sábado, agosto 24, 2024

Sábado, 24.

O logro em que vivemos é um enorme polvo que nos prende com as suas garras terríveis. Estamos aprisionados a um enredo de mentiras, oportunismos, esquemas mentais e interesses de toda a ordem. À sombra da bandeira da democracia, os pequenos ditadores, autocratas, prepotentes, uns de primeira categoria, outros de quinta comprados por chefões que detêm o poder por processos fraudulentos, conluios e manipulações subterrâneas, todos escravos do dinheiro – o deus supremo das suas vidas e dos seus percursos pessoais. Atente-se no caso dos Estados Unidos paradigmático de um tempo sectário, onde tudo se compra e toda a gente está a venda, com meia dúzia de ideias feitas, uma sombra de ideais, um bafo de verdades, num segundo o criminoso vira um homem honrado, o explorador um indivíduo de alta matriz social, o ignorante um acervo de cultura. A cambalhota que os democratas fizeram com a senhora Kamala Harris é impressionante. A criatura andava pelas ruas da amargura, as soldagens atiravam-na para abismos de vergonha, e eis que os graúdos das finanças e da política de retaguarda, a recuperam e a catapultam para o voo mais alto – a candidatura á Casa Branca. O jogo da política, o nojento jogo, aí está a provar que andamos todos enganados e servimos apenas como joguete do mundo estrelado dos negócios e da política. A ética, a honradez, a palavra, o interesse público são coisas do passado quando a moral era a referência. 

         - Continuo a leitura de Deixa Cair a Chuva. Não é nenhum achado, mas é curioso no contexto do diálogo entre Ryar e Ashcombe-Danvers, este um vígaro, falando de um outro companheiro do mesmo ofício: “Claro que é um bandido, mas é um bandido honesto.” 

         - A Madeira entrou no décimo dia de incêndios. Enquanto a montanha arde e a água escasseia nas torneiras das casas, os políticos entretêm-se nos confrontos do costume. Eles não querem aclarar quem cometeu o crime de acção tardia ao ataque ao fogo com aviões Canadair (só operacionais há três dias), querem encontrar “politicamente” os culpados. Isto porque, sendo uma orientação política, não condena ninguém. Daí a tão apregoada “foi um erro político”, “foi uma acção política errada”, com esta insidiosa acusação ninguém vai para a cadeia. Quando muito, perde o cargo e regressa protegido às ocupações bem pagas da sua anterior vidinha. A passagem pelo Governo passa a contar para o curriculum vitae. Que bom, Portugal é magnífico. Há dinheiro a jorros para tudo, menos para dar dignidade às pessoas e saúde e educação e salários e reformas condignas.