Quinta, 19.
O tempo arrefeceu, o Outono espreita para dentro das aflições do Verão, não por culpa deste, mas pela de todos os criminosos que em nome do lucro e ganância utilizam os infelizes para construir o seu império. Luís Montenegro falou grosso e promete persegui-los. Contudo, de boas intenções está o mundo cheio e o que se segue, como habitualmente neste pobre país, é nada. Para o ano repetem-se as mesmas acusações, invocam-se os mesmos direitos e obrigações, alguns morrerão queimados, o país fica sem florestas, mas os jornais, televisões, políticos, têm uma caleche de temas para esgrimir uns conta os outros. E siga dança.
- Ontem estive à conversa com o Sr. Castilho. O homem só fala de milhões mas é tão simpático que me encho de paciência a ponho-me a contar mentalmente quanto são dez milhões. Diz-me ele que uma conhecida marca espanhola de vestuário que abriu uma loja no edifício onde antigamente eu tomava chá com a tia Dália, no Rossio, paga de renda mensal 5 milhões! Toda esta fantasia, anuncia uma catástrofe, uma ruína ao nível do país e da Europa. Sente-se que tudo está preste a rebentar. Porém, como sempre, os portugueses assobiam para o lado.
- Fui à natação. Um punhado de mulheres extremamente gordas, verdadeiras lontras luzidias, chapinhavam na água ao comando de uma rapariga ucraniana. Quando debandaram na direcção dos balneários, pensei que gostaria de ser mosca para ver aquele rebanho de mulherio, todo nu, palradeiras, barriga contra barriga, a serpentear por entre os bancos corridos dos duches. Seria o maior espectáculo de horror nunca visto.
- Na escola básica da Azambuja, um adolescente de 12 anos, com colete à prova de bala, esfaqueou seis colegas. Uma menina continua internada com prognóstico reservado, as outras estão bem e o único rapaz atingido também. A directora da escola, disse o que muitas vezes se ouve dizer que "era um aluno como os outros, tinha brincadeiras [...], tudo perfeitamente normal, portanto nada levaria que tivesse tomado uma atitude destas”. Julgo que em Portugal é a primeira vez que um tal acto ocorre. Seja como for, devido à idade, o rapaz não pode ser julgado.