quinta-feira, janeiro 09, 2025

Quinta, 9.

Não tendo deixado esta propriedade ontem, hoje, qual pássaro aprisionado contranatura, voei para Lisboa. Chegado à estação, esta manhã como noutros dias, não havia muitos passageiros na gare, contrariamente ao que vi ontem na SIC. Segundo as notícias, o acréscimo de passageiros foi de 30 por cento desde que a Fertagus aumentou os horários e mais carruagens. De facto, a cena que passou na televisão, achei-a sinistra a lembrar os comboios da CP na linha de Sintra. Espero qua a coisa melhore, pois não é nada agradável viajar nas circunstâncias que as câmaras registaram. 

         - Que fui fazer eu à capital abstraindo o desejo simples de me deslocar? Ora, ao encontro de Ana Boavida. Pois quem mais me chamaria do lugar pacificado onde vivo, onde o silêncio me retém, onde o tumulto sagrado das horas me abraçam numa união secreta que nem os deuses conhecem o enigma. No piso do fundo da Fnac, demorei-me na sua companhia umas duas horas e meia. Levantei amarras seriam quatro horas e, para escapar àquilo que tinha visto nas notícias, enfiei-me no primeiro fertagus que apareceu de volta à paz (talvez) imerecida.  

         - Daqui não deixo de observar o mundo. Gostaria de ter cortinas de folhagem que atenuassem o som e a imagem, a dor e o sofrimento de modo a que eu não sentisse tão fortes e tão nítidos. Mas anda o diabo à solta no corpo de Donald Trump. O homem ainda não tomou posse e já fala em anexar a Gronelândia, incorporar o Canadá como mais um Estado dos EUA, e bem pode gozar com a ideia o Presidente do México, mas quer-me parecer que Trump irá, como deseja, mudar o nome do seu Golfo do México para Golfo da América - fora tudo o resto que fará e desfasará com o antes seu arqui-inimigo Elon Musk.  

        - Meti ombros a uma odisseia que há muito desejava empreender. Falo da leitura da obra de Gustave Flaubert. Comecei pelo romance que me parece o melhor, mesmo superior a Madame Bovary, L´ Éducation Sentimentale. Trata-se de um romance compacto, longo de quase 700 páginas, que vou ler em francês (já conhecia bastantes capítulos em português), numa letra miúda, que desejo os meus olhos aguentem sem esforço e, naturalmente, seja operado à catarata em breve.