domingo, agosto 25, 2024

Domingo, 25.

É absolutamente delicioso o romance de Paul Bowles. Vou a metade da sua leitura e não me canso de descobrir o seu método de trabalho, a trama da história, melhor dizendo das histórias porque as personagens não cessam de entrar e sair de cena. A cronografia passa-se em Tanger logo a seguir à Segunda Grande Guerra, na zona apropriada pela França que eu bem conheço. O que mais surpreende é a minúcia do enredo, os instantes sublimes por que passam os seus heróis, os pequenos gestos, os silêncios, o rumorejo da chuva que não pára de cair, a imensa solidão dos americanos que aportam à cidade. Por estes dias de reclusão (ainda tenho, pelo melhor, esta semana), a sua companhia tem sido uma bênção a par, evidentemente, de outras leituras. Não resisto a deixar aqui o nome da dona da casa de alterne: Madame Papaconstante. Um achado. 

         - E como vai o mundo fora deste paraíso de silêncio e paz? Mal. Vai de mal a pior. Em França, em La Grande-Motte, no Sul, houve um ataque anti-semita à sinagoga local provocando um incêndio seguido de explosão. Em Dusseldorf, durante um festival, um homem de vinte poucos anos, atacou à facada várias pessoas e volatilizou-se. Não se conhecem os motivos, mas o ressuscitado Daesh reivindicou o crime. Morreram três pessoas e oito ficaram feridas. 

         - Hoje grande dia de regas. O que me vai custando, é puxar as mangueiras de vários metros carregadas de água. Contudo, cada vitória, por pequena que seja, instala em mim uma vitória como qualquer das alcançadas por Fernando Pimenta. Este trabalho intervalo com outros, resumem um dia carregado de afazeres. Desistir não faz parte do meu vocabulário. Até porque o que me realiza parte sempre do interior.