Segunda, 30.
Aos ditadores tudo lhes é permitido. Com este pormenor: entenderem-se com os regimes democráticos ou dito de outro modo os governos e as ideologias vão a reboque dos interesses de cada país, pouco importando as orientações dos Estados. Neste logro em que vivemos, sobra a ousadia e a barbárie, o terror e a desumanização. Basta olhar para o que se passa na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, no Líbano, Jerusalém Oriental ou Síria. Netanyahu apropriou-se deles, varre-os de mísseis, impõe os seus objectivos, destrói e mata e ninguém se insurge, nenhum país (ou poucos) bate o pé e faz valer os direitos daqueles que Israel quer dizimar para sempre ou escravizar e dominar. Ainda a semana passada, as forças israelitas comandadas por outro ministro (o chefe está a ser operado à próstata), atacaram sem piedade o mais importante hospital do Norte de Gaza. Raul Manarte que trabalha para os Médicos sem Fronteira e esteve em várias zonas de guerra – Ucrânia, Sudão, Faixa de Gaza – desabafa: O que eu nunca vi foi as pessoas não poderem fugir. E nunca vi uma assimetria tão grande. As pessoas estão presas aqui num bocadinho de terra (referia-se à Faixa de gaza) e sente-se um colosso militar permanentemente: não só mata as pessoas, mas tortura-as.” O dito hospital Kamal Adwan, acabou por fechar, devido aos bombardeamentos, aos incêndios, à carnificina que se seguiu. A justificação é sempre a mesma mentira: eliminar os combatentes do HAMAS. O director do hospital, Hussam Abu Safiya, anunciou a morte de cinco membros do pessoal, incluindo um médico. Vou dar a palavra de novo a Alexandra Lucas Pires, no seu artigo de duas páginas anteontem no Público. “Esse horror não seria possível sem as bombas e os milhões dos EUA. Biden é um criminoso de guerra. Como Scholz, Ursula, a maior parte da UE (com três ou quatro países a fazerem a diferença). O mundo que permite que se extermine um povo em nome de Deus, e ainda se considera religioso. Mas Deus não tem culpa, só os humanos mesmo. Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, primeiro-ministro Luís Montenegro, ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Rangel, restantes ministros: vão continuar a ser cúmplices de um genocídio? Quando vão ter coragem para enfrentar o fecho da embaixada israelita em Lisboa? Quando vão exigir aos israelitas que querem ser portugueses que provem que não estiveram envolvidos neste genocídio? E que vão fazer quando os vossos filhos ou netos vos perguntarem que fizeram contra isto?” Estas são as questões. Quando a troco de uns quantos israelitas se mataram 45 mil palestinianos, esta barbaridade fala por si e constitui a maior derrota de Benjamim Netanyahu. Que subentendido pouca importância tem, sendo que o essencial é a destruição de todos os palestinianos e a ocupação de um vasto território junto ao mar.
- Ontem deu-me para escutar por uns instantes o comentador de domingo da SIC. Dizia o homem que elegia dois políticos do ano: Montenegro e António Costa. Quanto a este, na lógica dos pensadores que palram desalmadamente e têm Portugal nas arestas do coração, disse o candidato a Belém que Costa era um prestígio para Portugal no cargo que ocupa e acrescentou “como Durão Barroso prestigiou Portugal” – só não explicou como e em quê o do sorriso pateta nos honrou. Se há comparações, espero que António Costa não acabe num qualquer banco americano e com a reforma da UE suprimida por corrupto.