Terça, 4.
Grosso modo estou de acordo com a gestão de Luís Montenegro. Até me tem surpreendido porque o tinha como homem do sistema, quero dizer, cheio dos vícios redondos que a todos e tudo abraçam no mesmo amplexo. Para não pensar na enorme carga de trabalhos para restituir ao país um mínimo de eficácia e seriedade. Gosto também e sobretudo da forma como tem gerido a turbamulta das extremas, esquerda e direita, equidistante da técnica dos socialistas que sempre utilizaram a propaganda como elemento de verdade e puseram com isso todos os sectores revoltados e o país paralisado. Agora na sociedade e em tão pouco tempo, nota-se uma maneira mais rigorosa de abordar os assuntos resolvidos de qualquer maneira pelo governo de António Costa e cujos efeitos todos estamos a sofrer. Há um recuo das contestações selvagens, das greves pecepedistas que se estavam nas tintas para o sofrimento e desarranjo de milhares de portugueses. Luís Montenegro e os seus ministros falam pouco e bem, não entram nas questiúnculas partidárias, não dão corda aos senhores ditos jornalistas que parecem estar ao serviço das minorias à esquerda do PS. Os assuntos essenciais às pessoas têm vindo a ser resolvidos; professorado, saúde, imigração, tabelas salariais, reformados e pensionistas. Nem tudo agrada a todos, mas isso é normal a quem avança destemido e de cabeça levantada investindo sobre um período sinistro da nossa história colectiva dos últimos oito anos. Em tão pouco tempo, pese embora as vociferações de Vasco Gonçalves, descobriu-se a teia funesta de muitos decretos-lei, de muitas empresas públicas, de muitos acordos malbaratados, feitos à medida deste e daquele, montados em ideologias que não tiveram em conta os aspectos vitais da sociedade, sua capacidade e desigualdades gritantes. As empresas estatais, parecem estar todas falidas, sem contabilidade que oriente o futuro e faça do presente o investimento necessário ao provir. As célebres “contas certas” são afinal de contas um imbróglio para o Estado, uma afronta à pobreza, à desigualdade, à humanidade e ao equilíbrio e desenvolvimento de um país cansado da democracia que tudo desarranja, subverte, desune, insatisfaz e convida à tutela do homem só – o ditador feroz.
- Ontem veio aí o Sr. Luís gradar o terreno. Mal o vi, constatei o seu imenso cansaço, e disse-lhe que voltasse noutro dia quando o calor amainasse. Recusou e avançou sob o sol das três da tarde com determinação. No final nem aceitou um copo de vinho branco, uma cerveja, e ficou-se por água fresca. Ofereci-lhe a mesa do terraço assinada pelo mestre Fortuna. Eles eram amigos e aquela oferta foi mais que um valor material.
- O que é a velhice? Um calo no pé direito, um desassossego brando de estupefacção. Vou-me despachar para Lisboa. A ver se é desta que encontro o Tó no hospital da Luz e perguntar-lhe se envelhecer e tomar sobre si todas as recordações dos dias felizes.