quarta-feira, abril 30, 2025

Quarta, 30.

Falando do “nosso povo” quando posto perante qualquer problema que saia do rame-rame da sua existência, quero dizer, do futebol, das telenovelas e concursos, da vidinha rasteira a que se acomodou, da família enquanto criação de um ideal nunca cumprido e por vezes decepcionante, logo o primeiro impulso, é correr aos supermercados a abastecer-se do que lhe vier à mão, sem esquecer as toneladas de papel higiénico, e acreditar sem pensar em tudo o que encontra escarrachado nas redes sociais que devoram como se fossem máximas para a vida. É uma gente que não pensa, que age por impulso, como se fossem crianças abandonadas à sua sorte, perdidas num deserto ou numa escuridão do fim do mundo. É tão triste pertencer a um povo assim ignorante, sem capacidade de reflectir, acreditando nos arautos da desgraça e da incomunicabilidade, hoje políticos doidos que o manipulam a seu bel-prazer e ambição, usando-o e descartando-o quando muito bem lhes apraz.  

         - Se não vejamos. Tratando-se “o apagão” de um acontecimento (eles dizem evento) nunca antes ocorrido, era natural que governantes e governados o encarassem com estupefacção e inquietação. Por outro lado, tanto para uns como para outros, o facto de se ter perdido todo e qualquer contacto – telefónico (fixo e móvel), rádio, televisão, e-mail, whats-app, paralisação de comboios, aviões, indústria e comércio -, era razão suficiente para redobrar de apreensão. Por momentos, estou em crer, foi o pânico governamental como em todas as infras-estruturas ligadas à energia, aos transportes públicos, às autarquias, enfim, a toda a rede social que vigia todos e cada um. Noutro sentido, sendo o problema não só português como espanhol e francês, com o nuclear à mistura, as apreensões redobraram. Se a tudo isto acrescentarmos a situação política do mundo e particularmente da Europa, temos o ensaio que se adivinhava nas consciências e cérebros dos mais esclarecidos. De resto, para os nossos vizinhos, nada está fechado: sabotagem, assalto cibernético, corte de tubos algures, que sei eu! As televisões, mostraram Espanha paralisada, pessoas a dormir no chão nas gares de caminho de ferro, nos aeroportos, onde calhava porque ninguém podia antever não só o que tinha acontecido, como quando tudo voltaria à normalidade. 

         - E eis que entram os políticos impacientes  por ter a derradeira palavra. Devo dizer que, como fui dormir tranquilamente às 10,30, só de manhã me chegou o aviso do PROCIU, numa altura em que por todo o lado a vida estava refeita e os cidadãos a respirar de alívio. Todavia, a imagem perfeita desta classe de governantes que nos calhou no nosso malogrado destino, ficou estampada ontem, na entrevista que o apresentador (e escritor já agora) do telejornal da SIC fez ao Ministro da Presidência, António Leitão Amaro. Que tristeza! Que sensação horrenda de haver pertencido àquela classe! Aqueles momentos, foram a prova provada da vassalagem do jornalismo a esquemas ínvios, soprados ao auricular, que a competência do ministro facilmente derrubou, deixando a descoberto a pouca preparação do entrevistador que viu, nas ventas, desmascaradas as suas falsas afirmações. As mesmas que o PS do esquerdista dirigente, cada vez mais em sintonia com o Chega, vem disseminando apenas porque não possuem, e outro, um programa de governo sólido e coerente. Portugal, foi dos três países afectados, aquele que mais cedo e melhor saiu da situação. Luís Montenegro e os seus ministros, o pessoal da energia e concomitantes, foram exemplares. Só a CP dos camaradas, apesar da tragédia, continuou com a greve que tantos prejuízos e chatices acrescentaram ao “nosso povo”. Eu conto que na hora do voto os portugueses percebam as figuras miseráveis desta gente; e que os socialistas expulsem por incompetente e desajeitado, o seu secretário-geral. Dito isto, é evidente para mim que há muita gente a enriquecer com a energia, basta ver com atenção a nossa factura de electricidade. Depois, manda a verdade que se diga, vivemos esmagados pelo lucro de uns e as ideologias de outros. 

         - Fui, aleluia, à natação. Acabado o pousio imposto pela oftalmologista, corri à piscina e durante uma hora, com faixa livre só para mim, pude refazer a massa muscular que tanto bem me faz. Desapareceram as dores lombares, os músculos da perna que os rapazes e os homens ditos machões tanto namoram, ficaram mais distendidos, a saúde inundou-me de vigor. Os velhotes lá estavam como Deus os fez, a discutir o apagão – melhor isso que futebol.  

         - Da piscina fui directamente para o restaurante, ao encontro de um rapaz que há muito desejava encontrar-se comigo para discutirmos a hipótese de ajuda nos trabalhos da quinta. Não sei que idade terá, mas pareceu-me um vulcão não só na forma de falar como nos movimentos corporais. Disse-lhe que prefiro pagar mais uma hora por trabalho bem feito, que menos na presa aldrabada. Encolheu-se. Contudo, há sempre algo que escapa da nossa natureza mais escondida. Quando mais tarde telefonou a agendar o dia, despediu-se com “um abraço”.