Sexta, 25.
Somos o país que somos, temos os partidos que merecemos, a pobreza e analfabetismo que se conhece, mas não nos faltam dirigentes com lata bastante para se desdizerem a cada hora. Aí está mais um facto que os faz renascer. Desta vez tem a ver com o falecido Papa Francisco. Estamos de luto e Luís Montenegro decidiu que um país de luto não deve - decerto por coerência -, festejar, dançar e saltar enquanto durar a funestação. Logo toda a dita esquerda lhe saltou em cima e, invocando a parte da filosofia social de Bergoglio que lhe convém, opôs-se porque o 25 de Abril coincide com o programa do Vaticano e é a data que nos trouxe a democracia. Já agora, se me dão permissão, direi que por aqui está tudo aberto, é um dia como qualquer outro. Quando perguntei ao rapaz do Lidl se não ia às comemorações festivas, ele foi peremptório: “Ó meu amigo, quero lá saber disso!” Repliquei por graça: “Não diga isso alto porque ainda lhe chamam fascista.” Resposta: “E eu nas tintas.”
- Ontem fui à Brasileira. Encontrei os do costume, mais um pintor que não aparece com frequência. Estando também o João Corregedor, e não sendo possível ter com ele qualquer conversa que não seja sobre política, abancou o abarracamento. Aquela gente só conhece dois modos de ser: esquerda e direita. Fora destes extremos, não consentem mais nenhum outro. A sociedade, ou é de esquerda ou de direita. Pobres coitados. Vivem sem imaginação, com duas talas nos olhos, sem liberdade e vastidão para abarcarem o mundo que os rodeia e eles não se deram conta que mudou muito. Estão, por assim dizer, na parada do quartel - esquerda, direita, volver.
- Apanhei a meio (penso uma repetição) o espectáculo de Agir sobre as canções de Abril. Foi o melhor contributo de todos para a celebração da data. Um artista fabuloso, que pouco aparece nos ecrãs, preferindo as televisões a mediocridade que assola o país de Norte a Sul. Dizem elas, as TVs, que é disso que o povo gosta.
- Celebrar Abril, a Democracia insistem as esquerdas. Pois sim. Todavia, do pouco que vi e dos fragmentos que passaram nos telejornais, de democracia quase nada. A que se assistiu foi à clássica guerrilha que os partidos, servindo-se da efeméride, aproveitam para o assombro degradante dos valores que o 25 de Abril de 1974 nos ofereceu. A ganância do poder, o ódio vomitado, os interesses de classe, a arrogância, a miséria humana deliquescida na Assembleia Nacional, é a imagem podre de uma democracia que se vai fragmentando aos bocados. Não gosto de maiorias, mas espero que a AD que tem governado com dignidade, decência e oportunidade, consiga ter margem suficiente para prosseguir o seu programa.