quarta-feira, julho 24, 2024

Quarta, 24.

Depois de ter estado com o mestre Castilho na Brasileira, inteirando-me do que lhe tinha acontecido para ter sido internado no hospital seis dias (princípio de AVC) felizmente fora de perigo, fui comer ao Corte Inglês e de seguida, no espaço climatizado e sem ninguém, entrei no romance. Verdadeiro desastre. As palavras pareciam enroladas no meu cérebro, cada uma que caía na página do computador era logo rejeitada para dar lugar a outra que tinha o mesmo destino. Foi hora e meia deste desgaste nervoso, desta aflição, desta desistência de mim. Engana-se quem pensa que ça coule de source .

         - Ontem ouvindo a viúva do BE, dei comigo a pensar quanto a esquerda nos engana. Porque as bases políticas onde ela assenta a sua ideologia, são um pouco como aquelas que se outorgam à religião. Eu explico. Qualquer pessoa normal, equilibrada, civicamente educada, não suporta a pobreza, ver o seu semelhante em planos de inferioridade, vivendo no limite da decência. Não é preciso ser-se de esquerda – basta ser-se humano. Como não acho ser necessário ser-se católico para estender a mão a quem necessita. Os fundamentos da religião inscritos nos Evangelhos, podem ser praticados por aquela ou aquele ateu ou agnóstico. – basta ser-se humano. Galopar a insatisfação e a miséria como forma de fazer política é desonesto. Tenho dito. 

         - A propósito deste uso “esquerda, direita, volver” tão ao gosto da tropa. Aí pelo ano de 45, Cícero anotava nos textos filosóficos ao falar de Homero quando Ájax se queixou a Aquiles da brutalidade dos Troianos: “Júpiter dá-lhes da direita, relâmpagos favoráveis.”  A partir deste verso, reflete “(...) para nós são favoráveis os sinais vindos da esquerda para os Gregos e os Bárbaros são melhores os da direita. Claro que eu não ignoro que nós chamamos às vezes “da esquerda” os sinais favoráveis mesmo vindos da direita; o certo é que entre nós eles são chamados “da esquerda” e, entre os estrangeiros, “da direita” aos que na maioria dos casos se lhes afigurava ser mais favoráveis.” (p. 417). Um pormenor de somenos importância: estamos no séc. XXI. 

         - Escrevo estas linhas na cozinha com o ar condicionado ligado. O frio que sai do aparelho, permite-me estar calmo e atinado. Para amanhã prometem-nos baixa de temperatura.