segunda-feira, julho 15, 2024

Segunda, 15.

Às vezes a vingança e o ódio servem-se frias. É o caso de Trump. Levou anos a fazer a guerra, a incitar os infelizes à violência, com palavras e acções, e no final todo esse vendável de agitação voltou-se contra ele e quase o levava desta para melhor. Que homem sairá desta lição? 

         - Ontem ao serão, para fugir ao sermão dominical da SIC, fiz zap para o canal RTP1. Dei com a final do Campeonato Europeu de Futebol. Tiens. Por languidez, deixei-me ficar a olhar para aquela dança de palhaços aos pinotes, rodeados de fantasmas que pareciam irritados por todo o lado. A dada altura tentei compreender a lógica daquilo e assestei o olhar e as orelhas para o que diziam em off os nossos queridos comentadores. Talvez haja técnica e programa pré-estabelecido para os passos de doble de cada jogador. Todavia, por muito que observasse o movimento da bola e as deslocações dos jogadores no seu encalço, parecia-me ser a oportunidade, a resposta de uns a outros que fazia com que o espectáculo fosse mais que um conjunto de estratégias estudadas nos bastidores. Era a sorte, a força, o entusiasmo e a alegria dos desportistas mais novos (ouvi dizer que um tinha apenas 16 anos, eu que julgava que era interdito trabalhar nessa idade, mas pelos vistos não, ao futebol tudo é permitido). Justamente, do que mais gostei foi dessa criança de origem marroquina, emparceirando com um outro negro, de tranças tremelicando no cimo da cabeça, olhos vivos, nos corpos a juventude ainda não marcada pela sacanice da vida, do dinheiro a rodos, do profissionalismo cotado em bolsa, da cobiça que tudo destrói - da vida à espessura do riso como expressão de felicidade. No final (que eu vi por largos minutos), saíram vencedores os dois rapazinhos espanhóis que festejavam como se o objecto do seu brinquedo, a bola de trapos, já não lhes servisse para o jogo seguinte. O futuro está para além do rectângulo da competição, as quatro linhas não aprisionam os voos que vibram nos dias a liberdade.  

         - No carro ouvi a ex-ministra da Saúde a quem saiu a lotaria de Bruxelas, a falar de temas que a ocupam agora. Pobre, muito pobre. E que será feito da vedeta escalabitana? Com a soma choruda do salário, desapareceu. A vidinha desta gente na Bélgica é salteada de emoções e contactos e festas e encontros e almoços. Eu quando ia com a Annie a Bruxelas – e fui lá com muita frequência – costumávamos abancar no Aux Armes de Bruxelles, perto da Grand Place, um dos restaurantes mais antigos da cidade. Era lá que os arrogantes pobres transformados em ricos importantes, se banqueteavam. Quem os queria ver, ativos, vestidos como agentes funerários, falando ora alto, ora baixo (com a preocupação da mão como ventana na boca, o olhar pesquisando à direita e à esquerda), de costas direitas, ar de ricaço, subitamente elevado a eurodeputado, como se aquilo fosse vida para que sempre se haviam preparado. Lembro-me de um almoço (penso que aqui falei do facto), me ter insurgido e de que maneira, contra um grupo desses zelosos dos nossos direitos, que tratou a minha amiga que foi mais do que eles, pois fez um mandato suplementar pelo PS como vice-presidente de câmara, em Paris, ao ponto de eu ter levantado a voz: “ferme ta gueule”. 

         - Aproveitando o facto de a chuva miúda ter refrescado flores e plantas mais frágeis, atirei-me a limpar o grande loureiro perto de casa. Cerrei com o serrote japonês os grossos trocos que depois dividi em pedaços para a lareira. A folhagem acartei-a para um dos montes de vegetação para queimar no Inverno. Que mais? Fui fazer natação contando apenas comigo três nadadores; colhi a primeira taça de amoras silvestres.