostam de números quando lhes convém, eu prefiro as análises independentes que escarrapacham nas caras horrendas daqueles que adoram governar trocando favores, fazendo leis à medida deste e daquele, falsificando notícias e estatísticas, vociferando contra a honradez e  competência dos que estão na vida com dignidade e trabalho, discernimento e competência. O barómetro saído agora da Fundação Francisco Manuel dos Santos, mostra o estado da nação, implicando toda a classe política na penúria de leis que combatam o crime de colarinho branco e armários atulhados de notas de banco, sem falar na vida airada enquanto crime e ofensa a um povo que continua a viver rasteiramente e escravo de uns quantos governantes que se renovam em alternativa para deixar tudo na mesma. Este quadro, mostra à evidência o grau de corrupção de uma sociedade à luz da percepção dos portugueses. Está lá tudo e nenhuma palavra deve ser acrescentada. 

Do Jornal Público.        

         - As temperaturas rondam os 40 graus centígrados. Apesar dos avisos das autoridades, no momento em que registo estas palavras, estão perto de cem fogos activos, há mortos, casas destruídas pelas chamas, gado, culturas. A maioria é no Norte onde os incêndios lavram conduzidos por ventos desgovernados.  



domingo, setembro 15, 2024

Domingo, 15.

Tenho o habito de pela manhã regar não só as plantas como as árvores. Ontem porém, deu-me para o fazer ao fim da tarde. Não sei por que carga de água, sentia-me excepcionalmente bem, com forças, empreendedor. Puxei os cinquenta metros da mangueira mais forte e comecei aqui perto de casa, depois as romãzeiras,  as palmeiras e quando puxei a mangueira para o lado oposto da casa, levantou-se um coro de súplicas: macieiras, outras romãzeiras, a cyca, arbustos, caducas hortênsias, oliveiras, damasqueiros, laranjeiras, ameixieiras, outra figueira, agapantos, acantos todo este mundo vegetal rejubilava pensando que eu estava ébrio ao saciar-lhes a sede num dia rigoroso calor.  As árvores no fundo da quinta, gritavam: “queremos a outra, chama a outra”. A outra era a Gi que, quando cá esteve, as embebedou sob alegria contagiante como eu nunca as havia visto. Ouvia-se até uma espécie de glu-glu quando a água penetrava nas raízes, seguido de um suspiro que inundou o ar de um canto sublime que se foi acomodando já perto do crepúsculo, antes de a noite acrescentar ao sono a frescura há muito reclamada. 

         - Hoje escolhi a RTP1 para assistir à missa dominical. A cerimónia foi transmitida da igreja de São Francisco, Estremoz, e celebrava o dia do Exército. A presidi-la o arcebispo de Évora. Sua eminência, antes e durante a missa, fartou-se de tecer loas às individualidades presentes, entre elas o Presidente da Câmara e figuras fardadas dos quartéis. “Comprimentos” a torto e a eito, puro acto político em que os actuais signatários da Igreja se confrangem. Acontece que ali somos todos iguais como na morte. Perante Deus não há povo nem clero, pessoas de primeira e segunda categorias. O lugar dos sacerdotes hoje, parece exercer-se entre o poder divino e as honras das tiaras, casulas e solidéus. 

         - Dizem-nos que entre hoje e terça-feira Portugal vai estar sob temperaturas abrasadoras. Disso são provas os incêndios em actividade por todo o lado, especialmente no Norte onde Viseu, Covilhã, Fundão, Braga, Leiria, são corridos a vento forte não dão descanso aos incansáveis bombeiros.  

         - No oposto encontra-se a Europa Central com tempestades, inundações, destruição, pelo menos quatro mortes, tudo por força do Boris que veio tocado a ventos ciclónicos. Polónia, Eslováquia, Áustria, Hungria, são os mais atingidos. 

         - Ontem, o João começou uma conversa sobre o Relatório Draghi acerca do estado da UE. Eu, como sempre na retranca, não vá ele estender-se em considerações que nos opõem constantemente, reservei-me. Mas é evidente que há muita coisa a reter do dito documento, em particular estas: A União Europeia está a perder há muito competição, nomeadamente, com americanos e chineses. Calcula-se que a nossa produtividade ande pelos 70 por cento da americana. Os americanos trabalham mais, nós divertimo-nos à brava. Assim, a economia americana com 340 milhões de almas, representa 26% da economia global; a União Europeia com 440 milhões apenas 17 por cento, igual à da chinesa com 1400 milhões de chinesinhos-formigas. O rendimento per capita desde há vinte anos nos EUA é duas vezes mais o da Europa. Palavras para quê? Aqui, tudo é demora em leis, tratados, conversas, discussões, birras, interesses pessoais e de cartel. Fala-se ainda no processo contra-revolucionário que está por fazer. 


sábado, setembro 14, 2024

Sábado, 14.

Ontem tive uma abada de João Corregedor. Começou na Brasileira, depois na Tasca Cardoso, ao Príncipe Real, onde ele fez questão de me oferecer o almoço, seguimos para a livraria mais adiante passando o jardim, tomámos o 727 (ele diz 27) no Largo do Rato para a Av. de Roma onde nos sentámos num pequeno café para um chá frio, as seis da tarde aproximando-se. Todo este tempo, foi uma espécie de recuperação dos dias em que ele esteve ausente no Minho como é habitual no Verão. Não se falou de política. Eureka! No entanto, temas não faltaram provando que a praga ficou lá para traz nos corredores do Parlamento.

          - Às ordens do carrasco Netanyahu, morreram mais uns quantos inocentes da ONU. Ninguém consegue travar uma guerra deliberadamente genocídia, porque a hipocrisia americana, francesa e alemã (os ingleses interromperam o envio de armamento) entre outros, mantêm às claras um crime hediondo. A Cisjordânia, vai de varrida também, com 600 mortos há dias, a maioria jovens. Sem esquecer as diferente frentes de guerra e escaramuças: Síria, Líbano, Irão e, naturalmente, o Hezbollah. 

         - Diz Donald Trump no debate com a vedeta americana recentemente alcandorada à presidência dos Estados Unidos,  que “estão a comer os cães e gatos” referindo-se aos imigrantes deixados à sua sorte nas fronteiras do país. Em tempo de guerra tudo é possível. Uma investigação independente devia estar já em curso a verificar a verdade ou inverdade – é o mínimo que me resta dizer. 

         - Há novos dados sobre o célebre abbé Pierre. O senhor parece que apreciava ver duas lésbicas em acção. Aos setentas anos, sentia-se excitado quando no quarto tinha a sua em saborosos (vamos dizer em latim para não chocar tanto) fellatiõne e mais as outras envolvidas. Este chique eclesiástico atravessou tempos imemoráveis da vida do dignitário da Igreja. Agora, indignados pelo forrobodó do santo, beatas e devotas das causas sociais e humanas, debatem-se por dar outro nome às iniciativas do sacerdote. Se me fosse possível entrar na indignação, diria que escolas, creches, ruas, praças, organizações religiosas passassem a ter o nome das vítimas do endiabrado abusador sexual. 


quarta-feira, setembro 11, 2024

Quinta, 11.

Outro dia, descendo o Chiado, voltei a deparar com o pequeno hotel de vão de escada, onde pernoita um casal que eu esperei saísse para voltar a fotografar o seu interior-exterior. A rapariga e o rapaz, de uns vinte e poucos anos, estavam deitados lado a lado, com a naturalidade de quem está à varanda vendo passar a seus pés, na indiferença citadina, os que olhavam e seguiam caminho. Ninguém se retinha a invocar aquilo que os políticos reivindicam para todos os portugueses, isto é, direito à dignidade, a uma casa, à saúde, ao mínimo de rendimento para que a rua não seja o lugar onde os verões e os invernos acampem em conjunto com a tristeza de vidas assim e as estrelas cantadas pelos poetas possam brilhar, como na canção, para todos. Esta imagem via eu muitas vezes por ali, quando pela uma da madrugada deixava o jornal onde então trabalhava, O Primeiro de Janeiro, que ficava na esquina daquela rua e confinava com o Rossio. 50 anos passaram sem que a pobreza de então, com a democracia instalada, imaginem, nunca se ter visto deputado ou ministro ou autarca a dormir ao lado dos milhares de infeliz que têm trabalho, mas vivem ao relento. 

Antes.

Depois. A legenda do cartão é a voz humilde dos pobres e a tristeza da democracia velha de cinco décadas.

         - Das oito às nove da manhã, serrei com a motosserra uns quilos de lenha. Depois, após um descanso mergulhado no livro admirável de Paulo Santos, Uma Obra Portuguesa de Claude-Joseph Vernet, fui fazer meia hora de natação. De tarde dormi uma sesta talvez um pouco longa para meu gosto e necessidade, posto que me encontro num período de sonos profundos e rápidos. 


terça-feira, setembro 10, 2024

Terça, 10.

Do nunca visto. A Alemanha, devido à entrada descontrolada de imigrantes, decidiu cortar o mal pela raiz e fechou todas as fronteiras. Quem chega, como nos tempos idos, tem que se identificar à porta. A Convenção de Schengen, já era.  

         - No dia do meu aniversário, logo às oito da manhã, começaram a chover mensagens e telefonemas. Como é hábito, o derradeiro apelo, é dos Couto por volta das 22 horas. Decidi actualizar a minha foto neste bogue, tirada pela Gi, uma semana antes. Foi um número redondo, incerto, frágil, corrigido cada dia ao acordar, com recuos e avanços. 

         - É impressionante o repto difícil de esquecer lançado pelos desportistas dos Paralímpicos de Paris. A França soube estar à sua altura e as pessoas honram-nos com a sua presença em massa na assistência. Eles falaram daquela expressão que eu muitas vezes trago aqui e tem raízes no tempo do Estado Novo, quando a Igreja encarava qualquer pessoa com deficiência como “coitadinho” ou “Deus que te assinalou algum defeito te encontrou”, o olhar incendiado de falsa misericórdia num caso e satisfação pela marca no outro. Esta beataria radicada na ignorância e no aproveitamento da padralhada, ainda hoje subsiste. Dimitri Pavadé referiu-se à naturalidade que deve existir em qualquer amorfia (“Le handicap n’est pas fait pour être caché”). Assim como o assumir da homossexualidade. A sociedade, não obstante campanhas e alguma imposição dos grupos LGBT, é um facto que ainda não assimilou como dado adquirido a condição. Impera  ainda hoje a reprovação, seja por gestos ou palavras. 

         - O Papa Francisco empreendeu um périplo que começou a 2 deste mês e vai durar até dia 13. Começou na Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste (onde se encontra) e termina em Singapura. A pouca vergonha dos sacerdotes abusadores de menores de idade, persegui-o. Em cadeira de rodas, não se furta a suportar o cansaço da viagem. A exemplo de João Paul II que, velho, uma frágil imagem do que foi, levou até ao fim com dignidade o seu calvário, mostrando que se é sempre alguém mesmo com as suas enfermidades. Prova disso, os Paralímpicos de Paris. Eu desatei a coxear com mais dignidade e uma certa altivez.  Olé! 

         - Não obstante os muitos afazeres por todo o lado, consegui reservar quatro horas para este registo e romance. Que mais? Apanhei o primeiro dióspiro numa árvore carregada deles, onde só este sobressaia, maduro. Mais: acabei de comer o resto dos figos. As figueiras prepararam-se para a hibernação: as folhas caem, os pássaros debandam, e a tristeza entra nelas como idosas abandonadas pela Natureza à sua sorte. 


segunda-feira, setembro 09, 2024

Segunda, 9.

Mais uma fuga rocambolesca da cadeia de Alcoentre. A prisão dita de alta segurança, volta que não volta, é filme para os presos perigosos que detém. Este e outros casos semelhantes são, quanto a mim, a radiografia da balda instalada nas instituições públicas. Depois de portas arrombadas, põem-se trancas às portas, e a caterva de supostos entendidos a debitar pareces durante dias. É sempre assim na administração pública portuguesa. Enquanto o Estado deixar tudo à balda, os funcionários madraços a actuar como bem entendam, os cidadãos ficam sujeitos à negligência e surpresas desagradáveis, e casos como este multiplicar-se-ão. Não é só a falta de respeito de uso e abuso para com as pessoas, é a certeza de que tudo o que fizerem não tem castigo algum, nem serão despedidos. O que se vê, como tradição da anarquia que António Costa deixou instalar-se, é que se encobrem os desastres em cumplicidade com sindicatos e, no limite, a culpa é sempre falta de funcionários. Nunca é deles. 

         - Tudo se fabrica para derrubar Luís Montenegro. Na Festa do Avante, o senhor Raimundo, líder o PCP, vivendo num mundo que não existe em lado nenhum, diz que “falta concluir o processo contra-revolucionário”.  O que é isto? 

         - Voltei ao prazer de um duche quente. Este novo esquentador, decerto não durará 24 anos como o anterior, mas é mais pró-planeta, dá-me a alegria de um banho quente, à temperatura programada por mim, uma vez que possuiu uma geringonça electrónica que economiza gás, água e acrescenta momentos de conforto. 

         - Dimitri Pavadé, atleta francês que ficou em quarto lugar nas provas de salto, sem papas na língua, disparou para quem o quis ouvir ou ler: “Sim, sou pequeno, mestiço, perneta e dito de outra forma, gay.” Depois, acrescentou: “Le handicap n’est pas fait pour être caché ou en avoir honte, il en est de même pour votre orientation sexuelle alors assumez vous comme vous êtes et rappelez vous que vous n’êtes pas seul, la vie est extrêmement courte et tellement de belles choses nous sont offertes qu’on ne peut s’en priver.” Este jovem ganhou não só um lugar invejável nos Paralímpicos, como é herói da dignidade e da liberdade, dos valores morais irmanados à consciência humana. 







domingo, setembro 08, 2024

Domingo, 8.

A história de l´abbé Pierre não pára de surpreender e indignar. Somam-se as mulheres que ele seduziu para práticas sexuais desde os Anos 50 a 2000. Nessas práticas, foram revelados actos inconcebíveis para um homem da Igreja com aquele ar de santo que todos lhe reconheciam. Entre essas mulheres há uma portuguesa, o que não admira tendo o homem, durante tanto tempo, andado à caça de mulheres maduras e até de jovens raparigas. Não há nenhum caso registado com efebos, ao contrário de outros religiosos que os preferiam. Resultado: todas as ruas, praças, escolas, organismos sociais, o Emaús e a fundação com o seu nome, querem os franceses erradicar da memória que antes pretendiam perpetuar. 

         - Fiquemos por instante em França. Tenho acompanhado no Canal 2, o julgamento impressionante de um homem, pai de três filhos, que todos diziam ter uma vida familiar feliz (lá está!), mas que durante anos encharcou a mulher de sedativos ao ponto de  perder completamente os sentidos e depois, com ela mergulhada no sono pesado, chamava amigos e desconhecidos que encontrava na Internet, para violarem a pobre senhora. A Justiça, calcula que pelo menos uma centena de criminosos acudiram ao chamamento da aberração. A senhora, a saída de uma das muitas audiências, acompanhada pelos três filhos, disse: “Fui sacrificada durante toda a vida no altar dos vícios.” 

         - No tempo de José Sócrates, socialista e primeiro-ministro, gatuno e ganancioso, ele telefonava ao seu banqueiro privado e dizia-lhe: “Olha, não te esqueças de me mandares aquilo que tudo sabes que eu gosto tanto.” Forma de esconder o nome do acepipe com que viveu à grande e até à francesa logo que deixou o governo e se instalou no 16 arrondissement, em Paris (o prédio fica próximo do apartamento da minha amiga Françoise que conhece muito bem o bairro por lá viver há uma data de anos). Pois agora, outra progénie foi criada no julgamento a decorrer no Tribunal de Espinho. Nas audiências que ali acontece, o empresário e destemido homem, de seu nome Francisco Pessegueiro, respondeu à letra afirmando que “na véspera da escritura de venda do terreno, Paulo Malafaia (da empresa do mesmo nome), perguntou ao ex-presidente da Câmara de Espinho, senhor Joaquim Pinto Nogueira, (PSD): “Quanto queres em bifes?” A resposta chegou no dia seguinte: 50 kg.” Ou seja, traduzindo para a linguagem comum longe da dos corruptos, 50 mil euros.  

         - Muito me deliciei com os jogos Paralímpicos de Paris que estão a encerrar com pompa e circunstância, a França banhada de honras. Os meus camaradas deficientes, foram para mim um incentivo para que coxeie melhor, porque me deram outra dimensão e possibilidades que não imaginava possíveis. Estes, sim, são verdadeiros heróis. Enquanto assistia às diversas competições, murmurava: “Deus não exclui ninguém do entusiasmo da vida.”

         - Faleceu Augusto M. Seabra. Conhecemo-nos, pelos Anos 80, no Frágil onde eu ia com frequência e tinha na “porteira” Margarida Martins uma amiga que nunca me barrou a entrada, mesmo quando o interior estava a abarrotar. Sempre gostei dele, embora mais tarde os seus azedumes tivessem contaminado meio mundo. Encontrava-o ali e na Granfina, no Vavá para discussões que se prolongavam pela noite adentro. Parecia ser um rapaz reservado nessa altura, mas a sua reserva atiçava-se quando lhe falavam de cinema, jornalismo, literatura. Parece que o seu fim foi melodramático. Que Deus o tenha em paz, a paz que julgo não ter encontrado em vida. Oh, tanta gente se vai, assim, sem mais!


sábado, setembro 07, 2024

Sábado, 7.

É curiosa a força que o hábito impera em nós. Desde que me foi retornado o automóvel e posso tomar duche quente, ir ao supermercado, ao café, entre o passado-recente e o presente restabelecido, começou uma vida nova que me faz recear da importância da outra à míngua de tudo. Porque a experiência vivida, restaurou em mim uma espécie de resistência contra a facilidade da vida moderna que arrasta consigo a tralha da facilidade e conforto em exagero. Durante quase três semanas passei os dias num casulo-limite, que me testou e eu testei a moldura do meu existir onde a solidão foi absoluta e as fronteiras esticadas ao ponto de recear o quotidiano que agora retomei. Circunscrito às quatro paredes desta casa, apesar de cerca de um hectare de espaço circundante, no meu espírito a prisão estava demarcada e ninguém aqui aportava para me chegar alimentos ou o jornal, deixar os bons-dias ou falar do vizinho submerso pelos familiares chegados de terras de França. Certo, apareceu a Alzira de regresso do Algarve, mas ela ignorara o estado em que me encontrava. Todos os outros, distantes e próximos, não encontraram cinco minutos para visitar o ilustre solitário. Surpreendido? Nem um pouco. A construção do silêncio levo-a eu há muito tempo e cada vez mais, tomado pela distância, percebo o mundo que me rodeia. Não é que dispense quem quer que seja. Pelo contrário. Gosto de gostar, mas também aprecio a solidariedade humana que o mundo de hoje, enterrada a filosofia dos Evangelhos, reduziu a uma montanha de interesses materiais, mais aguçada entre os que crêem que entre os agnósticos. Nesses dias, aprendi a consumir menos (eu que já o faço no extremo), quando a pouco e pouco observei o frigorífico antes cheio devido à estada dos meus sobrinhos. Mas também o tempo, essa presença sem rosto nem sentimentos, foi por mim consumido q.b.. Estendeu-se, cobriu-me nos seus tentáculos, prendeu-me nos seus braços como uma aranha medonha que nos sufoca. Inicialmente dei-lhe as boas-vindas, encarei-o como Santo Agostinho, e tentei que me desse a força necessária a que nos conduzíssemos os dois em cordialidade e convívio mútuo. A primeira semana passou-se sem que tivesse sentido o seu peso enorme; depois, à medida que os dias se iam somando, comecei a ficar derreado com a sua insuportável presença. Porque o tempo nunca se consome, arrasta-nos com ele para o vazio que ele próprio cria e onde nos amarra. Tentei instalar-me num programa que era o normal – escrita, leituras, arranjo da casa, regas, pequenos trabalhos no exterior, mas qualquer coisa faltava que devia complementar o arrozal das horas: a liberdade.  A  liberdade que eu com tanto custo tinha chamado não só a cada dia, como ao resto dos meus dias. O que antes fazia com gosto, foi na reclusão um suplício porque o elemento fundamental não estava presente, não podia exercer esse recurso indispensável a todo o ser humano. Mesmo na solidão, é preciso ter por companheira a liberdade. 


sexta-feira, setembro 06, 2024

Sexta, 6.

Ninguém está interessado em parar o terrorismo de Netanyahu. Muita conversa, muitas viagens, muito dinheiro gasto à conta dos orçamentos, quando a guerra serve outros objectivos que são os mesmos por que passaram durante quase um século os palestinianos: a escravidão, a falta de dignidade e reclusão dentro do seu território legitimo. Eu sei que a vida humana, toda a vida humana, é sagrada e tal não pode servir de moeda de troca; daí que os 40 mil mortos até agora na Faixa de Gaza, quando comparados com a centena e poucos israelitas barbaramente assassinados, são um insulto à paz, ao esforço de diálogo, à prepotência de um Estado, à dizimação de um povo. Vingança pura a que assiste, mais a mais quando entre eles há centenas e centenas de crianças inocentes. Se um Estado dito democrático sustenta uma guerra para servir meia dúzia de extremistas, então põe-se a questão não só civilizacional, como as vantagens da democracia. 

         - A França tem, enfim, primeiro-ministro. Contudo, a base que leva a oposição a encostar-se ao descontentamento, é a questão do aumento da reforma preconizado por Macron. Claro está que é um aproveitamento e não profundo desejo de sustentar uma lei que em quase todos os países da UE está há muito implementada. Os franceses são duros e por vezes selvagens, e quando não concordam não deixam as ruas nem arrefecem os protestos. Era assim, na sua forma genuína de se impor, que eu gostava fossem os portugueses. Nós somos tão calmos, tão cordatos, tão mansos que foi possível chegar ao estado a que chegámos – a reforma toca os 67 anos. Aqui os sindicatos têm forma, mas é a força que vem dos partidos – daí a nossa desgraça. 

         - Ficou concluída a montagem do novo esquentador, agora que estava habituado a tomar duche com água fria. Era um cerimonial. Começava pelos pés com uma cantilena, passava ao troco e enfiada outra canção, e quando chegava à cabeça gritava a plenos pulmões. No final, sentia uma satisfação de prazer absoluto. Disse ao técnico: Agora que estava tão habituado aos banhos frios é que você veio instalar o aparelho e contei-lhe o que se diz de Cristiano Ronaldo que toma banho em tina cheia de cubos de gelo. “Tretas, diz-me ele, eu fui aqui perto à casa do cunhado e bem vi a vida que lá se vive. A piscina tem o fundo gravado “C.R.7”. e as bebidas estão por todo o lado.” 


quinta-feira, setembro 05, 2024

Quinta, 5.

Terminei a leitura do extenso romance de Paul Bowles, Deixa a Chuva Cair. Que maravilha, que longas horas perdido nos meandros da história extremamente bem conduzida pelo autor e magnificamente traduzido por Ana Maria Freitas e editado pela Quetzal. Aquela geração de autores americanos que absorveu um tanto da cultura europeia, nomeadamente, a francesa – Burroughs, Truman Capote, Gore Vidal, Tennesse William, Ginsberg, Jack Kerouac – veio trazer para a literatura uma poção de magia extraordinária. A construção romanesca, o sentido interior que cada personagem carrega, aquele olhar que absorve a paisagem e introduz uma forma de escrever que mistura uma certa ligeireza americana com a densidade europeia, é algo que nos enriquece e reconforta. Porque está lá a alma humana inteira. Cada personagem vem até nós desimpedida da impureza do cinismo, da banalidade, da narrativa acelerada por convulsões artísticas que nada têm a ver com a arte e é apanágio de muita literatura actual. O que se conta ali, é a vida passada pelo crivo existencial do escritor. Não se pode fazer uma obra de arte sem a experiência da vida vivida, sem o drama metafísico, a dúvida, o sofrimento e a solidão. Bowlles traz para o seu livro tudo isso e põe em realce, sobretudo, o seu olhar, a perspicaz natureza que o observador que ele foi transformada num lirismo impressionante que toca todos os pormenores e invade a essência  própria história, que digo eu, da própria vida. O escritor viveu cinquenta e poucos anos em Tânger, sempre rodeado de rapazes com quem mantinha relacionamentos amorosos e sociais, estudou profundamente o modo de ser árabe, a junção de civilizações que ali aportaram depois da Segunda Grande Guerra, as questões políticas com Espanha, analisou o interesse do seu país, a espionagem crescente do mundo americano sobre o muçulmano, a cidade dividida entre a Zona Internacional da qual fazia parte o antigo colonialista e o país propriamente dito, com o seu modo peculiar de  vivência, costumes, filosofias e língua. Seguindo um rapaz americano que vem dos EUA para trabalhar na firma de um outro conterrâneo, Dyar, conta-nos o sub-mundo de um país que se vai perdendo entre o apelo europeu e as suas regras restritas, religiosas e sociais, impulsionado pela Coca Cola cujo estímulo foi congregador de um certo estilo de vida. Há na caracterização desta personagem muito de Paul Bowles, considerando outras obras que li do autor. No caldeirão de usos e costumes que era Tânger nessa época (eu visitei umas quatro vezes Marrocos e devo confessar que muito do que o escritor descreve e conta, pude eu observar) ainda havia zonas privadas onde os nativos imperavam soltos e vivos de paixões. Perto de Zoco Chico fica o bar Lúcifer, cuja proprietária é uma grega de nome Papaconstante. É uma casa de meninas, frequentada pela fina flor francesa e americana. É lá que Dyar encontra um amor não correspondido que o vai levar a um tempo de interrogação, a uma eterna introspecção, que o Kif ajuda (eu experimentei esta erva e tive mais ou menos os mesmas sensações que o protagonista) ou é suposto ajudar. A descrição da paisagem, é fabulosa. O escritor parece ter consultado uma vasta enciclopédia de botânica, tal o caudal de emoções, a mistérios dos elementos naturais como os minerais, a flora com o clima, numa harmonia poética que nos deixa no limite da beleza. Só para terminar. Este romance não se compara com nenhum outro e muito menos com a literatura que hoje sai vomitada, solta, com o número de páginas reduzido, historietas ridículas que não trazem nada, absolutamente nada à cultura, à arte, ao conhecimento humano. 

         - Enfim, ao cabo de três semanas, vou poder deixar a prisão ao volante do Skoda. Mas fiquei depenado. 


quarta-feira, setembro 04, 2024

Quarta, 4.

Esta semana, vagueando na Fnac por entre milhares de livros, pensei em Lídia Jorge e na sua actualíssima entrada: “Os editores só editam lixo.” E de facto. As bancadas estão cheias de coisa nenhuma, mas têm, todavia, uma mensagem que devemos ler no estudo das capas. Julgo que é a isto que a escritora se referia quando lançou o repto.  


         - O poder do amor manifestado e sentido pelo cérebro. 

Foto do Público. 

         - A política portuguesa é fraldiqueira. O tempo que esta gente gasta a atacar o parceiro, a criar factos políticos, a destruir pessoas, a semear o ódio! Dizem estes falsos democratas, que é a democracia a funcionar. Nas tintas como sempre estiveram para as pessoas, consomem o tempo e recursos na algraviada de chinelo – e os nossos impostos sustentam gentalha desta qualidade. 

         - Terminei de carregar carros de lenha para proteger da chuva sob o telheiro. Depois de mais de dez anos sem gastar na compra deste material, tenho para este inverno e decerto no próximo ano terei de enfrentar os valores que hoje se pedem por aquilo que antes valia metade. 


terça-feira, setembro 03, 2024

Terça, 3.

       

                       Quand je vis ce beau jeune homme, 

                       Il riait á belles dents.

                    Nous étions tous deux, en somme, 

                s  euls avex Dieu. Cependant, 

             il mit sa main dans la mienne 

            et me fit tout un discours,

                 puis me dit: “Est-ce que tu m´aimes?”

              - “Oui, au-delà de l´amour.”

            “Donc, dit-il, tu me désires?

           - “Tout est désirable en toi.”

           - “Crains Dieu alors, oublie-moi!”

           - “Si mon coeur veut m´obéir...”


Este poema é do poeta árabe nascido por volta de 757 d.C., e que morreu em Bagdad (talvez) em 815. Se o trago aqui hoje, é para reflectir sobre a ligação de Deus para com os homossexuais. Como se pode observar nesta poesia como em todo livro, Abú Nuwâs, o grande poeta, não complica a relação com o rapaz e não hesita em chamar Deus ao momento único do homem maduro com o adolescente. O Amor no coração dele falou mais alto e nem por isso a culpa entrou nele. O Papa Francisco, tem feito um esforço para acolher, homens e mulheres, com gostos diferentes da maioria e abriu-lhes as portas da Igreja à comunhão conjunta com os demais cristãos. Julien Green sofreu horrores por se sentir diferente e perante Deus penitenciou-se, numa espécie de calvário, a vida inteira. Para mim, todavia, somos a imagem de Deus. Ele acolhe-nos como somos, nas nossas fraquezas e nas nossas diferenças. Durante o fascismo, a Igreja católica condenou milhares de homossexuais ao ostracismo, ao silêncio, à via-sacra dos WCs públicos, dos bares onde se podiam exprimir e, sobretudo, à solidão mais terrível. É verdade que ainda assim, muita rebaldaria acontecia e a Pide não podia estar em todo o lado, mas o patriarcado, com o seu poder escudado no sistema político rigoroso, ia traduzindo o temor a Deus e ao inferno, como destino daqueles que ousavam apesar de tudo manifestar-se. Deus para a Igreja de então, é o carrasco, o terrível ditador que despachava depois da morte para o fogo da eternidade, as almas que tiveram o azar de terem nascido diversas e, ainda por cima, ousavam desafiar as leis da Igreja vigente. Nesse entretanto, sabemo-lo hoje, bispos e cónegos, frades e freiras, párocos e sacristães, iam gozando as loucuras do pecado carnal com jovenzinhos na alvorada da inocência e alguns ávidos do perfume das sacristias. Deus, decerto, em vez da condenação dos pecados, despachava o prazer dos físicos frescos em noites de orgias religiosas... “Olhai para o que vos digo e não para o que faço.” Este axioma fez sofrer muita gente, verdadeiros cristãos no bom sentido do termo – aqueles que sofreram por destinado a secura do espírito e a morte do corpo à mingua de um simples e natural prazer. O poema intitula-se “M´aimes-tu?” Pergunta que já quase não se ouve porque a selvajaria amorosa que parte da animalidade do grosseiro e do inculto, sem sensibilidade nem capacidade para entender a relação entre dois seres, foi substituída pelo interesse, o sexo rápido, o prazer-desprazer que domina as gerações de hoje. O sexo democratizou-se, quero dizer, abandalhou-se. O cio animal impera, a realização sensual não é para o caso chamada e muito menos tolerada como quotidiano entre duas pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes. A lei da aceitação e casamento entre indivíduos do mesmo sexo foi legalizada, mas nas cabeças dos cidadãos e na sociedade nunca foi acolhida como valor libertário e direito a cada um escolher o parceiro/a que entenda. Hitler, a par dos judeus, elegeu os homossexuais para acossar e liquidar. Isto na frente. Na retaguarda, os oficiais das SS, pela calada da noite, nos quartéis gozavam à tripa-forra com os mancebos de raça ariana tão cara ao ditador que impôs a pura eugenia. 


segunda-feira, setembro 02, 2024

Segunda, 2.

A pobre da Piedade retornou aí lavada em lágrimas. Ver uma pessoa aos 86 anos a chorar, corta-se-nos o coração. Votou a vida a cuidar do neto e este, arrastado pelas drogas, disse-lhe que ela não tinha dinheiro e ia morrer sozinha. A brasileira acrescentou que de ora avante era ela que governava a casa “porque ela, Piedade, já não tinha cabeça”. Cobri-a de coragem, aconselhei-a a ir ao banco quanto antes e retirar a reforma e as economias da conta conjunta – se é que ainda há dinheiro. É triste a velhice, mas é ainda pior quando morremos enganados e desprezados por aqueles que julgávamos que nos amavam – a querida família.  

         - Ontem foram encontrados num túnel em Gaza, seis reféns mortos. Israel diz que quem os liquidou foi o HAMAS, este acusa Netanyahu. E neste vai-e-vem de culpas e acusações, a guerra prossegue e o Ocidente e os EUA, vendem a paz com arrobas de material bélico comprado por Israel. 

         - Encharcar-nos de silêncio e fechar as portas aos contactos que adentro delas apodrecem a vida, desligar as luzes e deixar o pavio último da existência como esperança na transformação do mundo, na aurora do espírito, até ao momento em que ficaremos face a face com Aquele que nos espera e tanto tardou a receber-nos... 



domingo, setembro 01, 2024

Domingo, 1 de Setembro.

No final da semana passada, houve um acidente com um helicóptero no Douro que transportava uma equipa da GNR e de que resultaram quatro mortes e apenas o piloto sobreviveu. Era gente muito jovem e o mais velho teria 45 anos. Uma tragédia que enlutou Viseu e Lamego de onde os desaparecidos eram originários. O Governo decretou um dia de luto nacional e, como lhe competia, Luís Montenegro assim como Marcelo Rebelo de Sousa, deslocaram-se ao local para acompanhar as acções de resgate e assistir aos familiares. Logo uma turba de socialistas saiu a terreiro afirmando que a atitude do primeiro-ministro fora propaganda pura e outros vitupérios de um mau-gosto confrangedor. Eles que são mestres em propaganda aldrabona, que a praticaram até à náusea, vêm agora acusar um homem que é discreto na governação e na pessoa. Que aquela gente não volte ao poder tão depressa. É detestável, medíocre, baixa. Nem o respeito que as vítimas nos merecem, foi bastante para se conterem. Chiça! 

         - Ontem aqui parecia um dia de festa. Veio um brasileiro pelo braço do Mister John, este com uma escada enorme, para o primeiro subir ao telhado e tapar com uma rede as saídas de fumo das duas chaminés. Isto relativo ao que aqui se narrou com o técnico de montagem do esquentador.  John já vai arranhando um pouco de português, mas quando lhe expliquei que desconfiava do trabalho de brasileiros disse, misturando o inglês, que este era good (com o polegar erguido). Good talvez, mas esvaziou-me a carteira e fiquei sem dinheiro para o fim-de-semana que, diga-se de passagem, não era preciso por não poder gastá-lo em nenhum lado continuando apeado. O brasileiro parecia um macaco simpático. Grande, magro e tão peludo que não se lhe via a cor da pele. Talvez tenha sido por isso, que duas mulheres e respectivos filhos, o deixaram... Ao que me dizem os jovens, elas impõem aos namorados e esposos a depilação. O mundo não tarda, é por elas comandado e ai dos homens bravos e espadaúdos.