quarta-feira, outubro 23, 2024

Quarta, 23.

A Alice que me vai acompanhando com desvelo, diz-me que este tem sido para mim um annus horribilis. Que começou com aquele susto em Fevereiro, continuou com inúmeros desarranjos no meu quotidiano e parece acabar com o furo que desde há duas semanas trabalha em falso, com as consequências no consumo de electricidade daí resultante.

        - No comício do PSD do fim-de-semana, ressurgiu aquele pequenote de nome Bugalho, fazendo aquilo para que fora instruído: filiar-se no partido de Luís Montenegro. Que o repiscou da televisão onde parlapatava todas as semanas para gáudio dos provincianos, oferecendo-lhe a lotaria choruda da União Europeia. Cheio de bugalho, inchado de satisfação, quase um milhão e meio de euros no bolso, ei-lo propagandeando o amor aos 2 milhões e meio de pobres, aos doentes necessitados de ajuda, ao ensino periclitante, aos reformados a ganhar as migalhas que ele deixa cair ao chão, ao Portugal tísico e enfermo e assim por diante. Devia estar atrás das grades por agredir mulheres que lhe passaram pela vida. Mas está triunfante em Bruxelas, como prémio de bom aluno nos esquemas partidários.  Que nojo!  

         - Para quê falar na velhice, se ela fala por nós. Daí me surpreenda as dezenas e dezenas de páginas a ela consagradas por Eugénio Lisboa, no livro que terminei há dias: Acta Est Fabula vol. V. E todavia, que força, que independência, que espírito livre de um homem que soube estar na vida com brio e de cabeça levantada.

        - O John tem sido o meu anjo protector. Veio aqui sábado com o Nilton, voltou hoje para me levar no seu carro ao encontro do rapaz que há quatro anos me substituiu a bomba do furo, esteve antes a falar com o mecânico que se ocupa do Skoda... Fala o português como calha, comigo constantemente a emendar as frases e as palavras soltas. Mas já vai alinhando um discurso minimamente compreensível.  

         - O Filipe mandou-me um vídeo dos incidentes da “noite de inferno”, no Bairro da Cova da Moura. Segundo ele que ali habita, 11 viaturas foram vandalizadas, 4 incendiadas, 1 caixote do lixo ardido, 40 a 50 putos encapuzados com cocktails, muita polícia. A dada altura ele decide sair de casa para mudar o carro e concluiu: “ainda bem que o fiz, senão seria mais um” que ardia. Todo este horroroso espectáculo, porque um polícia abateu a tiro um dos moradores do bairro. Há razões de ambas as partes, saberemos com o inquérito instalado do apuramento dos factos. Entretanto, a barbárie. rebentou noutros pontos da cidade.  O Bugalho resolveria isto depressa – à paulada.